A
CONQUISTA ESPANHOLA
O
início da ocupação espanhola dos territórios na América ocorreu pelas ilhas de
Guanaani (San Salvador), mas como o ouro encontrado nesses locais era pouco
para a ambição dos colonizadores, iniciou-se em seguida o processo de ocupação
do continente. Oitenta anos após a chegada ao Novo Mundo, os espanhóis já
dominavam um extenso território que ia do norte do México até a Argentina,
incluindo a Venezuela e a Colômbia a leste.
Hernán
Cortez chegou ao México em 1519 com 508 soldados, 16 cavalos e 14 canhões. Os
primeiros contatos com os astecas foram amistosos, e Montezuma II – o líder
asteca – até o recebeu com presentes e o tratou com respeito. Todavia, Cortez
aliou-se aos povos inimigos dos astecas e, em 1521, após 75 dias de conflitos,
os astecas renderam-se à dominação espanhola.
O
fato de os espanhóis terem encontrado bastante ouro em território asteca animou
o envio de expedições à América do Sul. Francisco Pizarro partiu do Panamá e
chegou à cidade inca de Tumbez, em 1532. Dali, partiu com os seus homens para
Cajamarca, onde aprisionou Atahualpa, o imperador inca. Os espanhóis exigiram
um resgate em ouro para libertarem o soberano inca, mas, mesmo após receberem o
pagamento, assassinaram Atahualpa, que era considerado um ser semidivino e
intocável pelo seu povo. Na luta contra os incas, Pizarro estabeleceu alianças
com alguns povos da região, como os Wanka, um povo guerreiro que habitava o sul
do atual Peru e que ajudou os espanhóis na conquista da cidade inca de Cuzco,
em 1533. Dois anos depois, Pizarro fundou a Ciudad de los Reyes, atual cidade
de Lima, que veio a ser a capital do novo domínio espanhol.
As
centenas de homens que desembarcaram na América sob o comando de Cortez e
Pizarro derrotaram os milhares de povos indígenas por causa de alguns fatores:
a) a superioridade bélica, particularmente em decorrência do uso da pólvora, de
canhões, de arcabuzes (similares aos atuais fuzis), de espadas cortantes, de
armaduras de ferro que protegiam o corpo (muito úteis contra as flechas
indígenas) e de cavalos (que até então eram desconhecidos dos índios); b) os
vírus e as bactérias trazidos pelos espanhóis, que disseminaram muitas doenças
entre a população nativa, tais como pneumonia, febre amarela, sarampo, varíola,
gripe, etc.; c) o conhecimento adquirido pelos espanhóis a respeito dos povos
da América, pois os espanhóis procuravam se informar ao máximo sobre as
desavenças entre aqueles povos, estimulando as guerras entre eles e subjugando,
após a guerra, até mesmo os seus aliados; d) os espanhóis não tinham escrúpulos
em mentir, chantagear e fazer massacres, ao contrário dos índios, que viviam sob
muitas regras, entre as quais uma que proibia o líder indígena de mentir
(Atahualpa, por exemplo, estranhou o fato de continuar preso após o pagamento
do resgate por sua liberdade); e) os povos indígenas tiveram que enfrentar
bruscas mudanças na alimentação, no ritmo de trabalho e no modo de vida a
partir das imposições culturais – idioma, religião, leis, práticas políticas e
econômicas – colocadas pelos colonizadores espanhóis.
A
ECONOMIA DA AMÉRICA ESPANHOLA
A
colonização da América espanhola envolveu interesses públicos e privados de
nobres sem fortuna, comerciantes, aventureiros e dos reis espanhóis, no âmbito
do mercantilismo. Em decorrência do metalismo e da existência de muitos metais
preciosos no continente, a principal atividade econômica da América espanhola
era a mineração – notadamente a de ouro e a de prata –, que provocou efeitos
multiplicadores sobre outras atividades, como a agricultura, a pecuária, a
manufatura e o comércio.
Foi
na ilha de Hispaniola (atuais Haiti e República Dominicana), que os espanhóis
iniciaram a extração de metais preciosos na América, porém, o ouro de aluvião
encontrado ali esgotou-se rapidamente. A mineração só se tornou um setor mais
dinâmico da economia colonial a partir de 1545, quando foram descobertas minas de
prata em Potosí (atual Bolívia) e em Zacatecas (atual México). Como o subsolo
da América era considerado propriedade da Espanha, os mineradores obtinham
apenas a concessão da exploração. Em decorrência dos altos custos exigidos na
perfuração e no beneficiamento do minério, o número de mineradores era
reduzido, o que facilitava o controle sobre a atividade.
Os
espanhóis organizaram o trabalho forçado dos indígenas de duas formas: a "mita" e a “encomienda”. A mita era um hábito inca que foi adaptado pelos espanhóis.
Os índios tinham a obrigação de trabalhar 4 meses por ano em troca de baixos
salários, que eram em parte pagos em moeda (metal) e em parte pagos em
alimentos, tecidos e bebidas. Por sua vez, a encomienda era o direito que um
colono espanhol tinha de exigir do índio trabalho forçado ou tributos em gênero
durante certo período. Tal privilégio passou a ser hereditário com o tempo e,
em troca desse direito, o “encomendero” devia pagar tributos à metrópole e dar
aos índios assistência material e religiosa, cristianizando-os. Na prática,
porém, muitos índios morriam de fome e sem ter aprendido uma oração cristã
sequer.
A
agropecuária era outra atividade importante na América espanhola. A hacienda – fazenda – era a unidade produtora básica nos campos coloniais, voltada para a
policultura (milho, feijão, abóbora, batata e cacau) e a criação de gado. A
produção era destinada ao mercado local, regional, intercolonial ou à
exportação para a Espanha. Os trabalhadores dessas fazendas eram obrigados a
comprar no armazém da propriedade (tienda de raya) tudo o que precisavam,
como roupas, calçados e alimentos, tornando-se assim prisioneiros por dívida
naquele lugar. Exigindo pouco capital para o seu funcionamento, a fazenda se
inseria nos circuitos mercantis que abrangiam grandes áreas da América
espanhola. As minas situadas no México e em Potosí eram abastecidas pelos
produtos oriundos das fazendas hispano-americanas, por exemplo. Foi com o
declínio da mineração no século XVIII que a agropecuária se desenvolveu ainda
mais, e as regiões dedicadas a esse setor da economia tornaram-se mais
dependentes das exportações para a Europa.
Em
alguns pontos da América espanhola também desenvolveu-se a plantation, ou
seja, a grande propriedade rural monocultora baseada principalmente no trabalho
escravo e cuja produção era voltada para o mercado externo. A plantation foi
comum em áreas como Santo Domingo e Cuba (açúcar, tabaco) e Venezuela (cacau).
Como
os preços dos fretes marítimos eram elevados e os transportes terrestres eram
ineficientes, o artesanato e a manufatura – chamada de obraje – foram
estimulados na América espanhola. As principais obrajes produziam tecidos de
lã (cobertores, ponchos, xales) e eram instaladas próximas a mercados
consumidores, como Quito, que vendia às minas de Nova Granada (Colômbia) e
Tucumán (noroeste da atual Argentina), que vendia seus tecidos a Potosí. O
artesanato era praticado por trabalhadores reunidos em corporações de ofício e
por artesãos independentes. Algumas corporações, como a dos tecelões e
ferreiros, que tinham maior prestígio, só admitiam brancos ou mestiços. Já
ramos menos valorizados socialmente, como o dos pedreiros ou dos carpinteiros,
admitiam índios e negros.
A
Casa de Contratação controlava o comércio entre a América espanhola e a Espanha
por meio do sistema de portos únicos. Na América, os únicos portos autorizados
a fazer comércio com a Espanha eram os de Havana (Cuba), Vera Cruz (México),
Cartagena (Colômbia) e Porto Belo (Panamá). Na Espanha, os navios que faziam a
rota entre a metrópole e as colônias na América só podiam entrar e sair do
território espanhol, inicialmente, pelo porto de Sevilha e, depois, pelo de
Cádiz. O comércio colonial era comandado pelo sistema de frotas e galeões, ou
seja, os navios que viajavam entre a América e a Espanha só faziam o percurso
juntos, em frotas, e protegidos por navios fortemente armados, os galeões. Tal
forma de organização visava controlar tudo o que saía das colônias e tudo o que
entrava nelas, no intuito de garantir grandes lucros à metrópole. Foi em
resposta a tal tentativa de monopólio que surgiu o contrabando.
A
SOCIEDADE COLONIAL DA AMÉRICA ESPANHOLA E A ADMINISTRAÇÃO DO TERRITÓRIO
A
sociedade hispano-americana era rigidamente hierarquizada e apresentava pouca
mobilidade social, sendo difícil ascender socialmente de um grupo a outro. A
minoria da população era composta pelas pessoas brancas, fossem elas nascidas
na Espanha - os chapetones - ou na América. Os brancos ocupavam os melhores cargos na
administração pública, nas forças militares, na Justiça e na Igreja, e muitos
deles também eram donos de fazendas, das minas, e de manufaturas. A maioria da
população era composta por índios, negros e mestiços (nascidos da união entre
brancos e índios ou negros), que viviam do trabalho forçado, mal remunerado ou
escravo. O racismo contra índios e negros era grande, e quanto maior fosse a
semelhança entre a pessoa e o espanhol branco, melhor ela estava posicionada na
hierarquia social.
Para
administrar os territórios coloniais, foi criado por Carlos V, em 1524, o
Conselho Real e Supremo das Índias, com sede em Sevilha, na Espanha, e que
tinha por função cuidar de todas as questões coloniais de ordem legislativa,
eclesiástica, militar ou jurídica. Buscando reduzir os custos com a colonização
e estimular a conquista de um vasto território, a Coroa espanhola transferiu
inicialmente o direito de administrar as áreas coloniais a particulares, os adelantados, que tinham amplos poderes civis e militares. Cortez e Pizarro
foram dois adelantados, por exemplo.
Todavia,
conforme as riquezas da América foram sendo descobertas, a Coroa espanhola
anulou tais concessões feitas a particulares e ampliou o seu próprio poder de
mando no Novo Mundo. Foi com este objetivo que foram criados quatro vice-reinos
na América espanhola: o de Nova Espanha, o do Peru, o de Nova Granada e o do
Rio da Prata. Os vice-reis eram homens que tinham muito poder, embora fossem
fiscalizados por funcionários reais nomeados e com funções vitalícias. Também
foram criadas as Capitanias Gerais, sendo a de Cuba, a da Guatemala, a da
Venezuela e a do Chile as principais.
Por
sua vez, nas cidades havia as câmaras municipais – conhecidas como cabildos ou ayuntamientos –, que eram responsáveis por cuidar da segurança interna e
da administração local. Normalmente, os filhos dos espanhóis nascidos na
América – que viriam a ser chamados de criollos – ocupavam os cargos de
vereadores nesses órgãos.
A
AMÉRICA INGLESA
Durante
o século XVI, a América do Norte não despertou muito interesse dos europeus,
que realizaram poucas expedições exploratórias àquela região, tais como as
comandadas por Walter Raleigh entre 1584 e 1587 que, no entanto, não
conseguiram estabelecer núcleos coloniais fixos, sobretudo por conta dos
ataques dos povos nativos. Foi apenas no século XVII que os ingleses buscaram
colonizar novas terras, como já o faziam Portugal e Espanha. Foi nesse sentido,
que o rei inglês Jaime I criou duas companhias de comércio, em 1601: a
Companhia de Londres, que ocuparia a região sul da América do Norte, e a
Companhia de Plymouth, que ficaria com o norte da região. O primeiro povoado
permanente instalado na região foi Jamestown (1607), na Virgínia, e com o tempo
foram criadas outras colônias, perfazendo um total de 13, que juntas dariam
origem aos Estados Unidos da América que conhecemos hoje.
A
fome, o frio e a resistência indígena foram obstáculos que colocaram
dificuldades aos primeiros colonos que vieram para a América Inglesa. Os
colonos eram de diversas condições sociais: aventureiros, degredados, mulheres
para serem leiloadas como esposas, órfãos e crianças raptadas. Muitos colonos
eram na Inglaterra camponeses sem terra que haviam migrado do campo para as
cidades inglesas em busca de trabalho. Encontrando dificuldades naquelas
cidades, muitos deles eram seduzidos pelas Companhias de Comércio e
incentivados a viver nas colônias. Ao chegar à América do Norte, muitas dessas
pessoas passavam a viver sob um regime de servidão temporária, ou seja,
trabalhavam por quatro ou cinco anos nas terras de quem tivesse financiado a
viagem.
Outra
parte dos colonos eram composta por grupos religiosos protestantes, tais como
os puritanos, os batistas e os quakers, que fugiam da perseguição religiosa
imposta pela monarquia absolutista inglesa, que tentava impor a religião
anglicana. Em 1620, um desses grupos religiosos deixou a Inglaterra a bordo do Mayflower, fundando no litoral de Massachusetts um próspero núcleo de
colonização: New Plymouth. Liderados por puritanos com alto grau de
instrução, esses pais peregrinos viam a si mesmos como um grupo eleito por
Deus para colonizar a América. Tal crença religiosa foi importante para que
esse grupo mantivesse a identidade e a coesão, o que os ajudou a enfrentar os
obstáculos de adaptação à nova terra.
É
preciso dizer que, além desses grupos de ingleses, vieram também para a América
do Norte outros grupos europeus, entre os quais alemães, escoceses, irlandeses
e franceses, que vieram para a região em busca de uma vida melhor. Todos esses
grupos de colonos que vieram para as 13 colônias da América do Norte
encontraram naquelas terras diversos grupos indígenas que lá já viviam. Os
índios norte-americanos se dividiam em alguns grupos: Algonquino-Wakash,
Penuciano, Hoka-Sioux, Nadene, Azteco-Tano e Inuit-Aleuta. Esses povos
indígenas muitas vezes disputavam terras entre si, praticavam a agricultura,
caçavam e tinham hábitos migratórios. A presença do colonizador europeu fez com
que algumas tribos aderissem ao cristianismo, domesticassem o cavalo e
utilizassem arma de fogo. As migrações indígenas aumentavam quando o
colonizador apropriava-se de suas terras.
Ao
contrário do que aconteceu na América portuguesa – onde a escassez de mulheres
brancas estimulou a união entre colonos e mulheres indígenas –, a miscigenação
ocorreu nas 13 colônias em um grau bem menor, pois lá a união entre brancos e
indígenas não era estimulada. Deste modo, não houve um projeto de integração
dos índios norte-americanos no processo de colonização da América inglesa. Em
verdade, muitos daqueles índios foram exterminados nos violentos conflitos que
ocorriam entre aquelas populações nativas e os colonos. Não se pode deixar de
mencionar também que, além dos europeus formadores das 13 colônias,
contribuíram também para a formação daquela sociedade os milhares de
trabalhadores trazidos da África Ocidental, como escravos. Entre 1620 e 1720, a
população das 13 colônias aumentou de 2500 pessoas para cerca de 3 milhões,
isso sem contar a população indígena.
A
ORGANIZAÇÃO DAS 13 COLÔNIAS
Se
os colonos portugueses que vieram para a América viam no trabalho uma atividade
a ser exercida por etnias inferiores (índios e negros), os colonos ingleses, ao
contrário, viam o trabalho como algo edificante, como os puritanos, por
exemplo, que, inspirados pelas ideias de João Calvino, criticavam o ócio e
acreditavam que quem enriquecesse trabalhando seria salvo por Deus. Os colonos
ingleses também se interessavam pela educação, e foi a partir desse interesse
que fundaram a Universidade de Harvard, em 1636, em Cambridge, Massachusetts,
no intuito de formar os futuros dirigentes de suas igrejas nas colônias.
Durante
o século XVII, a Inglaterra passou por diversas convulsões políticas e sociais,
tais como uma guerra civil (1620-1640), a instalação de uma República (Oliver Cromwell,
1649), o fortalecimento da burguesia (Ato de Navegação, 1651), o
restabelecimento da monarquia (1660) e o fim do poder absoluto dos reis
ingleses (1689). Dentro desse quadro conturbado, a Inglaterra não tinha
condições de criar e controlar uma estrutura de governo eficiente para as suas
colônias na América. Assim, embora as 13 colônias da América do Norte
estivessem submetidas às leis inglesas, pagassem impostos à metrópole e
garantissem a posse do território para a Inglaterra, elas viveram uma certa
autonomia durante o século XVII, tomando decisões por meio de reuniões em
assembleias.
Normalmente,
as 13 colônias costumam ser divididas pelos historiadores em dois grupos: as do
Norte e as do Sul. As colônias do Norte ocupavam uma área de clima temperado,
baseada na policultura (trigo, maçã, batata, milho), na pequena propriedade e
na mão de obra familiar ou servil. Havia ali também manufaturas de lã, couro,
ferro e madeira, produtos que eram exportados por meio do comércio triangular.
Tal comércio era realizado da seguinte maneira: em navios próprios, os colonos
do Norte compravam melaço nas Antilhas e o transformavam em rum, em seguida a
bebida era trocada por escravos na costa ocidental da África e, enfim, os
escravizados eram vendidos para o Sul da América do Norte e para as Antilhas,
de onde os navios voltavam com mais melaço. As colônias do Norte eram donas de
uma economia diversificada e de um comércio exterior lucrativo, gozando de
certa autonomia em relação à metrópole.
Já
as colônias do Sul ocupavam uma região de clima quente e planícies extensas,
produzindo gêneros agrícolas de larga aceitação na Europa, tais como o fumo, o
algodão e o anil. Os fazendeiros sulistas traziam muitos escravizados para
trabalhar em suas plantações. O Sul acabou ocupado por “plantations” (grandes
propriedades escravistas monocultoras, muitas delas dedicadas ao plantio do
algodão, por exemplo). A sociedade sulista era aristocrática e marcada por
muitas desigualdades sociais. O Sul era mais dependente economicamente da
Inglaterra, o que inibiu ali o afloramento de ideias de independência política.
Do
ponto de vista da organização política, cada uma das 13 colônias tinha uma
assembleia encarregada de estabelecer os impostos locais, o orçamento do
governo colonial e as leis, que eram submetidas ao governador – homem nomeado
pela monarquia inglesa ou eleito pelos próprios colonos, tendo ou não direito
de veto às leis contrárias aos interesses metropolitanos, conforme o caso. Os
colonos participavam ativamente da vida política, desenvolvendo assim
sentimentos de autonomia em relação à metrópole e hábitos de autogoverno, que
seriam decisivos na luta pela independência.
OBS.: O blog já publicou um breve resumo sobre a colonização inglesa na América do Norte. Clique aqui para ver.