Jean-Paul Marat (1743-1793) foi um dos personagens de maior destaque durante os anos da Revolução Francesa. Editor do jornal O amigo do povo, ele costumava ficar bastante tempo imerso em uma banheira com água por causa de uma doença de pele crônica.
No dia 13 de julho de 1793, Marat recebeu a visita de Marie-Anne Charlotte Courday d'Armont (1768-1793), uma jovem que se simpatizava com a Revolução, mas que não via com bons olhos o regime do Terror que os jacobinos haviam implantado no país. Charlotte Courday considerava que Marat instigava uma verdadeira guerra civil na França. Para convencer o jornalista a recebê-la, Courday disse que entregaria a Marat uma lista com os nomes de deputados girondinos que estavam escondidos em sua cidade natal, Caén. Após ouvir Marat dizer que todos aqueles homens seriam mandados para a guilhotina, Charlotte sacou uma faca e o apunhalou no peito. Marat estava em uma banheira, e ali mesmo faleceu. Charlotte foi presa ainda no local do crime e foi executada quatro dias depois.
A morte do jornalista gerou grande comoção na França, especialmente entre as camadas mais populares da sociedade. Marat se tornou objeto de culto popular. O pintor francês Jacques-Louis David (1748-1825) enfatizou esse culto na obra A morte de Marat (1793), reproduzida abaixo, na qual Marat é tratado como um mártir. Veja:
Um primeiro detalhe que merece ser observado no quadro é o fato de que, apesar de Marat ter sido violentamente assassinado, ele foi retratado com o rosto sereno. Essa opção feita pelo pintor permitia que Marat fosse lembrado pelo seu caráter virtuoso e heróico. O jornalista também é representado como alguém que não usou o poder para satisfazer interesses pessoais, pois o lençol e o caixote usado como escrivaninha passam a ideia de que o revolucionário levava uma vida marcada pela austeridade e pela pobreza.
A pena e o bilhete perto do tinteiro, sobre o caixote, não estavam na cena real do crime e possivelmente foram acrescentados por Jacques-Louis David para representar Marat como um defensor do povo. A carta diz: "Entregue esse bilhete à mãe de cinco filhos cujo marido foi morto por defender a pátria". Na imagem, entre os dedos da mão direita, Marat ainda segura a pena com a qual escrevia, deixando em nós a sensação de que o quadro retrata os últimos instantes da vida do personagem. No chão, a faca faz oposição à pena segurada pelo jornalista. Na mão esquerda, Marat segura o bilhete enviado por Charlotte Courday como pretexto para entrar em sua casa. O pintor retratou Marat com a cabeça envolta em panos empapados com vinagre, o que nos remete à doença que acometia o revolucionário. Ademais, o braço direito de Marat está em uma posição semelhante à do braço do Cristo morto na Pietá, de Michelangelo, compare:
Pelo exposto acima, podemos dizer que o pintor Jacques-Louis David conferiu uma forte carga dramática à morte de Marat, um dos episódios marcantes da Revolução Francesa.
Fontes:
AZEVEDO, Gislane; SERIACOPI, Reinaldo. História em movimento 2: o mundo moderno e a sociedade contemporânea. 2. ed. São Paulo: Ática, 2013, p. 133.
Jacques-Louis David: The Death of Marat. Disponível em: <http://www.bc.edu/bc_org/avp/cas/his/CoreArt/art/neocl_dav_marat.html>. Acesso em: 15 mar. 2015.
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