Processos
históricos como o da Revolução Francesa - com destaque para a fase do Terror -
nos levam a refletir sobre uma questão muito importante: é correto que a luta
por um ideal sirva de justificativa para que se cometa assassinatos? Não nos
esqueçamos: no período em que os jacobinos estiveram no poder durante os anos
revolucionários da França no final do século XVIII, uma quantidade enorme de
pessoas foi mandada para a guilhotina em nome da "Revolução". Mas a
Revolução Francesa não foi a única em que pessoas foram mortas em nome de
certas ideias. No século XX, também a Revolução Russa foi um movimento no qual
os "revolucionários" mataram muitas pessoas.
Como
se comportar diante de tais fatos? Uma instigante reflexão sobre o assunto foi
feita pelo intelectual francês Albert Camus (1913-1960) no ensaio O
Homem Revoltado, publicado em 1951. Segundo Voltaire Schilling, a obra
é “uma brilhante e literariamente bem articulada exposição sobre as
mazelas da revolução através dos tempos contemporâneos, inclusive com reparos
aos acontecimentos decorrentes de 1789”.[1] Neste livro, Camus faz uma
dura crítica aos revolucionários que, em nome de sua(s) Revolução/Revoluções, fazem
o uso da violência e atentam contra a vida de outras pessoas.
Para
um melhor entendimento da postura assumida pelo francês em seu ensaio,
recomendamos a leitura do texto abaixo:
Os
Homens Revoltados de Albert Camus
Nascido
em Mondovi, interior da Argélia, em 1913, e morto em 1960, em Villeblevin,
Albert Camus, escritor e pensador, refletiu profundamente sobre o homem
moderno, o homem do século 20. Esquecido por muitos, Camus ainda tem bastante a
dizer sobre os movimentos revolucionários e suas implicações para a sociedade.
Em
“O Homem Revoltado”, publicado em 1951, a intensidade das guerras, a morte e o
assassinato deliberados fizeram Camus buscar as causas filosóficas e
psicológicas do absurdo de assassinar. O autor tenta compreender as
transformações da natureza humana. O livro é essencial na biblioteca de
qualquer um que queira compreender a história do último século.
O
homem revoltado é aquele que se encontra em meio à exaltação da vida e à
negação da morte. Em princípio, a revolta quer liberdade, quer viver. Prometeu
foi o primeiro revoltado. O homem no seu encalço destrona Deus, a liberdade
necessária ao homem não está nas limitações morais e éticas da Igreja.
O
homem moderno é essencialmente um homem crítico e tentadoramente afeito aos
absurdos. O absurdo está em matar e morrer por ideias e princípios obscuros:
ponto central para entendermos os homens revolucionários de outrora e os de
agora. A causa nobre da revolução não pode ser maculada. De Prometeu a Nietzsche,
o revoltado de outrora tinha princípios: elevar o homem e seu valor ao grau
maior.
O
homem revoltado, segundo Camus, não é o revolucionário. Este é sem exceção o
homem revoltado sem aquele princípio: o homem é nada, apenas a revolução é
“sagrada”. Camus polemizou um ponto que persiste na história do século 20: a
revolução eleva-se ao nível do sagrado, do inegável. Por fim, Camus esboça um
apelo para que voltemos nossas ideias aos primeiros revoltados, aqueles com
princípios, aqueles que respeitavam a vida.
A
Vida acima de tudo!
(NOTA: O texto “Os Homens
Revoltados de Albert Camus” que foi reproduzido acima é de autoria de Fabrícia Vieira de Araújo e foi originalmente publicado na Coluna do NEHAC do Jornal
Correio de Uberlândia no dia 18 de janeiro de 2013.)
***************
Ficou
com vontade de saber mais sobre o assunto? Então, além da leitura do próprio livro
de Camus, recomendamos alguns textos disponíveis na internet:
LIMA, Raymundo de. Revolução ou revolta? - I - (Um retorno a Albert Camus em seis pontos). Revista Espaço Acadêmico, n. 86, jul. 2008. Disponível em: <http://www.espacoacademico.com.br/086/86lima_raymundo.htm>. Acesso em: 23 mar. 2015.
______. Revolução ou revolta? - Parte II - (Um retorno a Albert Camus em sete pontos). Revista Espaço Acadêmico, n. 87, ago. 2008. Disponível em: <http://espacoacademico.com.br/087/87lima.htm>. Acesso em: 23 mar. 2015.
O HOMEM revoltado. Razão Inadequada. Disponível em: <https://arazaoinadequada.wordpress.com/filosofos-essenciais/camus/o-homem-revoltado/>. Acesso em: 23 mar. 2015.
______. Revolução ou revolta? - Parte II - (Um retorno a Albert Camus em sete pontos). Revista Espaço Acadêmico, n. 87, ago. 2008. Disponível em: <http://espacoacademico.com.br/087/87lima.htm>. Acesso em: 23 mar. 2015.
O HOMEM revoltado. Razão Inadequada. Disponível em: <https://arazaoinadequada.wordpress.com/filosofos-essenciais/camus/o-homem-revoltado/>. Acesso em: 23 mar. 2015.
SILVA, Franklin Leopoldo e. Crítica de "O Homem Revoltado": Jeanson e Sartre. Arethusa. Disponível em: <http://arethusa.fflch.usp.br/node/32>. Acesso em: 23 mar. 2015.
VICENTE, José João Neves Barbosa; GONTIJO, Frances Deizer. O absurdo e a revolta em Camus. Revista Trías, n. 3, p. 1-10, set. 2011. Disponível em: <http://revistatrias.pro.br/artigos/ed-3/o-absurdo-e-a-revolta-em-camus.pdf>. Acesso em 23 mar. 2015.
[1] SCHILLING, Voltaire. Albert Camus contra Jean-Paul Sartre: o fim da
revolução. Terra. Disponível: <http://noticias.terra.com.br/educacao/historia/albert-camus-contra-jean-paul-sartre-o-fim-da-revolucao,a00870c4d76da310VgnCLD200000bbcceb0aRCRD.html>.
Acesso em: 23 mar. 2015.