A
Proclamação da República foi fruto da aliança entre cafeicultores paulistas e
exército contra o Império. Ficou decidido que os militares deveriam assumir o
governo durante a fase inicial da República, pois havia o medo de um
contragolpe monárquico. Assim, entre 1889 e 1894 o Brasil ficou sob o domínio
da República da Espada, época dos governos dos marechais Deodoro da Fonseca
(1889-1891) e Floriano Peixoto (1891-1894).
É
preciso dizer que à época da Proclamação da República havia três projetos
distintos de governo republicano. O projeto republicano liberal era defendido
pelos cafeicultores paulistas e suas propostas eram a descentralização
política, a autonomia dos estados, a defesa das liberdades individuais (direitos
de locomoção, de propriedade, de livre-expressão), a livre competição
econômica, a separação entre os três poderes, a instauração de eleições e a
separação entre Igreja e Estado. Tal projeto inspirava-se no sistema
norte-americano.
O projeto republicano jacobino, sob a inspiração da I República francesa de
Danton e Robespierre, era a bandeira da baixa classe média (pequenos
comerciantes e funcionários) e de setores intelectualizados da sociedade
brasileira (profissionais liberais como jornalistas, médicos, advogados e
professores). Neste projeto estavam em pauta a liberdade pública de reunião e
discussão e uma maior participação popular na administração pública. Os
defensores mais radicais deste projeto eram altamente xenófobos, principalmente
antilusitanos.
Por
fim, o projeto republicano positivista inspirado em Auguste Comte era
defendido pelo exército. As ideias de “ordem” e “progresso” marcavam presença
nesse projeto. Ademais, havia aqui a noção de que a administração da sociedade
deveria ser feita de maneira científica e racional. Os militares positivistas
defendiam ainda um Estado forte, centralizado e capaz de exercer quase que uma
tutela da população.
O
GOVERNO PROVISÓRIO DE DEODORO DA FONSECA (1889-1891)
Em
seu governo provisório, Deodoro da Fonseca agiu com autoritarismo, apreciador
que era da disciplina militar. A marinha, que era basicamente monarquista, não
apoiou o seu governo. Houve a extinção da Constituição de 1824, a convocação de
eleições para uma assembleia constituinte, o banimento da família imperial, a
separação entre Igreja e Estado, além do oferecimento da cidadania brasileira
aos estrangeiros residentes no Brasil.
Rui
Barbosa foi nomeado ministro da Fazenda e tentou implementar um projeto de
desenvolvimento industrial. O aumento na emissão de papel-moeda facilitou o
estabelecimento de sociedades anônimas (empresas). Barbosa dificultou a entrada
de produtos importados por meio de taxas alfandegárias que visavam proteger a
supostamente nascente indústria nacional. Todavia, o aumento na emissão de
papel-moeda provocou a inflação (o Encilhamento) e a febre especulativa.
Em
1891 foi aprovada a nova Constituição do país. A carta definia o Brasil como
uma república federativa formada por um governo central e por 20 estados com
autonomia jurídica, administrativa e fiscal. O texto também regulamentava a
divisão dos três poderes: executivo (presidente, governadores e prefeitos),
legislativo (bicameral, com Senado e Câmara dos Deputados, além de assembleias
estaduais e câmaras de vereadores) e judiciário, todos independentes entre si.
O voto era universal, masculino e não-secreto. Mulheres, analfabetos, mendigos,
menores de 21 anos, padres e soldados não votavam. Ficou ainda definido que o
primeiro presidente após a promulgação da Constituição de 1891 deveria ser
eleito pela assembleia constituinte. Deodoro da Fonseca foi eleito o primeiro
presidente constitucional da República Brasileira.
O
GOVERNO CONSTITUCIONAL DE DEODORO DA FONSECA (1891)
O
fracasso da política econômica praticada durante o Governo Provisório de
Deodoro da Fonseca fez com que o seu Governo Constitucional começasse já
desgastado. Como Presidente e Vice foram eleitos separadamente, Deodoro assumiu
o governo junto com Floriano Peixoto, que havia sido o candidato a Vice pela
outra chapa (apoiada por cafeicultores, com Prudente de Morais como candidato a
presidente).
O
constante autoritarismo de Deodoro da Fonseca se chocou com um Congresso
formado predominantemente por cafeicultores, fato que levou a uma grave crise
política. O presidente chegou a decretar estado de sítio, fechando o Congresso
no dia 03 de novembro de 1891. Houve reação da oposição e também por parte do
exército com a articulação de Floriano Peixoto. Trabalhadores da Estrada de
Ferro Central do Brasil entraram em greve contra o golpe de Deodoro.
Custódio
de Melo, almirante da marinha, apontou os canhões dos navios que estavam na
Baía de Guanabara para a cidade do Rio de Janeiro, ameaçando bombardear a
cidade e exigindo a renúncia de Deodoro da Fonseca, que acabou cedendo às
pressões.
O
GOVERNO DE FLORIANO PEIXOTO (1891-1894)
Com
a renúncia de Deodoro, Floriano Peixoto foi muito hábil ao conseguir o apoio de
republicanos radicais, positivistas e cafeicultores. Floriano era considerado
um defensor da ordem e do regime republicano, e seu autoritarismo era tido como
moderado. A volta à normalidade veio com a suspensão do estado de sítio.
Algumas medidas do novo governo foram: a construção de casas populares e a
suspensão do imposto sobre o comércio de carne na cidade do Rio de Janeiro.
A
administração de Floriano Peixoto foi marcada pelo paternalismo. As classes
populares recebiam concessões como se fossem “presentes”, havendo uma sujeição
agradecida dos mais pobres aos mais ricos. Por sua vez, a lealdade política era
baseada nas compensações e na troca de favores.
Houve
o estímulo à indústria por meio de linhas de crédito do Banco do Brasil e de
leis alfandegárias (protecionismo). Contudo, aquela época foi marcada pelos
problemas da inflação e da falta de recursos. Tudo isso em um ambiente de forte
nacionalismo.
Em
abril de 1892 foi publicado o Manifesto dos 13 Generais, no qual oficiais do
exército pediram o afastamento de Floriano Peixoto, pois o seu governo seria
inconstitucional (como Deodoro da Fonseca havia renunciado ao cargo de
presidente aos nove meses de governo, em tal caso a lei definia que deveriam
ocorrer eleições e não a subida do vice ao posto de presidente). No Manifesto,
os generais exigiram a realização de novas eleições para o posto mais alto do
poder executivo no país. Os autores do Manifesto foram afastados e presos.
Neste
período também ocorreu um conflito político no Rio Grande do Sul. Naquele
estado havia a hegemonia do Partido Republicano Rio-grandense – PRR –, do
governador Júlio de Castilhos (apoiador de Floriano Peixoto). Por sua vez, a
oposição ao PRR era feita pelo Partido Federalista, liderado por Silveira
Martins, que criticava a centralização do poder pelo PRR. O conflito entre os
dois grupos foi intensificado quando Floriano Peixoto interferiu na disputa ao
apoiar Júlio de Castilhos. A chamada Revolução Federalista ganhou uma dimensão
nacional.
Também
naquela época ocorreu a Revolta da Armada de 1893. Oficiais da Marinha
apontaram os canhões de seus navios para a cidade do Rio de Janeiro e exigiram
a renúncia de Floriano Peixoto. É preciso lembrar as tendências monarquistas da
marinha e as ambições políticas do almirante Custódio de Melo que contribuíram
para tal episódio. Contudo, Floriano resistiu e combateu os revoltosos em um
intenso confronto armado.
A
Revolução Federalista e a Revolta da Armada se uniram. O líder federalista
gaúcho Gumercindo Saraiva partiu para a cidade de Desterro, capital de Santa
Catarina, para se encontrar com os destacamentos navais de Custódio de Melo em
1893. No ano seguinte, os rebeldes tomaram a cidade de Curitiba, no Paraná. As
tropas florianistas responderam aos ataques e empurraram os federalistas para o
sul, conquistando a cidade de Desterro, que a partir de então passou a se
chamar Florianópolis. No Rio de Janeiro, os navios de guerra de Floriano
Peixoto, comprados principalmente dos EUA, venceram os navios ainda sublevados
e forçaram a rendição dos rebeldes no dia 10 de março de 1894.
O
GOVERNO DE PRUDENTE DE MORAIS (1894-1898)
Nas
eleições presidenciais seguintes venceu o cafeicultor paulista e republicano
Prudente de Morais. Com os cafeicultores no poder, o projeto republicano
liberal venceu os projetos radical (jacobino) e positivista, que não tinham
base social significativa (o país ainda era predominantemente rural, e não
havia proletariado urbano, pequena burguesia, classe média e burguesia nacional
bem articuladas). A república liberal instalada pelos cafeicultores seria
marcada por desigualdades sociais e caracterizada por ser pouco democrática
(havia exclusão política e fraude nas eleições).
Prudente
de Morais deveria fazer o país voltar à normalidade e, para isso, acabou de vez
com a Revolução Federalista em 1895, que já estava bem enfraquecida. Reatou
relações com Portugal (que tinham sido rompidas por Floriano Peixoto) e ainda
tomou posse da ilha de Trindade. Durante o seu governo houve forte agitação
florianista: com a morte de Floriano Peixoto em 1895, por conta de uma crise
hepática, cresceram manifestações contra Prudente de Morais, que se afastou da
presidência por motivos de saúde entre novembro de 1896 e março de 1897, quando
retornou ao exercício do cargo para terminar o seu governo.
Fato
marcante do período foi a Guerra de Canudos, entre 1896 e 1897. A população
pobre do nordeste vivia em forte tensão social, sobretudo em épocas de seca. Em
tal cenário, os sertanejos tinham algumas alternativas, como a emigração
(difícil, por conta da precariedade dos meios de transporte e de comunicação),
o banditismo social (cangaço) e o misticismo religioso (por meio de um líder
messiânico), este último com a promessa da salvação eterna. Antônio Vicente
Mendes Maciel, o Antônio Conselheiro, fazia pregações e dava assistência à
população pobre do nordeste. Ele se estabeleceu com seus seguidores na fazenda
de Canudos, onde fundaram a aldeia de Belo Monte. Essa comunidade livre foi
vista como um “mau exemplo” pelos poderosos da Bahia. Conselheiro criticava a
República (vista como um demônio) e apelava pela vinda do salvador, D.
Sebastião (rei português falecido no norte da África no século XV). A partir
disso, os governo baiano e federal enviaram expedições militares para destruir
Canudos, mas muitas fracassaram. Só em outubro de 1897 o arraial foi derrotado.
Com
os fracassos sucessivos do exército em Canudos, mesmo com a vitória sobre o
arraial de Antônio Conselheiro em 1897, a posição política do exército ficou
abalada. Haveria a partir daí um predomínio da oligarquia rural na política
brasileira, especialmente dos cafeicultores.
O
APOGEU DA ORDEM OLIGÁRQUICA (1898-1914)
Entre
1898 e 1914, o Brasil passou pelos governos de Campos Sales (1898-1902),
Rodrigues Alves (1902-1906), Afonso Pena (1906-1909), Nilo Peçanha (1909-1910)
e Hermes da Fonseca (1910-1914).
Um
primeiro aspecto a ser destacado a respeito do período é a crise do café. O
aumento da produção brasileira e mundial do produto provocou a redução do preço
do café, produto responsável por boa parte das exportações brasileiras à época.
Com isso, houve um forte abalo na economia do país, com crescente dívida
externa junto a bancos estrangeiros e inflação (lembrar a emissão excessiva de
papel-moeda no início da República).
Em
1898, Campos Sales assinou o funding loan, um acordo com os bancos credores.
Por meio dessa medida, ficou acertado um empréstimo para o pagamento dos juros
da dívida externa nos 3 anos seguintes. Além disso, foi estabelecido um prazo
de 13 anos para que se iniciasse o pagamento da dívida, a penhora da receita da
alfândega do Rio de Janeiro e o compromisso por parte do governo brasileiro em
combater a inflação e fortalecer a economia do país. O funding loan era uma
moratória, ou seja, em troca da suspensão temporária do pagamento da dívida
externa, concordava-se com o aumento do seu valor e do tempo (prazo) para
pagá-la. O governo cortou gastos (parou obras públicas, por exemplo) e aumentou
impostos sobre os produtos. Houve ainda a incineração de papel-moeda para
reduzir a inflação, contudo, tal medida gerou recessão econômica (desemprego).
Por sua vez, a valorização cambial do mil-réis barateou produtos importados, o
que prejudicou a indústria nacional.
Em
1906, ocorreu o Convênio de Taubaté, realizado na cidade situada no Vale do
Paraíba. Os cafeicultores decidiram por uma política estatal de valorização do
café, na qual os governos de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro
comprariam toda a produção cafeeira para regular os estoques do produto e,
consequentemente, o preço do café no mercado mundial (é preciso lembrar a lei
da oferta e da procura, além do fato de o Brasil ser o maior produtor de café
no período). Os primeiros resultados de tal política foram animadores, mas ela
estava fadada ao fracasso porque os cafeicultores continuariam produzindo muito
café (já tinham um comprador garantido, o governo, que pagava uma alto preço
pelo produto) e, se não houvesse demanda suficiente no mercado, o café deveria
ser destruído, o que provocava prejuízo (o governo comprava, mas não vendia).
Com o aumento no preço do café, outras partes do mundo aumentaram a sua
produção, provocando intensa concorrência.
O
início do século XX viu também o surto econômico da borracha, no contexto da
segunda Revolução Industrial marcado pelas indústrias de automóveis e pneus. A
borracha era extraída da seringueira na região amazônica a partir da atuação de
trabalhadores que viviam em condições miseráveis (nativos e nordestinos
emigrados), enquanto os proprietários de terras é que ganhavam muito dinheiro
com o comércio da borracha. Foi neste cenário que ocorreu a Questão do Acre,
marcada por intensas disputas que foram seguidas pela compra do Acre pelo
Brasil, que adquiriu a região da Bolívia por 2 milhões de libras esterlinas.
Na
cidade do Rio de Janeiro ocorreu a Revolta da Vacina (1904), durante o governo de
Rodrigues Alves (1902-1906). Em um momento de relativa tranquilidade econômica,
proporcionada pelo recente funding loan e pelo surto da borracha, iniciou-se
uma reforma do centro do Rio de Janeiro (urbanização) com inspiração em Paris.
Populares foram expulsos do centro da cidade (cortiços foram derrubados) em
nome do “Progresso”, fato que gerou uma crescente tensão social. O saneamento
da cidade foi executado pelo médico Oswaldo Cruz, que estabeleceu a vacinação
obrigatória contra a varíola. Tal medida somada à tensão social já existente
levou a uma revolta popular que durou uma semana e acabou reprimida pela
polícia e pelo exército.
Em
1910 ocorreu a Revolta da Chibata. Nos couraçados Minas Gerais e São Paulo,
iniciou-se uma rebelião de marujos contra os castigos físicos violentos e as
péssimas condições de alojamento e alimentação. Importante líder do movimento
foi o marujo negro João Cândido. Após momentos de tensão, os líderes da revolta
foram presos e condenados a trabalhos forçados na Amazônia. Já na região sul
ocorreu a Revolta do Contestado (1914), um movimento que se deu na região entre
Paraná e Santa Catarina sob o comando de um líder messiânico, José Maria,
sendo, portanto, similar ao movimento de Canudos.
Durante
o apogeu da ordem oligárquica, foi marcante a atuação dos Partidos Republicanos Paulista e Mineiro – PRP e PRM –, que por vezes estabeleceram uma aliança
entre o poder econômico de São Paulo (grande produtor de café) e o poder
político de Minas Gerais (maior colégio eleitoral na época). Tal política seria chamada de “café com leite”.
Também
foi marcante no período a política dos governadores idealizada por Campos
Sales. Tratava-se de uma articulação entre o poder central e as oligarquias
regionais. Os governadores apoiavam o presidente em troca de autonomia para os
seus estados. Assim, os governadores procuravam eleger uma grande quantidade de
deputados e senadores alinhados a esse pacto político. A Comissão Verificadora
de Poderes não permitia a diplomação e a posse de deputados de oposição.
As
eleições da época eram fraudulentas e violentas, o voto não era secreto,
havendo ainda o coronelismo e o clientelismo, que eram sustentados pelo voto de
cabresto. A proteção política era dada em troca de obediência. O coronel se
articulava com o governador para eleger determinado presidente.
São
Paulo e Minas Gerais romperam sua aliança por conta do apoio dos mineiros ao
marechal Hermes da Fonseca, que desagradava aos paulistas por ser militar. Com
a máquina coronelística, Hermes venceu as eleições e se tornou presidente,
governando entre 1910 e 1914. A sua administração foi conservadora e manteve a
política de valorização do café. É dessa época a Política das Salvações,
intervenções feitas nos estados para trocar determinados grupos oligárquicos
por outros.
Os
mecanismos políticos das oligarquias ajudavam a manter nos estados, por muito
tempo, os mesmos grupos políticos no poder, fato que gerava insatisfação de
outros grupos oligárquicos. O próprio predomínio de São Paulo e Minas Gerais na
esfera federal provocava a insatisfação de outros estados, como o Rio Grande do
Sul. Aos poucos, começava uma crise política que abalaria a chamada “República
Velha”.
A CRISE DA PRIMEIRA REPÚBLICA (1914-1930)
Durante
os anos finais do século XIX e a partir dos primeiros anos do século XX, o fato
de os mesmos grupos oligárquicos ficarem no poder nos estados foi provocando um
crescente desgaste no regime republicano então em vigor no Brasil. Assim, surgiram
as oligarquias dissidentes, setores economicamente poderosos da sociedade
brasileira que queriam mais espaço na política.
Entre
1914 e 1930, o Brasil foi governado por Venceslau Brás (1914-1918), Delfim
Moreira (1918-1919), Epitácio Pessoa (1919-1922), Artur Bernardes (1922-1926) e
Washington Luís (1926-1930). Aquele foi um período marcado por transformações
sociais e econômicas na realidade brasileira. A expansão demográfica foi
impulsionada pela imigração europeia, verificou-se ainda um processo de urbanização
e de diversificação da economia. O desenvolvimento da infraestrutura se deu com
o advento de ferrovias, bancos, telégrafo, jornal, rádio e da expansão da
atividade comercial. No âmbito da industrialização, houve a importância do
estado de São Paulo, graças aos recursos oriundos do café. Com a I Guerra
Mundial as importações foram reduzidas e a produção nacional de têxteis e
alimentos industrializados foi estimulada. Tudo isso levou ao desenvolvimento
de uma burguesia industrial, do operariado e da classe média, setores urbanos
que passariam a se chocar cada vez mais com a ordem oligárquica rural.
A
burguesia industrial era formada por cafeicultores, comerciantes e imigrantes
europeus enriquecidos. Já no operariado era grande a presença de imigrantes europeus.
Os operários viviam sob difíceis condições de vida e de trabalho, enfrentadas
por meio da criação de associações e sindicatos (não havia legislação
trabalhista), que se manifestavam politicamente por meio da imprensa operária.
Os trabalhadores defendiam ideias próximas do anarquismo, e organizaram a Greve
Geral de 1917. Como um desdobramento da Revolução Russa de 1917, houve a
fundação do Partido Comunista do Brasil em 1922, além da formação do Bloco
Operário e Camponês (que passou a lançar candidatos na política). Por fim, a
classe média se via na situação de vítima da inflação e com pouca participação
política (lembrar as fraudes nas eleições e a importância ainda grande do voto
rural). Foram os jovens oficiais do exército oriundos da classe média que deram
início ao movimento do Tenentismo, no qual teve um papel importante a Escola
Militar do Realengo (responsável por um ensino técnico e preocupado com o
advento de novas armas com a I Guerra Mundial). O exército era uma instituição
abandonada pelas oligarquias rurais, havendo uma série de restrições políticas
à ascensão na carreira militar. Neste cenário, os tenentistas defendiam a
moralização do país, o voto secreto, a centralização política e o ensino
obrigatório. Tratava-se de um movimento elitista, pois segundo a concepção dos
tenentistas o presidente da república deveria ser alguém saído do referido
movimento.
O
GOVERNO DE ARTUR BERNARDES (1922-1926)
Nas
eleições de 1922, Artur Bernardes (candidato apoiado por São Paulo e Minas
Gerais) e Nilo Peçanha (candidato apoiado por Rio Grande do Sul, Pernambuco,
Bahia e Rio de Janeiro) disputaram a presidência da república. Após um processo
eleitoral extremamente fraudulento, o mineiro Artur Bernardes saiu vitorioso.
Os tenentes tentaram impedir a posse do candidato eleito (o jornal carioca Correio da Manhã tinha divulgado cartas falsas de Bernardes criticando a
corrupção e a imoralidade do exército, fato que provocou um mal-estar entre o
político mineiro e os jovens militares do exército) por meio da Revolta do
Forte de Copacabana, em 1922.
Tal
acontecimento foi um primeiro sinal de que o governo de Bernardes seria
bastante agitado. Ele reeditou as Salvações de Hermes da Fonseca
(intervenções principalmente em Pernambuco e na Bahia), política que gerou
conflitos no país. Um exemplo foi a Revolução Gaúcha de 1923, um levante
liderado por Assis Brasil (apoiado por Artur Bernardes) contra a reeleição pela
quinta vez seguida de Borges de Medeiros (do Partido Republicano Rio-grandense)
para o cargo de governador do Estado do Rio Grande do Sul. O conflito só foi
solucionado com o Pacto de Pedras Altas, por meio do qual ficou definido que
após o fim do mandato de Borges de Medeiros, ficariam proibidas as reeleições
para governador naquele estado.
Já
a Revolução Paulista de 1924 foi um movimento liderado pelo general Isidoro
Dias Lopes. Tratou-se de um movimento de caráter elitista, que rejeitou a
participação popular. Reprimidos pelo governo federal, os militares revoltosos
se retiraram do estado de São Paulo. No sul, o tenente Luís Carlos Prestes
organizou uma coluna e partiu ao encontro dos paulistas rebeldes. Tenentistas paulistas e gaúchos se
encontraram perto de Foz do Iguaçu em 1925, e dali a chamada Coluna Prestes
iniciou uma marcha de aproximadamente 25 mil Km por onze estados do Brasil que
durou dois anos, só acabando em 1927, quando Prestes partiu com seus
companheiros para a Bolívia. Foi nessa época, que Prestes ficou conhecido como
o “cavaleiro da esperança”.
Em
meio a tais agitações, Artur Bernardes apelou para o autoritarismo, decretando
o estado de sítio, restringindo a liberdade de imprensa e reformando a
Constituição em 1926, fortalecendo o poder presidencial.
Do
ponto de vista cultural, importante acontecimento da época foi a Semana de Arte
Moderna de 1922. O evento realizado no Teatro Municipal de São Paulo foi
marcado pela presença dos ideais estéticos e políticos do modernismo, com novas
formas de expressão como o futurismo, por exemplo. Importantes personagens
dessa época foram artistas como Mário de Andrade, Oswald de Andrade, Manuel
Bandeira, Tarsila do Amaral, Emiliano Di Cavalcanti e Heitor Villa-Lobos. O
chamado “movimento antropofágico” e o “verde-amarelismo” marcaram presença.
O
GOVERNO DE WASHINGTON LUÍS (1926-1930)
Washington
Luís foi um carioca que desenvolveu sua carreira política em São Paulo, tendo
passado pelos governos da capital paulista e do Estado de São Paulo. Era um
defensor da racionalização administrativa, do gerenciamento técnico-científico
e do estímulo à historiografia, à museologia, às ciências sociais, à realização
de estatísticas e de censos, ao esporte e à cultura. De fato, foi ele quem
liberou o Teatro Municipal para a realização da Semana de Arte Moderna.
Como
presidente da república, Washington Luís decretou o fim do estado de sítio,
fechou prisões destinadas a presos políticos, restabeleceu e depois voltou a
acabar com a liberdade de imprensa (a Lei Celerada de 1929 visava o combate a
comunistas). Fomentou a construção de rodovias e quis reformar o sistema
financeiro do país, mas a Crise de 1929 atrapalhou seus planos, com a queda nos
preços do café. Com a grave crise, Washington Luís se recusou a ajudar os
cafeicultores, o que desgastou sua imagem junto àquele grupo.
Washington
Luís indicou o nome de Júlio Prestes, político paulista, como candidato a
presidente da república nas eleições de 1930, o que desagradou as oligarquias
mineiras. Formou-se então a Aliança Liberal, que fez oposição à candidatura de
Júlio Prestes. Os mineiros pediram apoio aos gaúchos, oferecendo-lhes a vaga de
candidato a presidente, que acabou sendo destinada a Getúlio Vargas. Os
mineiros ofereceram ainda a vaga de candidato a vice para a Paraíba, que ficou
com o político João Pessoa.
A
Aliança Liberal atraiu o eleitorado urbano, setores da burguesia, do
proletariado, das camadas médias e dos tenentes. O Partido Democrático, fundado
em 1926, legenda que defendia o voto secreto, também apoiou a Aliança. A
Aliança Liberal também buscou o apoio do líder tenentista Luís Carlos Prestes à
candidatura de Getúlio Vargas, contudo, Prestes já estava aderindo ao comunismo
por meio do contato com comunistas argentinos e uruguaios, e acabou repudiando
a candidatura de Vargas em um manifesto datado de maio de 1930, no qual
explicou a sua adesão ao marxismo.
As
eleições foram vencidas por Júlio Prestes e, inicialmente, as oligarquias
mineira, gaúcha e paraibana aceitaram o resultado. Todavia, jovens políticos
mineiros e gaúchos, além dos tenentistas (agora sem Luís Carlos Prestes)
começaram a falar em revolução. No dia 26 de julho de 1930, João Pessoa foi
assassinado na Paraíba, o que gerou grande comoção popular. O político mineiro
Antônio Carlos teria dito: “Façamos a revolução antes que o povo a faça”.
Desenrolou-se então aquilo que ficaria conhecido como Revolução de 1930,
quando a velha-guarda e a jovem-guarda das oligarquias dissidentes uniram-se
aos tenentes. Com intensos combates ocorrendo no país, Washington Luís foi
deposto antes da posse de Júlio Prestes. Getúlio Vargas foi empossado como
presidente da república.
O
novo governo não era formado, como os anteriores, por uma única categoria
socioeconômica (como os escravocratas do Império ou os cafeicultores dos
primeiros anos da República), mas por grupos diferentes: as oligarquias
dissidentes, os setores urbanos e os tenentistas. Assim, Getúlio Vargas deveria
encontrar uma forma de manter tal aliança em seu governo.