Quando
os europeus chegaram ao continente americano a partir do final do século XV
encontraram nestas terras vários povos que já habitavam o lugar. Apesar de
existirem vários grupos humanos com suas culturas específicas, os europeus
chamaram a todos de “índios”. O encontro entre os europeus e os povos
americanos nem sempre ocorreu de maneira amistosa, e o que se viu nos séculos
seguintes foi um processo de colonização da América por espanhóis, portugueses,
ingleses, franceses e holandeses no qual as populações que já viviam no
continente antes da chegada dos homens do Velho Mundo sofreram com a exploração
e com o genocídio impostos pelos homens da Europa.
Cada
um dos povos da chamada “América pré-colombiana” tinha a sua história, os seus
costumes e os seus hábitos específicos, e algumas daquelas sociedades eram
organizadas de maneira extremamente complexa. Notáveis exemplos disso são os
povos maias, astecas e incas, portadores de uma cultura que não deixou de
surpreender os europeus que chegavam ao Novo Mundo a partir do final do século
XV. Nas linhas abaixo, examinaremos alguns aspectos de tais grupos humanos.
POVOS
DA MESOAMÉRICA: MAIAS E ASTECAS
A
expressão “Mittel America” cunhada por Eduard Seler (1849-1922) e outros
estudiosos alemães serve para designar a região do México central e meridional
mais os territórios do norte da América Central. Todavia, foi Paul Kirchhoff
que utilizou, em 1943, o termo “Mesoamérica” para falar da mesma região, embora
tal conceito não tivesse apenas um sentido geográfico, mas englobasse também as
culturas e civilizações que existiram naquela área. “Mesoamérica”, portanto, é
uma palavra que se refere à região da América Central, cercada por água dos
dois lados e portadora de uma grande diversidade ecológica e geográfica, com
grandes variações de clima, vegetação e vida animal.
Se
por volta de 9000 a.C. a Mesoamérica era habitada por homens que caçavam e
coletavam alimentos, foi perto de 5000 a.C. que a agricultura começou a ser
praticada naquela região com o cultivo de abóbora, pimenta malagueta, feijão e
milho. A cerâmica, por sua vez, surgiu entre os homens mesoamericanos perto de
2300 a.C. e o que se viu depois disso foi um processo de diferenciação étnica e
linguística entre os vários grupos humanos do lugar.
Entre
esses grupos podemos destacar os chamados olmecas, que habitavam a região de
La Venta (próxima do Golfo do México). Eles não só faziam esculturas de pedra,
como também erguiam monumentos. Alguns estudiosos chegam a afirmar que os
olmecas desenvolveram um protourbanismo com grandes construções para fins
religiosos e a existência de praças públicas para a realização de cerimônias ao
ar livre. Havia também um divisão do trabalho, pois enquanto uns se dedicavam à
agricultura, outros já se ocupavam das mais variadas artes e ofícios
(esculturas, ornamentos, máscaras, colares, etc.), isso sem falar naqueles que
realizavam outras tarefas, tais como a defesa do grupo, o comércio, o culto aos
deuses e o governo (caso dos chefes religiosos). Os olmecas acreditavam na
existência de um Deus-jaguar onipresente, e em referência a tal divindade
faziam máscaras de jaguar. Estudos revelaram também a existência de monumentos
que mostram pássaros, serpentes e seres humanos construídos pelos olmecas. No
que concerne à questão da morte, os olmecas realizavam oferendas durante os
funerais, cultuavam os mortos e acreditavam na vida após a morte. A influência
olmeca pode ser vista em outras regiões do México, como nos territórios dos
maias, por exemplo. Contudo, apesar de alguns aspectos da cultura olmeca serem
surpreendentes, eles possuíam algumas limitações como a ausência do uso da
roda, a inexistência de metalurgia e a falta de animais domesticados como o
cavalo e o gado, embora existissem cachorros que até eram sacrificados junto a
seus donos mortos.
A
sociedade que vivia em Teotihuacán – a “cidade dos deuses” – também merece
destaque. Este povo erguia centros religiosos, templos, construções diversas,
escolas e bairros com residências, além da pavimentação de ruas e da construção
de um sistema de drenagem. O apogeu de Teotihuacán ocorreu por volta dos
séculos V-VI d.C., quando na cidade viviam cerca de 50 mil habitantes. Nessa
sociedade também havia a divisão do trabalho, o “exército” era eficiente, a
agricultura extensiva e o comércio bastante organizado. No que concerne ao
campo religioso, existia o culto a vários deuses, entre os quais se destacavam
Tlaloc (o Senhor das águas), Chalchiuhtlicue (a Senhora das águas) e Quetzalcóatl
(a Serpente emplumada). A língua falada em Teotihuacán era o nahuat.
Os zapotecas, por sua vez, ocuparam a região do Monte Albán (Oaxaca central) e
sua cultura era riquíssima, com complexas formas de escrita, com datas, nomes
de lugar e hieróglifos. Os zapotecas também se organizavam em torno de um
núcleo urbano. Como se vê, existiam diferentes povos na Mesoamérica, cada um
com sua particularidade. Dois outros povos mesoamericanos merecem ainda uma
análise detalhada: os maias e os astecas.
Os
maias ocuparam a região da península de Yucatán, bem como os territórios
correspondentes aos atuais estados mexicanos de Tabasco e Chiapas e dos atuais
Belize, El Salvador, Guatemala e Honduras. Inicialmente, esses povos se
deslocavam pela selva buscando alimentos por meio da caça, da pesca e da
coleta. Com o tempo, desenvolveram-se vários centros maias que eram espalhados –
Tikal, Copán, Uxmal e Chichén-Itzá – e muito já se discutiu sobre a sua
natureza urbana. De qualquer forma, nos territórios maias não existiam apenas
santuários para os deuses e palácios para os líderes religiosos, mas também
bairros residenciais para o povo. As construções eram grandes e sofisticadas,
feitas a partir do deslocamento de grandes blocos de pedra e dos conhecimentos de
engenharia e cálculo. Os templos religiosos geralmente tinham a forma de
pirâmides, e foi em torno desses centros cerimoniais que muitas cidades maias
surgiram. Cada um dos diversos centros maias tinha governo, leis e costumes
próprios, apenas em casos de guerras contra um inimigo comum as cidades maias
se associavam em espécies de “confederações” ou “reinos”. Já a sociedade maia
era dividida em dois grandes estratos sociais: o povo comum que se dedicava à
agricultura e a serviços pessoais, e o grupo dominante formado por governantes,
sacerdotes e guerreiros de alta posição. A maioria da população trabalhava no
cultivo de feijão, abóbora, algodão, cacau, abacate e milho. Os maias também
desenvolveram uma sofisticada cultura, com calendários, arquitetura, escultura,
pinturas murais e textos hieroglíficos (graças à atuação de sábios e
sacerdotes).
O
declínio dos povos maias, bem como dos zapotecas e teotihuacanos, ocorreu a partir do período
compreendido entre os anos 650 e 950 d.C. e os estudiosos já especularam muito
sobre as razões de tal processo. Epidemias, secas, inundações, terremotos,
furacões, destruição por fogo, conflitos internos e invasões externas são
causas normalmente apontadas para explicar o abandono das cidades daqueles
povos. Todavia, é preciso dizer que a cultura de tais povos não morreu, mas foi
capaz de sobreviver até mesmo à conquista espanhola. De fato, tal cultura
deixou um importante legado para a região: o urbanismo. Naquelas sociedades
mesoamericanas a cidade era importantíssima, com o seu núcleo
político-religioso (templos e palácios) interligado. Havia as escolas comunais,
a praça do mercado (local para a realização do comércio e espaço para a
sociabilidade, proporcionando um lugar para os encontros), as habitações dos
plebeus que eram espalhadas e circundavam a parte central da cidade. As casas
tinham pedaços de terra para o plantio de legumes e plantas, o que fazia com
que aquelas cidades parecessem uma mistura de florestas e jardins. Um notável
exemplo disso será a metrópole asteca Tenochtitlán-México.
Antes
de falarmos dos astecas, cabe mencionar ainda outros povos que habitaram a
Mesoamérica: coras, huichols, tepehuanos, cahitas, pimas, índios pueblos,
toltecas, mixtecas (estes se destacaram nas artes e no trabalho com metais como
ouro, prata e cobre) e chichimecas. Esses vários povos eram marcados por trocas
culturais entre si e mostram a notável diversidade que existia na região.
Falemos
agora dos astecas, também chamados de mexicas. O primeiro aspecto a ser
destacado da cultura desse povo é o fato de que os astecas procuraram forjar
uma imagem de suas origens, no intuito de construir um sentimento de identidade
coletiva e elaborar uma memória a respeito do próprio passado. Segundo esses
relatos, os astecas teriam vindo de Aztlan, onde eram subordinados aos tlatoque (governantes) e aos pipiltin (nobres) locais. Eles, os astecas,
chamavam a si mesmos de macehualtin (plebeus, servos) e diziam que tinham que
pagar tributos e trabalhar para os tlatoque. Os astecas teriam deixado então
a região de Aztlan em busca de um outro lugar para viver (segundo uma profecia
que teria sido feita por um sacerdote, os astecas encontrariam um lugar a
partir do qual dominariam outros povos). Tal história de peregrinação tornou-se
importante para os astecas, e as lendas dizem que a caminhada foi difícil. É
preciso dizer que esses relatos foram transmitidos de geração em geração não
apenas de maneira oral, mas também por meio de livros e poemas. É curioso
constatar que, segundo o pesquisador Miguel León-Portilla, existem indícios de
que os mexicas se libertaram do domínio dos tecpanecas de Azcapotzalco e
construíram depois disso o seu próprio “império”, fato que nos faz lembrar a
própria lenda elaborada pelos astecas para explicar suas origens.
A
organização política dos mexicas de Tenochtitlán, cidade fundada em 1325, foi
comparada por cronistas espanhóis (e por historiadores do século XIX como
Prescott, Bancroft, Ramírez e Orozco y Berra) aos reinos feudais da Europa.
Assim, termos como “rei”, “príncipe”, “magistrado”, “plebeu”, “escravo”, etc.
foram e continuam sendo usados para descrever a sociedade asteca. Tal postura
foi revista por pesquisadores como Lewis H. Morgan (autor de “Ancient Society”)
e Adolph F. Bandelier, que defenderam a tese segundo a qual não havia classes
sociais diferenciadas e nem formas de organização como “reinos” entre os
mexicas, pois o que havia entre os astecas eram grupos vinculados por sangue.
Já
outros estudiosos como Manuel M. Moreno, Arturo Monzón, Paul Kirchhoff, Alfonso
Caso e Friedrich Katz argumentaram que os macehualtin agrupados em calpulli (“grande casa”, pessoas da mesma casa) tinham uma posição socioeconômica muito
diferente da dos pipiltin e eram sim classes sociais diferentes, já que só os pipiltin poderiam ter a propriedade privada da terra.
Segundo
Miguel León-Portilla, os pipiltin da sociedade asteca não eram um grupo totalmente homogêneo, uma
vez que havia divisões hierárquicas entre eles: existiam os descendentes dos
que tinham sido governantes supremos, os que não eram descendentes desses
governantes, os que tinham realizado grandes feitos em combate e, por fim, os
filhos daqueles que exerciam funções administrativas.
O
governante supremo dos astecas era o huey tlatoani, visto como o representante
da divindade na terra, comandante-chefe do exército, dignitário religioso e
juiz supremo. Todavia, não era visto nem como encarnação nem como filho de um
deus. Era eleito por um pequeno número de pipiltin, que decidiam de maneira
unânime. O cargo de governante era complementado por um assistente e
conselheiro, o cihuacoatl, que deveria substituir o governante em caso de sua
ausência ou morte, bem como presidir as eleições e o tribunal supremo.
Outras
autoridades merecem destaque na organização social asteca: Senhor da casa das
lanças, comandante dos homens, juízes principais, sumos sacerdotes, guardiões
do tesouro da nação. Todos esses dignitários participavam do supremo conselho
chefiado pelo próprio huey tlatoani.
Os pipiltin (nobres) ocupavam cargos importantes na administração pública e seus filhos
recebiam uma educação especial e condizente com sua posição social. Levavam uma
vida regrada e sem vícios, onde a bebida, o luxo e a ostentação eram reprovados
e punidos com rigor. A posse de faixas de terra estava relacionada à ocupação
de determinado cargo ou função (mas como certos cargos eram ocupados por
pessoas da mesma família por gerações, certas faixas de terra acabavam
transmitidas hereditariamente). Os pipiltin se viam como superiores aos macehualtin (servos, plebeus),
pois acreditavam que, no passado, eles é que teriam libertado os macehualtin e por isso estes deviam-lhes obediência.
A
cidade de Tenochtitlán possuía obras hidráulicas, diques, aquedutos e caminhos
elevados sobre os seus terrenos pantanosos. Havia também a oferenda de sangue
para restaurar a energia divina. No culto aos deuses, portanto, os astecas
praticavam o sacrifício humano. A metrópole asteca era embelezada por técnicas
de urbanização, havia o comércio de longa distância, artes e ofícios diversos e
um sistema escolar. Tenochtitlán dominava outras cidades, e recebia tributos
destas.
Os calpulli eram as comunidades organizadas a partir das “casas”, e havia
tendências endogâmicas e muitos graus de parentesco no interior deles. Os
membros dos calpulli é que formavam os macehualtin. Apesar de existir o uso
comum da terra pelos integrantes do calpulli, o proprietário final da terra
era sempre um chefe local (um “pipiltin”). Os macehualtin praticavam uma
economia de subsistência dentro do seu calpulli, deviam obediência às
autoridades, pagavam tributos, serviam ao exército e executavam serviços para o
“Estado”, tais como a construção de obras públicas e o transporte de
mercadorias. Os macehualtin tinham, portanto, um modo de vida bem diferente
daquele dos pipiltin, havendo diferenças econômicas e sociais entre os dois
grupos.
A
economia asteca era marcada por um divisão do trabalho pelo sexo. Os homens se
dedicavam a tarefas agrícolas e à produção especializada. As mulheres se ocupavam
de tarefas domésticas como a fabricação das massas de “tortillas”, da fiação e
da tecelagem. Os astecas praticavam a agricultura, destacando-se o cultivo de
milho, feijão, abóbora, pimenta malagueta, flores e plantas medicinais. Os
mexicas praticavam também a criação de perus e exploravam alguns metais como
ouro, prata, cobre e estanho, além de minerais e pedras preciosas. Eles
desenvolveram utensílios de pedra como o martelo e a faca.
No
que diz respeito aos aspectos da religião e do modo de ver o mundo, os astecas
acreditavam na existência de “eras” ao longo da história, vista por eles como
um processo cíclico onde cada era começava a partir da destruição da anterior.
Segundo sua crença, eles estariam na “quinta era” à época da conquista espanhola. Acreditavam em um “pai”
onicriador, Ometeotl, que era uma espécie de “deus dual”, mãe e pai a um só
tempo. Os quatro filhos de Ometeotl, os “espelhos fumantes”, foram responsáveis
pelas destruições das quatro eras anteriores, e os sacrifícios humanos, por
meio do derramamento de sangue, praticados pelos astecas tinham como finalidade
preservar/prolongar a quinta era, mantendo a vida do sol. Os sacerdotes tinham
por função cultuar os deuses e interpretar suas vontades, acumulando riquezas
em terras e joias doadas pelo soberano ou por particulares.
Os
mexicas exerceram sua influência e seu domínio sobre outros povos
mesoamericanos, mas não sobre todos. Havia uma heterogeneidade cultural na
Mesoamérica e os espanhóis acabariam manipulando os povos rivais dos astecas
para conquistar o território.
O
pesquisador Jacques Soustelle elaborou um notável estudo da sociedade asteca no
livro “Os astecas na véspera da conquista espanhola”. No livro, Soustelle
aponta para o fato de que o principal elemento de riqueza entre os astecas era
a terra, que pertencia a toda a coletividade. Cada um recebia individualmente o
direito de trabalhar uma parcela da terra, devendo cultivá-la e pagar tributos
a Tenochtitlán. Tais tributos eram pagos com itens agrícolas (milho, feijão,
pimenta), tecidos, materiais de construção, móveis, louça, ouro, incenso,
borracha, etc.
O
soberano e os dignitários recebiam muitos tributos, mas os seus cargos exigiam
muitos gastos também. O soberano, por exemplo, tinha que distribuir comida e
bebida à população durante o período de pouca produção de alimentos. Os
comerciantes, por sua vez, não tinham a obrigação de gastar algo por causa de
sua função na sociedade e eles raramente ostentavam os seus bens, de modo que
sua fortuna era estritamente privada.
O
soberano era chamado de “tlatoani” porque era visto como aquele que fala (o
verbo “tlatoar” significa “falar”). Segundo Jacques Soustelle, os astecas viam
o mundo como um lugar que estava sob constante ameaça. O sol teria surgido e
sido colocado em movimento a partir do sacrifício dos deuses, de modo que o
sangue era identificado intimamente com o próprio processo da vida. É nesse
sentido que os sacrifícios humanos nos quais arrancava-se o coração e a cabeça
eram vistos como necessários para manter o sol em movimento e prolongar a duração
da “quinta era” que os astecas acreditavam estar vivendo quando da chegada dos europeus. Quando chegaram
àquela região, os espanhóis viram os sacrifícios com horror, apesar de serem
acostumados na Europa a mandar pessoas para a fogueira no contexto da
Inquisição. Como o próprio Soustelle diz: “cada cultura tem sua noção
particular do que é cruel e do que não o é”.
O
calendário asteca previa não só fenômenos naturais, mas também destinos
humanos. Os 365 dias do ano solar eram divididos em 18 meses de 20 dias cada
um, somando-se a eles um período de 5 dias. O “século” asteca tinha 52 anos,
havendo dias bons e dias ruins que marcavam os presságios. Segundo Soustelle, a
visão asteca do universo dava pouco espaço ao homem, que era dominado por
deuses, astros e pelo destino definido pela data de seu nascimento. Soustelle
afirma que os astecas tinham um pessimismo ativo, como demonstra o culto aos
deuses e os sacrifícios humanos (eles acreditavam que o mundo iria acabar de
qualquer forma, mas faziam de tudo para adiar isso).
A
religião asteca era complexa e também aberta aos deuses de outros povos,
inclusive os conquistados, traço esse, aliás, que a diferenciava da religião
dos espanhóis, que buscava sempre a exclusividade. A religião asteca era um
elemento importante de sua cultura porque permitia àquele povo interpretar o
mundo, dando regras para as ações cotidianas e forma à própria existência. Não
é por acaso que Jacques Soustelle afirma o seguinte em seu livro: “Tal como uma
poderosa fundação, ela [a religião asteca] sustentava todo o edifício da
civilização mexicana. Assim, não é de admirar que, destruída essa fundação
pelas mãos dos invasores [espanhóis], o edifício inteiro tenha ruído”.
AS
SOCIEDADES ANDINAS: OS INCAS
O
conhecimento sobre os grupos humanos que habitavam a região da Cordilheira dos
Andes, na América do Sul, é bastante limitado. O pesquisador John Murra chegou
a falar das poucas fontes existentes, das limitações e da falta de interesse
por parte de arqueólogos e etnólogos de países como Bolívia, Peru, Equador, Chile
e Argentina. De fato, muitos documentos históricos ainda usados nos estudos
dessas sociedades são relatos de europeus produzidos na época da conquista do
território.
A
paisagem andina é marcada por alguns aspectos importantes: montanhas altas,
noites frias, dias quentes, vales profundos, desertos secos, grandes
distâncias. No contexto pré-colombiano a região era portadora de notáveis
riquezas, tais como metais preciosos, grande número de habitantes, edificações,
estradas, metalurgia, irrigação e produção têxtil. A produção de roupas e
tecidos era a mais importante forma de arte andina. Os tecidos tinham usos
políticos, rituais e até militares.
Os
incas teriam chegado ao interior da Cordilheira dos Andes por volta dos séculos XII-XIII, vivendo como camponeses e pastores fundaram a cidade de Cuzco. Os
domínios incas foram ampliados por meio de alianças ou de guerras contra outros
povos. Em tal processo os incas assimilaram elementos de outras culturas,
incluindo o quéchua, a língua que mais tarde espalhariam pelos Andes.
Elemento
importante da cultura incaica era o chamado padrão arquipélago de ocupação do
território. A pessoa se afastava de sua comunidade de origem e ia cultivar uma
faixa de terra em um lugar a certa distância, porém continuava ligada à sua comunidade
(era o chamado “duplo domicílio”). Dessa maneira, uma única comunidade tinha
acesso a regiões diferentes por meio dessas povoações periféricas. Os “colonos”
saíam de suas comunidades para plantar milho, extrair sal, etc. Esses colonos
eram chamados de mitmac. Quando a distância de seu povoado original era
pequena, os vínculos eram mantidos mais facilmente. Se a distância fosse muito
grande, caravanas eram organizadas para manter os colonos integrados (tais
caravanas levavam e traziam produtos). De certo modo, a dominação espanhola
seguiu esse padrão, pois os colonos espanhóis que chegavam àquela região não
recebiam o domínio sobre um pedaço específico de terra, mas sobre a encomienda, ou seja, o conjunto das pessoas (índios) que habitavam certas
áreas.
É
preciso dizer que esse padrão de ocupação do território por meio de núcleos
populacionais espalhados é anterior ao próprio Tahuantinsuyo - o “Estado inca”
–, que o adotou e o ampliou. Como o território sob o domínio inca era grande,
havia mitmacs que viviam muito longe do núcleo central inca. Os mitmacs não
faziam apenas trabalhos agrícolas, mas também militares, vigiando as áreas de
fronteira.
Naquelas
regiões montanhosas, os incas adotaram a irrigação sistemática e praticavam a
agricultura em terraços construídos na forma de escada. Nos degraus mais altos,
cultivava-se espécies vegetais resistentes ao frio, como a batata; nos do meio,
milho, abóbora e feijão; nos mais baixos, árvores frutíferas. As colheitas eram
variadas e fartas o ano todo. Havia também a criação de lhamas, animais de
carga com grande resistência, além de alpacas e guanacos, dos quais obtinham lã
e leite.
Ao
longo do tempo foram variadas as sociedades que ocuparam a região dos Andes.
Entre 1000 e 300 a.C. ocorreu o apogeu de Chavín (templo localizado a 3135
metros de altitude) que influenciou outras colônias. Entre 500 a.C. e 1000 d.C.
foi marcante a presença de Tiahuanaco (perto do lago Titicaca) e Huari (no
Peru), que foram grandes colônias urbanas. Na grande heterogeneidade étnica e
cultural das populações andinas – lupacas, aimarás, uros, etc. – cada povo
andino costumava ter dois líderes políticos e os laços de família (“hatha” =
linhagem, “ayllu” em quéchua) eram muito importantes. As terras de cada ayllu – conjunto de famílias aparentadas – eram divididas em três partes: uma
pertencia ao chefe do Estado incaico, outra era dos deuses (dos sacerdotes) e a
última era dos camponeses que ali viviam. O altiplano andino tinha uma divisão
dual: havia a urcusuyo (metade montanhesa) e a umasuyo (metade aquática).
As
terras incas possuíam vários quilômetros de estradas que ligavam as diferentes
regiões. Neste cenário, a cidade de Cuzco era o centro administrativo e
cerimonial do Tahuantinsuyo (reino inca), onde havia rituais nos quais peças de
roupas eram sacrificadas e sacerdotes faziam jejum. Cuzco ficava justamente na
encruzilhada de várias estradas reais (que tinham 20000 Km de extensão). Os
incas chegaram a dominar diversos povos e faziam censos para contar o número de
habitantes da população (solteiros não entravam na conta). As comunidades
deviam enviar uma quantidade de pessoas para prestar serviços diversos
(construções, agricultura, etc.) para o Tahuantinsuyo, os chamados trabalhos de mita. É preciso dizer
que o domínio inca foi contestado por outros povos, que organizaram rebeliões
às quais o Tahuantinsuyo reagia.
No
topo da sociedade incaica estava o imperador – o “filho do Sol” –, reverenciado
e respeitado por todos. Abaixo dele, a nobreza, os sacerdotes e os chefes
militares. Entre os grupos intermediários estavam os contabilistas, os
projetistas, os guerreiros e os artesãos, grupos que eram ajudados pelo
governo. A maioria da população era composta por camponeses, que viviam em
aldeias rodeadas por campos de cultivo e de pastoreio e eram oprimidos por
diferentes tributos. A principal cerimônia da religião inca era o culto ao deus
Sol, e a língua oficial era o quéchua.
BIBLIOGRAFIA:
LEÓN-PORTILLA, Miguel. A Mesoamérica antes de 1519. In: BETHELL, Leslie (Org.). História da América Latina Colonial. Vol. 1. Tradução de Maria Clara Cescato. 2. ed. São Paulo: EDUSP; Brasília: Fundação Alexandre Gusmão, 1998, p. 25-61.
MURRA, John. As sociedades andinas anteriores a 1532. In: BETHELL, Leslie (Org.). História da América Latina Colonial. Vol. 1. Tradução de Maria Clara Cescato. 2. ed. São Paulo: EDUSP; Brasília: Fundação Alexandre Gusmão, 1998, p. 63-99.
SOUSTELLE, Jacques. Os astecas na véspera da conquista espanhola. Tradução de Eduardo Brandão. São Paulo: Companhia das Letras: Círculo do Livro, 1990.
VÍDEOS SOBRE O TEMA (BASTA CLICAR NOS LINKS ABAIXO):
Os astecas - descoberta de uma civilização.
Tour virtual tridimensional por Tenochtitlán.
Animação sobre os astecas.
Documentário sobre a civilização maia.
Civilizações secretas - Maias, Astecas e Incas.
UMA VISÃO DA CIDADE MAIA DE CHICHÉN ITZÁ:
O site Panoramas.dk oferece oferece visitas virtuais a diferentes cidades do mundo. O site também disponibiliza uma visão 360° da antiga cidade maia de Chichén Itzá, no atual México. Disponível por meio deste link: <http://www.panoramas.dk/7-wonders/Chichen-Itza.html>. Confira!
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