O
início do século XX viu os desdobramentos da Revolução Industrial, fenômeno que
havia se iniciado no século XVIII. Houve uma profunda alteração social, com a
multiplicação da população, dos serviços e das mercadorias. O aumento da
produtividade das fábricas foi acompanhado por uma redução nos custos de
produção. O capitalismo desenvolveu a sua capacidade de criar o seu próprio
mercado consumidor. Algumas transformações interessantes do período foram o uso
de máquinas no lugar de ferramentas e o uso de forças naturais no lugar da
força humana. A Revolução Industrial, portanto, foi marcada pela aceleração do
crescimento econômico, a introdução de novas técnicas industriais e a revolução
tecnológica. É preciso lembrar que este foi um processo que se desenrolou ao
longo de muito tempo, a partir dos cercamentos na Inglaterra, do domínio do
capital mercantil sobre a produção artesanal e do poderio econômico, comercial
e militar inglês.
No
final do século XIX, a velocidade e o impacto das transformações desencadeadas
pela Revolução Industrial foram tão intensos que muitos chegaram a falar que o
mundo já vivenciava uma Segunda Revolução Industrial. O processo de
industrialização atingiu uma escala mundial (Inglaterra, Europa, Estados Unidos
e Japão). Algumas tecnologias desenvolvidas na época foram a eletricidade,
motores a combustão, siderurgia do aço e indústria química. As indústrias se
aperfeiçoaram, bem como as estradas de ferro e a navegação, que agora eram
complementadas pelos automóveis e pelos aviões.
Neste
cenário, os países mais industrializados começaram a competir entre si pelo
controle de diversas áreas do mundo, em busca de mercados consumidores e
matérias-primas para os seus produtos. Por meio da dominação política direta ou
indireta, os países europeus, o Japão e os EUA subordinaram vários outros
locais do mundo, sobretudo na América, na África e na Ásia. Tal era o contexto
daquilo que ficaria conhecido como imperialismo.
A
passagem do século XIX para o século XX também foi marcada pela ascensão dos
Estados Unidos da América que, após as conquistas territoriais obtidas com a
Marcha para o Oeste, fizeram da América Central uma área de influência,
estenderam sua hegemonia para a América do Sul e começaram a ocupar algumas
regiões do oceano Pacífico.
O
continente africano se viu dividido pelas potências europeias a partir da
Conferência Internacional de Berlim (1884-1885). O continente asiático, por sua
vez, foi marcado por conflitos que envolveram os interesses de países da
Europa, dos EUA, da Rússia e do Japão.
Do
ponto de vista cultural, pode-se dizer que a passagem do século XIX para o
século XX foi marcada pela existência de algumas ideologias. O liberalismo
econômico, esboçado a partir do final do século XVII, defendia que os governos
deveriam garantir a liberdade de comércio, de modo que a pouca interferência do
Estado possibilitasse que as forças de mercado definissem os rumos da economia.
Nesta perspectiva, havia a defesa da propriedade privada, das leis do mercado e
da busca do lucro, demandas da burguesia.
O
liberalismo político ganhou corpo ao longo do século XIX e baseou-se na defesa
dos direitos à liberdade individual, à propriedade e à igualdade de todos
perante a lei. É preciso dizer que havia diversas correntes liberais, com
diferenças entre si, ou seja, o que se entendia por cada um desses direitos
dependia em muito da corrente liberal específica. Todavia, não se pode negar
que o governo representativo foi estabelecido a partir do liberalismo. O Estado
deveria ser organizado de modo que os homens tivessem garantidos os seus
direitos naturais e pudessem participar da vida pública como eleitores e por
meio de seus representantes. A partir da noção de que a soberania era derivada
da nação e do povo, o Estado passou a ser visto como a incorporação da vontade
de seus cidadãos, e não mais como uma propriedade particular de um governante.
Este Estado-Nação estaria acima do rei, da Igreja, de grupos políticos, da
corporação e da província. Paralelamente a esta ideia, desenvolveu-se também
uma noção de unidade nacional, onde um passado idealizado em comum, afinidades
étnicas, a cultura popular e as tradições formavam um sentimento de identidade
nacional. Cada país tinha assim os seus mitos, mártires e dias sagrados.
Contra
este nacionalismo e contra o Estado burguês, ativistas do movimento operário
denunciaram a exploração da classe trabalhadora, em uma perspectiva
internacionalista. A inspiração dessa postura eram as ideias de Karl Marx e
Friedrich Engels, que defendiam que os trabalhadores de todo o mundo deveriam
se unir contra as concepções liberais e nacionalistas. O que era desejado por
Marx e Engels era uma revolução global. Sob esse prisma, os socialistas viam
nas revoluções burguesas um mero instrumento nacionalista de exploração do
trabalho assalariado pelo capital. Os trabalhadores deveriam tomar consciência
de seu caráter internacional. Segundo Marx, a história da luta entre as classes
sociais era a própria história da humanidade. A superação da sociedade
capitalista seria o fim das próprias classes sociais, ou seja, o advento de uma
sociedade sem explorados e exploradores. Esta nova sociedade, em que a
propriedade seria coletiva, só seria possível por meio da revolução socialista
onde o proletariado venceria a burguesia. Neste mundo desejado por Marx e
Engels, o Estado deixaria de existir.
Além
do liberalismo e do socialismo, não podemos nos esquecer do anarquismo, movimento
que teve como inspiração as ideias de Pierre Joseph Proudhon. Os anarquistas
criticavam a exploração dos trabalhadores, defendiam o fim da propriedade
privada e apoiavam a ideia de que o fim do Estado deveria acontecer a partir da
derrubada imediata do capitalismo. Uma figura importante dentro do pensamento
anarquista como Mikhail Bakunin temia que os marxistas se tornassem os novos
exploradores após a derrota do capitalismo. Segundo Bakunin, uma vez no poder,
os marxistas se transformariam em uma minoria privilegiada que passaria a
defender apenas os seus próprios interesses, e não mais os da ampla massa de
trabalhadores. Segundo o ideário anarquista, os trabalhadores deveriam,
portanto, destruir imediatamente o Estado após a revolução.
A Belle Époque
As
transformações ocorridas a partir da Segunda Revolução Industrial fizeram com
que muitos acreditassem que o mundo estava caminhando para um futuro melhor. Em
meio a este entusiasmo, a passagem do século XIX para o século XX ficou
conhecida como Belle Époque (do
francês “bela época”). Diversas descobertas científicas foram feitas naquele
período. Foram inventados a bicicleta (1861), o metrô (1863), o bonde elétrico
(1874), a locomotiva elétrica (1879), a motocicleta (1885) e o automóvel (1886).
Quanto aos meios de comunicação, foram criados o telefone (1876), o fonógrafo
(1877) e o telégrafo sem fios (1895), além do cinema (1895), desenvolvido pelos
irmãos franceses Auguste e Louis Lumière, e do rádio, que surgiu no início do
século XX e, ao lado do cinema, seria muito presente no lazer de massa da
sociedade moderna. O cinema era acessível a várias camadas sociais, uma vez que
as entradas tinham o preço baixo, possibilitando que o proletariado fizesse
parte do público espectador.
A
própria indústria passou por transformações, como a criação da linha de
montagem na fábrica de automóveis Ford, nos EUA. A produção em série
proporcionada pela linha de montagem levou a um aumento da produtividade e à
diminuição dos preços dos produtos. As formas de pagamento também se
diversificaram, como bem demonstra o surgimento das vendas a crédito. Os
primeiros magazines, como a rede parisiense Au
Bon Marché (1876), também surgiram neste período e foram os precursores das
lojas de departamentos.
A
área médica e de saúde também viu algumas descobertas acontecerem durante a Belle Époque. Os bacteriólogos Robert
Koch (1843-1910), da Alemanha, e Louis Pasteur (1822-1895), da França,
descobriram que as doenças eram causadas por agentes infecciosos, como as
bactérias. Até 1890, os agentes de doenças como tuberculose, cólera, febre
tifoide e tétano já haviam sido identificados e vacinas vinham sendo
desenvolvidas. Esses avanços foram importantíssimos para que o número de mortes
causadas por tais doenças fosse reduzido. Na mesma época, constatou-se que o
uso de antissépticos impedia infecções pós-operatórias, o que reduziu a taxa de
mortalidade decorrente de intervenções cirúrgicas. O desenvolvimento dos
anestésicos, por sua vez, possibilitou aos médicos o alívio da dor de seus
pacientes e a realização de cirurgias mais demoradas, algo até então
impraticável.
A democratização da Europa
O
movimento de luta pela democracia ampliou-se na Europa durante aquele período,
a quantidade de eleitores aumentou e as pessoas de classes de baixa renda
ganharam o direito de serem votadas. O sistema eleitoral foi reformado por meio
de leis na Inglaterra, na Bélgica, na Noruega, na Suécia e em outros países. Os
primeiros partidos políticos modernos foram formados, e muitas pessoas que até
então não eram bem representadas no jogo político ganharam mais espaço. Esses
partidos eram verdadeiros centros de reflexão, responsáveis por formular
doutrinas e ideologias.
As
mulheres intensificaram sua luta pelo direito de votar e de concorrer em
eleições. Elas fundaram associações e participaram de protestos em várias
partes do mundo. A partir dessas e de outras mobilizações, o sufrágio universal
começou a ser adotado em várias partes do mundo. Em 1893, a Nova Zelândia
tornou-se o primeiro país onde as mulheres podiam votar. A Finlândia foi o
primeiro país europeu a aprovar o voto feminino, em 1906. Outros países somente
seguiram este exemplo depois da Grande Guerra (1914-1918), tais como Inglaterra
(1918), Estados Unidos (1920) e Brasil (1932).
No
intuito de combater o analfabetismo, vários países europeus tornaram
obrigatória e gratuita a educação de crianças. O número de leitores de jornais,
livros e revistas aumentou, surgindo publicações voltadas para os públicos
infantil e feminino. Em tais publicações, existiam fotografias e ilustrações
coloridas, algo até então pouco comum.
As
classes sociais na Europa passaram por um processo de acomodações e rearranjos.
A aristocracia tradicional, dona de grandes áreas de terras, estava reduzida,
mas ainda era detentora de uma força simbólica importante e ocupava posições
destacadas na sociedade. A burguesia enriquecida procurava ligar-se à
aristocracia por meio de casamentos ou do convívio social. Formada por
empresários, industriais, banqueiros, grandes comerciantes, etc., a burguesia
tinha em suas mãos boa parte do poder econômico e financeiro, captando o poder
político de modo mais ou menos rápido.
A
classe média era outro setor que conquistava um espaço político importante.
Este grupo era composto por pequenos comerciantes, profissionais liberais,
artesãos, lojistas, professores, funcionários públicos, etc. Era um grupo
bastante diversificado, pois reunia assalariados não proletários, pequenos
empresários, pessoas que trabalhavam por conta própria, etc. A importância
política da classe média estava relacionada ao fato de que ela tinha uma
participação eleitoral decisiva e um papel importante na opinião pública.
Por
sua vez, o proletariado, ou classe operária, reunia mineradores, ferroviários,
portuários, trabalhadores industriais. Esta era a classe mais numerosa da
Europa e a que mais sofria com as desigualdades sociais decorrentes da
Revolução Industrial. Quando o proletariado surgiu, muitos dos operários eram
de origem camponesa e haviam abandonado a zona rural em busca de melhores
condições de vida nas cidades (empregos, mais alimentos, moradias melhores,
etc.). Passando a viver nas cidades, eles tiveram que se submeter ao difícil
trabalho nas fábricas e às péssimas condições sanitárias das moradias
operárias. Foi a partir deste contexto que os trabalhadores organizaram
associações de classe no intuito de lutar por melhores condições de vida e
trabalho.
Na
França, a classe trabalhadora começou a participar politicamente por meio da
votação em grupos socialistas e da realização de levantes e insurreições, como
em 1848 e 1871, com a Comuna de Paris. No continente europeu, foi criada a
Associação Internacional de Trabalhadores, que reuniu representantes da classe
operária de várias partes do mundo. Fundada em 1864, a Primeira Internacional
Socialista – como a Associação Internacional de Trabalhadores ficou conhecida –
buscava obter o reconhecimento legal dos sindicatos, promover a solidariedade
aos trabalhadores e às suas lutas, além de conquistar o poder político por meio
de partidos operários. Karl Marx foi um dos seus líderes mais renomados, além
de autor do manifesto inaugural da associação. Em decorrência de divergências
internas entre anarquistas e marxistas, a Primeira Internacional se dissolveu
no início da década de 1870. Alguns anos depois, em 1889, grupos socialistas de
diversos países fundaram a Segunda Internacional, em Paris, que, dominada por
marxistas, foi desfeita no início da Primeira Guerra Mundial, em 1914.
Em
1907, em Stuttgart, na Alemanha, as mulheres realizaram a primeira conferência
da Internacional Socialista de Mulheres, onde discutiram o direito ao voto, a
equiparação salarial com os homens e a garantia de outros direitos políticos às
mulheres. Foi durante a Conferência Internacional das Mulheres Comunistas,
realizada em 1921, que o dia 8 de março passou a ser celebrado como o Dia
Internacional da Mulher. Esta data foi escolhida porque foi no dia 08/03/1917
que as operárias russas organizaram uma greve de grandes proporções que levou
mais de 90 mil pessoas às ruas, no contexto do declínio do czarismo russo que
marcaria o advento da Revolução Russa.