Sobre o "Blog do Super Rodrigão"

*** O "Blog do Super Rodrigão" foi criado e editado por Rodrigo Francisco Dias quando de sua passagem como professor de História da Escola Estadual Messias Pedreiro (Uberlândia-MG). O Blog esteve ativo entre os anos de 2013 e 2018, mas as suas atividades foram encerradas no dia 27/08/2018, após o professor Rodrigo deixar a E. E. Messias Pedreiro. ***

terça-feira, 26 de maio de 2015

Totalitarismos no século XX: Fascismo italiano, Nazismo alemão, Stalinismo soviético e o surgimento de ditaduras na Península Ibérica

Após o término da Primeira Guerra Mundial, em 1918, muitas pessoas estavam desiludidas com o presente e sem muitas esperanças em relação ao futuro. Na África, continente que estava subjugado por nações europeias, surgiram diversos movimentos que passaram a defender o fim do colonialismo. Nos países da América Latina, os problemas sociais se avolumavam e ocorriam revoltas ou até guerras civis. Por sua vez, os europeus se viam na difícil tarefa de reconstruir seus países após a perda de muitas vidas humanas na Grande Guerra. Foi nesse cenário que muitos passaram a desconfiar do liberalismo, pois esse sistema político não conseguiu impedir a guerra e nem resolver todos os problemas criados pelo conflito. Assim, no lugar do regime liberal, certos grupos passaram a defender um Estado nacional mais forte. No leste, a Rússia (União Soviética a partir de 1922) com o seu Estado forte parecia apontar um caminho de igualdade e justiça social, chamando a atenção de trabalhadores de todo o mundo.

Apesar das diferenças, os movimentos autoritários que surgiram na Europa e o governo soviético centralizado em Stalin a partir de 1924 convergiam para um ponto em comum, a saber, o totalitarismo. Essa nova forma de poder opunha-se ao liberalismo e era bem diferente dos outros regimes políticos anteriores, até mesmo do absolutismo monárquico. O totalitarismo funda-se essencialmente no terror permanente contra o indivíduo. Por meio da repressão, da propaganda ideológica e da supressão dos direitos individuais e coletivos, o Estado totalitário procura controlar a vida pública e a vida privada dos cidadãos. Nessa forma de organização do Estado, o poder está concentrado nas mãos de poucas pessoas, em geral organizadas em torno de um partido único. Normalmente, esse partido tem uma base de massas, mas são apenas os seus dirigentes que tomam as decisões, sendo que a máquina do partido confunde-se com o próprio aparelho do Estado. O Estado totalitário usa os meios de comunicação para difundir sua ideologia e exaltar o governo e a figura do líder, visto como uma pessoa excepcional e dotada de qualidades superiores e quase sobrenaturais. A ideia de “pátria” é importante no totalitarismo, a nação está acima de tudo e de todos. O patriotismo extremo é acompanhado pelo ódio aos estrangeiros e pela militarização de toda a sociedade.

No totalitarismo, a ênfase na unidade da nação resulta na defesa da ditadura. O liberalismo é visto como uma ideologia prejudicial, pois leva ao individualismo e à desunião, decorrente dos embates entre as distintas opiniões que se manifestam em qualquer regime democrático. Em alguns dos Estados totalitários surgidos no século XX, o marxismo era tido como um inimigo, pois pensava-se que o domínio de uma classe – o proletariado – sobre as outras levaria à divisão da sociedade e não à união.

Utilizando-se da censura, da delação e da violência – normalmente praticada contra as minorias, como judeus, imigrantes, ciganos, homossexuais –, os regimes totalitários se estabeleceram em alguns países da Europa depois da Primeira Guerra Mundial. Era comum em tais regimes a noção de que existiria uma “raça” superior a todas as outras, raça essa que era representada pelo próprio Estado totalitário. Era com essa ideia que os totalitarismos perseguiam as minorias, consideradas “inferiores”.

Três famosos exemplos de totalitarismo foram o fascismo italiano, o nazismo alemão e o stalinismo soviético. Houve ainda a instauração de regimes autoritários inspirados principalmente no fascismo e no nazismo, em especial na Espanha e em Portugal.


O fascismo italiano

Ao final da Primeira Guerra Mundial, a Itália estava do lado dos países vencedores, mas ficou insatisfeita com os resultados do conflito. Com 670 mil mortos e um milhão de feridos, os italianos não obtiveram as conquistas territoriais desejadas, uma vez que não conseguiram anexar nenhuma das antigas colônias alemãs na África e nem regiões mais próximas nos Balcãs. Surgiu então um profundo ressentimento contra as potências democrático-liberais, ressentimento esse que foi acompanhado por uma crescente insatisfação social contra a inflação, a carestia de vida e o desemprego provocados pela guerra. Três milhões de trabalhadores urbanos participaram de greves entre 1919 e 1920. A classe média ficava cada vez mais com a sensação de que o governo perdia o controle.

Foi nesse contexto que um ex-combatente chamado Benito Mussolini (1883-1945) fundou um grupo nacionalista de extrema direita conhecido como Fascio di Combattimento (Feixe de Combate), em 1919. O símbolo do grupo era um feixe de varas (fascio) atado à lâmina de um machado, um dos emblemas do Império Romano e que representava a união corporativa da sociedade em torno do Estado. Mussolini propunha reconquistar o antigo poderio de Roma. Divulgando suas ideias de teor ultranacionalista, anticomunista e antiliberal, os Fasci di Combattimento (“Feixes” de Combate, no plural) espalharam-se por toda a Itália. Desejavam instaurar um governo forte, autoritário e capaz de combater os grupos de esquerda (comunistas e socialistas), dando um fim às greves e às manifestações operárias, vistas como desordem. Aqui, o Estado liberal era visto como fraco, daí a necessidade de sua substituição por um Estado totalitário.

O fascismo prometia o advento de uma nova civilização, exaltando a vontade, o sangue e o sentimento. A ação instintiva e agressiva era valorizada, em detrimento da discussão intelectual e da análise crítica. O líder e o partido saberiam o que era melhor para a nação e aliviariam o indivíduo da necessidade de tomar decisões. O fascismo atraiu, sobretudo, aqueles que temiam tanto o grande capitalismo quanto o socialismo, como pequenos comerciantes, artesãos, funcionários, empregados de escritórios e camponeses de alguns recursos. Muitos alimentavam a esperança de que o fascismo pudesse proteger a todos da competição das grandes empresas e impedir o advento de um Estado marxista (visto como uma ameaça para a propriedade privada).

No início da década de 1920, os Fasci di Combattimento contavam com cerca de 320 mil adeptos, além de milícias organizadas e uniformizadas que espalhavam o terror pelo país. Os camisas negras, como ficaram conhecidos, perseguiam e matavam militantes de esquerda, dissolviam manifestações operárias e intimidavam políticos de orientação democrática. Diante desse comportamento, o governo italiano nada fazia.

Os Fasci di Combattimento foram unificados em torno de Mussolini no ano de 1921, fato que permitiu a constituição do Partido Nacional Fascista. Desempregados, ex-combatentes, pessoas da classe média, industriais e proprietários de terras que temiam o advento de uma revolução comunista na Itália formavam a base de apoio a esse partido. Quando ocorreram as eleições parlamentares de 1921, foram eleitos como deputados 35 fascistas, entre os quais estava o próprio Mussolini. Em uma demonstração de força, 30 mil camisas negras chefiados por Mussolini invadiram a capital italiana em 1922. A Marcha sobre Roma ocupou prédios públicos e estações ferroviárias. O rei Vitor Emanuel III acabou convidando Mussolini para ocupar o cargo de primeiro-ministro. Tal fato representou a chegada do fascismo ao poder.

Inicialmente, Mussolini governou em conjunto com outras forças políticas, entre os anos de 1922 e 1925. Todavia, ele foi aos poucos ampliando os seus poderes e se transformando em um ditador, valendo-se do uso de fraudes eleitorais, perseguições e assassinatos. O Parlamento italiano perdeu a sua autoridade. Os partidos políticos foram extintos, com exceção do Partido Nacional Fascista. Prefeitos e chefes locais perderam os seus cargos e foram substituídos por seguidores de Mussolini. Uma polícia política secreta foi criada para perseguir opositores do regime. Cerca de 300 mil pessoas preferiram refugiar-se no exterior. Uma forte censura foi implantada aos meios de comunicação. Qualquer organização que não fosse fascista passava a ser considerada ilegal. Il duce (O Líder, O Chefe), como Mussolini era conhecido, centralizou todo o poder já no início da década de 1930.

De acordo com os fascistas, era fundamental doutrinar as crianças e os jovens. Nessa perspectiva, nas escolas e universidades os professores se viam obrigados a exaltar o regime, suas realizações e os aspectos da vida do duce. Os alunos, por sua vez, eram incentivados a denunciar os docentes que demonstrassem uma atitude mais crítica em relação ao regime. Os manuais escolares diziam que Mussolini era o “salvador da pátria”. Organizações foram criadas para promover festas, competições, acampamentos e atividades ao ar livre que procuravam transmitir a ideologia fascista aos mais jovens. Mussolini usou os meios de comunicação de massa para conquistar o apoio da população: jornais, rádios e documentários divulgavam os feitos do governo e cultuavam a figura do líder. O duce era normalmente representado como um homem viril, atlético e trabalhador. Mussolini era fotografado de peito nu ou usando uniforme com um capacete de aço. As suas imagens que eram divulgadas normalmente mostravam o duce cavalgando, dirigindo carros velozes, pilotando aviões e brincando com filhotes de leões. O discurso nacionalista afirmava a necessidade de reerguer o país, retomando o passado grandioso da Itália, em especial a fase do Império Romano. O cinema e o rádio divulgavam a ideia de que ele teria erradicado o crime, a pobreza e as tensões sociais.

Houve uma aproximação entre o governo e a Igreja Católica quando Mussolini firmou o Tratado de Latrão com o Papa Pio XI, em 1929. Por meio do Tratado, o ensino religioso tornou-se obrigatório em todas as escolas secundárias e os Estados Pontifícios foram reduzidos ao Vaticano, o que deu fim a uma longa disputa com a Igreja. A política fascista conseguiu se afirmar entre a população italiana por meio da intervenção do Estado na economia, o que ocorreu principalmente no período posterior ao crash da Bolsa de Nova York. O Estado italiano conseguiu reduzir o desemprego por meio de um programa de obras públicas e do incentivo à produção de armas. Ademais, a instituição da Carta del Lavoro (Carta do Trabalho), em 1927, combinou algumas concessões aos trabalhadores com medidas de controle policial sobre eles. Ao mesmo tempo em que os trabalhadores passavam a contar com seguro contra acidentes de trabalho e jornada de oito horas, as greves foram proibidas e os sindicatos extintos. O documento estabeleceu uma concepção corporativista da legislação trabalhista.

Mussolini ordenou a invasão da Etiópia em 1935. Tratava-se de um país africano que ainda não estava dominado pelos europeus. Em 1936, o duce interveio na Guerra Civil Espanhola, apoiando as forças do general Francisco Franco. Conforme o governo de Mussolini se consolidava, ditaduras de direita foram surgindo em outros países europeus, tais como Portugal, Hungria e Polônia. Em 1933, o nazismo chegou ao poder na Alemanha.


O nazismo alemão

A Alemanha passou a enfrentar uma grave crise após o fim da Primeira Guerra Mundial. O kaiser Guilherme II renunciou e saiu do país em direção à Holanda, em 1918. Sob o impacto da Revolução Russa, trabalhadores alemães saíam às ruas e os soldados se amotinavam. Operários, soldados e marinheiros tentaram tomar o poder por meio de uma insurreição armada, em 1919. Os socialistas da Liga Espartaquista estiveram à frente da rebelião, liderados por Rosa Luxemburgo (1871-1919) e Karl Liebknecht (1871-1919). A revolta acabou fracassando, e seus dois líderes foram presos e executados.

No mesmo ano de 1919, foram realizadas eleições para uma assembleia constituinte, reunida na cidade de Weimar. A nascente República de Weimar (1919-1933) era a primeira experiência democrática da história da Alemanha e se caracterizava como uma república federativa parlamentarista. O presidente da República era o chefe de Estado e tinha o poder de escolher o chanceler (primeiro-ministro), que desempenhava o papel de chefe de governo. Tal escolha dependia do partido que tivesse a maioria no Reichstag, o Parlamento. Os primeiros anos da nova República foram difíceis, pois o país estava sem dinheiro para pagar as indenizações de guerra e acabou aumentando a emissão de dinheiro, o que fez a população sofrer com uma das maiores inflações já vistas. Os preços das mercadorias chegavam a subir diversas vezes ao longo de um único dia. Se em abril de 1922 um dólar valia mil marcos, em setembro de 1923 um dólar já era equivalente a 350 milhões de marcos. A injeção de capitais norte-americanos ajudou a economia alemã a se estabilizar a partir de 1924, todavia, a população alemã continuava insatisfeita com os termos dos tratados de paz que puseram um fim à Primeira Guerra Mundial.

O sentimento de orgulho nacional ferido estimulou a formação de grupos ultranacionalistas interessados em instaurar um Estado forte, capaz de unificar os alemães e lutar pela recuperação da grandeza do país. Um desses grupos era o Partido Nacional-Socialista dos Trabalhadores Alemães (que, em alemão, originaria a expressão nazista), criado em 1919, liderado por Adolf Hitler (1889-1945), um soldado austríaco que havia lutado no Exército alemão durante a Primeira Guerra Mundial, e que contava com o apoio de comerciantes arruinados pela crise, desempregados, ex-militares, etc. Assim como os fascistas italianos, os nazistas alemães formaram grupos paramilitares. As milícias nazistas conhecidas como SA (sigla para “Seção de Assalto”, em alemão) reprimiam violentamente os comunistas e os socialistas, garantindo também a segurança dos comícios nazistas. Inspirando-se na Marcha sobre Roma de Mussolini, o líder nazista Adolf Hitler tentou dar um golpe de Estado na cidade de Munique, 1923, contando com a presença de 3 mil militantes. Essa intentona – ou putsch de Munique, como ficou conhecida – fracassou e Hitler foi preso.

Ele ficou na cadeia por um tempo e ali escreveu o livro Mein Kampf (Minha Luta), onde sistematizou a ideologia nazista. Hitler defendia a superioridade dos arianos – um povo puro e do qual descenderiam os alemães – em relação a judeus, eslavos, ciganos, negros e outros povos. Segundo Hitler, judeus e comunistas eram os responsáveis por praticamente todos os males do mundo. Os alemães teriam ainda, segundo a sua perspectiva, o direito a um espaço vital, um território na Europa onde viviam os povos germânicos. Isso significava que a Áustria e a região tchecoslovaca dos Sudetos, por exemplo, deveriam ser anexadas à Alemanha.

O apoio a Hitler foi pequeno no início. Contudo, a partir de 1930, com a Grande Depressão provocada pelo crash da Bolsa de Nova York, crise que arruinou a classe média e fez milhões de trabalhadores alemães ficarem desempregados, a situação começou a mudar. De fato, a crise econômica aumentou o sentimento de humilhação que atingia os alemães desde 1918. As pessoas ansiavam pelo aparecimento de um líder carismático que pudesse resgatar a “honra nacional” e colocar a Alemanha novamente entre as grandes potências, afastando assim o “perigo comunista”. Exaltando a “raça ariana”, Hitler parecia ser este líder predestinado e, desta maneira, o Partido Nazista cresceu vertiginosamente, conquistando o apoio da classe média, da burguesia industrial e do empresariado. Entre 1930 e 1932, o número de deputados nazistas no Parlamento alemão cresceu de 170 para 230. Os nazistas formavam a maior bancada, mas a maioria ainda estava com os deputados comunistas e socialistas. Todavia, a esquerda não conseguiu estabelecer uma aliança e, em 1933, o presidente alemão – o marechal Paul von Hindenburg – convidou Hitler para ocupar o cargo de chanceler (primeiro-ministro) de seu governo.

O ano de 1933, portanto, marcou a chegada dos nazistas ao poder na Alemanha, o que deu início ao Terceiro Reich alemão (o Primeiro foi o Sacro Império Romano-Germânico e o Segundo foi o da unificação alemã, conquistada por Bismarck em 1870). O palácio do Reichstag foi incendiado em 1933 e Hitler culpou os comunistas, o que lhe deu o respaldo para perseguir os partidos de esquerda. No ano seguinte, o presidente Hindenburg morreu, e Hitler acabou unificando os cargos de chanceler e de presidente, adotando o título de führer (chefe). No controle absoluto do poder, Hitler anulou a Constituição de 1919, instituiu a censura e suspendeu os direitos e garantias civis. Membros da Gestapo – a polícia secreta – e das SS (“Tropas de Proteção”, inicialmente funcionavam como a guarda pessoal de Hitler) perseguiam, prendiam e torturavam padres, ciganos, homossexuais, judeus, líderes sindicais, comunistas e opositores do regime. Alcoólatras, doentes mentais e deficientes físicos eram internados à força e submetidos a cirurgias de esterilização. Houve durante o nazismo na Alemanha a tentativa de se “purificar a raça ariana” por meio do controle genético. A reprodução deveria ocorrer apenas entre pessoas da raça ariana e a miscigenação com pessoas de “raças inferiores” estava proibida. Foi nesse sentido que se deu a “política de eliminação de incapazes”.

A repressão era uma marca do regime nazista e era baseada na SA, na Gestapo e na SS. A SA, que havia sido útil na época em que os nazistas lutavam para desestabilizar o governo, acabou se tornando algo inconveniente quando Hitler assumiu o governo. O Exército alemão, que temia que a SA passasse a ser a força armada oficial do Estado nazista, começou a pressionar Hitler pela extinção da milícia. Em 1934, Hitler ordenou a prisão e o assassinato dos principais líderes da SA e, foi a partir disso, que criou-se a SS, o braço armado do Partido Nazista que estava sob o comando de Heinrich Himmler e que agia sem a intervenção do Exército alemão. Era a SS que controlava a Gestapo, a polícia secreta do Estado nazista que investigava e identificava os opositores do regime por meio de torturas em seus interrogatórios. Quem fosse considerado perigoso à dominação nazista era executado sem julgamento.

Em meio a este clima extremamente tenso, intelectuais, cientistas e artistas contrários ao nazismo acabaram exilando-se no exterior, entre os quais o físico Albert Einstein (1879-1955), o dramaturgo Bertolt Brecht (1898-1956) e o escritor Thomas Mann (1875-1955). Aqueles que insistiam em permanecer no país corriam o risco de ser enviados a campos de concentração. Em 1933, havia cerca de 40 mil presos políticos nesses locais. O ideal artístico nazista procurava resgatar a arte clássica e se opunha às produções modernas – vistas como “degeneradas”. Houve a proibição de obras ligadas ao Cubismo, Impressionismo e Expressionismo. O discurso oficial insistia na ideia de que todas as grandes realizações humanas tinham sido obra dos arianos. No que concerne à filosofia, à literatura e à ciência, diversos autores foram descartados. Obras de judeus como Einstein e Freud, por exemplo, foram proibidas, sendo comum a queima de livros de autores judeus.

A partir de 1934, o antissemitismo se tornou uma política oficial do Estado: os judeus ficaram impedidos de trabalhar em órgãos públicos, os seus bens foram confiscados e eles foram proibidos por meio das Leis de Nuremberg (1935) de se casar com pessoas consideradas arianas e de ter empregados alemães em suas casas. A propaganda nazista divulgava os judeus como cruéis e gananciosos. Houve campanhas nas ruas contra empresas pertencentes a judeus e ocorreram agressões a judeus sem que a polícia reprimisse. Um exemplo disso foi a Noite dos Cristais, ocorrida em 9 de novembro de 1938, quando em várias cidades alemãs e austríacas a SS comandou a destruição de residências e lojas pertencentes a judeus, a depredação de sinagogas e a prisão de muitos judeus. Houve muitos mortos. Os vidros despedaçados das janelas deram o nome a esse triste episódio de intolerância. Os judeus foram responsabilizados pela arruaça e acabaram sendo expropriados de seus negócios e obrigados a viver em áreas confinadas – os guetos –, usando em suas roupas uma estrela amarela. Essa política de segregação ficaria ainda mais forte quando os judeus foram proibidos de frequentar certos lugares (universidades, restaurantes, hospitais, teatros e campos de atletismo, por exemplo) e, depois, quando eles começaram a ser enviados para os campos de concentração – locais de extermínio em massa.

Ao terror praticado pelo regime somou-se a propaganda política, que ficou a cargo do ministro Joseph Goebbels (1897-1945). O Ministério do Esclarecimento Popular controlava a imprensa, a publicação de livros, o rádio, o teatro e o cinema. Goebbels revelou-se um mestre da propaganda e mantinha as emoções em permanente mobilização. A propaganda foi crucial na consolidação do nazismo, pois ela possibilitava a transmissão da ideologia nazista por meio de documentários cinematográficos, programas de rádio, pôsteres e cartazes. Em comícios, Hitler reunia milhares de pessoas ao seu redor. Nestes verdadeiros espetáculos, tudo era minuciosamente preparado para demonstrar a grandeza do führer e do povo alemão.

A doutrinação envolvia também as crianças na sala de aula. Os mais jovens aprendiam desde cedo a ter orgulho de pertencer à raça ariana e a venerar e prestar obediência ao führer. Os professores eram instruídos a respeito de como ensinar certas matérias e, para garantir a obediência às determinações nazistas, os alunos tinham que denunciar os mestres que lhes parecessem suspeitos. As salas de aula eram decoradas com retratos de Hitler e bandeiras nazistas. Os currículos escolares privilegiavam o treinamento físico, os esportes e a “ciência racial”. Aos dez anos de idade, os meninos eram alistados e, depois de passarem por provas esportivas, ingressavam no Deutsch Jungvolk (Jovem Povo Alemão), onde permaneciam por quatro anos e tinham todos os seus progressos físicos e ideológicos registrados em cadernetas. Por sua vez, quando chegavam aos dez anos de idade, as meninas entravam nas Jungmädel (Jovens Virgens). Meninos e meninas tinham que aprender quais eram os “deuses e heróis germanos” e os “grandes alemães” (como Frederico, o Grande, e Bismarck), bem como a história dos “vinte anos de combate pela Alemanha” (os “anos de luta” do nazismo) e tudo a respeito de “Adolf Hitler e seus companheiros de luta”. Quando completavam 14 anos de idade, eles entravam nas Juventudes Hitleristas. Aos dezoito, estavam aptos a entrar em outras estruturas do partido, como a Frente de Trabalho, as SA e as SS. Cursos sobre “o combate pelo Reich” e a “obra de Hitler” eram oferecidos aos jovens entre 14 e 18 anos. Temas como esses também faziam parte de transmissões de rádio voltadas aos jovens. Aqueles que se recusassem a entrar nas Juventudes Hitleristas não podiam se matricular em escolas e nem conseguir empregos.

O Partido Nazista abriu agências em 83 países, incluindo o Brasil, onde uma delas foi criada em 1928 e era sediada na cidade de São Paulo. A estrutura era similar à do Partido Nazista na Alemanha, ou seja, havia chefes nacionais, regionais e locais, além de organizações paralelas como a Juventude Hitlerista, a Associação Nazista das Mulheres e a Frente Alemã. No Brasil, o Partido Nazista não ficou apenas em São Paulo, mas abriu sedes em 17 estados brasileiros, muitas delas nas regiões sul e sudeste. Em 1937, os nazistas chegaram a contar com 2,9 mil filiados brasileiros, muitos dos quais eram imigrantes alemães, simplesmente o maior número em um partido nazista fora da Alemanha. Já no Estado Novo, em 1938, Getúlio Vargas extinguiu o partido do país, que continuaria, todavia, funcionando clandestinamente por mais alguns anos. Os nazistas brasileiros também usavam a imprensa para divulgar suas ideias. Em 1932, por exemplo, começou a circular o jornal Deutscher Morgen (Aurora Alemã), que encerraria suas atividades apenas em 1941. O periódico divulgava as ideias nazistas, informava a respeito dos fatos ocorridos no III Reich e divulgava os pronunciamentos de Hitler e de outras autoridades nazistas.

Na Alemanha, a popularidade do regime nazista cresceu graças à recuperação econômica do país. Tal recuperação veio com a intervenção do Estado na economia, que realizou obras públicas, incentivou a indústria de armamentos e estabeleceu formas de planejamento econômico. O governo nazista contou com a ajuda de grandes capitalistas nacionais e internacionais. Hitler entusiasmou-se com o crescimento econômico alemão e passou a violar as determinações do Tratado de Versalhes, que havia dado um fim à Primeira Guerra Mundial. A Alemanha foi remilitarizada e deu início a uma política expansionista, o que abriria caminho para a Segunda Guerra Mundial.


O stalinismo soviético

Após a morte de Lênin, o comando da União Soviética foi assumido oficialmente por Josef Stalin, em dezembro de 1925. Stalin centralizou o poder, esmagou a democracia no interior dos sovietes, suprimiu os direitos dos cidadãos, prendeu e matou seus opositores, criando assim um Estado totalitário de partido único, o Partido Comunista da União Soviética (PCUS), bastante rígido e burocrático.

Do ponto de vista da organização da economia, Stalin colocou em prática, a partir de 1928, os planos quinquenais, constituídos por planos de desenvolvimento baseados na planificação econômica. A economia soviética foi toda estatizada, o que deixou a Nova Política Econômica (NEP) de Lênin para trás. Houve muitos investimentos do governo na indústria pesada de máquinas e equipamentos, em detrimento da indústria de bens de consumo. Foram construídas diversas siderurgias, indústrias químicas e petrolíferas, fábricas de tratores e de equipamentos agrícolas. A produção de aço aumentou de 1,4 milhão de toneladas em 1922 para 38,1 milhões em 1953. O governo adotou a política de coletivização forçada no campo, estatizando propriedades rurais que eram agora transformadas em grandes fazendas coletivas (sovkhoses) e grandes cooperativas (kolkhoses). Foi promovida também uma reforma educacional que praticamente acabou com o analfabetismo no país. Os sistemas de transporte, habitação e saúde tornaram-se acessíveis à população.

Por outro lado, os direitos individuais e coletivos foram suprimidos. As greves foram proibidas e o terror de Estado tornou-se um dos componentes da vida soviética. Opositores do regime e até antigos aliados eram agora perseguidos pela polícia secreta. Mais de 5 milhões de soviéticos foram detidos entre 1936 e 1938, muitos deles acabaram executados. Em um único dia, cerca de mil pessoas podiam ser torturadas e mortas. No campo, aqueles camponeses que se manifestaram contra a coletivização forçada foram presos e assassinados. 11 milhões de camponeses foram deportados. Era comum que muitas dessas pessoas fossem mandadas para os Gulags, campos de trabalhos forçados que foram criados para abrigar os opositores do stalinismo. O regime soviético silenciou uma geração criativa de intelectuais e artistas, tais como o cineasta Sergei Eisenstein (1898-1948) e a poeta Anna Akhmatova (1889-1966). A desilusão com o stalinismo e o temor em relação à polícia secreta levaram algumas pessoas ao suicídio, como no caso do poeta Vladimir Maiakovski (1893-1930). A imprensa era controlada pelo governo e foi usada para a propaganda do regime. O ditador era cultuado em paradas militares e em imensos retratos em todas as partes do país. O sonho de uma sociedade mais justa e igualitária que os primeiros socialistas tinham foi transformado em um terrível pesadelo por um Estado policial controlado pela liderança do Partido Comunista.


A Guerra Civil Espanhola

Uma ditadura militar de inspiração fascista dominou a Espanha entre 1923 e 1930, sob o comando de Primo de Rivera, que assumiu o poder com o aval do rei Alfonso XIII. Após uma grave crise social e econômica, Rivera renunciou ao poder. Eleições para uma assembleia constituinte foram realizadas em 1931 e, nelas, a união de anarquistas, comunistas e socialistas conquistou cerca de 70% dos votos. O rei renunciou ao trono e, em abril de 1931, a República foi proclamada pela Assembleia. Segundo o historiador Josep Buades, era o surgimento de uma Espanha democrática, modernizadora e igualitária. Houve a separação entre Igreja e Estado – o que desagradou a muitos cristãos –, além da implantação de reformas educacional, trabalhista e agrária – medidas vistas com desconfiança pelas elites espanholas, que temiam uma revolução de esquerda em seu país.

O ambiente político espanhol ficou dividido entre dois grupos bastante antagônicos. A Frente Popular (esquerda) era composta por setores democráticos republicanos e grupos de esquerda que contavam com o apoio dos trabalhadores e de uma parcela da classe média. Já a Falange Tradicionalista Espanhola (direita) tinha uma tendência fascista e era composta por militares, grandes proprietários de terras e representantes da Igreja e da burguesia urbana. Nas eleições de 1933 houve uma vitória da direita, que procurou anular as leis que haviam sido aprovadas em 1931. Nas eleições de 1936 foi a vez de a esquerda conquistar a maioria dos votos e voltar ao poder. O novo governo aumentou o salário dos trabalhadores, retomou a reforma agrária e concedeu anistia aos presos políticos. Todavia, a polarização política na Espanha só fez aumentar e ocorriam conflitos nas ruas entre grupos de esquerda e de direita. Grupos que desejavam a volta da monarquia incentivavam os militares a se rebelar contra os republicanos.

Quando atiradores de esquerda assassinaram um líder monarquista iniciou-se um levante armado contra o governo. No mês de julho de 1936, tropas espanholas que estavam no Marrocos – uma colônia espanhola à época – se rebelaram sob o comando do general Francisco Franco (1892-1975), ligado à Falange. Começava a Guerra Civil Espanhola, conflito armado que dividiu a Espanha. A população resistiu aos militares por meio de armas e de barricadas nas ruas das cidades. Em Madri, a capital do país, a resistência era grande e tinha como um dos seus símbolos a deputada comunista Dolores Ibárruri, uma mulher que ficou conhecida como La Pasionaria e que instigava a luta dos republicanos com o grito de “Não passarão!”.

Tendo em vista a forte resistência republicana, os militares recorreram à ajuda externa. Itália e Alemanha enviaram à Espanha soldados, armas, munições, tanques e veículos blindados, em apoio às tropas franquistas. O governo português do ditador António Salazar enviou 13 mil soldados para enfrentar os republicanos. Também empresas dos EUA forneceram armas, caminhões e petróleo às forças do general Francisco Franco. Por outro lado, a União Soviética apoiou os republicanos enviando-lhes armas, munições, aviões, veículos de guerra e especialistas em armamentos e combates. Também em apoio aos republicanos, chegaram à Espanha cerca de 50 mil voluntários oriundos de diversos países, combatentes que formaram as Brigadas Internacionais e enfrentaram os falangistas.

Vários artistas e intelectuais de todo o mundo manifestaram o seu apoio à causa republicana, entre os quais podemos citar os atores Charlie Chaplin (1889-1977) e Clark Gable (1901-1960). Outros chegaram a pegar em armas contra os nacionalistas, tais como os escritores George Orwell (1903-1950), Ernest Hemingway (1899-1961), Saint-Exupéry (1900-1944) e André Malraux (1901-1976). Enquanto isso, pintores como Juan Miró (1893-1983) e Pablo Picasso (1881-1973) usaram a sua arte para manifestar-se a favor da Frente Popular. Em 1937, Picasso pintou o famoso quadro Guernica, onde expressava toda a sua indignação em relação ao bombardeio da cidade de Guernica por aviões da divisão Condor, da Alemanha, a serviço de Franco.

Todavia, apesar do apoio de todos esses intelectuais, o governo republicano espanhol não conseguiu o apoio nem das democracias europeias nem do governo dos EUA, que preferiram não intervir na Espanha. A partir de 1938, o governo soviético reduziu a sua presença no conflito, o que piorou a situação para os republicanos. A Guerra terminou em 1939, deixando um triste saldo de 1 milhão de mortos. Com a vitória dos falangistas, Francisco Franco assumiu o poder como ditador, e ali ficaria até 1975, ano de sua morte. A sua ditadura ficou conhecida como franquismo.


O salazarismo em Portugal

Em Portugal, a República foi implantada em 1910, mas o país vivia sob a luta entre a burguesia conservadora e os operários socialistas. Os governos eram instáveis e havia no país muitos simpatizantes do fascismo. Em meio a um clima político bastante tumultuado, houve um golpe de Estado em 1926, do qual participou o general Óscar Carmona, personagem que acabou eleito presidente de Portugal em 1928. Carmona convidou o professor António de Oliveira Salazar para o Ministério da Economia. Carmona defendia um Estado autoritário que reprimisse os movimentos de esquerda, principalmente os comunistas, e impusesse a paz social com a manutenção da religião católica e da propriedade privada. O general Carmona acabou com a oposição, censurou a imprensa e centralizou o poder, ampliando assim a ditadura.

O ministro Salazar, por sua vez, conduziu uma política econômica rígida que possibilitou a volta do crescimento econômico, tornando-se uma figura tão importante dentro do governo que acabou sendo indicado para o cargo de primeiro-ministro, em 1932. No ano seguinte, Salazar instituiu o Estado Novo, transformando-se no líder supremo de um Estado autoritário, inspirado no fascismo. O poder ficou concentrado nas mãos do primeiro-ministro, enquanto o cargo de presidente da República passava a ser apenas honorífico. Salazar governou Portugal até 1968, quando afastou-se do poder por problemas de saúde. Ele morreu apenas em 1970 e o regime que criou em Portugal recebeu o nome de salazarismo.