Sobre o "Blog do Super Rodrigão"

*** O "Blog do Super Rodrigão" foi criado e editado por Rodrigo Francisco Dias quando de sua passagem como professor de História da Escola Estadual Messias Pedreiro (Uberlândia-MG). O Blog esteve ativo entre os anos de 2013 e 2018, mas as suas atividades foram encerradas no dia 27/08/2018, após o professor Rodrigo deixar a E. E. Messias Pedreiro. ***

terça-feira, 6 de maio de 2014

Independências na América Espanhola

SÉCULOS XVIII-XIX

- Decadência do Antigo Regime. 

- O liberalismo político e econômico se fortalece. 

- Independência dos Estados Unidos. 

- Portugal e Espanha continuam com práticas mercantilistas e colonialistas. 

- No contexto do Império Napoleônico há a invasão de Portugal e Espanha por parte das tropas de Napoleão Bonaparte.


A SOCIEDADE DA AMÉRICA ESPANHOLA

Criollos - filhos de espanhóis nascidos em solo americano. Neste grupo havia membros das elites hispano-americanas que procuravam romper com o monopólio comercial exercido pela metrópole (Espanha) que dificultava transações com a Inglaterra. Para esses colonos, a Coroa Espanhola restringia os setores produtivos e limitava o acesso a cargos administrativos e políticos nas colônias. Desejavam a independência, mas não cogitavam grandes mudanças na estrutura socioeconômica.

Chapetones - grupo minoritário formado por espanhóis (nascidos na Espanha). Os chapetones detinham os mais altos cargos da administração colonial e defendiam a manutenção das relações metrópole-colônia. Eles passaram assim a se confrontar com os criollos (que defendiam o livre comércio e a independência, sob a inspiração do iluminismo e do exemplo dos Estados Unidos da América).

Mestiços - filhos da união de brancos com indígenas.

Mulatos - filhos da união de brancos com negros.

Indígenas - pessoas que pertenciam às populações que já habitavam o solo americano antes da chegada dos europeus.

Negros escravizados - pessoas oriundas da África e que tinham o seu trabalho explorado.


O INÍCIO DAS LUTAS PELA INDEPENDÊNCIA

Rebeliões locais, manifestações isoladas e distintos projetos de independência começaram a aparecer na passagem do século XVIII para o século XIX. Em 1780 houve a rebelião de Túpac Amaru no Peru. O criollo venezuelano Francisco Miranda liderou um movimento que até proclamou a independência da Venezuela em 1811, mas acabou derrotado por tropas do exército espanhol no ano seguinte.

Neste cenário, a Inglaterra passou a apoiar as independências na América espanhola, pois isso significaria o acesso dos produtos industrializados ingleses a novos mercados. Em seguida, no contexto da Doutrina Monroe, também os Estados Unidos da América passaram a defender a independência dos territórios da América espanhola.


AS GUERRAS DE INDEPENDÊNCIA

Com a intervenção napoleônica na Espanha, aconteceram as renúncias de Carlos IV e Fernando VII (ambos da Família Bourbon) e a coroação de José Bonaparte, irmão de Napoleão. A Espanha se enfraqueceu, o que fez com que o movimento autonomista nas colônias espanholas na América, movimento esse liderado pelos criollos, acabasse crescendo.

Os colonos formaram então juntas governativas, organizando cabildos (câmaras municipais), depondo as autoridades metropolitanas e assumindo a administração das colônias. Contando com o apoio inglês e de parte da população, os centros urbanos hispano-americanos passaram a irradiar os ideais separatistas entre 1810 e 1814.

Em 1814, a dinastia dos Bourbon foi restaurada na Espanha. Espanhóis e ingleses se aliaram contra Napoleão Bonaparte, o que fez com que a Coroa espanhola reorganizasse a repressão aos movimentos separatistas na América. Momentaneamente sem a ajuda inglesa, os colonos revoltosos acabaram derrotados, porém, as lutas pela independência continuariam. Em 1815, com a derrota definitiva de Bonaparte na batalha de Waterloo, Espanha e Portugal até tentaram retomar o colonialismo na América, mas sem êxito. Inglaterra e Estados Unidos da América passaram a apoiar fortemente as independências.

Entre 1817 e 1825, Simón Bolívar e San Martín lideraram uma série de lutas que levariam muitos territórios da América espanhola à independência, contando com a ajuda da Inglaterra e dos Estados Unidos. A Espanha passou por uma crise interna entre 1820 e 1823, com uma revolução liberal, o que dificultou o envio de tropas à América. Simón Bolívar era um criollo republicano nascido na capitania-geral da Venezuela e que partiu dos atuais territórios da Venezuela e do Peru em direção ao sul, lutando pela independência de vários países e defendendo uma América do Sul livre, unida e forte. Já San Martín, que defendia a independência, mas também um modelo monárquico constitucional de governo, iniciou suas lutas a partir de Buenos Aires em direção ao norte.

México Massas populares e da zona rural se insurgiram no México a partir de 1810. Miguel Hidalgo, o padre Morellos e Vicente Guerrero se sucederam na liderança do movimento, enfatizando reformas sociais populares, propondo o fim da escravidão, a igualdade de direitos e a condenação da aristocracia fundiária e dos altos funcionários. As elites criollas mexicanas, mais atreladas aos chapetones e detentoras da maior parte das áreas rurais, se opuseram aos ideais populares (mestiços e indígenas, maioria da população mexicana, detinham a menor parte das terras e exigiam que a independência acabasse com as desigualdades). Agustín Itúrbide aliou-se a Vicente Guerrero em 1821, formulando o Plano de Iguala, que proclamou a independência do México, a igualdade de direitos entre criollos e espanhóis, a supremacia da religião católica, o respeito à propriedade e um governo monárquico. Tratou-se de uma independência feita pelas elites (criollos, chapetones e clero). Em 1822, Itúrbide proclamou-se imperador, com o título de Agustín I, mas foi deposto e fuzilado por um levante republicano. Em 1824, o México elegeu o seu primeiro presidente, o general Guadalupe Vitória, mas a estrutura agrária e social que garantia o domínio das elites mexicanas sobre a maioria da população foi mantida.

Paraguai Em 1813 tornou-se uma república independente chefiada pelo criollo Gaspar Francia.

Argentina Em 1816 proclamou sua independência, que seria consolidada com os êxitos militares de Manuel Belgrano e San Martín.

Uruguai Incorporado ao Brasil desde 1821, com o nome de Província Cisplatina, tornou-se independente em 1828, passando a se chamar República Oriental do Uruguai.

Chile Com 5 mil homens o Exército dos Andes liderado por San Martín libertou o Chile em 1818, após as batalhas de Chacabuco e Maipú. Bernardo O'Higgins foi nomeado dirigente do Estado chileno.

Peru San Martín e o mercenário inglês lorde Cochrane libertaram a cidade de Lima em 1821. Simón Bolívar consumaria a independência do Peru em 1824, com a batalha de Ayacucho.

Venezuela (1817), Colômbia (1819) e Equador (1821) - Esses três países foram libertados por Simón Bolívar, que contou com a ajuda da Inglaterra e dos Estados Unidos da América.

América Central - Em 1824 proclamou sua independência formando as Províncias Unidas da América Central, que acabariam sendo divididas a partir de 1838 em repúblicas autônomas, notadamente por conta de pressões inglesas e norte-americanas. Desse processo surgiram Guatemala, Honduras, El Salvador, Nicarágua e Costa Rica.

Em 1822, as forças de San Martín e de Simón Bolívar se encontraram em Guayaquil, no Equador. San Martín desistiu de seu projeto monárquico e aderiu à proposta republicana de Bolívar.

Em 1826, com boa parte da América Latina já independente, ocorreu o Congresso do Panamá. Simón Bolívar tentou tornar realidade o seu projeto de unidade política, com alianças entre os novos Estados do continente americano, a criação de uma força militar comum e a abolição da escravidão. Porém, tal projeto sofreu a oposição de ingleses e norte-americanos (que não queriam Estados fortes e unidos naqueles territórios), bem como das próprias oligarquias locais dos novos países, a exemplo da oligarquia brasileira já comprometida com a monarquia escravista de D. Pedro I.

O CENÁRIO PÓS-INDEPENDÊNCIAS

América Latina livre das antigas metrópoles, mas sob a dependência econômica de países como Inglaterra e Estados Unidos. Os países latino-americanos ocuparam então uma posição periférica a nível mundial, exportando matérias-primas e importando produtos industrializados. As aristocracias criollas assumiram os governos dos novos Estados. 

No cenário posterior às independências houve uma série de disputas internas pelo poder, onde foi importante a atuação dos caudillos - chefes locais carismáticos, autoritários e personalistas. Com essas disputas, instalou-se uma conjuntura de anarquia, desunião, instabilidade e caos. O ideal de Simón Bolívar de soberania e liberdade popular nas novas nações não foi colocado em prática.


MATERIAL DE ESTUDO: ARTIGO ACADÊMICO

Para aprofundarmos um pouco mais nossos conhecimentos acerca do processo das independências na América espanhola, e de como o cenário caótico do pós-independência gerou desilusões quanto às esperanças alimentadas durante as guerras pela conquista da autonomia política, recomendamos a leitura do texto "Esperança radical e desencanto conservador na Independência da América Espanhola", de autoria de Maria Ligia Coelho Prado. Para ler o texto em PDF, clique aqui.