Sobre o "Blog do Super Rodrigão"

*** O "Blog do Super Rodrigão" foi criado e editado por Rodrigo Francisco Dias quando de sua passagem como professor de História da Escola Estadual Messias Pedreiro (Uberlândia-MG). O Blog esteve ativo entre os anos de 2013 e 2018, mas as suas atividades foram encerradas no dia 27/08/2018, após o professor Rodrigo deixar a E. E. Messias Pedreiro. ***

quinta-feira, 12 de fevereiro de 2015

O Início do Século XX

O início do século XX viu os desdobramentos da Revolução Industrial, fenômeno que havia se iniciado no século XVIII. Houve uma profunda alteração social, com a multiplicação da população, dos serviços e das mercadorias. O aumento da produtividade das fábricas foi acompanhado por uma redução nos custos de produção. O capitalismo desenvolveu a sua capacidade de criar o seu próprio mercado consumidor. Algumas transformações interessantes do período foram o uso de máquinas no lugar de ferramentas e o uso de forças naturais no lugar da força humana. A Revolução Industrial, portanto, foi marcada pela aceleração do crescimento econômico, a introdução de novas técnicas industriais e a revolução tecnológica. É preciso lembrar que este foi um processo que se desenrolou ao longo de muito tempo, a partir dos cercamentos na Inglaterra, do domínio do capital mercantil sobre a produção artesanal e do poderio econômico, comercial e militar inglês.

No final do século XIX, a velocidade e o impacto das transformações desencadeadas pela Revolução Industrial foram tão intensos que muitos chegaram a falar que o mundo já vivenciava uma Segunda Revolução Industrial. O processo de industrialização atingiu uma escala mundial (Inglaterra, Europa, Estados Unidos e Japão). Algumas tecnologias desenvolvidas na época foram a eletricidade, motores a combustão, siderurgia do aço e indústria química. As indústrias se aperfeiçoaram, bem como as estradas de ferro e a navegação, que agora eram complementadas pelos automóveis e pelos aviões.

Neste cenário, os países mais industrializados começaram a competir entre si pelo controle de diversas áreas do mundo, em busca de mercados consumidores e matérias-primas para os seus produtos. Por meio da dominação política direta ou indireta, os países europeus, o Japão e os EUA subordinaram vários outros locais do mundo, sobretudo na América, na África e na Ásia. Tal era o contexto daquilo que ficaria conhecido como imperialismo.

A passagem do século XIX para o século XX também foi marcada pela ascensão dos Estados Unidos da América que, após as conquistas territoriais obtidas com a Marcha para o Oeste, fizeram da América Central uma área de influência, estenderam sua hegemonia para a América do Sul e começaram a ocupar algumas regiões do oceano Pacífico.

O continente africano se viu dividido pelas potências europeias a partir da Conferência Internacional de Berlim (1884-1885). O continente asiático, por sua vez, foi marcado por conflitos que envolveram os interesses de países da Europa, dos EUA, da Rússia e do Japão.

Do ponto de vista cultural, pode-se dizer que a passagem do século XIX para o século XX foi marcada pela existência de algumas ideologias. O liberalismo econômico, esboçado a partir do final do século XVII, defendia que os governos deveriam garantir a liberdade de comércio, de modo que a pouca interferência do Estado possibilitasse que as forças de mercado definissem os rumos da economia. Nesta perspectiva, havia a defesa da propriedade privada, das leis do mercado e da busca do lucro, demandas da burguesia.

O liberalismo político ganhou corpo ao longo do século XIX e baseou-se na defesa dos direitos à liberdade individual, à propriedade e à igualdade de todos perante a lei. É preciso dizer que havia diversas correntes liberais, com diferenças entre si, ou seja, o que se entendia por cada um desses direitos dependia em muito da corrente liberal específica. Todavia, não se pode negar que o governo representativo foi estabelecido a partir do liberalismo. O Estado deveria ser organizado de modo que os homens tivessem garantidos os seus direitos naturais e pudessem participar da vida pública como eleitores e por meio de seus representantes. A partir da noção de que a soberania era derivada da nação e do povo, o Estado passou a ser visto como a incorporação da vontade de seus cidadãos, e não mais como uma propriedade particular de um governante. Este Estado-Nação estaria acima do rei, da Igreja, de grupos políticos, da corporação e da província. Paralelamente a esta ideia, desenvolveu-se também uma noção de unidade nacional, onde um passado idealizado em comum, afinidades étnicas, a cultura popular e as tradições formavam um sentimento de identidade nacional. Cada país tinha assim os seus mitos, mártires e dias sagrados.

Contra este nacionalismo e contra o Estado burguês, ativistas do movimento operário denunciaram a exploração da classe trabalhadora, em uma perspectiva internacionalista. A inspiração dessa postura eram as ideias de Karl Marx e Friedrich Engels, que defendiam que os trabalhadores de todo o mundo deveriam se unir contra as concepções liberais e nacionalistas. O que era desejado por Marx e Engels era uma revolução global. Sob esse prisma, os socialistas viam nas revoluções burguesas um mero instrumento nacionalista de exploração do trabalho assalariado pelo capital. Os trabalhadores deveriam tomar consciência de seu caráter internacional. Segundo Marx, a história da luta entre as classes sociais era a própria história da humanidade. A superação da sociedade capitalista seria o fim das próprias classes sociais, ou seja, o advento de uma sociedade sem explorados e exploradores. Esta nova sociedade, em que a propriedade seria coletiva, só seria possível por meio da revolução socialista onde o proletariado venceria a burguesia. Neste mundo desejado por Marx e Engels, o Estado deixaria de existir.

Além do liberalismo e do socialismo, não podemos nos esquecer do anarquismo, movimento que teve como inspiração as ideias de Pierre Joseph Proudhon. Os anarquistas criticavam a exploração dos trabalhadores, defendiam o fim da propriedade privada e apoiavam a ideia de que o fim do Estado deveria acontecer a partir da derrubada imediata do capitalismo. Uma figura importante dentro do pensamento anarquista como Mikhail Bakunin temia que os marxistas se tornassem os novos exploradores após a derrota do capitalismo. Segundo Bakunin, uma vez no poder, os marxistas se transformariam em uma minoria privilegiada que passaria a defender apenas os seus próprios interesses, e não mais os da ampla massa de trabalhadores. Segundo o ideário anarquista, os trabalhadores deveriam, portanto, destruir imediatamente o Estado após a revolução.

A Belle Époque

As transformações ocorridas a partir da Segunda Revolução Industrial fizeram com que muitos acreditassem que o mundo estava caminhando para um futuro melhor. Em meio a este entusiasmo, a passagem do século XIX para o século XX ficou conhecida como Belle Époque (do francês “bela época”). Diversas descobertas científicas foram feitas naquele período. Foram inventados a bicicleta (1861), o metrô (1863), o bonde elétrico (1874), a locomotiva elétrica (1879), a motocicleta (1885) e o automóvel (1886). Quanto aos meios de comunicação, foram criados o telefone (1876), o fonógrafo (1877) e o telégrafo sem fios (1895), além do cinema (1895), desenvolvido pelos irmãos franceses Auguste e Louis Lumière, e do rádio, que surgiu no início do século XX e, ao lado do cinema, seria muito presente no lazer de massa da sociedade moderna. O cinema era acessível a várias camadas sociais, uma vez que as entradas tinham o preço baixo, possibilitando que o proletariado fizesse parte do público espectador.

A própria indústria passou por transformações, como a criação da linha de montagem na fábrica de automóveis Ford, nos EUA. A produção em série proporcionada pela linha de montagem levou a um aumento da produtividade e à diminuição dos preços dos produtos. As formas de pagamento também se diversificaram, como bem demonstra o surgimento das vendas a crédito. Os primeiros magazines, como a rede parisiense Au Bon Marché (1876), também surgiram neste período e foram os precursores das lojas de departamentos.

A área médica e de saúde também viu algumas descobertas acontecerem durante a Belle Époque. Os bacteriólogos Robert Koch (1843-1910), da Alemanha, e Louis Pasteur (1822-1895), da França, descobriram que as doenças eram causadas por agentes infecciosos, como as bactérias. Até 1890, os agentes de doenças como tuberculose, cólera, febre tifoide e tétano já haviam sido identificados e vacinas vinham sendo desenvolvidas. Esses avanços foram importantíssimos para que o número de mortes causadas por tais doenças fosse reduzido. Na mesma época, constatou-se que o uso de antissépticos impedia infecções pós-operatórias, o que reduziu a taxa de mortalidade decorrente de intervenções cirúrgicas. O desenvolvimento dos anestésicos, por sua vez, possibilitou aos médicos o alívio da dor de seus pacientes e a realização de cirurgias mais demoradas, algo até então impraticável.

A democratização da Europa

O movimento de luta pela democracia ampliou-se na Europa durante aquele período, a quantidade de eleitores aumentou e as pessoas de classes de baixa renda ganharam o direito de serem votadas. O sistema eleitoral foi reformado por meio de leis na Inglaterra, na Bélgica, na Noruega, na Suécia e em outros países. Os primeiros partidos políticos modernos foram formados, e muitas pessoas que até então não eram bem representadas no jogo político ganharam mais espaço. Esses partidos eram verdadeiros centros de reflexão, responsáveis por formular doutrinas e ideologias.

As mulheres intensificaram sua luta pelo direito de votar e de concorrer em eleições. Elas fundaram associações e participaram de protestos em várias partes do mundo. A partir dessas e de outras mobilizações, o sufrágio universal começou a ser adotado em várias partes do mundo. Em 1893, a Nova Zelândia tornou-se o primeiro país onde as mulheres podiam votar. A Finlândia foi o primeiro país europeu a aprovar o voto feminino, em 1906. Outros países somente seguiram este exemplo depois da Grande Guerra (1914-1918), tais como Inglaterra (1918), Estados Unidos (1920) e Brasil (1932).

No intuito de combater o analfabetismo, vários países europeus tornaram obrigatória e gratuita a educação de crianças. O número de leitores de jornais, livros e revistas aumentou, surgindo publicações voltadas para os públicos infantil e feminino. Em tais publicações, existiam fotografias e ilustrações coloridas, algo até então pouco comum.

As classes sociais na Europa passaram por um processo de acomodações e rearranjos. A aristocracia tradicional, dona de grandes áreas de terras, estava reduzida, mas ainda era detentora de uma força simbólica importante e ocupava posições destacadas na sociedade. A burguesia enriquecida procurava ligar-se à aristocracia por meio de casamentos ou do convívio social. Formada por empresários, industriais, banqueiros, grandes comerciantes, etc., a burguesia tinha em suas mãos boa parte do poder econômico e financeiro, captando o poder político de modo mais ou menos rápido.

A classe média era outro setor que conquistava um espaço político importante. Este grupo era composto por pequenos comerciantes, profissionais liberais, artesãos, lojistas, professores, funcionários públicos, etc. Era um grupo bastante diversificado, pois reunia assalariados não proletários, pequenos empresários, pessoas que trabalhavam por conta própria, etc. A importância política da classe média estava relacionada ao fato de que ela tinha uma participação eleitoral decisiva e um papel importante na opinião pública.

Por sua vez, o proletariado, ou classe operária, reunia mineradores, ferroviários, portuários, trabalhadores industriais. Esta era a classe mais numerosa da Europa e a que mais sofria com as desigualdades sociais decorrentes da Revolução Industrial. Quando o proletariado surgiu, muitos dos operários eram de origem camponesa e haviam abandonado a zona rural em busca de melhores condições de vida nas cidades (empregos, mais alimentos, moradias melhores, etc.). Passando a viver nas cidades, eles tiveram que se submeter ao difícil trabalho nas fábricas e às péssimas condições sanitárias das moradias operárias. Foi a partir deste contexto que os trabalhadores organizaram associações de classe no intuito de lutar por melhores condições de vida e trabalho.

Na França, a classe trabalhadora começou a participar politicamente por meio da votação em grupos socialistas e da realização de levantes e insurreições, como em 1848 e 1871, com a Comuna de Paris. No continente europeu, foi criada a Associação Internacional de Trabalhadores, que reuniu representantes da classe operária de várias partes do mundo. Fundada em 1864, a Primeira Internacional Socialista – como a Associação Internacional de Trabalhadores ficou conhecida – buscava obter o reconhecimento legal dos sindicatos, promover a solidariedade aos trabalhadores e às suas lutas, além de conquistar o poder político por meio de partidos operários. Karl Marx foi um dos seus líderes mais renomados, além de autor do manifesto inaugural da associação. Em decorrência de divergências internas entre anarquistas e marxistas, a Primeira Internacional se dissolveu no início da década de 1870. Alguns anos depois, em 1889, grupos socialistas de diversos países fundaram a Segunda Internacional, em Paris, que, dominada por marxistas, foi desfeita no início da Primeira Guerra Mundial, em 1914.

Em 1907, em Stuttgart, na Alemanha, as mulheres realizaram a primeira conferência da Internacional Socialista de Mulheres, onde discutiram o direito ao voto, a equiparação salarial com os homens e a garantia de outros direitos políticos às mulheres. Foi durante a Conferência Internacional das Mulheres Comunistas, realizada em 1921, que o dia 8 de março passou a ser celebrado como o Dia Internacional da Mulher. Esta data foi escolhida porque foi no dia 08/03/1917 que as operárias russas organizaram uma greve de grandes proporções que levou mais de 90 mil pessoas às ruas, no contexto do declínio do czarismo russo que marcaria o advento da Revolução Russa.

Toda essa mobilização da classe trabalhadora gerou alguns frutos. Em 1864, o governo francês reconheceu o direito de greve. Em 1867, os trabalhadores franceses passaram a poder formar cooperativas de trabalho. Em 1875, o governo inglês reconheceu o direito dos trabalhadores de se organizarem em sindicatos. A partir de 1880, na Alemanha algumas leis garantiram a proteção social dos trabalhadores por meio de seguros contra acidentes e doenças profissionais, aposentadoria, etc.