Sobre o "Blog do Super Rodrigão"

*** O "Blog do Super Rodrigão" foi criado e editado por Rodrigo Francisco Dias quando de sua passagem como professor de História da Escola Estadual Messias Pedreiro (Uberlândia-MG). O Blog esteve ativo entre os anos de 2013 e 2018, mas as suas atividades foram encerradas no dia 27/08/2018, após o professor Rodrigo deixar a E. E. Messias Pedreiro. ***

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Espanhóis e Ingleses na América

A CONQUISTA ESPANHOLA

O início da ocupação espanhola dos territórios na América ocorreu pelas ilhas de Guanaani (San Salvador), mas como o ouro encontrado nesses locais era pouco para a ambição dos colonizadores, iniciou-se em seguida o processo de ocupação do continente. Oitenta anos após a chegada ao Novo Mundo, os espanhóis já dominavam um extenso território que ia do norte do México até a Argentina, incluindo a Venezuela e a Colômbia a leste.

Hernán Cortez chegou ao México em 1519 com 508 soldados, 16 cavalos e 14 canhões. Os primeiros contatos com os astecas foram amistosos, e Montezuma II – o líder asteca – até o recebeu com presentes e o tratou com respeito. Todavia, Cortez aliou-se aos povos inimigos dos astecas e, em 1521, após 75 dias de conflitos, os astecas renderam-se à dominação espanhola.

O fato de os espanhóis terem encontrado bastante ouro em território asteca animou o envio de expedições à América do Sul. Francisco Pizarro partiu do Panamá e chegou à cidade inca de Tumbez, em 1532. Dali, partiu com os seus homens para Cajamarca, onde aprisionou Atahualpa, o imperador inca. Os espanhóis exigiram um resgate em ouro para libertarem o soberano inca, mas, mesmo após receberem o pagamento, assassinaram Atahualpa, que era considerado um ser semidivino e intocável pelo seu povo. Na luta contra os incas, Pizarro estabeleceu alianças com alguns povos da região, como os Wanka, um povo guerreiro que habitava o sul do atual Peru e que ajudou os espanhóis na conquista da cidade inca de Cuzco, em 1533. Dois anos depois, Pizarro fundou a Ciudad de los Reyes, atual cidade de Lima, que veio a ser a capital do novo domínio espanhol.

As centenas de homens que desembarcaram na América sob o comando de Cortez e Pizarro derrotaram os milhares de povos indígenas por causa de alguns fatores: a) a superioridade bélica, particularmente em decorrência do uso da pólvora, de canhões, de arcabuzes (similares aos atuais fuzis), de espadas cortantes, de armaduras de ferro que protegiam o corpo (muito úteis contra as flechas indígenas) e de cavalos (que até então eram desconhecidos dos índios); b) os vírus e as bactérias trazidos pelos espanhóis, que disseminaram muitas doenças entre a população nativa, tais como pneumonia, febre amarela, sarampo, varíola, gripe, etc.; c) o conhecimento adquirido pelos espanhóis a respeito dos povos da América, pois os espanhóis procuravam se informar ao máximo sobre as desavenças entre aqueles povos, estimulando as guerras entre eles e subjugando, após a guerra, até mesmo os seus aliados; d) os espanhóis não tinham escrúpulos em mentir, chantagear e fazer massacres, ao contrário dos índios, que viviam sob muitas regras, entre as quais uma que proibia o líder indígena de mentir (Atahualpa, por exemplo, estranhou o fato de continuar preso após o pagamento do resgate por sua liberdade); e) os povos indígenas tiveram que enfrentar bruscas mudanças na alimentação, no ritmo de trabalho e no modo de vida a partir das imposições culturais – idioma, religião, leis, práticas políticas e econômicas – colocadas pelos colonizadores espanhóis.

A ECONOMIA DA AMÉRICA ESPANHOLA

A colonização da América espanhola envolveu interesses públicos e privados de nobres sem fortuna, comerciantes, aventureiros e dos reis espanhóis, no âmbito do mercantilismo. Em decorrência do metalismo e da existência de muitos metais preciosos no continente, a principal atividade econômica da América espanhola era a mineração – notadamente a de ouro e a de prata –, que provocou efeitos multiplicadores sobre outras atividades, como a agricultura, a pecuária, a manufatura e o comércio.

Foi na ilha de Hispaniola (atuais Haiti e República Dominicana), que os espanhóis iniciaram a extração de metais preciosos na América, porém, o ouro de aluvião encontrado ali esgotou-se rapidamente. A mineração só se tornou um setor mais dinâmico da economia colonial a partir de 1545, quando foram descobertas minas de prata em Potosí (atual Bolívia) e em Zacatecas (atual México). Como o subsolo da América era considerado propriedade da Espanha, os mineradores obtinham apenas a concessão da exploração. Em decorrência dos altos custos exigidos na perfuração e no beneficiamento do minério, o número de mineradores era reduzido, o que facilitava o controle sobre a atividade.

Os espanhóis organizaram o trabalho forçado dos indígenas de duas formas: a "mita" e a “encomienda”. A mita era um hábito inca que foi adaptado pelos espanhóis. Os índios tinham a obrigação de trabalhar 4 meses por ano em troca de baixos salários, que eram em parte pagos em moeda (metal) e em parte pagos em alimentos, tecidos e bebidas. Por sua vez, a encomienda era o direito que um colono espanhol tinha de exigir do índio trabalho forçado ou tributos em gênero durante certo período. Tal privilégio passou a ser hereditário com o tempo e, em troca desse direito, o “encomendero” devia pagar tributos à metrópole e dar aos índios assistência material e religiosa, cristianizando-os. Na prática, porém, muitos índios morriam de fome e sem ter aprendido uma oração cristã sequer.

A agropecuária era outra atividade importante na América espanhola. A hacienda – fazenda – era a unidade produtora básica nos campos coloniais, voltada para a policultura (milho, feijão, abóbora, batata e cacau) e a criação de gado. A produção era destinada ao mercado local, regional, intercolonial ou à exportação para a Espanha. Os trabalhadores dessas fazendas eram obrigados a comprar no armazém da propriedade (tienda de raya) tudo o que precisavam, como roupas, calçados e alimentos, tornando-se assim prisioneiros por dívida naquele lugar. Exigindo pouco capital para o seu funcionamento, a fazenda se inseria nos circuitos mercantis que abrangiam grandes áreas da América espanhola. As minas situadas no México e em Potosí eram abastecidas pelos produtos oriundos das fazendas hispano-americanas, por exemplo. Foi com o declínio da mineração no século XVIII que a agropecuária se desenvolveu ainda mais, e as regiões dedicadas a esse setor da economia tornaram-se mais dependentes das exportações para a Europa.

Em alguns pontos da América espanhola também desenvolveu-se a plantation, ou seja, a grande propriedade rural monocultora baseada principalmente no trabalho escravo e cuja produção era voltada para o mercado externo. A plantation foi comum em áreas como Santo Domingo e Cuba (açúcar, tabaco) e Venezuela (cacau).

Como os preços dos fretes marítimos eram elevados e os transportes terrestres eram ineficientes, o artesanato e a manufatura – chamada de obraje – foram estimulados na América espanhola. As principais obrajes produziam tecidos de lã (cobertores, ponchos, xales) e eram instaladas próximas a mercados consumidores, como Quito, que vendia às minas de Nova Granada (Colômbia) e Tucumán (noroeste da atual Argentina), que vendia seus tecidos a Potosí. O artesanato era praticado por trabalhadores reunidos em corporações de ofício e por artesãos independentes. Algumas corporações, como a dos tecelões e ferreiros, que tinham maior prestígio, só admitiam brancos ou mestiços. Já ramos menos valorizados socialmente, como o dos pedreiros ou dos carpinteiros, admitiam índios e negros.

A Casa de Contratação controlava o comércio entre a América espanhola e a Espanha por meio do sistema de portos únicos. Na América, os únicos portos autorizados a fazer comércio com a Espanha eram os de Havana (Cuba), Vera Cruz (México), Cartagena (Colômbia) e Porto Belo (Panamá). Na Espanha, os navios que faziam a rota entre a metrópole e as colônias na América só podiam entrar e sair do território espanhol, inicialmente, pelo porto de Sevilha e, depois, pelo de Cádiz. O comércio colonial era comandado pelo sistema de frotas e galeões, ou seja, os navios que viajavam entre a América e a Espanha só faziam o percurso juntos, em frotas, e protegidos por navios fortemente armados, os galeões. Tal forma de organização visava controlar tudo o que saía das colônias e tudo o que entrava nelas, no intuito de garantir grandes lucros à metrópole. Foi em resposta a tal tentativa de monopólio que surgiu o contrabando.

A SOCIEDADE COLONIAL DA AMÉRICA ESPANHOLA E A ADMINISTRAÇÃO DO TERRITÓRIO

A sociedade hispano-americana era rigidamente hierarquizada e apresentava pouca mobilidade social, sendo difícil ascender socialmente de um grupo a outro. A minoria da população era composta pelas pessoas brancas, fossem elas nascidas na Espanha - os chapetones - ou na América. Os brancos ocupavam os melhores cargos na administração pública, nas forças militares, na Justiça e na Igreja, e muitos deles também eram donos de fazendas, das minas, e de manufaturas. A maioria da população era composta por índios, negros e mestiços (nascidos da união entre brancos e índios ou negros), que viviam do trabalho forçado, mal remunerado ou escravo. O racismo contra índios e negros era grande, e quanto maior fosse a semelhança entre a pessoa e o espanhol branco, melhor ela estava posicionada na hierarquia social.

Para administrar os territórios coloniais, foi criado por Carlos V, em 1524, o Conselho Real e Supremo das Índias, com sede em Sevilha, na Espanha, e que tinha por função cuidar de todas as questões coloniais de ordem legislativa, eclesiástica, militar ou jurídica. Buscando reduzir os custos com a colonização e estimular a conquista de um vasto território, a Coroa espanhola transferiu inicialmente o direito de administrar as áreas coloniais a particulares, os adelantados, que tinham amplos poderes civis e militares. Cortez e Pizarro foram dois adelantados, por exemplo.

Todavia, conforme as riquezas da América foram sendo descobertas, a Coroa espanhola anulou tais concessões feitas a particulares e ampliou o seu próprio poder de mando no Novo Mundo. Foi com este objetivo que foram criados quatro vice-reinos na América espanhola: o de Nova Espanha, o do Peru, o de Nova Granada e o do Rio da Prata. Os vice-reis eram homens que tinham muito poder, embora fossem fiscalizados por funcionários reais nomeados e com funções vitalícias. Também foram criadas as Capitanias Gerais, sendo a de Cuba, a da Guatemala, a da Venezuela e a do Chile as principais.

Por sua vez, nas cidades havia as câmaras municipais – conhecidas como cabildos ou ayuntamientos –, que eram responsáveis por cuidar da segurança interna e da administração local. Normalmente, os filhos dos espanhóis nascidos na América – que viriam a ser chamados de criollos – ocupavam os cargos de vereadores nesses órgãos.

A AMÉRICA INGLESA

Durante o século XVI, a América do Norte não despertou muito interesse dos europeus, que realizaram poucas expedições exploratórias àquela região, tais como as comandadas por Walter Raleigh entre 1584 e 1587 que, no entanto, não conseguiram estabelecer núcleos coloniais fixos, sobretudo por conta dos ataques dos povos nativos. Foi apenas no século XVII que os ingleses buscaram colonizar novas terras, como já o faziam Portugal e Espanha. Foi nesse sentido, que o rei inglês Jaime I criou duas companhias de comércio, em 1601: a Companhia de Londres, que ocuparia a região sul da América do Norte, e a Companhia de Plymouth, que ficaria com o norte da região. O primeiro povoado permanente instalado na região foi Jamestown (1607), na Virgínia, e com o tempo foram criadas outras colônias, perfazendo um total de 13, que juntas dariam origem aos Estados Unidos da América que conhecemos hoje.

A fome, o frio e a resistência indígena foram obstáculos que colocaram dificuldades aos primeiros colonos que vieram para a América Inglesa. Os colonos eram de diversas condições sociais: aventureiros, degredados, mulheres para serem leiloadas como esposas, órfãos e crianças raptadas. Muitos colonos eram na Inglaterra camponeses sem terra que haviam migrado do campo para as cidades inglesas em busca de trabalho. Encontrando dificuldades naquelas cidades, muitos deles eram seduzidos pelas Companhias de Comércio e incentivados a viver nas colônias. Ao chegar à América do Norte, muitas dessas pessoas passavam a viver sob um regime de servidão temporária, ou seja, trabalhavam por quatro ou cinco anos nas terras de quem tivesse financiado a viagem.

Outra parte dos colonos eram composta por grupos religiosos protestantes, tais como os puritanos, os batistas e os quakers, que fugiam da perseguição religiosa imposta pela monarquia absolutista inglesa, que tentava impor a religião anglicana. Em 1620, um desses grupos religiosos deixou a Inglaterra a bordo do Mayflower, fundando no litoral de Massachusetts um próspero núcleo de colonização: New Plymouth. Liderados por puritanos com alto grau de instrução, esses pais peregrinos viam a si mesmos como um grupo eleito por Deus para colonizar a América. Tal crença religiosa foi importante para que esse grupo mantivesse a identidade e a coesão, o que os ajudou a enfrentar os obstáculos de adaptação à nova terra.

É preciso dizer que, além desses grupos de ingleses, vieram também para a América do Norte outros grupos europeus, entre os quais alemães, escoceses, irlandeses e franceses, que vieram para a região em busca de uma vida melhor. Todos esses grupos de colonos que vieram para as 13 colônias da América do Norte encontraram naquelas terras diversos grupos indígenas que lá já viviam. Os índios norte-americanos se dividiam em alguns grupos: Algonquino-Wakash, Penuciano, Hoka-Sioux, Nadene, Azteco-Tano e Inuit-Aleuta. Esses povos indígenas muitas vezes disputavam terras entre si, praticavam a agricultura, caçavam e tinham hábitos migratórios. A presença do colonizador europeu fez com que algumas tribos aderissem ao cristianismo, domesticassem o cavalo e utilizassem arma de fogo. As migrações indígenas aumentavam quando o colonizador apropriava-se de suas terras.

Ao contrário do que aconteceu na América portuguesa – onde a escassez de mulheres brancas estimulou a união entre colonos e mulheres indígenas –, a miscigenação ocorreu nas 13 colônias em um grau bem menor, pois lá a união entre brancos e indígenas não era estimulada. Deste modo, não houve um projeto de integração dos índios norte-americanos no processo de colonização da América inglesa. Em verdade, muitos daqueles índios foram exterminados nos violentos conflitos que ocorriam entre aquelas populações nativas e os colonos. Não se pode deixar de mencionar também que, além dos europeus formadores das 13 colônias, contribuíram também para a formação daquela sociedade os milhares de trabalhadores trazidos da África Ocidental, como escravos. Entre 1620 e 1720, a população das 13 colônias aumentou de 2500 pessoas para cerca de 3 milhões, isso sem contar a população indígena.

A ORGANIZAÇÃO DAS 13 COLÔNIAS

Se os colonos portugueses que vieram para a América viam no trabalho uma atividade a ser exercida por etnias inferiores (índios e negros), os colonos ingleses, ao contrário, viam o trabalho como algo edificante, como os puritanos, por exemplo, que, inspirados pelas ideias de João Calvino, criticavam o ócio e acreditavam que quem enriquecesse trabalhando seria salvo por Deus. Os colonos ingleses também se interessavam pela educação, e foi a partir desse interesse que fundaram a Universidade de Harvard, em 1636, em Cambridge, Massachusetts, no intuito de formar os futuros dirigentes de suas igrejas nas colônias.

Durante o século XVII, a Inglaterra passou por diversas convulsões políticas e sociais, tais como uma guerra civil (1620-1640), a instalação de uma República (Oliver Cromwell, 1649), o fortalecimento da burguesia (Ato de Navegação, 1651), o restabelecimento da monarquia (1660) e o fim do poder absoluto dos reis ingleses (1689). Dentro desse quadro conturbado, a Inglaterra não tinha condições de criar e controlar uma estrutura de governo eficiente para as suas colônias na América. Assim, embora as 13 colônias da América do Norte estivessem submetidas às leis inglesas, pagassem impostos à metrópole e garantissem a posse do território para a Inglaterra, elas viveram uma certa autonomia durante o século XVII, tomando decisões por meio de reuniões em assembleias.

Normalmente, as 13 colônias costumam ser divididas pelos historiadores em dois grupos: as do Norte e as do Sul. As colônias do Norte ocupavam uma área de clima temperado, baseada na policultura (trigo, maçã, batata, milho), na pequena propriedade e na mão de obra familiar ou servil. Havia ali também manufaturas de lã, couro, ferro e madeira, produtos que eram exportados por meio do comércio triangular. Tal comércio era realizado da seguinte maneira: em navios próprios, os colonos do Norte compravam melaço nas Antilhas e o transformavam em rum, em seguida a bebida era trocada por escravos na costa ocidental da África e, enfim, os escravizados eram vendidos para o Sul da América do Norte e para as Antilhas, de onde os navios voltavam com mais melaço. As colônias do Norte eram donas de uma economia diversificada e de um comércio exterior lucrativo, gozando de certa autonomia em relação à metrópole.

Já as colônias do Sul ocupavam uma região de clima quente e planícies extensas, produzindo gêneros agrícolas de larga aceitação na Europa, tais como o fumo, o algodão e o anil. Os fazendeiros sulistas traziam muitos escravizados para trabalhar em suas plantações. O Sul acabou ocupado por “plantations” (grandes propriedades escravistas monocultoras, muitas delas dedicadas ao plantio do algodão, por exemplo). A sociedade sulista era aristocrática e marcada por muitas desigualdades sociais. O Sul era mais dependente economicamente da Inglaterra, o que inibiu ali o afloramento de ideias de independência política.

Do ponto de vista da organização política, cada uma das 13 colônias tinha uma assembleia encarregada de estabelecer os impostos locais, o orçamento do governo colonial e as leis, que eram submetidas ao governador – homem nomeado pela monarquia inglesa ou eleito pelos próprios colonos, tendo ou não direito de veto às leis contrárias aos interesses metropolitanos, conforme o caso. Os colonos participavam ativamente da vida política, desenvolvendo assim sentimentos de autonomia em relação à metrópole e hábitos de autogoverno, que seriam decisivos na luta pela independência.

OBS.: O blog já publicou um breve resumo sobre a colonização inglesa na América do Norte. Clique aqui para ver.