NOTA: Este texto foi originalmente escrito por Rodrigo de Freitas Costa, professor da Universidade Federal do Triângulo Mineiro (UFTM), e publicado na Coluna do NEHAC do Jornal Correio de Uberlândia (27 abr. 2012).
Qual o lugar da poesia entre nós? Essa é uma pergunta difícil de ser respondida, porém não podemos esquecer que as artes fazem parte do nosso cotidiano. O que seria dos Homens sem a poesia que embala canções, promove diálogos, constrói narrativas e permite momentos singulares? A sensibilidade aflora em momentos como esses e nos possibilita olhar para o nosso meio de forma diferenciada. Sendo assim, a Coluna NEHAC desta semana faz questão de lembrar o nome de um dos poetas mais contundentes do século XX: Vladimir Maiakóvski.
Nascido em 1893 na Rússia czarista, era desenhista, ator, dramaturgo, poeta e tornou-se revolucionário com os acontecimentos de 1917. Fez de seu trabalho um apelo ao presente e à possibilidade de transformação social, sem se esquecer que a multiplicidade humana não pode ser banalizada, principalmente nos momentos revolucionários. Maiakóvski foi um artista de seu tempo, viveu intensamente cada um dos momentos do início do século e expressou uma sensibilidade contagiante em seus textos.
Em um poema, o escritor nos apresenta algo que é essencial, apesar de muito esquecido: a paixão e a sensibilidade. “Nos demais,/ Todo mundo sabe, / o coração tem moradia certa, / fica bem aqui no meio do peito, / mas comigo a anatomia ficou louca, /sou todo coração”. Para um artista que acreditava na transformação política por meio da ação humana, falar que é “todo coração” significava mais que uma simples discussão do ponto de vista pessoal. No fundo, ele chamava a atenção de seus leitores para o fato de que o Homem deve se lembrar de sua própria transitoriedade.
Não há um elemento fixo que caracteriza todos nós. Nesse caso, a poesia de Maiakóvski ganhava uma força diferenciada, pois, em meio ao clima revolucionário da época, o poeta se lembrava da sensibilidade humana. Essa sensibilidade é um tema que precisa ser constantemente retomado, inclusive entre nós hoje, homens da técnica e dos tempos fluídos.
O poeta se matou em 1930, desiludido com o andamento das questões políticas e sociais da Rússia. Acreditava ter cumprido a sua função, e deixou vários textos aos pósteros. Cabe a cada um de nós redescobrir nas palavras de Maiakóvski a força da poesia, pois ela não reside nos textos, mas sim nos sujeitos múltiplos que a recuperam. Nesse caso, é bom finalizar com as palavras do poeta: “Ressuscite-me, / ainda que apenas, / porque fui um poeta.”