Sobre o "Blog do Super Rodrigão"

*** O "Blog do Super Rodrigão" foi criado e editado por Rodrigo Francisco Dias quando de sua passagem como professor de História da Escola Estadual Messias Pedreiro (Uberlândia-MG). O Blog esteve ativo entre os anos de 2013 e 2018, mas as suas atividades foram encerradas no dia 27/08/2018, após o professor Rodrigo deixar a E. E. Messias Pedreiro. ***

domingo, 2 de novembro de 2014

O Brasil Republicano (1889-1930)

A Proclamação da República foi fruto da aliança entre cafeicultores paulistas e exército contra o Império. Ficou decidido que os militares deveriam assumir o governo durante a fase inicial da República, pois havia o medo de um contragolpe monárquico. Assim, entre 1889 e 1894 o Brasil ficou sob o domínio da República da Espada, época dos governos dos marechais Deodoro da Fonseca (1889-1891) e Floriano Peixoto (1891-1894).

É preciso dizer que à época da Proclamação da República havia três projetos distintos de governo republicano. O projeto republicano liberal era defendido pelos cafeicultores paulistas e suas propostas eram a descentralização política, a autonomia dos estados, a defesa das liberdades individuais (direitos de locomoção, de propriedade, de livre-expressão), a livre competição econômica, a separação entre os três poderes, a instauração de eleições e a separação entre Igreja e Estado. Tal projeto inspirava-se no sistema norte-americano.

O projeto republicano jacobino, sob a inspiração da I República francesa de Danton e Robespierre, era a bandeira da baixa classe média (pequenos comerciantes e funcionários) e de setores intelectualizados da sociedade brasileira (profissionais liberais como jornalistas, médicos, advogados e professores). Neste projeto estavam em pauta a liberdade pública de reunião e discussão e uma maior participação popular na administração pública. Os defensores mais radicais deste projeto eram altamente xenófobos, principalmente antilusitanos.

Por fim, o projeto republicano positivista inspirado em Auguste Comte era defendido pelo exército. As ideias de “ordem” e “progresso” marcavam presença nesse projeto. Ademais, havia aqui a noção de que a administração da sociedade deveria ser feita de maneira científica e racional. Os militares positivistas defendiam ainda um Estado forte, centralizado e capaz de exercer quase que uma tutela da população.

O GOVERNO PROVISÓRIO DE DEODORO DA FONSECA (1889-1891)

Em seu governo provisório, Deodoro da Fonseca agiu com autoritarismo, apreciador que era da disciplina militar. A marinha, que era basicamente monarquista, não apoiou o seu governo. Houve a extinção da Constituição de 1824, a convocação de eleições para uma assembleia constituinte, o banimento da família imperial, a separação entre Igreja e Estado, além do oferecimento da cidadania brasileira aos estrangeiros residentes no Brasil.

Rui Barbosa foi nomeado ministro da Fazenda e tentou implementar um projeto de desenvolvimento industrial. O aumento na emissão de papel-moeda facilitou o estabelecimento de sociedades anônimas (empresas). Barbosa dificultou a entrada de produtos importados por meio de taxas alfandegárias que visavam proteger a supostamente nascente indústria nacional. Todavia, o aumento na emissão de papel-moeda provocou a inflação (o Encilhamento) e a febre especulativa.

Em 1891 foi aprovada a nova Constituição do país. A carta definia o Brasil como uma república federativa formada por um governo central e por 20 estados com autonomia jurídica, administrativa e fiscal. O texto também regulamentava a divisão dos três poderes: executivo (presidente, governadores e prefeitos), legislativo (bicameral, com Senado e Câmara dos Deputados, além de assembleias estaduais e câmaras de vereadores) e judiciário, todos independentes entre si. O voto era universal, masculino e não-secreto. Mulheres, analfabetos, mendigos, menores de 21 anos, padres e soldados não votavam. Ficou ainda definido que o primeiro presidente após a promulgação da Constituição de 1891 deveria ser eleito pela assembleia constituinte. Deodoro da Fonseca foi eleito o primeiro presidente constitucional da República Brasileira.

O GOVERNO CONSTITUCIONAL DE DEODORO DA FONSECA (1891)

O fracasso da política econômica praticada durante o Governo Provisório de Deodoro da Fonseca fez com que o seu Governo Constitucional começasse já desgastado. Como Presidente e Vice foram eleitos separadamente, Deodoro assumiu o governo junto com Floriano Peixoto, que havia sido o candidato a Vice pela outra chapa (apoiada por cafeicultores, com Prudente de Morais como candidato a presidente).

O constante autoritarismo de Deodoro da Fonseca se chocou com um Congresso formado predominantemente por cafeicultores, fato que levou a uma grave crise política. O presidente chegou a decretar estado de sítio, fechando o Congresso no dia 03 de novembro de 1891. Houve reação da oposição e também por parte do exército com a articulação de Floriano Peixoto. Trabalhadores da Estrada de Ferro Central do Brasil entraram em greve contra o golpe de Deodoro.

Custódio de Melo, almirante da marinha, apontou os canhões dos navios que estavam na Baía de Guanabara para a cidade do Rio de Janeiro, ameaçando bombardear a cidade e exigindo a renúncia de Deodoro da Fonseca, que acabou cedendo às pressões.

O GOVERNO DE FLORIANO PEIXOTO (1891-1894)

Com a renúncia de Deodoro, Floriano Peixoto foi muito hábil ao conseguir o apoio de republicanos radicais, positivistas e cafeicultores. Floriano era considerado um defensor da ordem e do regime republicano, e seu autoritarismo era tido como moderado. A volta à normalidade veio com a suspensão do estado de sítio. Algumas medidas do novo governo foram: a construção de casas populares e a suspensão do imposto sobre o comércio de carne na cidade do Rio de Janeiro.

A administração de Floriano Peixoto foi marcada pelo paternalismo. As classes populares recebiam concessões como se fossem “presentes”, havendo uma sujeição agradecida dos mais pobres aos mais ricos. Por sua vez, a lealdade política era baseada nas compensações e na troca de favores.

Houve o estímulo à indústria por meio de linhas de crédito do Banco do Brasil e de leis alfandegárias (protecionismo). Contudo, aquela época foi marcada pelos problemas da inflação e da falta de recursos. Tudo isso em um ambiente de forte nacionalismo.

Em abril de 1892 foi publicado o Manifesto dos 13 Generais, no qual oficiais do exército pediram o afastamento de Floriano Peixoto, pois o seu governo seria inconstitucional (como Deodoro da Fonseca havia renunciado ao cargo de presidente aos nove meses de governo, em tal caso a lei definia que deveriam ocorrer eleições e não a subida do vice ao posto de presidente). No Manifesto, os generais exigiram a realização de novas eleições para o posto mais alto do poder executivo no país. Os autores do Manifesto foram afastados e presos.

Neste período também ocorreu um conflito político no Rio Grande do Sul. Naquele estado havia a hegemonia do Partido Republicano Rio-grandense – PRR –, do governador Júlio de Castilhos (apoiador de Floriano Peixoto). Por sua vez, a oposição ao PRR era feita pelo Partido Federalista, liderado por Silveira Martins, que criticava a centralização do poder pelo PRR. O conflito entre os dois grupos foi intensificado quando Floriano Peixoto interferiu na disputa ao apoiar Júlio de Castilhos. A chamada Revolução Federalista ganhou uma dimensão nacional.

Também naquela época ocorreu a Revolta da Armada de 1893. Oficiais da Marinha apontaram os canhões de seus navios para a cidade do Rio de Janeiro e exigiram a renúncia de Floriano Peixoto. É preciso lembrar as tendências monarquistas da marinha e as ambições políticas do almirante Custódio de Melo que contribuíram para tal episódio. Contudo, Floriano resistiu e combateu os revoltosos em um intenso confronto armado.

A Revolução Federalista e a Revolta da Armada se uniram. O líder federalista gaúcho Gumercindo Saraiva partiu para a cidade de Desterro, capital de Santa Catarina, para se encontrar com os destacamentos navais de Custódio de Melo em 1893. No ano seguinte, os rebeldes tomaram a cidade de Curitiba, no Paraná. As tropas florianistas responderam aos ataques e empurraram os federalistas para o sul, conquistando a cidade de Desterro, que a partir de então passou a se chamar Florianópolis. No Rio de Janeiro, os navios de guerra de Floriano Peixoto, comprados principalmente dos EUA, venceram os navios ainda sublevados e forçaram a rendição dos rebeldes no dia 10 de março de 1894.

O GOVERNO DE PRUDENTE DE MORAIS (1894-1898)

Nas eleições presidenciais seguintes venceu o cafeicultor paulista e republicano Prudente de Morais. Com os cafeicultores no poder, o projeto republicano liberal venceu os projetos radical (jacobino) e positivista, que não tinham base social significativa (o país ainda era predominantemente rural, e não havia proletariado urbano, pequena burguesia, classe média e burguesia nacional bem articuladas). A república liberal instalada pelos cafeicultores seria marcada por desigualdades sociais e caracterizada por ser pouco democrática (havia exclusão política e fraude nas eleições).

Prudente de Morais deveria fazer o país voltar à normalidade e, para isso, acabou de vez com a Revolução Federalista em 1895, que já estava bem enfraquecida. Reatou relações com Portugal (que tinham sido rompidas por Floriano Peixoto) e ainda tomou posse da ilha de Trindade. Durante o seu governo houve forte agitação florianista: com a morte de Floriano Peixoto em 1895, por conta de uma crise hepática, cresceram manifestações contra Prudente de Morais, que se afastou da presidência por motivos de saúde entre novembro de 1896 e março de 1897, quando retornou ao exercício do cargo para terminar o seu governo.

Fato marcante do período foi a Guerra de Canudos, entre 1896 e 1897. A população pobre do nordeste vivia em forte tensão social, sobretudo em épocas de seca. Em tal cenário, os sertanejos tinham algumas alternativas, como a emigração (difícil, por conta da precariedade dos meios de transporte e de comunicação), o banditismo social (cangaço) e o misticismo religioso (por meio de um líder messiânico), este último com a promessa da salvação eterna. Antônio Vicente Mendes Maciel, o Antônio Conselheiro, fazia pregações e dava assistência à população pobre do nordeste. Ele se estabeleceu com seus seguidores na fazenda de Canudos, onde fundaram a aldeia de Belo Monte. Essa comunidade livre foi vista como um “mau exemplo” pelos poderosos da Bahia. Conselheiro criticava a República (vista como um demônio) e apelava pela vinda do salvador, D. Sebastião (rei português falecido no norte da África no século XV). A partir disso, os governo baiano e federal enviaram expedições militares para destruir Canudos, mas muitas fracassaram. Só em outubro de 1897 o arraial foi derrotado.

Com os fracassos sucessivos do exército em Canudos, mesmo com a vitória sobre o arraial de Antônio Conselheiro em 1897, a posição política do exército ficou abalada. Haveria a partir daí um predomínio da oligarquia rural na política brasileira, especialmente dos cafeicultores.

O APOGEU DA ORDEM OLIGÁRQUICA (1898-1914)

Entre 1898 e 1914, o Brasil passou pelos governos de Campos Sales (1898-1902), Rodrigues Alves (1902-1906), Afonso Pena (1906-1909), Nilo Peçanha (1909-1910) e Hermes da Fonseca (1910-1914).

Um primeiro aspecto a ser destacado a respeito do período é a crise do café. O aumento da produção brasileira e mundial do produto provocou a redução do preço do café, produto responsável por boa parte das exportações brasileiras à época. Com isso, houve um forte abalo na economia do país, com crescente dívida externa junto a bancos estrangeiros e inflação (lembrar a emissão excessiva de papel-moeda no início da República).

Em 1898, Campos Sales assinou o funding loan, um acordo com os bancos credores. Por meio dessa medida, ficou acertado um empréstimo para o pagamento dos juros da dívida externa nos 3 anos seguintes. Além disso, foi estabelecido um prazo de 13 anos para que se iniciasse o pagamento da dívida, a penhora da receita da alfândega do Rio de Janeiro e o compromisso por parte do governo brasileiro em combater a inflação e fortalecer a economia do país. O funding loan era uma moratória, ou seja, em troca da suspensão temporária do pagamento da dívida externa, concordava-se com o aumento do seu valor e do tempo (prazo) para pagá-la. O governo cortou gastos (parou obras públicas, por exemplo) e aumentou impostos sobre os produtos. Houve ainda a incineração de papel-moeda para reduzir a inflação, contudo, tal medida gerou recessão econômica (desemprego). Por sua vez, a valorização cambial do mil-réis barateou produtos importados, o que prejudicou a indústria nacional.

Em 1906, ocorreu o Convênio de Taubaté, realizado na cidade situada no Vale do Paraíba. Os cafeicultores decidiram por uma política estatal de valorização do café, na qual os governos de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro comprariam toda a produção cafeeira para regular os estoques do produto e, consequentemente, o preço do café no mercado mundial (é preciso lembrar a lei da oferta e da procura, além do fato de o Brasil ser o maior produtor de café no período). Os primeiros resultados de tal política foram animadores, mas ela estava fadada ao fracasso porque os cafeicultores continuariam produzindo muito café (já tinham um comprador garantido, o governo, que pagava uma alto preço pelo produto) e, se não houvesse demanda suficiente no mercado, o café deveria ser destruído, o que provocava prejuízo (o governo comprava, mas não vendia). Com o aumento no preço do café, outras partes do mundo aumentaram a sua produção, provocando intensa concorrência.

O início do século XX viu também o surto econômico da borracha, no contexto da segunda Revolução Industrial marcado pelas indústrias de automóveis e pneus. A borracha era extraída da seringueira na região amazônica a partir da atuação de trabalhadores que viviam em condições miseráveis (nativos e nordestinos emigrados), enquanto os proprietários de terras é que ganhavam muito dinheiro com o comércio da borracha. Foi neste cenário que ocorreu a Questão do Acre, marcada por intensas disputas que foram seguidas pela compra do Acre pelo Brasil, que adquiriu a região da Bolívia por 2 milhões de libras esterlinas.

Na cidade do Rio de Janeiro ocorreu a Revolta da Vacina (1904), durante o governo de Rodrigues Alves (1902-1906). Em um momento de relativa tranquilidade econômica, proporcionada pelo recente funding loan e pelo surto da borracha, iniciou-se uma reforma do centro do Rio de Janeiro (urbanização) com inspiração em Paris. Populares foram expulsos do centro da cidade (cortiços foram derrubados) em nome do “Progresso”, fato que gerou uma crescente tensão social. O saneamento da cidade foi executado pelo médico Oswaldo Cruz, que estabeleceu a vacinação obrigatória contra a varíola. Tal medida somada à tensão social já existente levou a uma revolta popular que durou uma semana e acabou reprimida pela polícia e pelo exército.

Em 1910 ocorreu a Revolta da Chibata. Nos couraçados Minas Gerais e São Paulo, iniciou-se uma rebelião de marujos contra os castigos físicos violentos e as péssimas condições de alojamento e alimentação. Importante líder do movimento foi o marujo negro João Cândido. Após momentos de tensão, os líderes da revolta foram presos e condenados a trabalhos forçados na Amazônia. Já na região sul ocorreu a Revolta do Contestado (1914), um movimento que se deu na região entre Paraná e Santa Catarina sob o comando de um líder messiânico, José Maria, sendo, portanto, similar ao movimento de Canudos.

Durante o apogeu da ordem oligárquica, foi marcante a atuação dos Partidos Republicanos Paulista e Mineiro – PRP e PRM –, que por vezes estabeleceram uma aliança entre o poder econômico de São Paulo (grande produtor de café) e o poder político de Minas Gerais (maior colégio eleitoral na época). Tal política seria chamada de “café com leite”.

Também foi marcante no período a política dos governadores idealizada por Campos Sales. Tratava-se de uma articulação entre o poder central e as oligarquias regionais. Os governadores apoiavam o presidente em troca de autonomia para os seus estados. Assim, os governadores procuravam eleger uma grande quantidade de deputados e senadores alinhados a esse pacto político. A Comissão Verificadora de Poderes não permitia a diplomação e a posse de deputados de oposição.

As eleições da época eram fraudulentas e violentas, o voto não era secreto, havendo ainda o coronelismo e o clientelismo, que eram sustentados pelo voto de cabresto. A proteção política era dada em troca de obediência. O coronel se articulava com o governador para eleger determinado presidente.

São Paulo e Minas Gerais romperam sua aliança por conta do apoio dos mineiros ao marechal Hermes da Fonseca, que desagradava aos paulistas por ser militar. Com a máquina coronelística, Hermes venceu as eleições e se tornou presidente, governando entre 1910 e 1914. A sua administração foi conservadora e manteve a política de valorização do café. É dessa época a Política das Salvações, intervenções feitas nos estados para trocar determinados grupos oligárquicos por outros.


Os mecanismos políticos das oligarquias ajudavam a manter nos estados, por muito tempo, os mesmos grupos políticos no poder, fato que gerava insatisfação de outros grupos oligárquicos. O próprio predomínio de São Paulo e Minas Gerais na esfera federal provocava a insatisfação de outros estados, como o Rio Grande do Sul. Aos poucos, começava uma crise política que abalaria a chamada “República Velha”.

A CRISE DA PRIMEIRA REPÚBLICA (1914-1930)

Durante os anos finais do século XIX e a partir dos primeiros anos do século XX, o fato de os mesmos grupos oligárquicos ficarem no poder nos estados foi provocando um crescente desgaste no regime republicano então em vigor no Brasil. Assim, surgiram as oligarquias dissidentes, setores economicamente poderosos da sociedade brasileira que queriam mais espaço na política.

Entre 1914 e 1930, o Brasil foi governado por Venceslau Brás (1914-1918), Delfim Moreira (1918-1919), Epitácio Pessoa (1919-1922), Artur Bernardes (1922-1926) e Washington Luís (1926-1930). Aquele foi um período marcado por transformações sociais e econômicas na realidade brasileira. A expansão demográfica foi impulsionada pela imigração europeia, verificou-se ainda um processo de urbanização e de diversificação da economia. O desenvolvimento da infraestrutura se deu com o advento de ferrovias, bancos, telégrafo, jornal, rádio e da expansão da atividade comercial. No âmbito da industrialização, houve a importância do estado de São Paulo, graças aos recursos oriundos do café. Com a I Guerra Mundial as importações foram reduzidas e a produção nacional de têxteis e alimentos industrializados foi estimulada. Tudo isso levou ao desenvolvimento de uma burguesia industrial, do operariado e da classe média, setores urbanos que passariam a se chocar cada vez mais com a ordem oligárquica rural.

A burguesia industrial era formada por cafeicultores, comerciantes e imigrantes europeus enriquecidos. Já no operariado era grande a presença de imigrantes europeus. Os operários viviam sob difíceis condições de vida e de trabalho, enfrentadas por meio da criação de associações e sindicatos (não havia legislação trabalhista), que se manifestavam politicamente por meio da imprensa operária. Os trabalhadores defendiam ideias próximas do anarquismo, e organizaram a Greve Geral de 1917. Como um desdobramento da Revolução Russa de 1917, houve a fundação do Partido Comunista do Brasil em 1922, além da formação do Bloco Operário e Camponês (que passou a lançar candidatos na política). Por fim, a classe média se via na situação de vítima da inflação e com pouca participação política (lembrar as fraudes nas eleições e a importância ainda grande do voto rural). Foram os jovens oficiais do exército oriundos da classe média que deram início ao movimento do Tenentismo, no qual teve um papel importante a Escola Militar do Realengo (responsável por um ensino técnico e preocupado com o advento de novas armas com a I Guerra Mundial). O exército era uma instituição abandonada pelas oligarquias rurais, havendo uma série de restrições políticas à ascensão na carreira militar. Neste cenário, os tenentistas defendiam a moralização do país, o voto secreto, a centralização política e o ensino obrigatório. Tratava-se de um movimento elitista, pois segundo a concepção dos tenentistas o presidente da república deveria ser alguém saído do referido movimento.

O GOVERNO DE ARTUR BERNARDES (1922-1926)

Nas eleições de 1922, Artur Bernardes (candidato apoiado por São Paulo e Minas Gerais) e Nilo Peçanha (candidato apoiado por Rio Grande do Sul, Pernambuco, Bahia e Rio de Janeiro) disputaram a presidência da república. Após um processo eleitoral extremamente fraudulento, o mineiro Artur Bernardes saiu vitorioso. Os tenentes tentaram impedir a posse do candidato eleito (o jornal carioca Correio da Manhã tinha divulgado cartas falsas de Bernardes criticando a corrupção e a imoralidade do exército, fato que provocou um mal-estar entre o político mineiro e os jovens militares do exército) por meio da Revolta do Forte de Copacabana, em 1922.

Tal acontecimento foi um primeiro sinal de que o governo de Bernardes seria bastante agitado. Ele reeditou as Salvações de Hermes da Fonseca (intervenções principalmente em Pernambuco e na Bahia), política que gerou conflitos no país. Um exemplo foi a Revolução Gaúcha de 1923, um levante liderado por Assis Brasil (apoiado por Artur Bernardes) contra a reeleição pela quinta vez seguida de Borges de Medeiros (do Partido Republicano Rio-grandense) para o cargo de governador do Estado do Rio Grande do Sul. O conflito só foi solucionado com o Pacto de Pedras Altas, por meio do qual ficou definido que após o fim do mandato de Borges de Medeiros, ficariam proibidas as reeleições para governador naquele estado.

Já a Revolução Paulista de 1924 foi um movimento liderado pelo general Isidoro Dias Lopes. Tratou-se de um movimento de caráter elitista, que rejeitou a participação popular. Reprimidos pelo governo federal, os militares revoltosos se retiraram do estado de São Paulo. No sul, o tenente Luís Carlos Prestes organizou uma coluna e partiu ao encontro dos paulistas rebeldes.  Tenentistas paulistas e gaúchos se encontraram perto de Foz do Iguaçu em 1925, e dali a chamada Coluna Prestes iniciou uma marcha de aproximadamente 25 mil Km por onze estados do Brasil que durou dois anos, só acabando em 1927, quando Prestes partiu com seus companheiros para a Bolívia. Foi nessa época, que Prestes ficou conhecido como o “cavaleiro da esperança”.

Em meio a tais agitações, Artur Bernardes apelou para o autoritarismo, decretando o estado de sítio, restringindo a liberdade de imprensa e reformando a Constituição em 1926, fortalecendo o poder presidencial.

Do ponto de vista cultural, importante acontecimento da época foi a Semana de Arte Moderna de 1922. O evento realizado no Teatro Municipal de São Paulo foi marcado pela presença dos ideais estéticos e políticos do modernismo, com novas formas de expressão como o futurismo, por exemplo. Importantes personagens dessa época foram artistas como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Manuel Bandeira, Tarsila do Amaral, Emiliano Di Cavalcanti e Heitor Villa-Lobos. O chamado “movimento antropofágico” e o “verde-amarelismo” marcaram presença.

O GOVERNO DE WASHINGTON LUÍS (1926-1930)

Washington Luís foi um carioca que desenvolveu sua carreira política em São Paulo, tendo passado pelos governos da capital paulista e do Estado de São Paulo. Era um defensor da racionalização administrativa, do gerenciamento técnico-científico e do estímulo à historiografia, à museologia, às ciências sociais, à realização de estatísticas e de censos, ao esporte e à cultura. De fato, foi ele quem liberou o Teatro Municipal para a realização da Semana de Arte Moderna.

Como presidente da república, Washington Luís decretou o fim do estado de sítio, fechou prisões destinadas a presos políticos, restabeleceu e depois voltou a acabar com a liberdade de imprensa (a Lei Celerada de 1929 visava o combate a comunistas). Fomentou a construção de rodovias e quis reformar o sistema financeiro do país, mas a Crise de 1929 atrapalhou seus planos, com a queda nos preços do café. Com a grave crise, Washington Luís se recusou a ajudar os cafeicultores, o que desgastou sua imagem junto àquele grupo.

Washington Luís indicou o nome de Júlio Prestes, político paulista, como candidato a presidente da república nas eleições de 1930, o que desagradou as oligarquias mineiras. Formou-se então a Aliança Liberal, que fez oposição à candidatura de Júlio Prestes. Os mineiros pediram apoio aos gaúchos, oferecendo-lhes a vaga de candidato a presidente, que acabou sendo destinada a Getúlio Vargas. Os mineiros ofereceram ainda a vaga de candidato a vice para a Paraíba, que ficou com o político João Pessoa.

A Aliança Liberal atraiu o eleitorado urbano, setores da burguesia, do proletariado, das camadas médias e dos tenentes. O Partido Democrático, fundado em 1926, legenda que defendia o voto secreto, também apoiou a Aliança. A Aliança Liberal também buscou o apoio do líder tenentista Luís Carlos Prestes à candidatura de Getúlio Vargas, contudo, Prestes já estava aderindo ao comunismo por meio do contato com comunistas argentinos e uruguaios, e acabou repudiando a candidatura de Vargas em um manifesto datado de maio de 1930, no qual explicou a sua adesão ao marxismo.

As eleições foram vencidas por Júlio Prestes e, inicialmente, as oligarquias mineira, gaúcha e paraibana aceitaram o resultado. Todavia, jovens políticos mineiros e gaúchos, além dos tenentistas (agora sem Luís Carlos Prestes) começaram a falar em revolução. No dia 26 de julho de 1930, João Pessoa foi assassinado na Paraíba, o que gerou grande comoção popular. O político mineiro Antônio Carlos teria dito: “Façamos a revolução antes que o povo a faça”. Desenrolou-se então aquilo que ficaria conhecido como Revolução de 1930, quando a velha-guarda e a jovem-guarda das oligarquias dissidentes uniram-se aos tenentes. Com intensos combates ocorrendo no país, Washington Luís foi deposto antes da posse de Júlio Prestes. Getúlio Vargas foi empossado como presidente da república.

O novo governo não era formado, como os anteriores, por uma única categoria socioeconômica (como os escravocratas do Império ou os cafeicultores dos primeiros anos da República), mas por grupos diferentes: as oligarquias dissidentes, os setores urbanos e os tenentistas. Assim, Getúlio Vargas deveria encontrar uma forma de manter tal aliança em seu governo.