Sobre o "Blog do Super Rodrigão"

*** O "Blog do Super Rodrigão" foi criado e editado por Rodrigo Francisco Dias quando de sua passagem como professor de História da Escola Estadual Messias Pedreiro (Uberlândia-MG). O Blog esteve ativo entre os anos de 2013 e 2018, mas as suas atividades foram encerradas no dia 27/08/2018, após o professor Rodrigo deixar a E. E. Messias Pedreiro. ***

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2015

A Independência dos Estados Unidos da América em duas imagens de Paul Revere

Estudar a História por meio de imagens é um exercício muito instigante. Nesta postagem, apresentamos duas imagens de autoria de Paul Revere que remetem ao processo de Independência dos Estados Unidos da América. Confira:

Imagem 1


A imagem acima é uma gravura intitulada O Massacre de Boston, de autoria de Paul Revere (1770). Essa gravura foi usada como propaganda por aqueles colonos que defendiam a independência das 13 colônias inglesas da América do Norte em relação à Inglaterra. No lado direito da gravura, observa-se um grupo de soldados britânicos (casacos vermelhos) em formação de tiro. A ilustração retrata o momento em que os disparos ocorrem. No lado esquerdo, estão os colonos que sofrem o ataque. Ao contrário da fileira de soldados britânicos, há muita confusão entre os colonos que estão sendo atingidos pelas balas (uns começam a correr, outros estão feridos ou mortos). Paul Revere assume o ponto de vista dos colonos. As tropas inglesas são desenhadas como organizadas e violentas, enquanto os colonos são desenhados na posição de vítimas indefesas. Desorganizados, os colonos parecem não estar preparados para revidar ao ataque. Algo que chama a atenção é a ausência de armas do lado dos colonos. A presença do cão, um animal de estimação, e do sangue escorrendo de alguns colonos caídos no chão são elementos que ampliam o caráter dramático da cena. Também merece ser observada a forma como o autor da imagem usa as cores. No fundo, predomina um cenário quase neutro, que não chama a atenção do espectador. Ao contrário, no primeiro plano há a presença marcante do vermelho (tanto no sangue dos colonos quanto nos uniformes dos soldados ingleses), que dá uma força expressiva maior à cena principal, ou seja, ao massacre.

Para uma melhor compreensão do contexto histórico no qual foi desenhada a gravura acima (Imagem 1), leia o texto abaixo:

“Com a Lei do Selo, a Coroa havia incomodado a elite das colônias. A reação foi grande, assustando os agentes do tesouro da Inglaterra. Houve um movimento de boicote ao comércio inglês; no verão de 1765, decaiu o comércio com a Inglaterra em 600 mil libras. Em quase todas as colônias, os agentes do tesouro inglês eram impossibilitados de colocar os selos nos documentos. A reação era generalizada. Em 1766, o Parlamento inglês viu-se obrigado a abolir a odiada lei. Os colonos haviam demonstrado sua força. A Inglaterra retrocedia para avançar mais, logo em seguida. Um novo ministério formado na Inglaterra traria ao poder homens mais dispostos a submeter a colônia do que ceder às pressões dos colonos. O ministro da Fazenda, Charles Townshend, decretou, em 1767, medidas que foram conhecidas como Atos Townshend. Esses atos lançavam impostos sobre o vidro, corantes e chá. A Assembleia de Nova York foi dissolvida por não cumprir a Lei de Hospedagem. Foram nomeados novos funcionários para reprimir o contrabando, bastante praticado nas colônias. O resultado dessas novas leis foi novos protestos, novos boicotes e declarações dos colonos contra as medidas. As leis acabariam sendo revogadas. No entanto, em Boston, quase ao mesmo tempo em que se deu a anulação dos Atos Townshend, um choque entre americanos e soldados ingleses tornaria as relações entre as duas partes muito difíceis. Protestando contra os soldados, um grupo de colonos havia atirado bolas de neve contra o quartel. O comandante, assustado, mandara os soldados defenderem o prédio. Estes acabaram disparando contra os manifestantes. Cinco colonos morreram. Seis outros colonos foram feridos, mas conseguiram sobreviver. Era 5 de março de 1770. O Massacre de Boston, como ficou conhecido, foi usado largamente como propaganda dos que eram adeptos da separação. Um desenho com a cena do massacre percorreu a colônia. O cheiro de guerra começava a ficar mais forte.”

(KARNAL, Leandro. O processo de Independência. In: ______ [et al.]. História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. 3. ed. 1. reimpr. São Paulo: Contexto, 2013, p. 78-79.)

Para uma descrição mais detalhada da Imagem 1, leia o texto abaixo (em inglês):

"Paul Revere created his most famous engraving titled the “Bloody Massacre Perpetrated in Kings Street in Boston” just 3 weeks after the Boston Massacre occurred on March 5, 1770. It is regarded by historians as an important document of the pre-revolutionary period. At the same time it is known to contain number of inaccuracies because the author used it as a propaganda piece to advance the cause of Independence. Let’s take closer look at the details.

The engraving shows the Boston Massacre event unfolding in front of the State House. The composition of the engraving is clearly divided into two sides as if telling “It’s us against them!” On the right side there are the British soldiers dressed in uniform with their rifles with bayonets drawn, firing into the crowd. One of the British regulars is clearly the commander raising the sword and giving the order to fire. All solders and the officer have cold and determined looks on their faces.

On the left side, across the clouds of smoke there is a crowd of colonists. Their faces show horror and panic. The engraving accurately shows the five victims. Three men are laying on the ground with blood gushing from the wounds which are clearly shown. Two of them lay right in front and the third one is somewhat obscured by other men standing in the bottom left corner. The man with two chest wounds is believed to be Crispus Attucks, the fist victim to fall during the shooting as he was standing in the front row. Two addition bodies are being carried by the crowd in the attempt to help them. One of the men in the crowd is looking directly at the solders raising his hand towards them as if trying to make them stop firing.

A very interesting detail of the engraving is a small spotted dog pensively standing in the bottom center, between the shooting solders and the crowd. The dog is being spared from the firing guns. Perhaps P.R. meant it as a symbol of the British Soldiers treating colonists worse than dogs?

On the bottom of the engraving, there is a poem written by P.R. full of the outrage about the killing. One of of the lines reads “Like fierce barbarians grinning o'er their prey
Approve the carnage and enjoy the day.”

P.R. also honored the names of the dead and wounded listing them just below the poem:
Mesr's Sam'l Gray, Sam'l Maverick, James Caldwell Crispus Attucks, & Patr. Carr Killed
Six wounded; two of them (Christ'r Monk & John Clark) mortally.

The tall building in the center is the Old State House which still stands in Boston today and is a popular tourist attraction. Of course back then it was the only State House. Another historic building depicted in the engraving is the First Church with the dome and the steeple towering on the left of the State House.

Inaccuracies in the Engraving

We are used to treating historic documents with a degree of trust, however the composition of this the engraving contains serveral inaccuracies that a serious researcher should be aware of.

There are seven soldiers and the captain shown in the picture. In reality there were only 6 British soldiers. Two captains, lieutenant, corporal and two private regulars.

British Grenadiers are depicted as if moving in the line of attack just like in a battlefield. However by all accounts the Boston Massacre was a scene of chaos and the soldiers were separated form each other by the crowd when they started using their weapons against the colonists.

A lonely gun is shown sticking out from a second story window of the Customs House firing into the crowd.

Customs House on the right side of the engraving is labeled ‘Butcher’s Hall’

The events of the Boston Massacre took place a night but the sky in the picture is rather light. On the other hand a crescent moon is visible above the roof lines, indicating that the author intended to show a night scene but was constrained by the engraving technology or simply chose not to make the picture too dark.

Crispus Attucks shown as the victim with two chest wouds laying on the ground does not seem to have African mulatto features, but some researchers who analysed the engraving found otherwise. You decide.

Captain Preston is shown as giving the order to fire by waving his sword. At his trial in court, this was proven not be had been the case.

Finally, it is a well known fact is that P.R. did not create the drawing himself. He was a skillful engraver but not an artist and therefore used the image created by a young artist Henry Pelham to make his engraving. Furthermore Pelham publicly accused P.R. in Boston Gazette of copying his drawing without permission. In Revere’s defence we could note that copying somebody’s work at that time was not considered a crime and the feud was probably more about the silversmith not sharing the proceeds from selling the print with Pelham."

(Texto disponível em: <http://www.paul-revere-heritage.com/boston-massacre-engraving.html>. Acesso em: 18 fev. 2015.)


Imagem 2


A ilustração acima também é de autoria de Paul Revere e seu título é The Able Doctor or America Swallowing the Bitter Draught (1774). Nesta imagem, a América Inglesa (representada pela mulher que está no chão) aparece cercada por europeus e está dominada por britânicos enquanto é forçada a tomar o chá comercializado pela Inglaterra. Trata-se de uma representação da Lei do Chá, aprovada em 1773, que deu o monopólio do comércio do chá à Companhia Britânica das Índias Orientais, fato que gerou insatisfação entre os colonos das 13 colônias inglesas na América do Norte. Mais uma vez, Revere coloca os colonos na posição de vítimas indefesas da violência e da crueldade da Metrópole. Tanto a Imagem 1 quanto a Imagem 2 apontam para a necessidade urgente dos colonos de se libertarem do domínio da Inglaterra.

Para uma descrição mais detalhada da Imagem 2, leia o texto abaixo (em inglês):

"Description: Cartoon showing a European gentleman with the Boston Port Bill in his pocket pouring tea down a [native American] woman's mouth. She is being held down by a lascivious gentleman at her feet and a judge at her arms. A woman holding a spear and shield covers her eyes while a gentleman holds a sword with "Military Law" on it. In the background is a scene of "Boston cannonaded" and in the foreground is a tattered paper containing Boston's petition to England.

Notes: Britannia weeps as Frederick, Lord North, pours tea into the mouth of America, while a Frenchman and a Spaniard (with the Order of the Golden Fleece) watch from the side. William Murray, first earl of Mansfield (Lord Chief Justice) and an opponent of repealing the Stamp Act, holds America's wrist while John Montagu, fourth earl of Sandwich (First Lord of the Admiralty), holds her ankles. The man with a sword represents John Stuart, earl of Bute, (prime minister for George III from 1762 to 1763 and instrumental in negotiating the Treaty of Paris) in a Scottish hat and kilt. Revere copied this image from an original in London Magazine, Apr. 1774, vol. 43, p. 185; the only change being that Revere added the word "tea" to the teapot. The Boston Port Bill, levied as a punishment for the Boston Tea Party, was signed into law on March 31, 1774, and provided the final wedge between Massachusetts and the crown. Image is placed horizontally on page. Published first by Isaiah Thomas and then Joseph Greenleaf in Boston, this magazine was produced from January 1774 until April 1775 when the war put an end to publication."

(Texto disponível na internet por meio do seguinte link: <http://jcb.lunaimaging.com/luna/servlet/detail/JCB~1~1~1801~2760003:The-able-Doctor,-or-America-Swallow>. Acesso em: 18 fev. 2015.)