Sobre o "Blog do Super Rodrigão"

*** O "Blog do Super Rodrigão" foi criado e editado por Rodrigo Francisco Dias quando de sua passagem como professor de História da Escola Estadual Messias Pedreiro (Uberlândia-MG). O Blog esteve ativo entre os anos de 2013 e 2018, mas as suas atividades foram encerradas no dia 27/08/2018, após o professor Rodrigo deixar a E. E. Messias Pedreiro. ***

sexta-feira, 18 de julho de 2014

"Tiradentes esquartejado"

No fim do século XIX o pintor Pedro Américo pintou o quadro Tiradentes esquartejado, obra que representa um dos participantes da Conjuração Mineira. Veja a imagem abaixo:


Pedro Américo havia sido pintor oficial do Império e foi aposentado da Academia das Belas Artes em 1890, pouco depois da Proclamação da República. Pedro Américo opta pela representação realista do esquartejamento. A disposição do corpo sob o cadafalso e a citação do braço pendente da “Pietà” (1497-1500), de Michelangelo, ou da “Deposição de Cristo” (1602-04), de Caravaggio, além da presença do crucifixo, favorecem uma leitura cristã do martírio de Tiradentes. Pedro Américo também despreza a visão triunfante de um condenado desafiador do poder. O artista não representa o herói em seu momento máximo, vivo e calmo diante da morte. O esquartejamento impede a “ressurreição” dos ideais do herói. A ligação entre Conjuração Mineira (1789), Independência (1822) e República (1889) – proposta em outras obras a serviço dos ideais republicanos – não se estabelece. Mesmo buscando o sentido religioso do martírio cristão, é a imagem do cadáver esquartejado que permanece na memória. 

O quadro fazia inicialmente parte de uma série de obras que havia sido planejada pelo pintor, na qual seria exposta a visão que Pedro Américo tinha da Conjuração Mineira: um movimento débil internamente, condenado ao fracasso pelos seus erros, antes mesmo de ser reprimido. O corpo despedaçado, sem vontade própria, alvo da ação de outrem, não seria apenas a denúncia da violência do sistema colonial, mas o ápice do sentimento de fracasso e solidão, presente em toda a série. Pedro Américo sintetiza seu juízo sobre Tiradentes em carta endereçada ao barão do Rio Branco: “(...) audaz e imprudente conspirador, cujo maior defeito foi ser ignorante das coisas e dos homens de seu tempo, tanto quanto de si próprio.”

É preciso lembrar que não existem muitas informações sobre como era o rosto de Tiradentes. De todo modo, ele estava com os cabelos da cabeça e da barba raspados quando foi executado (era um hábito da época – por conta das condições de higiene na prisão, os prisioneiros tinham os cabelos raspados para evitar a proliferação de piolhos). O pintor Pedro Américo – e outros artistas – o pintou com a barba e os cabelos longos, de modo a fazer o inconfidente ficar parecido com a imagem que se tem de Jesus Cristo.

Outros elementos do quadro: o crucifixo; o corpo está no alto do cadafalso, como se estivesse em um altar; as correntes e as algemas usadas para prender Tiradentes expressam a violência do sistema colonial; a corda com os nós afrouxados remete ao ato do enforcamento.