Sobre o "Blog do Super Rodrigão"

*** O "Blog do Super Rodrigão" foi criado e editado por Rodrigo Francisco Dias quando de sua passagem como professor de História da Escola Estadual Messias Pedreiro (Uberlândia-MG). O Blog esteve ativo entre os anos de 2013 e 2018, mas as suas atividades foram encerradas no dia 27/08/2018, após o professor Rodrigo deixar a E. E. Messias Pedreiro. ***

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Imperialismo Norte-americano

- Período posterior à Guerra Civil: crescimento demográfico; continuação da "Marcha para o Oeste" e a progressiva ocupação do solo; industrialização e desenvolvimento econômico; capitalismo e liberalismo (iniciativa individual e Estado liberal).

- Ideia do melting pot (cadinho de raças, culturas, etc.): com a imigração de estrangeiros para os EUA, a população aumentou consideravelmente (de 31 milhões de habitantes em 1860 para 92 milhões em 1910). Exaltava-se a capacidade dos EUA de receber e dar oportunidades a tantos estrangeiros, que, juntos, ajudariam na formação dos Estados Unidos. Britânicos, escandinavos e germânicos, mas, também, latinos: casos de xenofobia por parte dos norte-americanos começam a surgir. Restrições crescentes à imigração. Preconceitos.

- O crescimento interno projeta cada vez mais os EUA no cenário mundial. Relações exteriores.

- Pan-americanismo.

- Releitura da Doutrina Monroe durante o governo de Theodore Roosevelt (1901-1908). O princípio de não intervenção em assuntos europeus é deixado de lado. Os EUA atuam nas negociações entre França e Alemanha na questão do Marrocos (1906) e procuram mediar a paz entre Rússia e Japão após a guerra russo-japonesa (1904-1905).

- Imperialismo:
I - 1898: Guerra contra a Espanha para levar a independência a Cuba. Com a vitória, os EUA dominaram também Porto Rico e as Filipinas. O caso de Cuba chama a atenção, pois, em 1901, os EUA conseguem impor a Emenda Platt na constituição cubana. A referida emenda dava aos EUA o direito de intervir em Cuba a qualquer momento, bem como o controle de uma área na baía de Guantánamo.
II - Os EUA estimulam a separação do Panamá em relação à Colômbia. Os norte-americanos terminaram a construção do Canal do Panamá e o controlaram até 31/12/1999.
III - Os EUA realizam uma intervenção militar na Nicarágua para estabilizar lutas camponesas entre 1909 e 1933. Houve a resistência do guerrilheiro camponês Augusto César Sandino.

A charge acima, de autoria de Louis Dalrymple, datada de 1905,
representa um Tio Sam gigantesco, com um pé na América
do Norte e outro na América do Sul. Ele segura um porrete,
como se estivesse vigiando todo o continente americano.
Deste modo, a charge faz referência à chamada
política do Big Stick (grande porrete), praticada
por Theodore Roosevelt. Nesta política, os EUA
revisitavam a Doutrina Monroe e defendiam a ideia de
que era necessário "proteger" a qualquer custo todo 
o continente americano das potências europeias. 
Contudo, o "grande porrete" não era usado
apenas para ameaçar os países da Europa, mas também para
intervir militarmente em diversos territórios da América Latina.
Trata-se de uma representação do imperialismo norte-americano.

- Fim do século XIX e início do século XX: os EUA vão, aos poucos, tornando-se a maior potência mundial, superando até mesmo a Inglaterra.


Para pensar...

- A crítica de José Martí ao imperialismo norte-americano:

"Jamais houve na América, da independência para cá, assunto que requeira mais sensatez, que obrigue a maior vigilância, que peça exame mais claro e minucioso que o convite que os Estados Unidos, poderosos, repletos de produtos invendáveis e determinados a estender seus domínios pela América, fazem às nações americanas de menos poder, ligadas pelo comércio livre e útil com os povos europeus, para coordenar uma liga contra a Europa e fechar negócios com o resto do mundo. Da tirania da Espanha soube salvar-se a América espanhola; e agora, depois de ver com criterioso olhar os antecedentes, causas e fatores do convite, urge dizer, porque é verdade, que chegou para a América espanhola a hora de declarar sua segunda independência."
(MARTÍ, José. "Congresso Internacional de Washington". Texto originalmente publicado em dezembro de 1889.)

- Lembrar que Martí defendeu e lutou pela independência de Cuba, mas morreu sem ver seu país livre. Ele também viveu por anos nos Estados Unidos e, portanto, conheceu a sociedade norte-americana de dentro.






sexta-feira, 15 de novembro de 2013

A Guerra de Secessão nos EUA (1861-1865)

- Divergências entre os estados do Norte e os estados do Sul.
Norte: industrialização, comércio...
Sul: agricultura, algodão, produção para exportação...

- Os estados do Norte defendiam a criação de taxas sobre produtos industrializados importados, pois queriam proteger a produção industrial norte-americana da concorrência com produtos estrangeiros. Por sua vez, os estados do Sul, muito ligados a compradores industriais e a bancos estrangeiros, defendiam o livre comércio e a concorrência entre as indústrias dos estados do Norte e as de outros países. É preciso lembrar que os habitantes do Sul apreciavam o luxo e produtos importados (muitas vezes de qualidade superior à dos produtos industrializados dos estados do Norte), e, por isso, não queriam que o preço das importações aumentasse.  

- A referida questão em torno das tarifas alfandegárias provocou o embate entre o poder central do governo federal e a autonomia de cada estado para definir a sua própria política econômica. Os estados do Sul  queriam uma maior autonomia para os estados. 

- A questão da escravidão. A constituição norte-americana e o direito à propriedade. A cultura do algodão nos estados do Sul: mão-de-obra servil e numerosa, muitos acreditavam que o trabalho na lavoura de algodão era coisa para negros escravizados. A escravidão era a pedra angular da economia sulista, bem como um elemento do modo de vida daquela região. 

"[...] a plantation não podia mais passar sem ela [a escravidão]. Sua supressão teria acarretado a fragmentação da propriedade, a ruína material dos fazendeiros e também o desmoronamento dessa sociedade que lhes parecia preservar valores de civilização superiores aos dos ianques [os norte-americanos dos estados do Norte]. O charme dessa sociedade elegante, hospitaleira, cultivada, dependia da conservação da escravatura. Assim, era por tudo o que lhes era caro - recordações da infância, tradições familiares, costumes sociais - que os sulistas achavam-se vinculados à escravocracia, cuja manutenção significava também a garantia de sua liberdade, o sinal de poderem conservar suas instituições particulares. Paradoxalmente, a perda definitiva da liberdade dos negros tornou-se símbolo da liberdade do Sul."
(RÉMOND, René. História dos Estados Unidos. Tradução de Álvaro Cabral. São Paulo: Martins Fontes, 1989, p. 58.)

- Campanha abolicionista no Norte contra as crueldades da escravidão. O romance A Cabana de Pai Tomás (1852), de Harriet Beecher-Stowe. Aqui, mais uma vez, surgiu o embate entre o poder central e a autonomia dos estados. Os sulistas defendiam que cada estado deveria decidir se mantinha a escravidão ou não. A Inglaterra aboliu a escravidão nas suas colônias em 1833, a França fez o mesmo em 1848. A discussão em torno da abolição aumenta cada vez mais. Com a expansão do território dos EUA (a "marcha para o Oeste"), os estados do Norte e os do Sul passaram a disputar pelo apoio dos novos estados que surgiam no Oeste. O Sul queria expandir o plantio de algodão (sistema plantation), já o Norte queria a expansão da agricultura livre. Embate entre dois modos de ver o mundo.

- Eleição do republicano Abraham Lincoln como presidente dos EUA em 1860. Lincoln defendia um poder central forte, tarifas protecionistas e se mostrava contrário à escravidão. Insatisfeita com a vitória de Lincoln, a Carolina do Sul declarou a sua separação da União em 20 de dezembro de 1860, sendo seguida por outros estados sulistas. Formação dos Estados Confederados da América, com capital em Richmond (Virgínia) e com Jefferson Davis como presidente. Em 1861, a artilharia sulista abriu fogo contra Fort Sumter, a fortaleza federal que protegia o porto de Charleston. INÍCIO DA GUERRA.

- Informações sobre os estados do Norte e os do Sul:
Norte - 23 estados (depois se tornaram 25), população de 22 milhões de pessoas, economia evoluída, indústrias, portos ativos, ferrovias, sistema bancário, recursos financeiros.
Sul - 11 estados, população de 9 milhões (incluídos os escravos) e economia agrícola.

- Apesar de tais dados apontarem uma vantagem para o Norte, os do Sul conseguiram forçar a continuidade da guerra por quatro anos. Como isso foi possível?
a) O Sul tomou a iniciativa do rompimento e das operações bélicas.
b) A convicção sulista de que se lutava pela própria existência (fator psicológico).
c) O Norte passou por disputas políticas internas.
d) O Sul mobilizou, já em 1862, o serviço militar obrigatório, valendo-se de todos os homens (jovens e velhos) disponíveis. O recrutamento no Norte só foi feito a partir de 1863, e mesmo assim muitos foram dispensados.
e) O Sul era uma sociedade rural e aristocrática, com uma facilidade maior para se tornar uma sociedade militar. Os sulistas, criados ao ar livre, praticando cavalgadas, deram ótimos soldados, com iniciativa e disciplina. Já os estados do Norte, que eram uma sociedade urbana, industrial e democrática, não tinham como formar uma sociedade militar tão rapidamente.

- Foi apenas com o passar do tempo que a vantagem numérica e as melhores condições de estrutura, somadas a uma melhoria na preparação para a guerra (que passou a ser feita), começaram a encaminhar a vitória dos estados do Norte sobre os do Sul. A indústria bélica dos estados do Norte também foi importante em tal processo.

- O Sul depois da Guerra: como o conflito se desenrolou no Sul, houve uma grande destruição naquela região. Tropas federais ocuparam o Sul durante anos, e governos foram impostos pelos estados do Norte. A economia tradicional e a aristocracia desapareceram, houve fragmentação dos latifúndios e dispersão da mão-de-obra. Como disse René Rémond, "uma sociedade morreu".

- Lincoln foi assassinado dias depois do fim da Guerra. A escravidão foi tornada ilegal nos EUA em 1865.

- Guerra de Secessão como um "marco" na história dos EUA.

"A Guerra de Secessão ocupa um lugar excepcionalmente importante na história dos Estados Unidos. [...] Sua importância não consiste apenas em ser um marco de referência. Ela divide efetivamente a história americana em duas épocas: encerra uma era e inaugura uma outra, que duraria pelo menos até a grande crise de 1929, se é que não se prolonga para além dela, ao menos em certos aspectos. A Guerra de Secessão ainda hoje divide os espíritos. Ocupa na consciência nacional um lugar superior até aos episódios da Independência, comparável somente à Revolução de 1789 para a opinião francesa. Tal como essa revolução continua sendo para os franceses um assunto de contradição, a luta do Norte contra o Sul nos Estados Unidos ainda é um tema de discórdia. O Sul evoca com nostalgia as lembranças de seu antigo esplendor; com o distanciamento no tempo, a lenda toma o lugar da verdade histórica; esse período exerce sobre os espíritos, os escritores, os próprios historiadores, um misterioso fascínio."
(RÉMOND, René. História dos Estados Unidos. Tradução de Álvaro Cabral. São Paulo: Martins Fontes, 1989, p. 63-64. Pensar que o livro de Rémond foi publicado, originalmente, em 1959... Pergunta a se fazer: como estava a questão racial nos EUA naquela época?)

Para pensar...

A questão racial nos EUA. Preconceito. O caso da região sul (forte racismo). Ressentimentos do sul a partir da derrota na guerra.

A Ku Klux Klan foi fundada em 24 de dezembro de 1865, no Tennessee. Racismo, violência, linchamentos, perseguições a negros. Os negros eram acusados de tudo (roubos, por exemplo) e sofriam ataques da KKK. A onda de violência provocou a reação do governo que tornou ilegal essa sociedade secreta. A KKK deixou alguns "herdeiros", que vez ou outra reapareceram (ainda aparecem?) nos EUA, conseguindo atrair pessoas para a sua "causa". Pensar no filme O Nascimento de uma Nação (1915, de D. W. Griffith). Leia aqui uma interessante matéria sobre a história da Ku Klux Klan.

A canção Strange Fruit, de Abel Meeropol, gravada pela cantora de jazz Billie Holiday em 1939:

"Árvores do sul produzem uma fruta estranha,
Sangue nas folhas e sangue nas raízes,
Corpos negros balançando na brisa do sul,
Frutas estranhas penduradas nos álamos.

Cena pastoril do heróico sul,
Os olhos inchados e a boca torcida,
Perfume de magnólias, doce e fresco,
E de repente o cheiro de carne queimada.

Aqui está a fruta para os corvos puxarem,
Para a chuva colher, para o vento sugar,
Para o sol secar, para a árvore pingar,
Aqui está a estranha e amarga colheita"

A música foi composta a partir dos casos de negros que, após serem brutalmente assassinados, tinham seus corpos pendurados em árvores, como se fossem "estranhos frutos". Nos anos 1930 circulou uma famosa fotografia que mostra um desses casos:


Vale dizer que a foto acima foi tirada em Marion, estado de Indiana, que fica na parte mais ao norte dos EUA, e não no sul, o que nos faz pensar que, historicamente, a violência contra negros nos EUA não aconteceu apenas em uma única parte do país.

Ouça a canção Strange Fruit, na voz de Billie Holiday, clicando neste link.

   


segunda-feira, 11 de novembro de 2013

Os Estados Unidos da América no Século XIX

- Governo de George Washington (1789-1797)
- Desenvolvimento comercial, industrial e financeiro dos EUA.
- Imigração europeia.
- Crescimento populacional. De 3,5 milhões de habitantes na época da independência para mais de 7 milhões em 1810.
- Progressismo + Crescimento Demográfico = Conquista de Territórios na América do Norte + Ampliação da Atuação Econômica dos EUA em todo o continente americano.

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RELAÇÕES INTERNACIONAIS E POLÍTICA EXTERNA DOS EUA NO SÉCULO XIX

- Guerras Napoleônicas: Inglaterra x Império Francês. Por conta do Bloqueio Continental, a Inglaterra procura manter e ampliar suas relações comerciais com países europeus e territórios latino-americanos. O crescimento da atividade comercial dos EUA começa a representar uma concorrência para os ingleses.

- Expansionismo norte-americano: Os EUA tentam anexar o Canadá inglês. Segunda Guerra de Independência (1812-1814), um conflito que só termina por meio da Paz Eterna de Grand, que define a região dos Grandes Lagos como uma zona neutra que separa EUA e Canadá.

- Nacionalismo norte-americano: união territorial. A ameaça da Santa Aliança ao comércio norte-americano com a América Latina independente.
LEMBRAR QUE a Santa Aliança foi uma união entre algumas potências europeias (Inglaterra, Rússia, Prússia e Império Austríaco) cujo objetivo era lutar contra as ideias divulgadas pela Revolução Francesa. A Santa Aliança foi o último suspiro do Antigo Regime, que, contudo, não resistiria ao processo de consolidação do liberalismo e da ordem burguesa no cenário mundial a partir de 1830.

- A Doutrina Monroe (1823): Mensagem do presidente James Monroe ao Congresso que pode ser resumida por meio da expressão "A América para os americanos". Leia o texto da mensagem de Monroe por meio do link abaixo:

Doutrina Monroe (Texto em PDF)


- A Marcha para o Oeste: Avanço das antigas 13 colônias para o interior da América do Norte até chegar ao Oceano Pacífico. Expropriação de povos nativos (indígenas) e vizinhos. Compra de áreas coloniais europeias como a Louisiana (comprada da França), a Flórida (comprada da Espanha) e o Alasca (comprado da Rússia). Conquista dos territórios mexicanos do Texas, Califórnia, Novo México, Arizona, Utah e Nevada após a guerra contra o México (1848).

- O Destino Manifesto: ideia de forte sentido religioso por meio da qual a conquista do oeste era vista como uma missão dada por Deus aos norte-americanos. Nesta perspectiva, os EUA se colocavam no direito e no dever de conquistar os territórios entre o Atlântico e o Pacífico. A partir de uma ética protestante (a valorização da família, do trabalho e do esforço individual), os norte-americanos se viam como um povo eleito por Deus para levar esclarecimento aos povos "inferiores". O termo "destino manifesto" foi usado pela primeira vez por John O'Sullivan em um texto publicado em 1845, no qual o autor defendia a anexação do Texas pelos EUA.



O pintor John Gast elaborou uma representação da conquista do oeste por meio do quadro Progresso americano. Na obra, a deusa do progresso Columbia guia os norte-americanos em direção ao oeste. Há um jogo de luz e sombra que dá a ideia de que Columbia leva a luz por onde passa. Indígenas fogem para a esquerda do quadro.

Para pensar...

"Esta noite, mais uma vez lembramos que os Estados Unidos podem fazer tudo a que se determinar fazer. Essa é a história de nossa história, seja a busca da prosperidade para nosso povo, ou a luta pela igualdade de nossos cidadãos; nosso compromisso é lutar pelos nossos valores no exterior, e nossos sacrifícios é fazer do mundo um lugar mais seguro. Deixem-nos lembrar de que podemos fazer essas coisas não apenas por riqueza e poder, mas por causa do que somos: uma nação, sob um Deus, com liberdade e justiça para todos. (...) Que Deus abençoe os Estados Unidos da América"
(Barack Obama, quando do anúncio da morte do terrorista Bin Laden)

domingo, 10 de novembro de 2013

Achei na internet! - Artigos acadêmicos sobre a Guerra do Contestado

A revista Esboços - revista do programa de pós-graduação em História da UFSC - publicou um número com um dossiê acerca do Centenário do Contestado. O referido número da revista pode ser consultado por meio do link abaixo, confira:

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Processo de Independência dos Estados Unidos da América

- Iluminismo: René Descartes, Isaac Newton, Voltaire, Montesquieu, Jean-Jacques Rousseau, Diderot & D'Alembert, etc. Sociedades/clubes de leitura: ciência, filosofia, política, artes, etc. Aristocratas e burgueses. A idade da Luzes: razão, "progresso".

- John Locke (1632-1704): filosofia política, leis da sociedade. Os direitos naturais do homem: vida, liberdade e propriedade. O governante recebe a autoridade e o dever de garantir os direitos das pessoas (contrato entre governante e governados). Se o governante romper o contrato, visando interesses particulares, a sociedade pode derrubá-lo.

"Esse poder legislativo não é somente o poder supremo da comunidade, mas sagrado e inalterável nas mãos em que a comunidade uma vez o colocou; nem pode qualquer edito de quem quer que seja, concebido por qualquer maneira ou apoiado por qualquer poder que seja, ter a força e a obrigação da lei se não tiver a sanção do legislativo escolhido e nomeado pelo público; porque sem isso a lei não teria o que é absolutamente necessário à sua natureza de lei: o consentimento da sociedade sobre a qual ninguém teria o poder de fazer leis senão por seu próprio consentimento e pela autoridade dela recebida."
(LOCKE, John. Segundo Tratado sobre o Governo. In: OS PENSADORES. 5. ed. São Paulo: Nova Cultural, 1991, p. 268.)

- O Iluminismo acontece em um momento de tensões entre as monarquias absolutistas e a burguesia, em meio a um processo de declínio do Estado moderno absolutista.

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- Século XVIII: Inglaterra como uma potência mundial. Estabilidade política no território inglês (monarquia liberal). Redefinição do papel das colônias, com o estabelecimento de uma política fiscal e imposição do fim das liberdades comerciais e políticas das 13 colônias inglesas na América do Norte.

- Ideias iluministas presentes no processo de independência dos Estados Unidos: direito à liberdade e de resistência a um governo autoritário.

- LEMBRAR QUE o controle inglês sobre as 13 colônias foi fraco durante um bom tempo. As colônias inglesas na América do Norte se desenvolveram economicamente, sendo que as do Norte chegaram a representar concorrência com a própria Inglaterra, por conta de seu comércio de longa distância com o Caribe, a África e a Europa.

- No âmbito da Revolução Industrial do século XVIII, a Inglaterra passou a buscar novos mercados consumidores (incluindo aí as 13 colônias) para seus produtos.

- O Parlamento inglês passa a elaborar leis para cobrar impostos dos colonos da América. Tal processo foi acelerado pela Guerra dos Sete Anos (1756-1763) entre Inglaterra e França, visto que tal conflito acabou desequilibrando as finanças inglesas. Como parte da guerra se passou em território norte-americano, os ingleses a usaram como justificativa para taxar os colonos norte-americanos argumentando que a guerra era uma forma de defender a América inglesa dos ataques franceses. Segundo tal perspectiva, os habitantes das 13 colônias deveriam contribuir para que os custos da guerra fossem pagos. Tal estreitamento dos laços entre Inglaterra e suas colônias na América do Norte ia de encontro aos princípios iluministas de liberdade e autodeterminação, e também limitaram a autonomia de que gozavam as 13 colônias. TENSÕES E CONFLITOS CRESCENTES.

- 1764: Sugar Act (Lei do Açúcar) - A Inglaterra taxava todo carregamento de açúcar que não viesse das Antilhas Inglesas. Os colonos não gostaram, visto que compravam o produto por todo o Caribe para a produção de rum.

- 1765: Stamp Act (Lei do Selo) - A Inglaterra obrigava a colocação de um selo em todo material impresso publicado nas colônias, sendo que tal selo era vendido pela metrópole e o seu valor era incorporado ao preço do produto. Os colonos se reuniram em Nova York no Congresso da Lei do Selo, onde rejeitaram tal Lei e repudiaram qualquer tipo de relação com a metrópole enquanto não houvesse representação das colônias no Parlamento inglês. A Lei do Selo foi revogada em 1766.

- 1767: novos impostos para as colônias e descontentamento crescente dos colonos norte-americanos.

- 1773: Tea Act (Lei do Chá) - A Companhia das Índias Orientais, sediada em Londres, passava a monopolizar o comércio do produto. Tal Lei aumentou a carga tributária das 13 colônias, ampliou o controle da venda do chá, combateu o contrabando do chá holandês e excluiu os norte-americanos do comércio do chá britânico. Os colonos reagiram por meio do ataque e da ocupação de três navios ingleses que se encontravam no porto de Boston, jogando sua carga de chá ao mar em um evento que ficou conhecimento como o incidente do chá de Boston. Em resposta, a Inglaterra estabeleceu as Leis Intoleráveis, por meio das quais determinou o fechamento do porto de Boston, o pagamento de uma indenização, a ocupação militar de Massachusets e o julgamento de funcionários ingleses apenas por tribunais de outras colônias ou na Inglaterra. Também ficou determinado o controle militar inglês no território a oeste das 13 colônias, para que elas não se expandissem para muito além da faixa litorânea.

- 1774: Reunião de lideranças dos colonos no I Congresso Continental da Filadélfia, onde foi decidido o boicote aos produtos metropolitanos.

- 1775: No II Congresso, os colonos decidiram se separar da Inglaterra.

- 04 de Julho de 1776: publicação da Declaração de Independência dos Estados Unidos da América, redigida por Thomas Jefferson, com a colaboração de Benjamin Franklin e John Adams, com inspiração nas ideias de John Locke.

- Franklin foi para a França tentar obter o apoio dos franceses. George Washington preparou um exército para combater a reação metropolitana. Guerras de Independência. Após a vitória dos colonos na Batalha de Saratoga (1777), os norte-americanos receberam o apoio da Espanha e da França. Em 1781 houve a rendição do general inglês Cornwallis em Yorktown. Em 1783 foi assinado o Tratado de Paris, no qual a Inglaterra reconheceu a independência dos Estados Unidos da América.

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- Formação do Estado norte-americano - Duas facções políticas apresentaram propostas para a elaboração da Constituição norte-americana:
a) Republicanos - Grupo de Thomas Jefferson. Defendiam um poder central fraco, além de uma grande autonomia para os estados. Dessa tendência se originou o atual Partido Democrata.
b) Federalistas -  Grupo de Alexander Hamilton e George Washington. Defendiam um poder central forte para garantir a união dos estados. Dessa tendência se originou o atual Partido Republicano.

- Constituição de 1787: criação dos Estados Unidos da América como uma república federativa presidencialista com um poder central forte e que garantia também autonomia aos estados membros, dando a cada um deles o direito de ter sua própria Constituição.

- George Washington foi eleito pelo Congresso o primeiro presidente dos EUA. Fiel aos princípios iluministas de Montesquieu, ficou decidida a divisão dos três poderes (executivo, legislativo e judiciário).

- A participação política ficava restrita aos comerciantes e latifundiários brancos, ingleses ou descendentes de ingleses. Mulheres, índios e negros eram excluídos das decisões políticas.

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Para pensar...

"Quando, no curso dos acontecimentos humanos, se torna necessário um povo dissolver laços políticos que o ligavam a outro, e assumir, entre os poderes da Terra, posição igual e separada, a que lhe dão direito as leis da natureza e as do Deus da natureza, o respeito digno às opiniões dos homens exige que se declarem as causas que os levam a essa separação.
Considerando estas verdades como evidentes por si mesmas, que todos os homens foram criados iguais, foram dotados pelo Criador de certos direitos inalienáveis, que entre estes estão a vida, a liberdade e a busca da felicidade.
Que a fim de assegurar esses direitos, governos são instituídos entre os homens, derivando seus justos poderes do consentimento dos governados; que, sempre que qualquer forma de governo se torne destrutiva de tais fins, cabe ao povo o direito de alterá-la ou aboli-la e instituir novo governo, baseando-se em tais princípios e organizando-lhes os poderes pela forma que lhe pareça mais conveniente para realizar a segurança e a felicidade."
(JEFFERSON, Thomas. Declaração de Independência. In: CONSTITUIÇÃO dos Estados Unidos da América e declaração de independência. São Paulo: Jalovi, 1987, p. 9. Os destaques em negrito são nossos.)

"Os Patriarcas [os fundadores dos EUA], então, talvez não tenham sido os semideuses de Jefferson nem os agentes da vontade de Deus de que falava Bancroft, mas os estudiosos modernos acham pouco mérito na acusação antifederalista de que eles eram 'aventureiros gananciosos' e partidários da aristocracia. Bem ao contrário, historiadores recentes concordam que o produto de seus esforços foi basicamente democrático e que eles mesmos foram homens de grande estatura e visão, cuja devoção ao país transcendia preocupações com o bolso. Cabe notar, contudo, que democracia nesse contexto não se aplicava aos negros, à 'parte servil' da própria nação de John Adams, ou às mulheres. As energias criadoras de seus construtores foram prodigalizadas na fundação de uma república para homens brancos, e não para estender os benefícios da liberdade a negros ou mulheres. Meio século após a ratificação, quando o abolicionista William Lloyd Garrison propôs que se queimasse a Constituição em nome da liberdade, ele o fez sobre o fundamento inatacável de que ela perpetuava a escravidão. Embora gerações subseqüentes de norte-americanos celebrassem o trabalho de seus autores como uma carta de liberdade política, não se deve esquecer de que, em 1787, ela não era nada disso para negros, mulheres e índios."
(SELLERS, Charles; MAY, Henry; MCMILLEN, Neil R. Uma reavaliação da história dos Estados Unidos. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1990, p. 92.)

segunda-feira, 4 de novembro de 2013

A Colonização Inglesa na América do Norte

- Ocupação inglesa na América do Norte a partir do fim do século XVI e início do século XVII.
- Litoral da América do Norte: região não tropical e carente de metais preciosos.
- Rainha Elizabeth I (1558-1603): estímulo à construção naval e ao comércio marítimo. POLÍTICA MERCANTILISTA. Tensões entre Inglaterra e Espanha: corsários ingleses saqueavam galeões espanhóis para roubar metais preciosos. Em 1588 a Marinha inglesa derrotou a Invencível Armada espanhola no Mar do Norte. Estado inglês e classe burguesa se aliaram na criação de companhias de comércio.
- 1584-1587: tentativas inglesas de colonização da América do Norte (três expedições), comandadas por sir Walter Raleigh, fracassaram por conta da reação dos povos nativos.
- 1607: fundação da colônia de Virgínia por uma companhia de comércio (acionistas burgueses) detentora do monopólio do comércio e da colonização. Obtenção de tabaco (muito consumido na Europa), produção do corante índigo (anil), arroz e algodão.

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- Fluxo populacional da Inglaterra para a América do Norte:
a) os cercamentos: Governo de Jaime I - Propriedades agrícolas em solo inglês foram cercadas pelos nobres e passaram a produzir um único produto (como a criação de ovelhas para a extração de lã) para a comercialização. Tal prática substituiu a produção de vários itens voltados para a auto-suficiência. As terras comunais usadas coletivamente pela população rural passaram a ser exploradas por um único nobre que empregava uma reduzida mão-de-obra. Houve a expulsão dos camponeses das terras: excedente demográfico sem lugar no meio rural e sem muito espaço no meio urbano. Muitas pessoas acabaram indo para a América.
b) conflitos políticos e religiosos na Inglaterra: Burguesia x Nobreza. Catolicismo x Calvinismo (embate dentro do próprio anglicanismo). Grupos protestantes (puritanos e quakers) saíram da Inglaterra e foram para a América do Norte.

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- As 13 Colônias:
SUL: Geórgia, Carolina do Sul, Carolina do Norte, Virgínia, Maryland, Delaware. Centros de produção agrícola. Sistema de plantation: latifúndio monocultor, trabalho escravo e produção voltada para o mercado externo.
NORTE: Nova Jersey, Nova York, Pennsylvania, Connecticut, Massachusets, Rhode Island, New Hampshire. Colonos vitimados pela perseguição religiosa na Inglaterra, cujo primeiro grupo veio para a América do Norte no navio Mayflower em 1620 e fundou a cidade de Plymouth, em Massachusets, núcleo da chamada "Nova Inglaterra", que recebeu esse nome pois os colonos queriam reproduzir no novo território a sua pátria de origem. Pequena e média propriedade, produção para a subsistência e para o mercado interno, trabalho livre. Poucos laços políticos e econômicos com a Inglaterra. Produção manufatureira, comércio, desenvolvimento de construção naval. Com o tempo, as colônias do Norte passaram a obter itens externos e a fazer comércio de longas distâncias com colônias inglesas no Caribe, com locais da África e com países da Europa.

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- Ao contrário do que Portugal e Espanha faziam em suas colônias, a Inglaterra não exerceu um controle intensivo e nem colocou muitas restrições às suas colônias na América do Norte. É preciso lembrar que no século XVII a Inglaterra passava por conflitos políticos internos (Revolução Puritana na década de 1640, a posterior Guerra Civil e a Revolução Gloriosa de 1688). Frouxos laços de dominação e relativo desinteresse inglês em relação às suas colônias na América do Norte. Destaque para a autonomia política e econômica das colônias da Nova Inglaterra. 

segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Imperialismo na China

No início do século XIX a população chinesa já era muito grande, representando um enorme e potencial mercado consumidor, o que atraiu as potências imperialistas. País de cultura milenar, economia agrícola, governado por um governo imperial marcado por várias revoltas camponesas, disputas políticas e constante crise, a China viu a entrada de estrangeiros em seu território no contexto do imperialismo, sobretudo por parte de países da Europa, dos EUA e do Japão. Foi nesta conjuntura que ocorreu a Guerra do Ópio (1841), conflito que começou por conta de interesses da Inglaterra. Até o século XVIII o ópio era usado pelos chineses como medicamento, mas os ingleses, que produziam grandes quantidades do produto em seus domínios na Índia, disseminaram o vício entre os chineses. Em 1839, as autoridades chinesas obrigaram um representante britânico a entregar 20 mil caixas de ópio, que foram jogadas ao mar. A Inglaterra passou a exigir uma indenização dos chineses, acusando-os de bloquear o livre comércio na região. Como a China não pagou tal indenização, foi iniciada a Guerra do Ópio, que terminou em 1842 com os chineses derrotados e obrigados a assinar o Tratado de Nanquim, por meio do qual cinco portos chineses eram abertos ao livre comércio, o sistema fiscalizador era abolido e Hong Kong era entregue à Inglaterra. Posteriormente, sob o pretexto de vingar o assassinato de um missionário francês, um exército franco-inglês, apoiado por norte-americanos e russos, ocupou Pequim, a capital chinesa, e obrigou a China a assinar o Tratado de Pequim (1860), que estabeleceu a abertura de outros sete portos ao comércio internacional, a instalação de embaixadas europeias e o direito de atuação de missões cristãs em território chinês. Em 1900 ocorreu a Guerra dos Boxers, quando chineses nacionalistas radicais, os “punhos fechados” ou boxers, se rebelaram contra a dominação estrangeira e mataram cerca de duzentos estrangeiros, incluindo o embaixador alemão. Ingleses, franceses, alemães, russos, japoneses e norte-americanos se uniram para invadir a China, subjugar o país e forçar os chineses a reconhecerem todas as concessões já feitas às potências imperialistas. Em 1911, o Kuomintang, o Partido Nacionalista Chinês, liderado por Sun Yat-sen, derrubou a monarquia milenar e proclamou a república, mas não conseguiu promover o desenvolvimento autônomo chinês, notadamente por conta da presença imperialista internacional no país.

Imperialismo Japonês

Historicamente, o território japonês se manteve isolado do Ocidente. Em 1542, quando os portugueses, seguidos dos espanhóis, chegaram ao lugar, o Japão reagiu duramente à presença europeia em seu território, presença essa caracterizada pelas missões jesuíticas. Em 1648 os portos japoneses foram fechados aos estrangeiros, o que isolaria o país do resto do mundo por mais de dois séculos. Durante o século XIX, a aristocracia dos daimios dominava o Japão por meio do apoio dos samurais – uma classe de guerreiros profissionais –, em uma estrutura de organização social semelhante ao feudalismo europeu. Os senhores feudais japoneses disputavam o poder, porém, era o xogunato, título criado no século VIII para os comandantes militares, que exercia o comando político do reino. Neste contexto, essa instituição estava sob o domínio da família Tokugawa durante o século XIX. O imperador – denominado micado – exercia um poder apenas formal a partir da cidade de Kyoto, enquanto o xogum estava instalado em Edo – antigo nome de Tóquio. Em 1854, uma esquadra norte-americana comandada pelo almirante Perry forçou a abertura dos portos japoneses ao comércio mundial, tendo o Japão, a partir disso, assinado acordos comerciais com os EUA e com outros países. Com a abertura dos portos houve a europeização do Japão, o que estimulou o nacionalismo dos japoneses e a oposição ao xogum por ter permitido tal abertura. Apoiado por clãs rivais do xogunato, o imperador Mutsuhito – que tinha o desejo de tornar o micado o verdadeiro poder nacional – promoveu a centralização política. A partir de 1868 iniciou uma fase de industrialização e modernização do país, conhecida como Era Meiji. Dentro desse quadro, o Japão deu início a uma política imperialista sobre a China, com o objetivo de conquistar a região da Manchúria. Como tal região também era objeto de desejo por parte da Rússia, teve início em 1904 a Guerra Russo-Japonesa, vencida pelo Japão, que, a partir de então, passou a exercer sua supremacia sobre a China. Posto isso, o Japão se tornou uma grande potência mundial, por meio de sua dinâmica desenvolvimentista, tendo promovido então uma expansão colonialista que acabaria esbarrando no expansionismo norte-americano na região do Oceano Pacífico, o que geraria atritos entre as duas potências nos anos 1930 e 1940.

Imperialismo na Índia

Os portugueses chegaram à Índia em 1498, com Vasco da Gama. Posteriormente, holandeses, franceses e ingleses chegaram ao local, sendo que a partir do século XVIII os ingleses passaram a dominar a região, quando tornaram a Índia um protetorado em 1763, ou seja, o território indiano era protegido pelos ingleses, que ocupavam e controlavam a administração local. Os ingleses construíram estradas e organizaram missões políticas e religiosas, afetando os costumes locais e destruindo a tradicional economia indiana (voltada para a subsistência e baseada em manufaturas têxteis), estabelecendo uma desleal competição entre os produtos tradicionais indianos e os produtos industrializados ingleses (tecidos e algodão). Tal situação estimulou o nacionalismo indiano contra a presença dos ingleses, como bem demonstra a Guerra dos Sipaios (1857). Os sipaios (soldados indianos) se rebelaram contra os oficiais ingleses usando como pretexto os novos cartuchos de suas armas, que eram revestidos de graxa animal (um material impuro e contrário às crenças indianas). A rebelião dos sipaios foi sufocada pelos ingleses apenas em 1859. Anos depois, em 1876, Benjamin Disraeli, primeiro-ministro britânico, tornou a Índia parte do Império Britânico, tendo a Rainha Vitória sido coroada como imperatriz da Índia. 
Além da Índia, a Inglaterra controlou outros territórios na Ásia no início do século XIX, tais como a Birmânia (atual, Myanmar, na península da Indochina), o Tibete, o Afeganistão e territórios entre o Mar Vermelho e o Oceano Índico. Na Bacia do Pacífico, os ingleses dominaram a Austrália e ilhas vizinhas. Em 1931 colônias britânicas e Inglaterra estabeleceram um pacto que originou a British Commonwealth of Nations (Comunidade Britânica de Nações), entidade que reúne países que, mesmo após sua autonomia política, continuaram unidos por interesses comerciais e diplomáticos, como a Austrália, a África do Sul, o Canadá e outros.

A Partilha da África

A Conferência de Berlim (1884-1885): países europeus mais os Estados Unidos e a Rússia se reuniram para definir a divisão do continente africano e as regras da exploração da África. Mesmo com a Conferência, continuariam existindo divergências entre as potências imperialistas.
→ França: Argélia, Tunísia, Marrocos, Sudão (África Ocidental Francesa), ilha de Madagascar e Somália francesa.
→ Inglaterra: domínio do continente africano desde o mar Mediterrâneo (Sudão Anglo-Egípcio), ao norte, até o Cabo da Boa Esperança, ao sul.
→ Outros territórios africanos estavam sob o domínio de países como Bélgica (o Congo, propriedade pessoal do rei belga Leopoldo II), Itália (Líbia, Eritreia e Somália), Espanha (Marrocos espanhol e Rio de Ouro), Portugal (Angola e Moçambique) e Alemanha (Camerum, atual República dos Camarões, o Togo, o Sudoeste e o Oriente da África). No início do século XX, apenas a Libéria e a Abissínia (atual Etiópia) eram Estados africanos livres.

A Inglaterra na África. A política colonial do primeiro-ministro Benjamin Disraeli garantiu o domínio de amplos territórios africanos para os ingleses.
→ O canal de Suez,[1] ligação entre os mares Mediterrâneo e Vermelho, passou para o domínio dos ingleses.
→ A Guerra dos Bôeres (1899-1902): A Inglaterra dominava a Colônia do Cabo (África do Sul) desde as guerras napoleônicas, e, posteriormente, entrou em atrito com os bôeres (também chamados de africânderes), colonos holandeses que haviam fundado as repúblicas livres de Orange e Transvaal. A descoberta de diamantes e ouro na região de Johannesburgo, no Transvaal, estimulou a ida de muitos ingleses para o local, o que levou a conflitos entre holandeses e ingleses pelo domínio da região. A Inglaterra anexou o Orange e o Transvaal aos seus domínios, formando a União Sul-Africana em 1910 (junto com as colônias do Cabo e Natal).
→ A atuação de Cecil Rhodes: nascido em 1853 e falecido em 1902, Cecil Rhodes foi um colonizador e homem de negócios britânico, tendo vivido na África e sido um agente do imperialismo britânico. Foi um dos fundadores da Companhia De Beers, uma das gigantes do mercado internacional de diamantes. No ano de 1892, o semanário inglês Punch publicou a caricatura “O Colosso de Rhodes” (de autoria de Edward Linley Sambourne), cujo título é uma referência a uma das sete maravilhas do mundo antigo (a estátua de Hélios, o deus do Sol na mitologia grega, localizada na ilha de Rodes). A caricatura publicada no jornal inglês mostra um Cecil Rhodes gigantesco, com um pé no sul da África e o outro no Egito, regiões dominadas pela Inglaterra, lembrando o projeto de Cecil Rhodes de ligar o norte e o sul da África por meio de uma estrada de ferro, projeto jamais realizado. Na caricatura, Rhodes segura uma linha de telégrafo. A imagem é uma representação do imperialismo britânico na África.






[1] O canal de Suez foi projetado pelo engenheiro francês Ferdinand Lesseps, tendo sido construído com o apoio de Napoleão III entre os anos de 1859 e 1869. O seu controle foi originalmente exercido pela França e pelo Egito. Ao ligar os mares Mediterrâneo e Vermelho, o canal encurtava as distâncias entre os centros industriais europeus e as áreas coloniais asiáticas.

Introdução ao Imperialismo

- O processo de industrialização e o desenvolvimento capitalista nos países europeus, com destaque para a Inglaterra, e também nos Estados Unidos e no Japão.
→ Lembrar: a Revolução Industrial, as condições de vida e trabalho dos operários nas fábricas, a consolidação de grandes empresas e a busca pelo lucro no sistema capitalista. Destacar também inovações tecnológicas como o telégrafo, a fotografia, o telefone, o fonógrafo e o cinema. Novas fontes de energia: eletricidade e petróleo. Noção de “progresso”.
→ É dentro deste quadro que países como Inglaterra, Bélgica, França, Holanda, Alemanha, Itália, Estados Unidos e Japão dão início a práticas imperialistas.

O “imperialismo”, ou, o “neocolonialismo”:
- Se o colonialismo dos séculos XV e XVI tinha como objetivo a obtenção de especiarias, gêneros tropicais e metais preciosos, notadamente no continente americano, sob a justificativa de levar a fé católica a outros povos, o imperialismo (também chamado de “neocolonialismo”, onde “neo” = “novo”) do século XIX, por sua vez, buscava mercados consumidores de produtos manufaturados e fornecedores de matérias-primas (algodão, cobre, ferro, petróleo, etc.). Além disso, devido ao grande crescimento populacional verificado na Europa, as potências europeias buscavam colônias para instalar parte de seu excedente populacional. Os principais agentes do imperialismo foram mais as grandes empresas (bancos, indústrias, empresas de comércio e transportes) do que propriamente os Estados.

- Formas de dominação imperialista: a) administração direta, onde os principais cargos governamentais nas colônias eram ocupados por agentes metropolitanos; b) administração indireta, na qual eram feitas alianças com as elites locais.

- Desdobramento político do imperialismo: crescimento da rivalidade entre as grandes potências imperialistas, com o estímulo ao armamentismo.

- Principais alvos das potências imperialistas europeias: África, Ásia e Oceania.


Imperialismo e alteridade:
- A justificativa usada para as práticas imperialistas: levar o progresso e a civilização dos países mais desenvolvidos para aqueles menos desenvolvidos, estes últimos vistos como “bárbaros” e atrasados. Tal justificativa procurava esconder os interesses econômicos das grandes potências mundiais.
→ Rudyard Kipling (1865-1936): literato inglês que escreveu a obra O Fardo do Homem Branco (1899), na qual destacou o dever à filantropia da ação colonizadora, ou seja, a ideia de que os países mais desenvolvidos levavam melhores condições de vida para as suas colônias. Kipling recebeu o Prêmio Nobel de Literatura em 1907.

- “‘Acredito nesta raça...’, dizia Joseph Chamberlain[1] em 1895. Ele entoava um hino imperialista à glória dos ingleses e celebrava um povo cujos esforços superavam os de seus rivais franceses, espanhóis e outros. Aos outros povos, ‘subalternos’, o inglês levava a superioridade de seu savoir-faire,[2] de sua ciência também; o ‘fardo do homem branco’ era civilizar o mundo, e os ingleses mostravam o caminho.
Essa convicção e essa missão significavam que, no fundo, os outros eram julgados como representantes de uma cultura inferior, e cabia aos ingleses, ‘vanguarda’ da raça branca, educá-los, formá-los – embora sempre se mantendo à distância. Se os franceses também achavam que os nativos eram umas crianças, e sem dúvida os consideravam inferiores, suas convicções republicanas levavam-nos, porém, a fazer afirmações de outro teor, pelo menos em público, ainda que estas não estivessem necessariamente em consonância com seus atos.
Todavia, o que aproximava franceses, ingleses e outros colonizadores, e dava-lhes consciência de pertencerem à Europa, era aquela convicção de que encarnavam a ciência e a técnica, e de que este saber permitia às sociedades por eles subjugadas progredir. Civilizar-se.”
(FERRO, Marc. História das Colonizações: das conquistas às independências, séculos XIII a XX. São Paulo: Companhia das Letras, 1996, p. 39.)

- A experiência da colonização a partir da literatura: O Coração das Trevas (1902), de Joseph Conrad.
→ Joseph Conrad (1857-1924): escritor britânico de origem polonesa.
O Coração das Trevas: o livro conta a história de Charles Marlow, um capitão de um barco a vapor que trabalha para uma companhia belga de comércio. O trabalho de Marlow é transportar marfim por um rio no Congo (que à época era uma colônia de propriedade privada do próprio rei Leopoldo II, da Bélgica), mas ele recebe como missão resgatar o Sr. Kurtz, um comerciante de marfim que passou a viver no interior da África. No livro, há um relato das dificuldades de navegação no rio africano, bem como uma crítica ao imperialismo, especialmente por meio da loucura do Sr. Kurtz e da crueldade praticada pelos colonizadores contra os povos dominados. Todavia, o livro apresenta, em algumas passagens, uma imagem negativa dos africanos. A obra remete à própria vida de Conrad, que também trabalhou como capitão de um navio de uma companhia de comércio no Congo. O livro inspirou o filme Apocalipse Now (1979), do diretor Francis Ford Coppola, obra sobre a Guerra do Vietnã.
“A conquista da Terra, o que na maior parte significa tirá-la daqueles que tem uma fisionomia diferente ou narizes ligeiramente mais achatados do que os nossos, não é uma coisa bonita quando você olha demais para ela.” (CONRAD, Joseph. O Coração das Trevas. Porto Alegre: L&PM Pocket, 2004, p. 13.)
O livro explora o fascínio e o medo no contato com a realidade africana, com o outro, bem como o fato de a experiência da colonização destruir tanto o colonizado quanto o colonizador. 





[1] Joseph Chamberlain (1836-1914). Político inglês, foi prefeito de Birmingham, deputado, ministro do comércio e típico representante da política imperial britânica como secretário das colônias.
[2] “Saber-fazer”.