Sobre o "Blog do Super Rodrigão"

*** O "Blog do Super Rodrigão" foi criado e editado por Rodrigo Francisco Dias quando de sua passagem como professor de História da Escola Estadual Messias Pedreiro (Uberlândia-MG). O Blog esteve ativo entre os anos de 2013 e 2018, mas as suas atividades foram encerradas no dia 27/08/2018, após o professor Rodrigo deixar a E. E. Messias Pedreiro. ***

sábado, 11 de outubro de 2014

O Segundo Reinado no Brasil

O chamado Segundo Reinado da história brasileira se iniciou em 1840 com dom Pedro II assumindo o trono do Império por meio do Golpe da Maioridade, fato que marcou o fim do Período Regencial. O governo de dom Pedro II durou até o ano de 1889 e foi marcado por um longo processo de centralização política e administrativa acompanhada da pacificação do país, por meio da contenção de revoltas.

Durante o Segundo Reinado dois grupos políticos disputaram o poder no âmbito do Legislativo: os conservadores – burocratas, grandes comerciantes e fazendeiros ligados à lavoura de exportação – e os liberais – profissionais liberais urbanos e fazendeiros encarregados do abastecimento do mercado interno. Esses dois grupos se alternavam constantemente no comando do Poder Legislativo e muitos estudiosos chegam a afirmar que o Segundo Reinado foi marcado pela conciliação entre conservadores e liberais, processo do qual dom Pedro II não ficou ausente.

ECONOMIA E SOCIEDADE NO SEGUNDO REINADO

Durante o governo de dom Pedro II alguns produtos tinham certa importância na nossa economia, como o açúcar, o cacau e a borracha. Contudo, o café acabou se tornando o produto nacional mais importante. É preciso dizer que a produção agrícola brasileira tinha um caráter escravista-exportador, embora o que se viu ao longo do século XIX foi o declínio do trabalho escravo e o aumento do trabalho assalariado.

Ocorreu também um relativo desenvolvimento capitalista, com o crescimento da importância econômica e política da região sudeste, em detrimento de outras regiões como o nordeste, por exemplo. A composição da população brasileira também passou por mudanças, com o aumento da imigração europeia.

No que diz respeito ao café brasileiro, temos que inicialmente o seu cultivo era voltado para o consumo interno. Foi apenas com o declínio da produção francesa no Haiti e na Guiana Francesa que a produção do café brasileiro se voltou para a exportação. Se no início o produto era muito plantado no Rio de Janeiro, com o passar dos anos, porém, o café ganharia outras áreas do Brasil, tais como a Zona da Mata Mineira, o Vale do Paraíba e, enfim, o oeste da província de São Paulo, que acabaria concentrando a produção nacional do café. Cabe mencionar ainda que o plantio de café provocou em certas regiões, especialmente no Vale do Paraíba, um processo de erosão e esgotamento do solo, além da derrubada de matas. Além dos impactos ambientais, o café também permitiu a ascensão política dos chamados barões do café, cada vez mais enriquecidos com o aumento das exportações do café brasileiro, cuja demanda no exterior era crescente.

Foi com a diminuição da importância, para a economia brasileira, de produtos como o açúcar (houve a concorrência da produção antilhana e do açúcar de beterraba europeu; além disso, iniciou-se a produção norte-americana do produto que fez com que os Estados Unidos parassem de comprar o açúcar brasileiro), o algodão (houve a concorrência do produto de origem norte-americana), o fumo (este produto perdeu importância com o fim do tráfico negreiro) e o couro (houve a concorrência da produção dos países da bacia Platina) que o café brasileiro passou a liderar a produção agrícola nacional.

Além da presença marcante do café na economia brasileira, o Segundo Reinado viu também um surto de industrialização. Em 1844 foi aprovada a Tarifa Alves Branco por meio de um decreto do ministro das finanças, Manuel Alves Branco. Essa medida taxou em 30% os produtos importados sem similares produzidos no Brasil e em 60% aqueles com similares produzidos localmente. O aumento dos preços dos produtos importados acabou por estimular a produção industrial brasileira. Personagem de destaque do surto de industrialização ocorrido na época foi Irineu Evangelista de Souza, o barão de Mauá, dono de empreendimentos industriais particulares, bancos, estrada de ferro, companhia de gás no Rio de Janeiro, fundição e estaleiro. Em 1860, a Tarifa Alves Branco foi substituída por outra mais baixa graças à pressão de comerciantes ingleses. Mauá não conseguiu competir com os produtos importados e acabou indo à falência em 1878.

O Segundo Reinado foi marcado também por um longo debate em torno da questão da mão-de-obra. Em um cenário internacional de desenvolvimento capitalista, houve a pressão da Inglaterra pelo fim do trabalho escravo. Os britânicos desejavam a ampliação do mercado consumidor de seus produtos por meio do aumento do número de trabalhadores assalariados. Em 1845, em resposta ao aumento dos impostos sobre os produtos britânicos no Brasil, a Inglaterra decretou a Bill Aberdeen, lei que dava à marinha inglesa o poder de prender navios negreiros que atravessavam o Oceano Atlântico em direção ao Brasil. O governo brasileiro acabou cedendo à pressão e aprovou, em 1850, a Lei Eusébio de Queirós, que proibiu o tráfico negreiro (que continuou existindo sob a forma de contrabando). É preciso salientar que a referida lei não foi aprovada apenas por conta da pressão inglesa, mas também por causa da resistência dos negros (fugas e rebeliões ocorriam) e do crescimento do número de pessoas contrárias à escravidão.

Com o fim do tráfico negreiro, fazendeiros passaram a agenciar a vinda de imigrantes europeus. O senador de São Paulo, Nicolau de Campos Vergueiro, foi um dos primeiros a adotar o sistema de parceria em suas terras, onde os imigrantes ficavam com um terço dos lucros da produção agrícola e o restante servia para o fazendeiro pagar os altos custos da viagem. Todavia, a “parceria” fracassou por conta da exploração exagerada dos imigrantes pelos fazendeiros.

De qualquer forma, a imigração europeia para o Brasil continuou, especialmente por causa da crise econômica e das guerras existentes no continente europeu que provocavam a saída de muitas pessoas do Velho Mundo em direção a outras partes do globo. O governo imperial brasileiro acabou por subvencionar a imigração europeia e, com a vinda dos europeus e a consolidação do trabalho assalariado livre, as elites latifundiárias brasileiras receberam com alegria a Lei de Terras de 1850, que definiu que só podia ser dono de terras quem pagasse um alto preço por elas. Tal lei, portanto, servia para limitar o acesso à terra.

POLÍTICA NO SEGUNDO REINADO

O governo de dom Pedro II pode ser dividido, do ponto de vista da política interna, em três fases: consolidação do domínio oligárquico (1840-1850), conciliação (1850-1870) e crise (1870-1889). Durante as duas primeiras, o Partido Conservador e o Partido Liberal, representantes das elites, alternaram-se no controle do governo. Naquele período, as eleições para deputados eram marcadas pelo uso da violência e pela ocorrência de fraudes no processo eleitoral. Não é por acaso que os processos eleitorais da época ficaram conhecidos como eleições do cacete.

O Poder Legislativo era subordinado ao Poder Executivo. O imperador podia dissolver a câmara e demitir o presidente do Conselho de Ministros. As eleições, por sua vez, eram sempre elitizadas, por meio do voto censitário. Tais características marcaram o parlamentarismo às avessas do Segundo Reinado.

Tal centralização política provocou reações. Entre 1848 e 1850, por exemplo, a província de Pernambuco vivenciou a Revolução Praieira. O Diário Novo, jornal localizado na Rua da Praia na cidade do Recife, divulgava ideias como a ampliação do direito de voto, a liberdade de imprensa, a nacionalização do comércio (que era controlado por portugueses e ingleses), maior autonomia para a província de Pernambuco e extinção do Poder Moderador. A circulação de tais ideias levou à mobilização de liberais, senhores de engenho e segmentos populares locais contra o governo central do Império. Após um período de intensa agitação política em Pernambuco, o governo imperial conseguiu sufocar a revolta.

Já no que diz respeito à política externa, o Segundo Reinado viu a ocorrência de atritos contra a Inglaterra, notadamente por conta do trabalho escravo, e de atritos na região do Rio da Prata (1850-1851, 1852, 1864-1865) a partir de conflitos com Argentina e Uruguai. Já entre 1864 e 1870 ocorreu a Guerra do Paraguai. Esse conflito armado envolveu a política expansionista do líder político paraguaio Solano López e os interesses de Brasil, Argentina e Uruguai (países esses que formariam a Tríplice Aliança contra os paraguaios) na região. A rivalidade entre Paraguai e a Tríplice Aliança levou a uma grande guerra que devastou o Paraguai, que saiu derrotado do conflito. Cabe destacar que muitos escravos participaram da guerra na expectativa de ganhar a liberdade.

A partir da década de 1870 o Império brasileiro passaria a enfrentar uma grave crise. Um dos fatores foi certamente o debate em torno da escravidão. Em 1871 foi aprovada a Lei do Ventre Livre e em 1885 foi a vez de a Lei dos Sexagenários também ser aprovada, as duas leis tinham as suas limitações, mas apontavam para a direção da abolição da escravidão. Enquanto isso, crescia o movimento abolicionista, especialmente após a Guerra do Paraguai, quando brancos e negros lutaram lado a lado, o que fez com que muitos membros do Exército passassem a se simpatizar com o abolicionismo. Em algumas regiões do império, os escravos recebiam a ajuda dos caifazes para fugir dos seus senhores. Um desses caifazes foi Antonio Bento de Souza e Castro (1843-1898), jornalista e advogado que organizou um quilombo perto de Santos. O ápice do processo de luta contra o trabalho escravo durante o Segundo Reinado foi a aprovação da Lei Áurea no dia 13 de maio de 1888, assinada pela Princesa Isabel, que finalmente proibiu a escravidão no país. A abolição seria responsável por diminuir o apoio de grandes donos de terras à monarquia.

O governo imperial teve que lidar também com atritos na sua relação com a Igreja ao final do século XIX. Inicialmente, a Igreja e o Estado imperial eram bem unidos, o regime do padroado garantia ao imperador o poder de nomear bispos, enquanto o beneplácito fazia com que medidas implantadas pelo papa em Roma só fossem adotadas pela Igreja no Brasil após a aprovação do imperador. Contudo, o papa Pio IX proibiu, em 1864, a presença de membros da maçonaria na Igreja, proibição com a qual dom Pedro II não concordou, uma vez que ele mesmo era ligado à maçonaria. O imperador, portanto, acabou não permitindo que tal proibição fosse colocada em prática na Igreja brasileira e isso provocou atritos com alguns religiosos, tais como os bispos de Olinda e Belém, que optaram por seguir as recomendações do papa. O imperador acabou punindo severamente os bispos, fato que desagradou fortemente o clero brasileiro.

Por sua vez, o Exército brasileiro também passou a fazer oposição ao imperador em decorrência dos baixos salários, das lentas promoções e dos poucos investimentos. Oficiais acabaram aderindo ao abolicionismo, ao republicanismo e até ao positivismo (baseado nas ideias de ordem e progresso). O republicanismo, aliás, também cresceu entre os cafeicultores paulistas, indivíduos que, a despeito de seu poder econômico, não tinham todo o espaço que queriam na política imperial, que era muito centralizada no Rio de Janeiro.


Assim, o Império enfrentava oposição de vários setores da sociedade brasileira, inclusive das aristocracias agrárias tradicionais que se viam como traídas pela monarquia após a abolição da escravidão. O clímax desse ambiente de crise política seria a Proclamação da República que daria fim ao Segundo Reinado em 1889.