A Rússia no início do século XX:
a)
Antigo Regime (Absolutismo);
b) grandes proprietários de terras, clero e
oficiais do exército ocupam o topo da pirâmide social;
c) sociedade baseada na
posse de terras e em títulos honoríficos;
d) czarismo.
→
Semelhanças com o mundo feudal. A Rússia estava bem diferente de outros países
onde o capitalismo se desenvolvia rapidamente.
→ Boiardos: nobres proprietários que
exploravam a população camponesa.
→ Mujiques: servos.
Os últimos czares:
→ Alexandre II (1818-1881): aboliu a servidão e eliminou as
dívidas dos mujiques.
→ Alexandre III (1845-1894): estimulou investimentos estrangeiros
(alemães, belgas, franceses e ingleses), o que impulsionou a industrialização
russa e evidenciou o contraste entre a estrutura agrária oligárquica czarista e
a modernização. Repressão a anarquistas e comunistas por meio da Okrana (polícia política).
→ Nicolau II (1868-1918): continuou a industrialização baseada
em capitais estrangeiros.
Apesar de tais tentativas de modernização, os
monarcas da dinastia Romanov, no
poder desde 1613, não abriam mão de governar de maneira absolutista, onde o
czar se confundia com o Estado. Tal fato fez crescer a oposição ao absolutismo,
notadamente por parte da crescente burguesia. CORROSÃO DO CZARISMO.
→ Fracasso
do czar Nicolau II na Guerra
Russo-Japonesa (1904-1905), quando a Rússia disputou com o Japão a região
da Coreia e da Manchúria.
→ 22
de janeiro de 1905: manifestação popular em frente ao palácio de inverno dos
monarcas em São Petersburgo (que seria chamada de Petrogrado e, depois, de
Leningrado) é violentamente reprimida em um episódio conhecido como Domingo Sangrento. Os manifestantes
desejavam a convocação de uma assembleia constituinte e a implantação de
melhores condições e regras trabalhistas. Mesmo se mostrando pacíficos e
desarmados, foram dizimados às centenas por soldados e pela polícia.
→
Após o Domingo Sangrento, uma onda de protestos se espalha pelo Império Russo.
Há uma greve geral e levantes militares, como no encouraçado Potemkin, um navio da esquadra do Mar Negro. O czar se
vê obrigado a assinar o tratado de
Portsmouth, em 05 de setembro de 1905, encerrando o conflito com o Japão. A
Rússia perdeu parte da ilha de Sacalina, foi obrigada a entregar a península de
Liaotung e teve que reconhecer os direitos dos japoneses sobre a Coreia.
→
Diante das crescentes manifestações, o czar lança o Manifesto de Outubro, ainda em 1905, por meio do qual promete
instaurar uma monarquia constitucional e parlamentarista. Trabalhadores das
indústrias e camponeses começam a intensificar sua participação política
popular por meio dos sovietes –
conselhos de trabalhadores.
→ Em
1906, Nicolau II cumpre sua promessa e instaura a Duma – parlamento – com o intuito de redigir uma nova constituição.
Contudo, o czar enviou decretos que o colocavam acima do poder legislativo,
mesmo sendo esse controlado por membros das elites nacionais. Vieram as
críticas parlamentares, e o czar dissolveu a Duma no ano seguinte,
substituindo-a por uma de caráter censitário, ou seja, baseada no poder
econômico.
→
Opositores do czarismo: a) narodnikis (populistas); b) anarquistas (inspirados
pelas ideias de Bakunin), e c)
social-democratas (marxistas).
Os Marxistas se dividiam em duas facções:
→ Mencheviques (do russo menshe = menos, pois tinham presença
minoritária no Congresso da Social-democracia dos Trabalhadores Russos): eram marxistas ortodoxos, defendiam o
desenvolvimento e o amadurecimento do capitalismo, para só então buscar o
socialismo. Eram liderados por Gheorghi Plekhanov e Iulii Martov.
→ Bolcheviques (do russo bolshe = mais, pois tinham maioria no
Congresso da Social-democracia dos Trabalhadores Russos): defendiam a revolução socialista, a instalação da ditadura do
proletariado e a aliança entre operários e camponeses. Liderados por Vladimir
Ilitch Lênin.
Participação da Rússia na I Guerra Mundial:
almejando conquistas territoriais (principalmente a região dos estreitos de
Bósforo e Dardanelos, que daria aos russos o acesso ao mar Mediterrâneo por
meio do Mar Negro), a Rússia esteve do lado da Inglaterra e da França (na
Tríplice Entente) contra a Alemanha e a Áustria-Hungria. Sucessivas derrotas
russas para o exército alemão → deserção em massa de soldados russos da frente
de batalha → a Alemanha conquista boa parte do território russo → a Rússia se
vê aniquilada militarmente e desorganizada economicamente (desabastecimento e
escassez de gêneros básicos). AUMENTA A OPOSIÇÃO AO CZARISMO. Em 1917,
trabalhadores russos fazem greves e manifestações, recebendo o apoio de
soldados e marinheiros. Nicolau II é deposto.
Revolução
Menchevique:
Em março de 1917 é instalada a República da
Duma, chefiada pelo príncipe Lvov, politicamente moderado e influenciado pelo
líder menchevique Alexandre Kerensky,
membro do Soviete de Petrogrado, que era composto por operários, marinheiros e
soldados. Kerensky assume efetivamente o poder da Duma em julho de 1917, após a
renúncia de Lvov. O novo governante procura manter a Rússia na I Guerra e
desenvolver o capitalismo no país para só então buscar o socialismo. Kerensky
buscou atender aos compromissos e ligações com a burguesia que o apoiava.
Tal postura de Kerensky desagradou os
bolcheviques, que queriam a imediata revolução proletária. Sob a liderança de
Vladimir Lênin e Leon Trótski, os bolcheviques lançaram as Teses de abril que, por meio da plataforma “paz, terra e pão”,
defendiam a saída da Rússia da I Guerra, a divisão das grandes propriedades
entre os camponeses e a regularização do abastecimento interno. O lema “Todo
poder aos sovietes!”. Trótski recrutou entre trabalhadores bolcheviques dos
sovietes uma milícia revolucionária em Petrogrado, a Guarda Vermelha.
Revolução
Bolchevique:
Em 07 de novembro, os bolcheviques tomaram de
assalto os departamentos públicos e o palácio de inverno em Petrogrado,
destituindo o governo menchevique e criando o Conselho de Comissários do Povo.
Lênin transferiu o poder aos sovietes por meio do documento “Apelo aos
trabalhadores, soldados e camponeses”. No comando do Conselho estavam Lênin,
como presidente, Trótski, como encarregado dos negócios estrangeiros, e Josef
Stálin, chefiando os negócios internos.
Governo
de Vladimir Lênin (1917-1924):
- Nacionalização das indústrias e bancos estrangeiros;
- Redistribuição das terras no campo;
- Assinatura de um armistício com a Alemanha, em Bret-Litovski, onde foi definida a saída da Rússia da I Guerra Mundial, com os russos abrindo mão de alguns territórios (Estônia, Letônia, Lituânia, Finlândia, Ucrânia e Polônia);
- Enfrentou a oposição de mencheviques e czaristas – chamados de “russos brancos” –, que foram apoiados pelas potências aliadas, que temiam a propagação da revolução popular pelo mundo. A violenta guerra civil entre mencheviques e bolcheviques só foi encerrada em 1921, com vitória dos bolcheviques – os chamados “russos vermelhos”, por conta da Guarda Vermelha fundada por Trótski.
- Durante essa guerra civil, foi adotada por Lênin a política econômica do comunismo de guerra: centralização da produção, eliminação da economia de mercado típica do capitalismo, busca por recursos para enfrentar o cerco internacional e a guerra contra os russos brancos, confisco da produção agrícola (fazendo desaparecerem os procedimentos de compra e venda de produtos, o que tornou desnecessário até o uso de moedas). Em 1921, mesmo com os bolcheviques vencendo os russos brancos e aliados, houve crises de abastecimento e revoltas camponesas por conta do confisco da produção agrícola.
- Para evitar o colapso da economia após a guerra civil, Lênin instituiu a NEP – Nova Política Econômica –, uma combinação de princípios socialistas com elementos capitalistas. Estímulo à pequena manufatura privada, ao pequeno comércio e à venda livre de produtos por parte dos camponeses no mercado. O intuito era motivar a produção e garantir o abastecimento. Segundo Lênin, os elementos capitalistas eram necessários para fortalecer a economia e, a partir disso, possibilitar a implantação do regime socialista. A NEP durou até 1928, tendo recuperado parcialmente a economia soviética, inclusive com o crescimento da produção industrial, agrícola e do comércio.
- A relativa liberalização econômica foi acompanhada, por contraste, de um centralismo governamental, sob o poder do Partido Comunista Russo, único partido permitido no país e que teve esse nome adotado pelos bolcheviques a partir de 1918. Neste mesmo ano foi redigida uma constituição que criava a República Soviética Socialista Russa. Em 1923 foi elaborada uma outra que criava a União das Repúblicas Socialistas Soviéticas (URSS), união de diferentes regiões do antigo Império Russo, que foram transformadas em repúblicas federativas e socialistas. O Partido Comunista Russo foi transformado, em 1925, em Partido Comunista da União Soviética (PCUS).
- Lênin morreu em 1924 (a causa de sua morte é motivo de discussão, uns dizem que foi sífilis, outros que foi assassinato e ainda há o fato de ele ter tido uma série de acidentes vasculares cerebrais). Leon Trótski – chefe do exército – e Josef Stálin – secretário-geral do Partido Comunista – disputaram o poder. Trótski queria difundir o socialismo pelo mundo, enquanto que Stálin desejava consolidar internamente a revolução, estruturar um Estado revolucionário forte e implantar o socialismo em um só país, para só então tentar levar a revolução para outras partes da Europa. Stálin saiu vitorioso e a partir de então começou a marginalizar Trótski e seus seguidores, até conseguir eliminá-los.
Governo
de Josef Stálin (1924-1953):
- A partir de 1928, a NEP foi abolida, e a economia soviética viveu uma socialização total. Foram instaurados os planos quinquenais, elaborados pela Gosplan – o órgão encarregado da planificação econômica. Tais planos tinham como objetivo modernizar e industrializar a União Soviética. O primeiro plano quinquenal (1928-1933) procurou aumentar a produção como um todo por meio de um estímulo à industrialização (especialmente na área de indústria pesada, como a siderurgia e a maquinaria).
- No meio rural foi instalada a coletivização agrícola, por meio das fazendas estatais (os sovkhozes) e das cooperativas (os kolkhozes).
- Crescimento das indústrias de base e de consumo.
- Stálin procurou consolidar seu poder controlando o Partido Comunista e tornando-o o poder máximo que supervisionaria todos os sovietes.
- Atuação da GPU – Administração Política do Estado –, que era a polícia política revolucionária chefiada por Stálin.
- Stálin exilou Trótski em 1929, e, especialmente entre 1936 e 1938, promoveu julgamentos, condenações, expulsões do partido e punições a potenciais opositores, naquilo que ficou conhecido como o processo dos “expurgos de Moscou”. Muitas pessoas foram aprisionadas, executadas ou mandadas para prisões na Sibéria. Um agente da polícia política assassinou Trótski no México, em 1940.
- Em 1934, a URSS passou a participar da Liga das Nações, junto com países capitalistas que haviam apoiado o exército russo branco anos antes. Em 1935, no Congresso da Internacional Comunista (Komintern) em Moscou, 65 partidos comunistas internacionais apoiaram a política stalinista. Contudo, a partir da década de 1930, com a ascensão do fascismo na Itália e do nazismo na Alemanha, a URSS teria desafios pela frente, por conta do pacto anti-Komintern assinado entre Alemanhã, Itália e Japão em 1936, pacto que colocou um desafio à existência de um país comunista e do movimento operário internacional.
Apêndice
– Problematizando a Revolução Russa
É preciso pensar:
· 1) nas ideias de Marx e Engels: até que ponto o
processo iniciado com a Revolução Russa colocou tais ideias efetivamente em
prática? PENSAR: a complexa relação entre teoria e prática, a distância entre o
que se espera alcançar e o que é possível realizar.
· 2) nos crimes do stalinismo: violência e
repressão.
→ É
possível problematizarmos alguns aspectos da Revolução Russa a partir da
literatura:
a) Boris
Pasternak (1890-1960): poeta e romancista russo. Na sua obra Doutor Jivago, publicada nos anos 1950,
fez críticas ao governo soviético. O personagem principal do livro é um
médico/poeta que é perseguido e criticado pelas autoridades soviéticas por
conta de sua literatura ser sentimental, individual e não coletiva e voltada
para a realidade dos trabalhadores, como pregava a política cultural do regime
baseada no “realismo socialista”.[1] O Dr. Jivago é uma espécie
de alter-ego do próprio Pasternak, que sofreu críticas parecidas por parte do
regime ao longo de sua vida. O livro acabou sendo proibido na URSS por vários anos.
Pasternak chegou a ganhar o Nobel de Literatura em 1958, mas o governo
soviético o impediu de aceitar o prêmio. Há uma boa adaptação cinematográfica
do livro, com Omar Shariff no papel principal.
b) Vladimir
Maiakóvski (1893-1930): poeta russo. Participou ativamente da Revolução Russa
de 1917, tendo apoiado o regime bolchevique. Usou sua arte na defesa dos seus
ideais. Desiludido com as questões políticas e sociais da Rússia, cometeu
suicídio em 1930. Defendeu o valor do sentimento em um momento em que o regime
começava a valorizar mais uma literatura coletiva, realista, não tão voltada
para o individual. No poema “Adultos”, ele disse: “Nos demais, / Todo mundo
sabe, / o coração tem moradia certa, / fica bem aqui no meio do peito, / mas
comigo a anatomia ficou louca, / sou todo coração”.
[1] O chamado “realismo socialista”
surgiu na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas durante a década de 1920.
Contudo, foi a partir do I Congresso de Escritores Soviéticos em 1934, com
destaque para os papéis desempenhados por Andrei Jdanov e Máximo Gorki, que o
realismo socialista encontrou o seu lugar como doutrina e estética oficial do
Estado soviético no âmbito do stalinismo. O realismo socialista caracteriza-se
por uma exaltação das classes trabalhadoras, por meio de uma representação
“fiel” da vida e das dificuldades enfrentadas pelo proletariado no contexto da
exploração capitalista. Neste tipo de “realismo”, a defesa da ideologia
comunista é feita a partir de uma perspectiva de recusa do subjetivismo. Sobre
o “realismo socialista”, consultar: STRADA, Vittorio. Da “revolução cultural”
ao “realismo socialista”. In: HOBSBAWM, Eric J. (Org.). História do Marxismo – o marxismo na época da terceira
internacional: problemas da cultura e da ideologia. Tradução de Carlos Nelson
Coutinho, Luiz Sergio N. Henriques e Amélia Rosa Coutinho. Rio de Janeiro: Paz
e Terra, 1987, p. 109-150. v. 9; HOBSBAWM, Eric J. Do “realismo socialista” ao
zdhanovismo. In: Ibid. p. 151-219.