No fim do século XIX o pintor Pedro Américo pintou o quadro Tiradentes esquartejado, obra que representa um dos participantes da Conjuração Mineira. Veja a imagem abaixo:
Pedro
Américo havia sido pintor oficial do Império e foi aposentado da Academia das
Belas Artes em 1890, pouco depois da Proclamação da República. Pedro Américo opta
pela representação realista do esquartejamento. A disposição do corpo sob o
cadafalso e a citação do braço pendente da “Pietà” (1497-1500), de
Michelangelo, ou da “Deposição de Cristo” (1602-04), de Caravaggio, além da
presença do crucifixo, favorecem uma leitura cristã do martírio de Tiradentes. Pedro
Américo também despreza a visão triunfante de um condenado desafiador do poder.
O artista não representa o herói em seu momento máximo, vivo e calmo diante da
morte. O esquartejamento impede a “ressurreição”
dos ideais do herói. A ligação entre Conjuração Mineira (1789), Independência
(1822) e República (1889) – proposta em outras obras a serviço dos ideais
republicanos – não se estabelece. Mesmo buscando o sentido religioso do
martírio cristão, é a imagem do cadáver esquartejado que permanece na memória.
O quadro fazia inicialmente parte de uma série de obras que havia sido
planejada pelo pintor, na qual seria exposta a visão que Pedro Américo tinha da
Conjuração Mineira: um movimento débil internamente, condenado ao fracasso
pelos seus erros, antes mesmo de ser reprimido. O corpo despedaçado, sem
vontade própria, alvo da ação de outrem, não seria apenas a denúncia da
violência do sistema colonial, mas o ápice do sentimento de fracasso e solidão,
presente em toda a série. Pedro Américo sintetiza seu juízo sobre Tiradentes em
carta endereçada ao barão do Rio Branco: “(...) audaz e imprudente conspirador,
cujo maior defeito foi ser ignorante das coisas e dos homens de seu tempo,
tanto quanto de si próprio.”
É preciso lembrar que não existem muitas informações sobre
como era o rosto de Tiradentes. De todo modo, ele estava com os cabelos da
cabeça e da barba raspados quando foi executado (era um hábito da época – por
conta das condições de higiene na prisão, os prisioneiros tinham os cabelos
raspados para evitar a proliferação de piolhos). O pintor Pedro Américo – e
outros artistas – o pintou com a barba e os cabelos longos, de modo a fazer o
inconfidente ficar parecido com a imagem que se tem de Jesus Cristo.