Estudar a História por meio de imagens é um exercício muito instigante. Nesta postagem, apresentamos duas imagens de autoria de Paul Revere que remetem ao processo de Independência dos Estados Unidos da América. Confira:
Imagem 1
A imagem acima é uma gravura intitulada O Massacre de Boston, de autoria de Paul Revere (1770). Essa gravura foi usada como propaganda por aqueles colonos que defendiam a independência das 13 colônias inglesas da América do Norte em relação à Inglaterra. No lado direito da gravura, observa-se um grupo de soldados britânicos (casacos vermelhos) em formação de tiro. A ilustração retrata o momento em que os disparos ocorrem. No lado esquerdo, estão os colonos que sofrem o ataque. Ao contrário da fileira de soldados britânicos, há muita confusão entre os colonos que estão sendo atingidos pelas balas (uns começam a correr, outros estão feridos ou mortos). Paul Revere assume o ponto de vista dos colonos. As tropas inglesas são desenhadas como organizadas e violentas, enquanto os colonos são desenhados na posição de vítimas indefesas. Desorganizados, os colonos parecem não estar preparados para revidar ao ataque. Algo que chama a atenção é a ausência de armas do lado dos colonos. A presença do cão, um animal de estimação, e do sangue escorrendo de alguns colonos caídos no chão são elementos que ampliam o caráter dramático da cena. Também merece ser observada a forma como o autor da imagem usa as cores. No fundo, predomina um cenário quase neutro, que não chama a atenção do espectador. Ao contrário, no primeiro plano há a presença marcante do vermelho (tanto no sangue dos colonos quanto nos uniformes dos soldados ingleses), que dá uma força expressiva maior à cena principal, ou seja, ao massacre.
Para uma melhor compreensão do contexto histórico no qual foi desenhada a gravura acima (Imagem 1), leia o texto abaixo:
“Com a Lei do Selo, a Coroa havia incomodado
a elite das colônias. A reação foi grande, assustando os agentes do tesouro da
Inglaterra. Houve um movimento de boicote ao comércio inglês; no verão de 1765,
decaiu o comércio com a Inglaterra em 600 mil libras. Em quase todas as
colônias, os agentes do tesouro inglês eram impossibilitados de colocar os
selos nos documentos. A reação era generalizada. Em 1766, o Parlamento inglês
viu-se obrigado a abolir a odiada lei. Os colonos haviam demonstrado sua força.
A Inglaterra retrocedia para avançar mais, logo em seguida. Um novo ministério
formado na Inglaterra traria ao poder homens mais dispostos a submeter a
colônia do que ceder às pressões dos colonos. O ministro da Fazenda, Charles
Townshend, decretou, em 1767, medidas que foram conhecidas como Atos Townshend.
Esses atos lançavam impostos sobre o vidro, corantes e chá. A Assembleia de
Nova York foi dissolvida por não cumprir a Lei de Hospedagem. Foram nomeados
novos funcionários para reprimir o contrabando, bastante praticado nas
colônias. O resultado dessas novas leis foi novos protestos, novos boicotes e
declarações dos colonos contra as medidas. As leis acabariam sendo revogadas. No
entanto, em Boston, quase ao mesmo tempo em que se deu a anulação dos Atos Townshend,
um choque entre americanos e soldados ingleses tornaria as relações entre as
duas partes muito difíceis. Protestando contra os soldados, um grupo de colonos
havia atirado bolas de neve contra o quartel. O comandante, assustado, mandara
os soldados defenderem o prédio. Estes acabaram disparando contra os
manifestantes. Cinco colonos morreram. Seis outros colonos foram feridos, mas
conseguiram sobreviver. Era 5 de março de 1770. O Massacre de Boston, como
ficou conhecido, foi usado largamente como propaganda dos que eram adeptos da
separação. Um desenho com a cena do massacre percorreu a colônia. O cheiro de
guerra começava a ficar mais forte.”
(KARNAL, Leandro. O
processo de Independência. In: ______ [et al.]. História dos Estados Unidos: das origens ao século XXI. 3. ed. 1.
reimpr. São Paulo: Contexto, 2013, p. 78-79.)
Para uma descrição mais detalhada da Imagem 1, leia o texto abaixo (em inglês):
"Paul Revere created his most famous engraving
titled the “Bloody Massacre Perpetrated in Kings Street in Boston” just 3 weeks
after the Boston Massacre occurred on March 5, 1770. It is regarded by historians
as an important document of the pre-revolutionary period. At the same time it
is known to contain number of inaccuracies because the author used it as a
propaganda piece to advance the cause of Independence. Let’s take closer look
at the details.
The engraving shows the Boston Massacre event unfolding
in front of the State House. The composition of the engraving is clearly
divided into two sides as if telling “It’s us against them!” On the right side
there are the British soldiers dressed in uniform with their rifles with
bayonets drawn, firing into the crowd. One of the British regulars is clearly
the commander raising the sword and giving the order to fire. All solders and
the officer have cold and determined looks on their faces.
On the left side, across the clouds of smoke
there is a crowd of colonists. Their faces show horror and panic. The engraving
accurately shows the five victims. Three men are laying on the ground with
blood gushing from the wounds which are clearly shown. Two of them lay right in
front and the third one is somewhat obscured by other men standing in the
bottom left corner. The man with two chest wounds is believed to be Crispus
Attucks, the fist victim to fall during the shooting as he was standing in
the front row. Two addition bodies are being carried by the crowd in the
attempt to help them. One of the men in the crowd is looking directly at the
solders raising his hand towards them as if trying to make them stop firing.
A very interesting detail of the engraving is
a small spotted dog pensively standing in the bottom center, between the
shooting solders and the crowd. The dog is being spared from the firing guns.
Perhaps P.R. meant it as a symbol of the British Soldiers treating colonists
worse than dogs?
On the bottom of the engraving, there is a
poem written by P.R. full of the outrage about the killing. One of of the lines
reads “Like fierce barbarians grinning o'er their prey
Approve the carnage and enjoy the day.”
Approve the carnage and enjoy the day.”
P.R. also honored the names of the dead and
wounded listing them just below the poem:
Mesr's Sam'l Gray, Sam'l Maverick, James Caldwell Crispus Attucks, & Patr. Carr Killed
Six wounded; two of them (Christ'r Monk & John Clark) mortally.
Mesr's Sam'l Gray, Sam'l Maverick, James Caldwell Crispus Attucks, & Patr. Carr Killed
Six wounded; two of them (Christ'r Monk & John Clark) mortally.
The tall building in the center is the Old
State House which still stands in Boston today and is a popular tourist
attraction. Of course back then it was the only State House. Another historic
building depicted in the engraving is the First Church with the dome and the
steeple towering on the left of the State House.
Inaccuracies
in the Engraving
We are used to treating historic documents
with a degree of trust, however the composition of this the engraving contains
serveral inaccuracies that a serious researcher should be aware of.
There are seven soldiers and the captain
shown in the picture. In reality there were only 6 British soldiers. Two
captains, lieutenant, corporal and two private regulars.
British Grenadiers are depicted as if moving
in the line of attack just like in a battlefield. However by all accounts the
Boston Massacre was a scene of chaos and the soldiers were separated form each
other by the crowd when they started using their weapons against the colonists.
A lonely gun is shown sticking out from a
second story window of the Customs House firing into the crowd.
Customs House on the right side of the
engraving is labeled ‘Butcher’s Hall’
The events of the Boston Massacre took place
a night but the sky in the picture is rather light. On the other hand a
crescent moon is visible above the roof lines, indicating that the author
intended to show a night scene but was constrained by the engraving technology
or simply chose not to make the picture too dark.
Crispus Attucks shown as the victim with two
chest wouds laying on the ground does not seem to have African mulatto
features, but some researchers who analysed the engraving found otherwise. You
decide.
Captain Preston is shown as giving the order
to fire by waving his sword. At his trial in court, this was proven not be had
been the case.
Finally, it is a well known fact is that P.R. did
not create the drawing himself. He was a skillful engraver but not an
artist and therefore used the image created by a young artist Henry Pelham to
make his engraving. Furthermore Pelham publicly accused P.R. in Boston Gazette
of copying his drawing without permission. In Revere’s defence we could note
that copying somebody’s work at that time was not considered a crime and the
feud was probably more about the silversmith not sharing the proceeds from
selling the print with Pelham."
(Texto disponível em: <http://www.paul-revere-heritage.com/boston-massacre-engraving.html>. Acesso em: 18 fev. 2015.)
Imagem 2
A ilustração acima também é de autoria de Paul Revere e seu título é The Able Doctor or America Swallowing the Bitter Draught (1774). Nesta imagem, a América Inglesa (representada pela mulher que está no chão) aparece cercada
por europeus e está dominada por britânicos enquanto é forçada a tomar o chá
comercializado pela Inglaterra. Trata-se de uma representação da Lei do Chá,
aprovada em 1773, que deu o monopólio do comércio do chá à Companhia Britânica
das Índias Orientais, fato que gerou insatisfação entre os colonos das 13
colônias inglesas na América do Norte. Mais uma vez, Revere coloca os colonos na posição de vítimas indefesas da violência e da crueldade da Metrópole. Tanto a Imagem 1 quanto a Imagem 2 apontam para a necessidade urgente dos colonos de se libertarem do domínio da Inglaterra.
Para uma descrição mais detalhada da Imagem 2, leia o texto abaixo (em inglês):
"Description: Cartoon showing a European
gentleman with the Boston Port Bill in his pocket pouring tea down a [native
American] woman's mouth. She is being held down by a lascivious gentleman at
her feet and a judge at her arms. A woman holding a spear and shield covers her
eyes while a gentleman holds a sword with "Military Law" on it. In
the background is a scene of "Boston cannonaded" and in the
foreground is a tattered paper containing Boston's petition to England.
Notes: Britannia weeps as Frederick, Lord
North, pours tea into the mouth of America, while a Frenchman and a Spaniard
(with the Order of the Golden Fleece) watch from the side. William Murray,
first earl of Mansfield (Lord Chief Justice) and an opponent of repealing the
Stamp Act, holds America's wrist while John Montagu, fourth earl of Sandwich
(First Lord of the Admiralty), holds her ankles. The man with a sword
represents John Stuart, earl of Bute, (prime minister for George III from 1762
to 1763 and instrumental in negotiating the Treaty of Paris) in a Scottish hat
and kilt. Revere copied this image from an original in London Magazine, Apr.
1774, vol. 43, p. 185; the only change being that Revere added the word
"tea" to the teapot. The Boston Port Bill, levied as a punishment for
the Boston Tea Party, was signed into law on March 31, 1774, and provided the
final wedge between Massachusetts and the crown. Image is placed horizontally
on page. Published first by Isaiah Thomas and then Joseph Greenleaf in Boston,
this magazine was produced from January 1774 until April 1775 when the war put
an end to publication."
(Texto disponível na internet por meio do seguinte link: <http://jcb.lunaimaging.com/luna/servlet/detail/JCB~1~1~1801~2760003:The-able-Doctor,-or-America-Swallow>. Acesso em: 18 fev. 2015.)