Sobre o "Blog do Super Rodrigão"

*** O "Blog do Super Rodrigão" foi criado e editado por Rodrigo Francisco Dias quando de sua passagem como professor de História da Escola Estadual Messias Pedreiro (Uberlândia-MG). O Blog esteve ativo entre os anos de 2013 e 2018, mas as suas atividades foram encerradas no dia 27/08/2018, após o professor Rodrigo deixar a E. E. Messias Pedreiro. ***

terça-feira, 16 de junho de 2015

Imagens da Primeira Guerra Mundial em cartões-postais franceses e alemães

O uso de imagens na pesquisa histórica tem sido uma prática recorrente em trabalhos de vários historiadores. Pinturas, fotografias, cartazes e tantos outros recursos imagéticos – quando tomados como documentos históricos – podem auxiliar o historiador na compreensão de uma determinada época. Não se trata de ver nesses materiais uma reprodução fiel da realidade, mas sim uma forma de reinterpretar a própria realidade, muitas vezes nos revelando informações sobre aqueles sujeitos que os produziram.

Um ótimo exemplo de uso de imagens na pesquisa histórica pode ser visto no texto Gloriosa conquista ou cruel destruição? A Grande Guerra (1914-1918) representada em cartões-postais alemães e franceses, de autoria de Marco Antonio Stancik. Nele, o autor analisa as imagens presentes nos anversos de cartões-postais alemães e franceses produzidos durante a Primeira Guerra Mundial. Nas palavras de Stancik, “incontáveis cartões-postais daquele período foram produzidos por diferentes países envolvidos no conflito, estampando cenas de caráter nitidamente belicoso. Ao fazê-lo não apenas contribuíam para manter o assunto presente, como muitas vezes mostravam-se propensos a reafirmar a necessidade de combater ao inimigo. Para tanto, tendiam a exibir divergentes interpretações daquilo que vinha se passando, tanto na frente de combate, como no front doméstico, onde as mulheres tiveram que substituir aos homens, tanto nas fábricas, como no campo”.

Stancik faz questão de destacar ainda que os cartões-postais eram usados como “verdadeiras armas de guerra, embora de aparência singela, por intermédio das quais, entre outras finalidades, seus criadores empenhavam-se no sentido de estimular e tornar possível o seu prosseguimento, mediante a intenção de obter não apenas a adesão como ainda o convencimento de militares e civis, quando não o desencorajamento dos inimigos”. É curioso perceber que os cartões-postais tinham um conteúdo visivelmente “patriótico” e “belicoso”, onde o inimigo quase sempre era representado de maneira negativa, ora como “cruel” e “insensível” ora como “derrotado” e “impossibilitado” de vencer a guerra.

O autor procura demonstrar em seu texto que, embora as situações retratadas nos postais fossem reais, elas eram “representadas de forma intensamente simbólica, prenhe de significados. Por isso, o que mais se destaca nos cartões-postais do período não é necessariamente sua veracidade. Em seu lugar, esse ‘algo mais’ de que se revestem todas as mensagens assim veiculadas revelam aspectos por vezes pouco explorados daqueles longos e sangrentos quatro anos que inauguraram verdadeiramente o conturbado século XX. Afinal, a despeito de sua enganosa aparência de inocentes e despretensiosos souvenirs, os postais inseriam-se assim no cotidiano daqueles que encontravam-se afetados pela guerra. Ao fazê-lo, tomavam parte de lutas simbólicas, por intermédio das quais militares e civis eram estimulados a prosseguirem lutando, ou talvez fossem desmotivados por mensagens que intentavam convencê-los de que isso seria impraticável. E nesse empreendimento elementos de destaque, ou mesmo pequenos detalhes tornavam-se pronunciadamente significativos: um pickelhaube, como distintivo dos alemães, assim como o vermelho intenso das calças usadas pela Infantaria francesa, ou um monumento como a Torre Eiffel. Aspectos esses que tendiam a atrair a simpatia/veneração, ou a aversão, conforme a origem daquele que os observasse”.

O texto de Marco Antonio Stancik foi publicado na revista Temporalidades. Para ler o artigo na íntegra, clique aqui