Sobre o "Blog do Super Rodrigão"

*** O "Blog do Super Rodrigão" foi criado e editado por Rodrigo Francisco Dias quando de sua passagem como professor de História da Escola Estadual Messias Pedreiro (Uberlândia-MG). O Blog esteve ativo entre os anos de 2013 e 2018, mas as suas atividades foram encerradas no dia 27/08/2018, após o professor Rodrigo deixar a E. E. Messias Pedreiro. ***

terça-feira, 24 de março de 2015

MATERIAL PARA ESTUDO - O Golpe de 1964 e a Ditadura Civil-Militar Brasileira

Olá leitores do Blog,

Em 2014, eu tive a oportunidade de participar de um Curso de Formação de Professores oferecido pelos organizadores da Olimpíada Nacional em História do Brasil. O Curso teve como tema os Cinquenta anos do Golpe e a Ditadura Civil-Militar e foi muito interessante. 

Durante aquelas semanas eu tive contato com uma série de materiais que foram disponibilizados aos cursistas pelo pessoal da área de História da Unicamp. Foram artigos de revistas científicas, textos de jornais, sites, vídeos (aulas, filmes, entrevistas, etc.), capítulos de livros, dissertações de Mestrado e obras literárias que abordaram o Golpe de 1964 e os diversos aspectos da Ditadura Civil-Militar que se instalou no Brasil a partir desse acontecimento.

No intuito de disponibilizar aos leitores do Blog os arquivos usados durante o Curso, eu decidi reunir todo o material que tinha em mãos e compartilhá-lo na internet por meio de uma Pasta de Arquivos no Google Drive. Espero que estes arquivos possam ajudar não apenas os alunos da E. E. Messias Pedreiro e os demais interessados no tema em seus estudos sobre os eventos ligados ao Golpe de 1964 e à Ditadura Civil-Militar Brasileira, mas também os colegas professores que queiram usar novos materiais em suas aulas sobre o assunto.

Nesta Pasta de Arquivos, peço a todos que tenham uma especial atenção com o arquivo de texto (formato Word) intitulado LISTA DE ARTIGOS, TEXTOS DE JORNAIS E REVISTAS, SITES E VÍDEOS, pois nele há uma série de links que levam a diversos materiais disponíveis na internet.

Para ter acesso a todo esse Material, basta clicar no link abaixo:


Espero que gostem!
Abraços.

segunda-feira, 23 de março de 2015

Sugestão de livro: "O Homem Revoltado" (1951), de Albert Camus

Processos históricos como o da Revolução Francesa - com destaque para a fase do Terror - nos levam a refletir sobre uma questão muito importante: é correto que a luta por um ideal sirva de justificativa para que se cometa assassinatos? Não nos esqueçamos: no período em que os jacobinos estiveram no poder durante os anos revolucionários da França no final do século XVIII, uma quantidade enorme de pessoas foi mandada para a guilhotina em nome da "Revolução". Mas a Revolução Francesa não foi a única em que pessoas foram mortas em nome de certas ideias. No século XX, também a Revolução Russa foi um movimento no qual os "revolucionários" mataram muitas pessoas.

Como se comportar diante de tais fatos? Uma instigante reflexão sobre o assunto foi feita pelo intelectual francês Albert Camus (1913-1960) no ensaio O Homem Revoltado, publicado em 1951. Segundo Voltaire Schilling, a obra é “uma brilhante e literariamente bem articulada exposição sobre as mazelas da revolução através dos tempos contemporâneos, inclusive com reparos aos acontecimentos decorrentes de 1789”.[1] Neste livro, Camus faz uma dura crítica aos revolucionários que, em nome de sua(s) Revolução/Revoluções, fazem o uso da violência e atentam contra a vida de outras pessoas.



Para um melhor entendimento da postura assumida pelo francês em seu ensaio, recomendamos a leitura do texto abaixo:


Os Homens Revoltados de Albert Camus

Nascido em Mondovi, interior da Argélia, em 1913, e morto em 1960, em Villeblevin, Albert Camus, escritor e pensador, refletiu profundamente sobre o homem moderno, o homem do século 20. Esquecido por muitos, Camus ainda tem bastante a dizer sobre os movimentos revolucionários e suas implicações para a sociedade.

Em “O Homem Revoltado”, publicado em 1951, a intensidade das guerras, a morte e o assassinato deliberados fizeram Camus buscar as causas filosóficas e psicológicas do absurdo de assassinar. O autor tenta compreender as transformações da natureza humana. O livro é essencial na biblioteca de qualquer um que queira compreender a história do último século.

O homem revoltado é aquele que se encontra em meio à exaltação da vida e à negação da morte. Em princípio, a revolta quer liberdade, quer viver. Prometeu foi o primeiro revoltado. O homem no seu encalço destrona Deus, a liberdade necessária ao homem não está nas limitações morais e éticas da Igreja.

O homem moderno é essencialmente um homem crítico e tentadoramente afeito aos absurdos. O absurdo está em matar e morrer por ideias e princípios obscuros: ponto central para entendermos os homens revolucionários de outrora e os de agora. A causa nobre da revolução não pode ser maculada. De Prometeu a Nietzsche, o revoltado de outrora tinha princípios: elevar o homem e seu valor ao grau maior.

O homem revoltado, segundo Camus, não é o revolucionário. Este é sem exceção o homem revoltado sem aquele princípio: o homem é nada, apenas a revolução é “sagrada”. Camus polemizou um ponto que persiste na história do século 20: a revolução eleva-se ao nível do sagrado, do inegável. Por fim, Camus esboça um apelo para que voltemos nossas ideias aos primeiros revoltados, aqueles com princípios, aqueles que respeitavam a vida.

A Vida acima de tudo!

(NOTA: O texto “Os Homens Revoltados de Albert Camus” que foi reproduzido acima é de autoria de Fabrícia Vieira de Araújo e foi originalmente publicado na Coluna do NEHAC do Jornal Correio de Uberlândia no dia 18 de janeiro de 2013.)


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Ficou com vontade de saber mais sobre o assunto? Então, além da leitura do próprio livro de Camus, recomendamos alguns textos disponíveis na internet:

LIMA, Raymundo de. Revolução ou revolta? - I - (Um retorno a Albert Camus em seis pontos). Revista Espaço Acadêmico, n. 86, jul. 2008. Disponível em: <http://www.espacoacademico.com.br/086/86lima_raymundo.htm>. Acesso em: 23 mar. 2015.

______. Revolução ou revolta? - Parte II - (Um retorno a Albert Camus em sete pontos). Revista Espaço Acadêmico, n. 87, ago. 2008. Disponível em: <http://espacoacademico.com.br/087/87lima.htm>. Acesso em: 23 mar. 2015.

O HOMEM revoltado. Razão Inadequada. Disponível em: <https://arazaoinadequada.wordpress.com/filosofos-essenciais/camus/o-homem-revoltado/>. Acesso em: 23 mar. 2015.

SILVA, Franklin Leopoldo e. Crítica de "O Homem Revoltado": Jeanson e Sartre. Arethusa. Disponível em: <http://arethusa.fflch.usp.br/node/32>. Acesso em: 23 mar. 2015.

VICENTE, José João Neves Barbosa; GONTIJO, Frances Deizer. O absurdo e a revolta em Camus. Revista Trías, n. 3, p. 1-10, set. 2011. Disponível em: <http://revistatrias.pro.br/artigos/ed-3/o-absurdo-e-a-revolta-em-camus.pdf>. Acesso em 23 mar. 2015.
  







[1] SCHILLING, Voltaire. Albert Camus contra Jean-Paul Sartre: o fim da revolução. Terra. Disponível: <http://noticias.terra.com.br/educacao/historia/albert-camus-contra-jean-paul-sartre-o-fim-da-revolucao,a00870c4d76da310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html>. Acesso em: 23 mar. 2015. 

domingo, 22 de março de 2015

A Independência da América Espanhola na Literatura: um trecho de Gabriel García Márquez

As obras literárias possuem a capacidade de dialogar com a história, e muitas vezes os escritores fazem isso em seus livros misturando ficção e realidade. Veja abaixo um instigante trecho do livro O general em seu labirinto, do escritor colombiano Gabriel García Márquez:

"O Grande Marechal de Ayacucho [marechal Antonio José de Sucre], seu amigo dileto, conhecia a fundo o estado do país [Colômbia], mas o general [Simón Bolívar] lhe fez uma exposição detalhada antes de chegar ao seu objetivo. Dali a poucos dias se reuniria o Congresso Constituinte para eleger o presidente da República e aprovar uma nova Constituição, numa tentativa tardia de salvar o sonho dourado da integridade continental. O Peru, em poder de uma aristocracia regressiva, parecia irrecuperável. O general Andrés de Santa Cruz levava a Bolívia de cabresto por um rumo próprio. A Venezuela, sob o império do general José Antonio Páez, acabava de proclamar a sua autonomia. O general Juan José Flores, prefeito-geral do sul, unira Guayaquil a Quito para criar a República independente do Equador. A República da Colômbia, primeiro embrião de uma pátria imensa e unânime, estava reduzida ao antigo vice-reino de Nova Granada. Dezesseis milhões de americanos apenas iniciados na vida livre ficavam ao arbítrio dos caudilhos locais.

- Em suma - concluiu o general -, tudo o que fizemos com as mãos os outros estão desmanchando com os pés.

- É uma ironia do destino - disse o marechal Sucre. - É como se tivéssemos semeado tão fundo o ideal da independência que agora esses povos estão querendo ficar independentes uns dos outros.

O general reagiu com grande vivacidade.

- Não repita canalhices do inimigo - disse - mesmo que sejam tão certas como essa."

(MÁRQUEZ, Gabriel García. O general em seu labirinto. Rio de Janeiro: Record, 1989, p. 25.)

sexta-feira, 20 de março de 2015

Vladimir Maiakóvski e a força da poesia

NOTA: Este texto foi originalmente escrito por Rodrigo de Freitas Costa, professor da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), e publicado na Coluna do NEHAC do Jornal Correio de Uberlândia (27 abr. 2012).

Qual o lugar da poesia entre nós? Essa é uma pergunta difícil de ser respondida, porém não podemos esquecer que as artes fazem parte do nosso cotidiano. O que seria dos Homens sem a poesia que embala canções, promove diálogos, constrói narrativas e permite momentos singulares? A sensibilidade aflora em momentos como esses e nos possibilita olhar para o nosso meio de forma diferenciada. Sendo assim, a Coluna NEHAC desta semana faz questão de lembrar o nome de um dos poetas mais contundentes do século XX: Vladimir Maiakóvski.
Nascido em 1893 na Rússia czarista, era desenhista, ator, dramaturgo, poeta e tornou-se revolucionário com os acontecimentos de 1917. Fez de seu trabalho um apelo ao presente e à possibilidade de transformação social, sem se esquecer que a multiplicidade humana não pode ser banalizada, principalmente nos momentos revolucionários. Maiakóvski foi um artista de seu tempo, viveu intensamente cada um dos momentos do início do século e expressou uma sensibilidade contagiante em seus textos.
Em um poema, o escritor nos apresenta algo que é essencial, apesar de muito esquecido: a paixão e a sensibilidade. “Nos demais,/ Todo mundo sabe, / o coração tem moradia certa, / fica bem aqui no meio do peito, / mas comigo a anatomia ficou louca, /sou todo coração”. Para um artista que acreditava na transformação política por meio da ação humana, falar que é “todo coração” significava mais que uma simples discussão do ponto de vista pessoal. No fundo, ele chamava a atenção de seus leitores para o fato de que o Homem deve se lembrar de sua própria transitoriedade.
Não há um elemento fixo que caracteriza todos nós. Nesse caso, a poesia de Maiakóvski ganhava uma força diferenciada, pois, em meio ao clima revolucionário da época, o poeta se lembrava da sensibilidade humana. Essa sensibilidade é um tema que precisa ser constantemente retomado, inclusive entre nós hoje, homens da técnica e dos tempos fluídos.
O poeta se matou em 1930, desiludido com o andamento das questões políticas e sociais da Rússia. Acreditava ter cumprido a sua função, e deixou vários textos aos pósteros. Cabe a cada um de nós redescobrir nas palavras de Maiakóvski a força da poesia, pois ela não reside nos textos, mas sim nos sujeitos múltiplos que a recuperam. Nesse caso, é bom finalizar com as palavras do poeta: “Ressuscite-me, / ainda que apenas, / porque fui um poeta.”

A Revolução Russa

A Rússia no início do século XX: 

a) Antigo Regime (Absolutismo); 
b) grandes proprietários de terras, clero e oficiais do exército ocupam o topo da pirâmide social; 
c) sociedade baseada na posse de terras e em títulos honoríficos; 
d) czarismo.
→ Semelhanças com o mundo feudal. A Rússia estava bem diferente de outros países onde o capitalismo se desenvolvia rapidamente.
Boiardos: nobres proprietários que exploravam a população camponesa.
Mujiques: servos.

Os últimos czares:

Alexandre II (1818-1881): aboliu a servidão e eliminou as dívidas dos mujiques.
Alexandre III (1845-1894): estimulou investimentos estrangeiros (alemães, belgas, franceses e ingleses), o que impulsionou a industrialização russa e evidenciou o contraste entre a estrutura agrária oligárquica czarista e a modernização. Repressão a anarquistas e comunistas por meio da Okrana (polícia política).
Nicolau II (1868-1918): continuou a industrialização baseada em capitais estrangeiros.

Apesar de tais tentativas de modernização, os monarcas da dinastia Romanov, no poder desde 1613, não abriam mão de governar de maneira absolutista, onde o czar se confundia com o Estado. Tal fato fez crescer a oposição ao absolutismo, notadamente por parte da crescente burguesia. CORROSÃO DO CZARISMO.
→ Fracasso do czar Nicolau II na Guerra Russo-Japonesa (1904-1905), quando a Rússia disputou com o Japão a região da Coreia e da Manchúria.
→ 22 de janeiro de 1905: manifestação popular em frente ao palácio de inverno dos monarcas em São Petersburgo (que seria chamada de Petrogrado e, depois, de Leningrado) é violentamente reprimida em um episódio conhecido como Domingo Sangrento. Os manifestantes desejavam a convocação de uma assembleia constituinte e a implantação de melhores condições e regras trabalhistas. Mesmo se mostrando pacíficos e desarmados, foram dizimados às centenas por soldados e pela polícia.
→ Após o Domingo Sangrento, uma onda de protestos se espalha pelo Império Russo. Há uma greve geral e levantes militares, como no encouraçado Potemkin, um navio da esquadra do Mar Negro. O czar se vê obrigado a assinar o tratado de Portsmouth, em 05 de setembro de 1905, encerrando o conflito com o Japão. A Rússia perdeu parte da ilha de Sacalina, foi obrigada a entregar a península de Liaotung e teve que reconhecer os direitos dos japoneses sobre a Coreia.
→ Diante das crescentes manifestações, o czar lança o Manifesto de Outubro, ainda em 1905, por meio do qual promete instaurar uma monarquia constitucional e parlamentarista. Trabalhadores das indústrias e camponeses começam a intensificar sua participação política popular por meio dos sovietes – conselhos de trabalhadores.
→ Em 1906, Nicolau II cumpre sua promessa e instaura a Duma – parlamento – com o intuito de redigir uma nova constituição. Contudo, o czar enviou decretos que o colocavam acima do poder legislativo, mesmo sendo esse controlado por membros das elites nacionais. Vieram as críticas parlamentares, e o czar dissolveu a Duma no ano seguinte, substituindo-a por uma de caráter censitário, ou seja, baseada no poder econômico.
→ Opositores do czarismo: a) narodnikis (populistas); b) anarquistas (inspirados pelas ideias de Bakunin), e c) social-democratas (marxistas).

Os Marxistas se dividiam em duas facções:
Mencheviques (do russo menshe = menos, pois tinham presença minoritária no Congresso da Social-democracia dos Trabalhadores Russos): eram marxistas ortodoxos, defendiam o desenvolvimento e o amadurecimento do capitalismo, para só então buscar o socialismo. Eram liderados por Gheorghi Plekhanov e Iulii Martov.
Bolcheviques (do russo bolshe = mais, pois tinham maioria no Congresso da Social-democracia dos Trabalhadores Russos): defendiam a revolução socialista, a instalação da ditadura do proletariado e a aliança entre operários e camponeses. Liderados por Vladimir Ilitch Lênin.

Participação da Rússia na I Guerra Mundial: almejando conquistas territoriais (principalmente a região dos estreitos de Bósforo e Dardanelos, que daria aos russos o acesso ao mar Mediterrâneo por meio do Mar Negro), a Rússia esteve do lado da Inglaterra e da França (na Tríplice Entente) contra a Alemanha e a Áustria-Hungria. Sucessivas derrotas russas para o exército alemão → deserção em massa de soldados russos da frente de batalha → a Alemanha conquista boa parte do território russo → a Rússia se vê aniquilada militarmente e desorganizada economicamente (desabastecimento e escassez de gêneros básicos). AUMENTA A OPOSIÇÃO AO CZARISMO. Em 1917, trabalhadores russos fazem greves e manifestações, recebendo o apoio de soldados e marinheiros. Nicolau II é deposto.

Revolução Menchevique:

Em março de 1917 é instalada a República da Duma, chefiada pelo príncipe Lvov, politicamente moderado e influenciado pelo líder menchevique Alexandre Kerensky, membro do Soviete de Petrogrado, que era composto por operários, marinheiros e soldados. Kerensky assume efetivamente o poder da Duma em julho de 1917, após a renúncia de Lvov. O novo governante procura manter a Rússia na I Guerra e desenvolver o capitalismo no país para só então buscar o socialismo. Kerensky buscou atender aos compromissos e ligações com a burguesia que o apoiava.
Tal postura de Kerensky desagradou os bolcheviques, que queriam a imediata revolução proletária. Sob a liderança de Vladimir Lênin e Leon Trótski, os bolcheviques lançaram as Teses de abril que, por meio da plataforma “paz, terra e pão”, defendiam a saída da Rússia da I Guerra, a divisão das grandes propriedades entre os camponeses e a regularização do abastecimento interno. O lema “Todo poder aos sovietes!”. Trótski recrutou entre trabalhadores bolcheviques dos sovietes uma milícia revolucionária em Petrogrado, a Guarda Vermelha.

Revolução Bolchevique:

Em 07 de novembro, os bolcheviques tomaram de assalto os departamentos públicos e o palácio de inverno em Petrogrado, destituindo o governo menchevique e criando o Conselho de Comissários do Povo. Lênin transferiu o poder aos sovietes por meio do documento “Apelo aos trabalhadores, soldados e camponeses”. No comando do Conselho estavam Lênin, como presidente, Trótski, como encarregado dos negócios estrangeiros, e Josef Stálin, chefiando os negócios internos.

Governo de Vladimir Lênin (1917-1924):
  • Nacionalização das indústrias e bancos estrangeiros;
  • Redistribuição das terras no campo;
  • Assinatura de um armistício com a Alemanha, em Bret-Litovski, onde foi definida a saída da Rússia da I Guerra Mundial, com os russos abrindo mão de alguns territórios (Estônia, Letônia, Lituânia, Finlândia, Ucrânia e Polônia);
  • Enfrentou a oposição de mencheviques e czaristas – chamados de “russos brancos” –, que foram apoiados pelas potências aliadas, que temiam a propagação da revolução popular pelo mundo. A violenta guerra civil entre mencheviques e bolcheviques só foi encerrada em 1921, com vitória dos bolcheviques – os chamados “russos vermelhos”, por conta da Guarda Vermelha fundada por Trótski.
  • Durante essa guerra civil, foi adotada por Lênin a política econômica do comunismo de guerra: centralização da produção, eliminação da economia de mercado típica do capitalismo, busca por recursos para enfrentar o cerco internacional e a guerra contra os russos brancos, confisco da produção agrícola (fazendo desaparecerem os procedimentos de compra e venda de produtos, o que tornou desnecessário até o uso de moedas). Em 1921, mesmo com os bolcheviques vencendo os russos brancos e aliados, houve crises de abastecimento e revoltas camponesas por conta do confisco da produção agrícola.
  • Para evitar o colapso da economia após a guerra civil, Lênin instituiu a NEP – Nova Política Econômica –, uma combinação de princípios socialistas com elementos capitalistas. Estímulo à pequena manufatura privada, ao pequeno comércio e à venda livre de produtos por parte dos camponeses no mercado. O intuito era motivar a produção e garantir o abastecimento. Segundo Lênin, os elementos capitalistas eram necessários para fortalecer a economia e, a partir disso, possibilitar a implantação do regime socialista. A NEP durou até 1928, tendo recuperado parcialmente a economia soviética, inclusive com o crescimento da produção industrial, agrícola e do comércio.
  •  A relativa liberalização econômica foi acompanhada, por contraste, de um centralismo governamental, sob o poder do Partido Comunista Russo, único partido permitido no país e que teve esse nome adotado pelos bolcheviques a partir de 1918. Neste mesmo ano foi redigida uma constituição que criava a República Soviética Socialista Russa. Em 1923 foi elaborada uma outra que criava a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), união de diferentes regiões do antigo Império Russo, que foram transformadas em repúblicas federativas e socialistas. O Partido Comunista Russo foi transformado, em 1925, em Partido Comunista da União Soviética (PCUS).
  • Lênin morreu em 1924 (a causa de sua morte é motivo de discussão, uns dizem que foi sífilis, outros que foi assassinato e ainda há o fato de ele ter tido uma série de acidentes vasculares cerebrais). Leon Trótski – chefe do exército – e Josef Stálin – secretário-geral do Partido Comunista – disputaram o poder. Trótski queria difundir o socialismo pelo mundo, enquanto que Stálin desejava consolidar internamente a revolução, estruturar um Estado revolucionário forte e implantar o socialismo em um só país, para só então tentar levar a revolução para outras partes da Europa. Stálin saiu vitorioso e a partir de então começou a marginalizar Trótski e seus seguidores, até conseguir eliminá-los.

Governo de Josef Stálin (1924-1953):
  •    A partir de 1928, a NEP foi abolida, e a economia soviética viveu uma socialização total. Foram instaurados os planos quinquenais, elaborados pela Gosplan – o órgão encarregado da planificação econômica. Tais planos tinham como objetivo modernizar e industrializar a União Soviética. O primeiro plano quinquenal (1928-1933) procurou aumentar a produção como um todo por meio de um estímulo à industrialização (especialmente na área de indústria pesada, como a siderurgia e a maquinaria).
  •     No meio rural foi instalada a coletivização agrícola, por meio das fazendas estatais (os sovkhozes) e das cooperativas (os kolkhozes).
  •     Crescimento das indústrias de base e de consumo.
  •     Stálin procurou consolidar seu poder controlando o Partido Comunista e tornando-o o poder máximo que supervisionaria todos os sovietes.
  •    Atuação da GPU – Administração Política do Estado –, que era a polícia política revolucionária chefiada por Stálin.
  •   Stálin exilou Trótski em 1929, e, especialmente entre 1936 e 1938, promoveu julgamentos, condenações, expulsões do partido e punições a potenciais opositores, naquilo que ficou conhecido como o processo dos “expurgos de Moscou”. Muitas pessoas foram aprisionadas, executadas ou mandadas para prisões na Sibéria. Um agente da polícia política assassinou Trótski no México, em 1940.
  •   Em 1934, a URSS passou a participar da Liga das Nações, junto com países capitalistas que haviam apoiado o exército russo branco anos antes. Em 1935, no Congresso da Internacional Comunista (Komintern) em Moscou, 65 partidos comunistas internacionais apoiaram a política stalinista. Contudo, a partir da década de 1930, com a ascensão do fascismo na Itália e do nazismo na Alemanha, a URSS teria desafios pela frente, por conta do pacto anti-Komintern assinado entre Alemanhã, Itália e Japão em 1936, pacto que colocou um desafio à existência de um país comunista e do movimento operário internacional.


Apêndice – Problematizando a Revolução Russa

É preciso pensar:
·        1) nas ideias de Marx e Engels: até que ponto o processo iniciado com a Revolução Russa colocou tais ideias efetivamente em prática? PENSAR: a complexa relação entre teoria e prática, a distância entre o que se espera alcançar e o que é possível realizar.
·           2) nos crimes do stalinismo: violência e repressão.
→ É possível problematizarmos alguns aspectos da Revolução Russa a partir da literatura:
a)   Boris Pasternak (1890-1960): poeta e romancista russo. Na sua obra Doutor Jivago, publicada nos anos 1950, fez críticas ao governo soviético. O personagem principal do livro é um médico/poeta que é perseguido e criticado pelas autoridades soviéticas por conta de sua literatura ser sentimental, individual e não coletiva e voltada para a realidade dos trabalhadores, como pregava a política cultural do regime baseada no “realismo socialista”.[1] O Dr. Jivago é uma espécie de alter-ego do próprio Pasternak, que sofreu críticas parecidas por parte do regime ao longo de sua vida. O livro acabou sendo proibido na URSS por vários anos. Pasternak chegou a ganhar o Nobel de Literatura em 1958, mas o governo soviético o impediu de aceitar o prêmio. Há uma boa adaptação cinematográfica do livro, com Omar Shariff no papel principal.
b) Vladimir Maiakóvski (1893-1930): poeta russo. Participou ativamente da Revolução Russa de 1917, tendo apoiado o regime bolchevique. Usou sua arte na defesa dos seus ideais. Desiludido com as questões políticas e sociais da Rússia, cometeu suicídio em 1930. Defendeu o valor do sentimento em um momento em que o regime começava a valorizar mais uma literatura coletiva, realista, não tão voltada para o individual. No poema “Adultos”, ele disse: “Nos demais, / Todo mundo sabe, / o coração tem moradia certa, / fica bem aqui no meio do peito, / mas comigo a anatomia ficou louca, / sou todo coração”.





[1] O chamado “realismo socialista” surgiu na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas durante a década de 1920. Contudo, foi a partir do I Congresso de Escritores Soviéticos em 1934, com destaque para os papéis desempenhados por Andrei Jdanov e Máximo Gorki, que o realismo socialista encontrou o seu lugar como doutrina e estética oficial do Estado soviético no âmbito do stalinismo. O realismo socialista caracteriza-se por uma exaltação das classes trabalhadoras, por meio de uma representação “fiel” da vida e das dificuldades enfrentadas pelo proletariado no contexto da exploração capitalista. Neste tipo de “realismo”, a defesa da ideologia comunista é feita a partir de uma perspectiva de recusa do subjetivismo. Sobre o “realismo socialista”, consultar: STRADA, Vittorio. Da “revolução cultural” ao “realismo socialista”. In: HOBSBAWM, Eric J. (Org.). História do Marxismo – o marxismo na época da terceira internacional: problemas da cultura e da ideologia. Tradução de Carlos Nelson Coutinho, Luiz Sergio N. Henriques e Amélia Rosa Coutinho. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1987, p. 109-150. v. 9; HOBSBAWM, Eric J. Do “realismo socialista” ao zdhanovismo. In: Ibid. p. 151-219.

domingo, 15 de março de 2015

"A Morte de Marat": a visão de Jacques-Louis David sobre um episódio da Revolução Francesa

Jean-Paul Marat (1743-1793) foi um dos personagens de maior destaque durante os anos da Revolução Francesa. Editor do jornal O amigo do povo, ele costumava ficar bastante tempo imerso em uma banheira com água por causa de uma doença de pele crônica. 
No dia 13 de julho de 1793, Marat recebeu a visita de Marie-Anne Charlotte Courday d'Armont (1768-1793), uma jovem que se simpatizava com a Revolução, mas que não via com bons olhos o regime do Terror que os jacobinos haviam implantado no país. Charlotte Courday considerava que Marat instigava uma verdadeira guerra civil na França. Para convencer o jornalista a recebê-la, Courday disse que entregaria a Marat uma lista com os nomes de deputados girondinos que estavam escondidos em sua cidade natal, Caén. Após ouvir Marat dizer que todos aqueles homens seriam mandados para a guilhotina, Charlotte sacou uma faca e o apunhalou no peito. Marat estava em uma banheira, e ali mesmo faleceu. Charlotte foi presa ainda no local do crime e foi executada quatro dias depois.
A morte do jornalista gerou grande comoção na França, especialmente entre as camadas mais populares da sociedade. Marat se tornou objeto de culto popular. O pintor francês Jacques-Louis David (1748-1825) enfatizou esse culto na obra A morte de Marat (1793), reproduzida abaixo, na qual Marat é tratado como um mártir. Veja:


Um primeiro detalhe que merece ser observado no quadro é o fato de que, apesar de Marat ter sido violentamente assassinado, ele foi retratado com o rosto sereno. Essa opção feita pelo pintor permitia que Marat fosse lembrado pelo seu caráter virtuoso e heróico. O jornalista também é representado como alguém que não usou o poder para satisfazer interesses pessoais, pois o lençol e o caixote usado como escrivaninha passam a ideia de que o revolucionário levava uma vida marcada pela austeridade e pela pobreza. 
A pena e o bilhete perto do tinteiro, sobre o caixote, não estavam na cena real do crime e possivelmente foram acrescentados por Jacques-Louis David para representar Marat como um defensor do povo. A carta diz: "Entregue esse bilhete à mãe de cinco filhos cujo marido foi morto por defender a pátria". Na imagem, entre os dedos da mão direita, Marat ainda segura a pena com a qual escrevia, deixando em nós a sensação de que o quadro retrata os últimos instantes da vida do personagem. No chão, a faca faz oposição à pena segurada pelo jornalista. Na mão esquerda, Marat segura o bilhete enviado por Charlotte Courday como pretexto para entrar em sua casa. O pintor retratou Marat com a cabeça envolta em panos empapados com vinagre, o que nos remete à doença que acometia o revolucionário. Ademais, o braço direito de Marat está em uma posição semelhante à do braço do Cristo morto na Pietá, de Michelangelo, compare:


Pelo exposto acima, podemos dizer que o pintor Jacques-Louis David conferiu uma forte carga dramática à morte de Marat, um dos episódios marcantes da Revolução Francesa.

Fontes: 
AZEVEDO, Gislane; SERIACOPI, Reinaldo. História em movimento 2: o mundo moderno e a sociedade contemporânea. 2. ed. São Paulo: Ática, 2013, p. 133.
Jacques-Louis David: The Death of Marat. Disponível em: <http://www.bc.edu/bc_org/avp/cas/his/CoreArt/art/neocl_dav_marat.html>. Acesso em: 15 mar. 2015.

Para ver outras imagens...
Achou  o quadro A morte de Marat interessante? Saiba que esta obra de Jacques-Louis David foi apenas uma das várias obras produzidas sob o impacto da Revolução Francesa. O site L'Histoire par I'image disponibiliza uma série de imagens que retratam diversos momentos e personagens do processo revolucionário francês. Clique aqui e confira!

sexta-feira, 13 de março de 2015

História & Fotografia... algumas imagens interessantes

Dias atrás eu me deparei com uma matéria do site Ovelhas Voadoras que despertou a minha atenção. Nela, havia 19 fotografias muito interessantes. Confira abaixo as imagens:

Imagem 1


Essa arma podia matar 50 pássaros de uma vez, mais ou menos, já que descarregava muita munição para todos os lados. Os EUA baniram essa arma em 1860 devido à grande matança de pássaros.

Imagem 2


Uma foto tirada de cima em Nova York, 1939. Não tem uma pessoa sem chapéu na foto.

Imagem 3


Uma foto rara colorida do Hitler.

Imagem 4


Testando o primeiro colete à prova de balas, em 1923.

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Em 1967, a Suécia decidiu trocar as mãos para se adequar aos outros países e o trânsito virou um caos.

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Um soldado alemão usando um cavalo treinado para atirar de cima dele, em 1935.

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Um navio cheio de soldados voltando da Segunda Guerra Mundial para os EUA, em 1945.

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A primeira vez que a Noruega viu bananas, em 1905.

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Crianças ricas e pobres lado a lado na Inglaterra pré-guerra, em 1937.

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A face de um jogador de hockey chamado Terry Sawchuk antes dos capacetes serem obrigatórios no esporte, em 1966.

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Usando uma espada, um jovem de 17 anos assassina o político Asanuma em Tóquio, durante um discurso, em 1960.

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Uma foto do Stalin descontraído tirada pelo seu guarda-costas.

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Imagens da inteligência dos EUA imaginando como Hitler poderia ter se disfarçado caso o suicídio fosse falso, em 1945.

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Uma foto do iceberg que afundou o Titanic tirada na manhã do dia 15 de Abril de 1912. A foto foi tirada por causa da tinta vermelha que ficou no iceberg. Os tripulantes do barco de onde foi tirada a foto não sabiam ainda do acidente.

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Um alemão sendo executado em Munique, em 1919, por motivos políticos.

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Reação de soldados alemães sendo obrigados a ver vídeos dos campos de concentração, em 1945.

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Evelyn McHale pulou do Empire State, em 1947, e caiu desse jeito em um carro. Essa foto ficou conhecida como "o suicídio mais bonito do mundo".

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Espião russo rindo antes de ser executado na Finlândia, em 1942.

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Um jovem Hitler comemorando o início da Primeira Guerra Mundial, em 1914.