Após
o término da Primeira Guerra Mundial, em 1918, muitas pessoas estavam
desiludidas com o presente e sem muitas esperanças em relação ao futuro. Na
África, continente que estava subjugado por nações europeias, surgiram diversos
movimentos que passaram a defender o fim do colonialismo. Nos países da América
Latina, os problemas sociais se avolumavam e ocorriam revoltas ou até guerras
civis. Por sua vez, os europeus se viam na difícil tarefa de reconstruir seus
países após a perda de muitas vidas humanas na Grande Guerra. Foi nesse cenário que
muitos passaram a desconfiar do liberalismo, pois esse sistema político não
conseguiu impedir a guerra e nem resolver todos os problemas criados pelo
conflito. Assim, no lugar do regime liberal, certos grupos passaram a defender
um Estado nacional mais forte. No leste, a Rússia (União Soviética a partir de
1922) com o seu Estado forte parecia apontar um caminho de igualdade e justiça
social, chamando a atenção de trabalhadores de todo o mundo.
Apesar
das diferenças, os movimentos autoritários que surgiram na Europa e o governo
soviético centralizado em Stalin a partir de 1924 convergiam para um ponto em
comum, a saber, o totalitarismo. Essa nova forma de poder opunha-se ao
liberalismo e era bem diferente dos outros regimes políticos anteriores, até
mesmo do absolutismo monárquico. O totalitarismo funda-se essencialmente no
terror permanente contra o indivíduo. Por meio da repressão, da propaganda
ideológica e da supressão dos direitos individuais e coletivos, o Estado
totalitário procura controlar a vida pública e a vida privada dos cidadãos.
Nessa forma de organização do Estado, o poder está concentrado nas mãos de
poucas pessoas, em geral organizadas em torno de um partido único. Normalmente,
esse partido tem uma base de massas, mas são apenas os seus dirigentes que
tomam as decisões, sendo que a máquina do partido confunde-se com o próprio
aparelho do Estado. O Estado totalitário usa os meios de comunicação para
difundir sua ideologia e exaltar o governo e a figura do líder, visto como uma
pessoa excepcional e dotada de qualidades superiores e quase sobrenaturais. A
ideia de “pátria” é importante no totalitarismo, a nação está acima de tudo e
de todos. O patriotismo extremo é acompanhado pelo ódio aos estrangeiros e pela
militarização de toda a sociedade.
No
totalitarismo, a ênfase na unidade da nação resulta na defesa da ditadura. O
liberalismo é visto como uma ideologia prejudicial, pois leva ao individualismo
e à desunião, decorrente dos embates entre as distintas opiniões que se
manifestam em qualquer regime democrático. Em alguns dos Estados totalitários surgidos no século XX, o marxismo era tido como um inimigo, pois pensava-se que o domínio de uma classe – o
proletariado – sobre as outras levaria à divisão da sociedade e não à união.
Utilizando-se
da censura, da delação e da violência – normalmente praticada contra as
minorias, como judeus, imigrantes, ciganos, homossexuais –, os regimes
totalitários se estabeleceram em alguns países da Europa depois da Primeira
Guerra Mundial. Era comum em tais regimes a noção de que existiria uma “raça”
superior a todas as outras, raça essa que era representada pelo próprio Estado
totalitário. Era com essa ideia que os totalitarismos perseguiam as minorias,
consideradas “inferiores”.
Três famosos exemplos de totalitarismo foram o fascismo italiano, o nazismo alemão e o
stalinismo soviético. Houve ainda a instauração de regimes autoritários
inspirados principalmente no fascismo e no nazismo, em especial na Espanha e em
Portugal.
O fascismo italiano
Ao
final da Primeira Guerra Mundial, a Itália estava do lado dos países
vencedores, mas ficou insatisfeita com os resultados do conflito. Com 670 mil
mortos e um milhão de feridos, os italianos não obtiveram as conquistas
territoriais desejadas, uma vez que não conseguiram anexar nenhuma das antigas
colônias alemãs na África e nem regiões mais próximas nos Balcãs. Surgiu então
um profundo ressentimento contra as potências democrático-liberais,
ressentimento esse que foi acompanhado por uma crescente insatisfação social
contra a inflação, a carestia de vida e o desemprego provocados pela guerra.
Três milhões de trabalhadores urbanos participaram de greves entre 1919 e 1920.
A classe média ficava cada vez mais com a sensação de que o governo perdia o controle.
Foi
nesse contexto que um ex-combatente chamado Benito Mussolini (1883-1945) fundou
um grupo nacionalista de extrema direita conhecido como Fascio di Combattimento (Feixe de Combate), em 1919. O símbolo do
grupo era um feixe de varas (fascio)
atado à lâmina de um machado, um dos emblemas do Império Romano e que
representava a união corporativa da sociedade em torno do Estado. Mussolini
propunha reconquistar o antigo poderio de Roma. Divulgando suas ideias de teor
ultranacionalista, anticomunista e antiliberal, os Fasci di Combattimento (“Feixes” de Combate, no plural) espalharam-se
por toda a Itália. Desejavam instaurar um governo forte, autoritário e capaz de
combater os grupos de esquerda (comunistas e socialistas), dando um fim às
greves e às manifestações operárias, vistas como desordem. Aqui, o Estado
liberal era visto como fraco, daí a necessidade de sua substituição por um
Estado totalitário.
O
fascismo prometia o advento de uma nova civilização, exaltando a vontade, o
sangue e o sentimento. A ação instintiva e agressiva era valorizada, em
detrimento da discussão intelectual e da análise crítica. O líder e o partido
saberiam o que era melhor para a nação e aliviariam o indivíduo da necessidade
de tomar decisões. O fascismo atraiu, sobretudo, aqueles que temiam tanto o
grande capitalismo quanto o socialismo, como pequenos comerciantes, artesãos,
funcionários, empregados de escritórios e camponeses de alguns recursos. Muitos
alimentavam a esperança de que o fascismo pudesse proteger a todos da competição
das grandes empresas e impedir o advento de um Estado marxista (visto como uma
ameaça para a propriedade privada).
No
início da década de 1920, os Fasci di
Combattimento contavam com cerca de 320 mil adeptos, além de milícias
organizadas e uniformizadas que espalhavam o terror pelo país. Os camisas negras, como ficaram conhecidos,
perseguiam e matavam militantes de esquerda, dissolviam manifestações operárias
e intimidavam políticos de orientação democrática. Diante desse comportamento,
o governo italiano nada fazia.
Os
Fasci di Combattimento foram
unificados em torno de Mussolini no ano de 1921, fato que permitiu a
constituição do Partido Nacional Fascista. Desempregados, ex-combatentes,
pessoas da classe média, industriais e proprietários de terras que temiam o
advento de uma revolução comunista na Itália formavam a base de apoio a esse
partido. Quando ocorreram as eleições parlamentares de 1921, foram eleitos como
deputados 35 fascistas, entre os quais estava o próprio Mussolini. Em uma demonstração
de força, 30 mil camisas negras chefiados por Mussolini invadiram a capital
italiana em 1922. A Marcha sobre Roma ocupou
prédios públicos e estações ferroviárias. O rei Vitor Emanuel III acabou
convidando Mussolini para ocupar o cargo de primeiro-ministro. Tal fato
representou a chegada do fascismo ao poder.
Inicialmente,
Mussolini governou em conjunto com outras forças políticas, entre os anos de
1922 e 1925. Todavia, ele foi aos poucos ampliando os seus poderes e se
transformando em um ditador, valendo-se do uso de fraudes eleitorais,
perseguições e assassinatos. O Parlamento italiano perdeu a sua autoridade. Os
partidos políticos foram extintos, com exceção do Partido Nacional Fascista.
Prefeitos e chefes locais perderam os seus cargos e foram substituídos por
seguidores de Mussolini. Uma polícia política secreta foi criada para perseguir
opositores do regime. Cerca de 300 mil pessoas preferiram refugiar-se no
exterior. Uma forte censura foi implantada aos meios de comunicação. Qualquer
organização que não fosse fascista passava a ser considerada ilegal. Il duce
(O Líder, O Chefe), como Mussolini era conhecido, centralizou todo o poder
já no início da década de 1930.
De
acordo com os fascistas, era fundamental doutrinar as crianças e os jovens.
Nessa perspectiva, nas escolas e universidades os professores se viam obrigados
a exaltar o regime, suas realizações e os aspectos da vida do duce. Os alunos, por sua vez, eram incentivados
a denunciar os docentes que demonstrassem uma atitude mais crítica em relação
ao regime. Os manuais escolares diziam que Mussolini era o “salvador da
pátria”. Organizações foram criadas para promover festas, competições,
acampamentos e atividades ao ar livre que procuravam transmitir a ideologia
fascista aos mais jovens. Mussolini usou os meios de comunicação de massa para
conquistar o apoio da população: jornais, rádios e documentários divulgavam os
feitos do governo e cultuavam a figura do líder. O duce era normalmente representado como um homem viril, atlético e
trabalhador. Mussolini era fotografado de peito nu ou usando uniforme com um
capacete de aço. As suas imagens que eram divulgadas normalmente mostravam o duce cavalgando, dirigindo carros
velozes, pilotando aviões e brincando com filhotes de leões. O discurso
nacionalista afirmava a necessidade de reerguer o país, retomando o passado
grandioso da Itália, em especial a fase do Império Romano. O cinema e o rádio
divulgavam a ideia de que ele teria erradicado o crime, a pobreza e as tensões
sociais.
Houve
uma aproximação entre o governo e a Igreja Católica quando Mussolini firmou o
Tratado de Latrão com o Papa Pio XI, em 1929. Por meio do Tratado, o ensino
religioso tornou-se obrigatório em todas as escolas secundárias e os Estados
Pontifícios foram reduzidos ao Vaticano, o que deu fim a uma longa disputa com
a Igreja. A política fascista conseguiu se afirmar entre a população italiana
por meio da intervenção do Estado na economia, o que ocorreu principalmente no
período posterior ao crash da Bolsa
de Nova York. O Estado italiano conseguiu reduzir o desemprego por meio de um
programa de obras públicas e do incentivo à produção de armas. Ademais, a
instituição da Carta del Lavoro
(Carta do Trabalho), em 1927, combinou algumas concessões aos trabalhadores com
medidas de controle policial sobre eles. Ao mesmo tempo em que os trabalhadores
passavam a contar com seguro contra acidentes de trabalho e jornada de oito
horas, as greves foram proibidas e os sindicatos extintos. O documento
estabeleceu uma concepção corporativista da legislação trabalhista.
Mussolini
ordenou a invasão da Etiópia em 1935. Tratava-se de um país africano que ainda
não estava dominado pelos europeus. Em 1936, o duce interveio na Guerra Civil Espanhola, apoiando as forças do
general Francisco Franco. Conforme o governo de Mussolini se consolidava,
ditaduras de direita foram surgindo em outros países europeus, tais como
Portugal, Hungria e Polônia. Em 1933, o nazismo chegou ao poder na Alemanha.
O nazismo alemão
A
Alemanha passou a enfrentar uma grave crise após o fim da Primeira Guerra
Mundial. O kaiser Guilherme II
renunciou e saiu do país em direção à Holanda, em 1918. Sob o impacto da
Revolução Russa, trabalhadores alemães saíam às ruas e os soldados se
amotinavam. Operários, soldados e marinheiros tentaram tomar o poder por meio
de uma insurreição armada, em 1919. Os socialistas da Liga Espartaquista estiveram à frente da rebelião, liderados por
Rosa Luxemburgo (1871-1919) e Karl Liebknecht (1871-1919). A revolta acabou
fracassando, e seus dois líderes foram presos e executados.
No
mesmo ano de 1919, foram realizadas eleições para uma assembleia constituinte,
reunida na cidade de Weimar. A nascente República de Weimar (1919-1933) era a
primeira experiência democrática da história da Alemanha e se caracterizava
como uma república federativa parlamentarista. O presidente da República era o
chefe de Estado e tinha o poder de escolher o chanceler (primeiro-ministro), que desempenhava o papel de chefe de
governo. Tal escolha dependia do partido que tivesse a maioria no Reichstag, o Parlamento. Os primeiros anos da nova República
foram difíceis, pois o país estava sem dinheiro para pagar as indenizações de
guerra e acabou aumentando a emissão de dinheiro, o que fez a população sofrer
com uma das maiores inflações já vistas. Os preços das mercadorias chegavam a
subir diversas vezes ao longo de um único dia. Se em abril de 1922 um dólar
valia mil marcos, em setembro de 1923 um dólar já era equivalente a 350 milhões
de marcos. A injeção de capitais norte-americanos ajudou a economia alemã a se
estabilizar a partir de 1924, todavia, a população alemã continuava
insatisfeita com os termos dos tratados de paz que puseram um fim à Primeira
Guerra Mundial.
O
sentimento de orgulho nacional ferido estimulou a formação de grupos
ultranacionalistas interessados em instaurar um Estado forte, capaz de unificar
os alemães e lutar pela recuperação da grandeza do país. Um desses grupos era o
Partido Nacional-Socialista dos
Trabalhadores Alemães (que, em alemão, originaria a expressão nazista), criado em 1919, liderado por
Adolf Hitler (1889-1945), um soldado austríaco que havia lutado no Exército
alemão durante a Primeira Guerra Mundial, e que contava com o apoio de comerciantes
arruinados pela crise, desempregados, ex-militares, etc. Assim como os
fascistas italianos, os nazistas alemães formaram grupos paramilitares. As
milícias nazistas conhecidas como SA (sigla para “Seção de Assalto”, em alemão)
reprimiam violentamente os comunistas e os socialistas, garantindo também a
segurança dos comícios nazistas. Inspirando-se na Marcha sobre Roma de Mussolini, o líder nazista Adolf Hitler tentou
dar um golpe de Estado na cidade de Munique, 1923, contando com a presença de 3
mil militantes. Essa intentona – ou putsch
de Munique, como ficou conhecida – fracassou e Hitler foi preso.
Ele
ficou na cadeia por um tempo e ali escreveu o livro Mein Kampf (Minha Luta), onde sistematizou a ideologia nazista.
Hitler defendia a superioridade dos arianos – um povo puro e do qual
descenderiam os alemães – em relação a judeus, eslavos, ciganos, negros e
outros povos. Segundo Hitler, judeus e comunistas eram os responsáveis por
praticamente todos os males do mundo. Os alemães teriam ainda, segundo a sua
perspectiva, o direito a um espaço vital, um território na Europa onde viviam
os povos germânicos. Isso significava que a Áustria e a região tchecoslovaca
dos Sudetos, por exemplo, deveriam ser anexadas à Alemanha.
O
apoio a Hitler foi pequeno no início. Contudo, a partir de 1930, com a Grande
Depressão provocada pelo crash da
Bolsa de Nova York, crise que arruinou a classe média e fez milhões de
trabalhadores alemães ficarem desempregados, a situação começou a mudar. De
fato, a crise econômica aumentou o sentimento de humilhação que atingia os
alemães desde 1918. As pessoas ansiavam pelo aparecimento de um líder
carismático que pudesse resgatar a “honra nacional” e colocar a Alemanha
novamente entre as grandes potências, afastando assim o “perigo comunista”.
Exaltando a “raça ariana”, Hitler parecia ser este líder predestinado e, desta
maneira, o Partido Nazista cresceu vertiginosamente, conquistando o apoio da
classe média, da burguesia industrial e do empresariado. Entre 1930 e 1932, o
número de deputados nazistas no Parlamento alemão cresceu de 170 para 230. Os
nazistas formavam a maior bancada, mas a maioria ainda estava com os deputados
comunistas e socialistas. Todavia, a esquerda não conseguiu estabelecer uma
aliança e, em 1933, o presidente alemão – o marechal Paul von Hindenburg –
convidou Hitler para ocupar o cargo de chanceler
(primeiro-ministro) de seu governo.
O
ano de 1933, portanto, marcou a chegada dos nazistas ao poder na Alemanha, o
que deu início ao Terceiro Reich
alemão (o Primeiro foi o Sacro
Império Romano-Germânico e o Segundo
foi o da unificação alemã, conquistada por Bismarck em 1870). O palácio do Reichstag foi incendiado em 1933 e
Hitler culpou os comunistas, o que lhe deu o respaldo para perseguir os
partidos de esquerda. No ano seguinte, o presidente Hindenburg morreu, e Hitler
acabou unificando os cargos de chanceler e de presidente, adotando o título de führer (chefe). No controle absoluto do
poder, Hitler anulou a Constituição de 1919, instituiu a censura e suspendeu os
direitos e garantias civis. Membros da Gestapo – a polícia secreta – e das SS (“Tropas
de Proteção”, inicialmente funcionavam como a guarda pessoal de Hitler) perseguiam,
prendiam e torturavam padres, ciganos, homossexuais, judeus, líderes sindicais,
comunistas e opositores do regime. Alcoólatras, doentes mentais e deficientes
físicos eram internados à força e submetidos a cirurgias de esterilização.
Houve durante o nazismo na Alemanha a tentativa de se “purificar a raça ariana”
por meio do controle genético. A reprodução deveria ocorrer apenas entre
pessoas da raça ariana e a miscigenação com pessoas de “raças inferiores”
estava proibida. Foi nesse sentido que se deu a “política de eliminação de
incapazes”.
A
repressão era uma marca do regime nazista e era baseada na SA, na Gestapo e na
SS. A SA, que havia sido útil na época em que os nazistas lutavam para
desestabilizar o governo, acabou se tornando algo inconveniente quando Hitler
assumiu o governo. O Exército alemão, que temia que a SA passasse a ser a força
armada oficial do Estado nazista, começou a pressionar Hitler pela extinção da
milícia. Em 1934, Hitler ordenou a prisão e o assassinato dos principais
líderes da SA e, foi a partir disso, que criou-se a SS, o braço armado do
Partido Nazista que estava sob o comando de Heinrich Himmler e que agia sem a
intervenção do Exército alemão. Era a SS que controlava a Gestapo, a polícia
secreta do Estado nazista que investigava e identificava os opositores do regime
por meio de torturas em seus interrogatórios. Quem fosse considerado perigoso à
dominação nazista era executado sem julgamento.
Em
meio a este clima extremamente tenso, intelectuais, cientistas e artistas
contrários ao nazismo acabaram exilando-se no exterior, entre os quais o físico
Albert Einstein (1879-1955), o dramaturgo Bertolt Brecht (1898-1956) e o
escritor Thomas Mann (1875-1955). Aqueles que insistiam em permanecer no país
corriam o risco de ser enviados a campos de concentração. Em 1933, havia cerca
de 40 mil presos políticos nesses locais. O ideal artístico nazista procurava
resgatar a arte clássica e se opunha às produções modernas – vistas como
“degeneradas”. Houve a proibição de obras ligadas ao Cubismo, Impressionismo e
Expressionismo. O discurso oficial insistia na ideia de que todas as grandes
realizações humanas tinham sido obra dos arianos. No que concerne à filosofia,
à literatura e à ciência, diversos autores foram descartados. Obras de judeus
como Einstein e Freud, por exemplo, foram proibidas, sendo comum a queima de
livros de autores judeus.
A
partir de 1934, o antissemitismo se tornou uma política oficial do Estado: os
judeus ficaram impedidos de trabalhar em órgãos públicos, os seus bens foram
confiscados e eles foram proibidos por meio das Leis de Nuremberg (1935) de se
casar com pessoas consideradas arianas e de ter empregados alemães em suas
casas. A propaganda nazista divulgava os judeus como cruéis e gananciosos.
Houve campanhas nas ruas contra empresas pertencentes a judeus e ocorreram
agressões a judeus sem que a polícia reprimisse. Um exemplo disso foi a Noite
dos Cristais, ocorrida em 9 de novembro de 1938, quando em várias cidades
alemãs e austríacas a SS comandou a destruição de residências e lojas
pertencentes a judeus, a depredação de sinagogas e a prisão de muitos judeus.
Houve muitos mortos. Os vidros despedaçados das janelas deram o nome a esse
triste episódio de intolerância. Os judeus foram responsabilizados pela arruaça
e acabaram sendo expropriados de seus negócios e obrigados a viver em áreas
confinadas – os guetos –, usando em suas roupas uma estrela amarela. Essa
política de segregação ficaria ainda mais forte quando os judeus foram
proibidos de frequentar certos lugares (universidades, restaurantes, hospitais,
teatros e campos de atletismo, por exemplo) e, depois, quando eles começaram a
ser enviados para os campos de concentração – locais de extermínio em massa.
Ao
terror praticado pelo regime somou-se a propaganda política, que ficou a cargo
do ministro Joseph Goebbels (1897-1945). O Ministério do Esclarecimento Popular
controlava a imprensa, a publicação de livros, o rádio, o teatro e o cinema.
Goebbels revelou-se um mestre da propaganda e mantinha as emoções em permanente
mobilização. A propaganda foi crucial na consolidação do nazismo, pois ela
possibilitava a transmissão da ideologia nazista por meio de documentários
cinematográficos, programas de rádio, pôsteres e cartazes. Em comícios, Hitler
reunia milhares de pessoas ao seu redor. Nestes verdadeiros espetáculos, tudo
era minuciosamente preparado para demonstrar a grandeza do führer e do povo alemão.
A
doutrinação envolvia também as crianças na sala de aula. Os mais jovens
aprendiam desde cedo a ter orgulho de pertencer à raça ariana e a venerar e prestar
obediência ao führer. Os professores
eram instruídos a respeito de como ensinar certas matérias e, para garantir a
obediência às determinações nazistas, os alunos tinham que denunciar os mestres
que lhes parecessem suspeitos. As salas de aula eram decoradas com retratos de
Hitler e bandeiras nazistas. Os currículos escolares privilegiavam o
treinamento físico, os esportes e a “ciência racial”. Aos dez anos de idade, os
meninos eram alistados e, depois de passarem por provas esportivas, ingressavam
no Deutsch Jungvolk (Jovem Povo
Alemão), onde permaneciam por quatro anos e tinham todos os seus progressos
físicos e ideológicos registrados em cadernetas. Por sua vez, quando chegavam
aos dez anos de idade, as meninas entravam nas Jungmädel (Jovens Virgens). Meninos e meninas tinham que aprender
quais eram os “deuses e heróis germanos” e os “grandes alemães” (como
Frederico, o Grande, e Bismarck), bem como a história dos “vinte anos de
combate pela Alemanha” (os “anos de luta” do nazismo) e tudo a respeito de “Adolf
Hitler e seus companheiros de luta”. Quando completavam 14 anos de idade, eles
entravam nas Juventudes Hitleristas. Aos dezoito, estavam aptos a entrar em
outras estruturas do partido, como a Frente de Trabalho, as SA e as SS. Cursos
sobre “o combate pelo Reich” e a
“obra de Hitler” eram oferecidos aos jovens entre 14 e 18 anos. Temas como
esses também faziam parte de transmissões de rádio voltadas aos jovens. Aqueles
que se recusassem a entrar nas Juventudes Hitleristas não podiam se matricular
em escolas e nem conseguir empregos.
O
Partido Nazista abriu agências em 83 países, incluindo o Brasil, onde uma delas
foi criada em 1928 e era sediada na cidade de São Paulo. A estrutura era
similar à do Partido Nazista na Alemanha, ou seja, havia chefes nacionais,
regionais e locais, além de organizações paralelas como a Juventude Hitlerista,
a Associação Nazista das Mulheres e a Frente Alemã. No Brasil, o Partido
Nazista não ficou apenas em São Paulo, mas abriu sedes em 17 estados
brasileiros, muitas delas nas regiões sul e sudeste. Em 1937, os nazistas
chegaram a contar com 2,9 mil filiados brasileiros, muitos dos quais eram
imigrantes alemães, simplesmente o maior número em um partido nazista fora da
Alemanha. Já no Estado Novo, em 1938, Getúlio Vargas extinguiu o partido do
país, que continuaria, todavia, funcionando clandestinamente por mais alguns
anos. Os nazistas brasileiros também usavam a imprensa para divulgar suas
ideias. Em 1932, por exemplo, começou a circular o jornal Deutscher Morgen (Aurora Alemã), que encerraria suas atividades
apenas em 1941. O periódico divulgava as ideias nazistas, informava a respeito
dos fatos ocorridos no III Reich e
divulgava os pronunciamentos de Hitler e de outras autoridades nazistas.
Na
Alemanha, a popularidade do regime nazista cresceu graças à recuperação
econômica do país. Tal recuperação veio com a intervenção do Estado na
economia, que realizou obras públicas, incentivou a indústria de armamentos e
estabeleceu formas de planejamento econômico. O governo nazista contou com a
ajuda de grandes capitalistas nacionais e internacionais. Hitler entusiasmou-se
com o crescimento econômico alemão e passou a violar as determinações do
Tratado de Versalhes, que havia dado um fim à Primeira Guerra Mundial. A
Alemanha foi remilitarizada e deu início a uma política expansionista, o que
abriria caminho para a Segunda Guerra Mundial.
O stalinismo soviético
Após
a morte de Lênin, o comando da União Soviética foi assumido oficialmente por
Josef Stalin, em dezembro de 1925. Stalin centralizou o poder, esmagou a democracia
no interior dos sovietes, suprimiu os direitos dos cidadãos, prendeu e matou
seus opositores, criando assim um Estado totalitário de partido único, o
Partido Comunista da União Soviética (PCUS), bastante rígido e burocrático.
Do
ponto de vista da organização da economia, Stalin colocou em prática, a partir
de 1928, os planos quinquenais, constituídos por planos de desenvolvimento
baseados na planificação econômica. A economia soviética foi toda estatizada, o
que deixou a Nova Política Econômica (NEP) de Lênin para trás. Houve muitos
investimentos do governo na indústria pesada de máquinas e equipamentos, em
detrimento da indústria de bens de consumo. Foram construídas diversas
siderurgias, indústrias químicas e petrolíferas, fábricas de tratores e de
equipamentos agrícolas. A produção de aço aumentou de 1,4 milhão de toneladas
em 1922 para 38,1 milhões em 1953. O governo adotou a política de coletivização
forçada no campo, estatizando propriedades rurais que eram agora transformadas
em grandes fazendas coletivas (sovkhoses)
e grandes cooperativas (kolkhoses).
Foi promovida também uma reforma educacional que praticamente acabou com o
analfabetismo no país. Os sistemas de transporte, habitação e saúde tornaram-se
acessíveis à população.
Por
outro lado, os direitos individuais e coletivos foram suprimidos. As greves
foram proibidas e o terror de Estado tornou-se um dos componentes da vida
soviética. Opositores do regime e até antigos aliados eram agora perseguidos
pela polícia secreta. Mais de 5 milhões de soviéticos foram detidos entre 1936
e 1938, muitos deles acabaram executados. Em um único dia, cerca de mil pessoas
podiam ser torturadas e mortas. No campo, aqueles camponeses que se
manifestaram contra a coletivização forçada foram presos e assassinados. 11
milhões de camponeses foram deportados. Era comum que muitas dessas pessoas
fossem mandadas para os Gulags,
campos de trabalhos forçados que foram criados para abrigar os opositores do
stalinismo. O regime soviético silenciou uma geração criativa de intelectuais e
artistas, tais como o cineasta Sergei Eisenstein (1898-1948) e a poeta Anna
Akhmatova (1889-1966). A desilusão com o stalinismo e o temor em relação à
polícia secreta levaram algumas pessoas ao suicídio, como no caso do poeta
Vladimir Maiakovski (1893-1930). A imprensa era controlada pelo governo e foi
usada para a propaganda do regime. O ditador era cultuado em paradas militares
e em imensos retratos em todas as partes do país. O sonho de uma sociedade mais
justa e igualitária que os primeiros socialistas tinham foi transformado em um
terrível pesadelo por um Estado policial controlado pela liderança do Partido
Comunista.
A Guerra Civil Espanhola
Uma
ditadura militar de inspiração fascista dominou a Espanha entre 1923 e 1930,
sob o comando de Primo de Rivera, que assumiu o poder com o aval do rei Alfonso
XIII. Após uma grave crise social e econômica, Rivera renunciou ao poder.
Eleições para uma assembleia constituinte foram realizadas em 1931 e, nelas, a
união de anarquistas, comunistas e socialistas conquistou cerca de 70% dos
votos. O rei renunciou ao trono e, em abril de 1931, a República foi proclamada
pela Assembleia. Segundo o historiador Josep Buades, era o surgimento de uma
Espanha democrática, modernizadora e igualitária. Houve a separação entre
Igreja e Estado – o que desagradou a muitos cristãos –, além da implantação de
reformas educacional, trabalhista e agrária – medidas vistas com desconfiança
pelas elites espanholas, que temiam uma revolução de esquerda em seu país.
O
ambiente político espanhol ficou dividido entre dois grupos bastante
antagônicos. A Frente Popular (esquerda) era composta por setores democráticos
republicanos e grupos de esquerda que contavam com o apoio dos trabalhadores e
de uma parcela da classe média. Já a Falange Tradicionalista Espanhola (direita)
tinha uma tendência fascista e era composta por militares, grandes
proprietários de terras e representantes da Igreja e da burguesia urbana. Nas
eleições de 1933 houve uma vitória da direita, que procurou anular as leis que
haviam sido aprovadas em 1931. Nas eleições de 1936 foi a vez de a esquerda
conquistar a maioria dos votos e voltar ao poder. O novo governo aumentou o
salário dos trabalhadores, retomou a reforma agrária e concedeu anistia aos
presos políticos. Todavia, a polarização política na Espanha só fez aumentar e
ocorriam conflitos nas ruas entre grupos de esquerda e de direita. Grupos que
desejavam a volta da monarquia incentivavam os militares a se rebelar contra os
republicanos.
Quando
atiradores de esquerda assassinaram um líder monarquista iniciou-se um levante
armado contra o governo. No mês de julho de 1936, tropas espanholas que estavam
no Marrocos – uma colônia espanhola à época – se rebelaram sob o comando do
general Francisco Franco (1892-1975), ligado à Falange. Começava a Guerra Civil
Espanhola, conflito armado que dividiu a Espanha. A população resistiu aos
militares por meio de armas e de barricadas nas ruas das cidades. Em Madri, a
capital do país, a resistência era grande e tinha como um dos seus símbolos a
deputada comunista Dolores Ibárruri, uma mulher que ficou conhecida como La Pasionaria e que instigava a luta dos
republicanos com o grito de “Não passarão!”.
Tendo
em vista a forte resistência republicana, os militares recorreram à ajuda
externa. Itália e Alemanha enviaram à Espanha soldados, armas, munições,
tanques e veículos blindados, em apoio às tropas franquistas. O governo
português do ditador António Salazar enviou 13 mil soldados para enfrentar os
republicanos. Também empresas dos EUA forneceram armas, caminhões e petróleo às
forças do general Francisco Franco. Por outro lado, a União Soviética apoiou os
republicanos enviando-lhes armas, munições, aviões, veículos de guerra e
especialistas em armamentos e combates. Também em apoio aos republicanos,
chegaram à Espanha cerca de 50 mil voluntários oriundos de diversos países,
combatentes que formaram as Brigadas Internacionais e enfrentaram os
falangistas.
Vários
artistas e intelectuais de todo o mundo manifestaram o seu apoio à causa
republicana, entre os quais podemos citar os atores Charlie Chaplin (1889-1977)
e Clark Gable (1901-1960). Outros chegaram a pegar em armas contra os
nacionalistas, tais como os escritores George Orwell (1903-1950), Ernest
Hemingway (1899-1961), Saint-Exupéry (1900-1944) e André Malraux (1901-1976).
Enquanto isso, pintores como Juan Miró (1893-1983) e Pablo Picasso (1881-1973)
usaram a sua arte para manifestar-se a favor da Frente Popular. Em 1937,
Picasso pintou o famoso quadro Guernica,
onde expressava toda a sua indignação em relação ao bombardeio da cidade de
Guernica por aviões da divisão Condor,
da Alemanha, a serviço de Franco.
Todavia,
apesar do apoio de todos esses intelectuais, o governo republicano espanhol não
conseguiu o apoio nem das democracias europeias nem do governo dos EUA, que
preferiram não intervir na Espanha. A partir de 1938, o governo soviético
reduziu a sua presença no conflito, o que piorou a situação para os
republicanos. A Guerra terminou em 1939, deixando um triste saldo de 1 milhão
de mortos. Com a vitória dos falangistas, Francisco Franco assumiu o poder como
ditador, e ali ficaria até 1975, ano de sua morte. A sua ditadura ficou conhecida como franquismo.
O salazarismo em Portugal
Em
Portugal, a República foi implantada em 1910, mas o país vivia sob a luta entre
a burguesia conservadora e os operários socialistas. Os governos eram instáveis
e havia no país muitos simpatizantes do fascismo. Em meio a um clima político
bastante tumultuado, houve um golpe de Estado em 1926, do qual participou o
general Óscar Carmona, personagem que acabou eleito presidente de Portugal em
1928. Carmona convidou o professor António de Oliveira Salazar para o
Ministério da Economia. Carmona defendia um Estado autoritário que reprimisse
os movimentos de esquerda, principalmente os comunistas, e impusesse a paz
social com a manutenção da religião católica e da propriedade privada. O
general Carmona acabou com a oposição, censurou a imprensa e centralizou o
poder, ampliando assim a ditadura.
O
ministro Salazar, por sua vez, conduziu uma política econômica rígida que
possibilitou a volta do crescimento econômico, tornando-se uma figura tão
importante dentro do governo que acabou sendo indicado para o cargo de
primeiro-ministro, em 1932. No ano seguinte, Salazar instituiu o Estado Novo, transformando-se
no líder supremo de um Estado autoritário, inspirado no fascismo. O poder ficou
concentrado nas mãos do primeiro-ministro, enquanto o cargo de presidente da
República passava a ser apenas honorífico. Salazar governou Portugal até 1968,
quando afastou-se do poder por problemas de saúde. Ele morreu apenas em 1970 e
o regime que criou em Portugal recebeu o nome de salazarismo.