Sobre o "Blog do Super Rodrigão"

*** O "Blog do Super Rodrigão" foi criado e editado por Rodrigo Francisco Dias quando de sua passagem como professor de História da Escola Estadual Messias Pedreiro (Uberlândia-MG). O Blog esteve ativo entre os anos de 2013 e 2018, mas as suas atividades foram encerradas no dia 27/08/2018, após o professor Rodrigo deixar a E. E. Messias Pedreiro. ***

quinta-feira, 21 de agosto de 2014

As Grandes Navegações

Durante a Idade Média, os árabes intermediavam muitas vezes o comércio entre a Europa e a Ásia levando as mercadorias adquiridas no Oriente até entrepostos comerciais no Mar Negro ou na parte mais oriental do Mediterrâneo. Comerciantes europeus – especialmente genoveses e venezianos – iam até tais entrepostos para comprar as mercadorias orientais e, então, as levavam para as feiras e cidades europeias onde as revendiam.

Entre a saída da Ásia e a chegada à Europa, os preços de tais produtos sofriam grandes aumentos por conta da intermediação árabe. Os comerciantes europeus passaram a defender a ideia de que era preciso dispensar os intermediários árabes e adquirir as mercadorias orientais diretamente dos produtores asiáticos para obter lucros maiores com a atividade comercial.

Até o século XIV, o conhecimento que se tinha no continente europeu a respeito de outras partes do mundo era restrito. Havia todo um conjunto de lendas sobre outros povos e lugares. Os mares também eram objeto das mais variadas crenças, como a que defendia a existência de monstros ao sul, em um lugar onde o oceano estaria em chamas. Acreditava-se que quem tentasse cruzar o Oceano Atlântico – o mar “Tenebroso” – encontraria o fim do mundo, pois onde o oceano acabava havia um enorme abismo.

Esse medo de se aventurar por águas desconhecidas começou a diminuir a partir de 1453, quando os turco otomanos tomaram Constantinopla e dominaram o Mediterrâneo oriental, passando a cobrar altas taxas das caravanas que atravessavam a região.

Os mercadores europeus passaram a buscar rotas alternativas em direção às “Índias” (como eram conhecidas na época as terras do leste da Ásia) para escapar de tais cobranças. E nesse processo, Portugal saiu na frente.


O Pioneirismo Português

A posição geográfica de Portugal favorecia as navegações portuguesas, pois o país era banhado pelas águas do Atlântico e era o reino mais ocidental da Europa. Além disso, havia ali um poder centralizado e um Estado bem unificado, sem dissensões internas. Ademais, os pescadores e marinheiros lusitanos tinham uma longa experiência na costa do Atlântico.

Desde o século XIII, comerciantes e marinheiros portugueses levavam para outras regiões europeias, como a França e a Inglaterra, por exemplo, diversos produtos como azeite, vinho, couro e frutas secas. Quando retornavam de tais viagens, traziam para Portugal móveis de madeira, armas de ferro, tecidos e outros artigos.

Esse comércio marítimo promoveu a ascensão social da burguesia em uma época na qual o dinheiro começava a substituir a posse da terra como símbolo de prestígio e poder. Em Portugal, os mercadores e a Coroa estabeleceram acordos de interesse mútuo. A monarquia portuguesa concedeu privilégios aos comerciantes por meio de leis e decretos.

Em 1358, um decreto autorizou o corte de árvores nas matas do reino para a construção de navios. Em 1380, o governo português criou a Companhia das Naus, uma espécie de seguro marítimo que resguardava os donos dos navios em casos de perdas por naufrágio ou atos de pirataria. Uma política protecionista passou a ser colocada em prática pelo governo de Lisboa: os interesses dos comerciantes nacionais eram protegidos por meio de restrições à atuação de mercadores estrangeiros em Portugal.

A Revolução de Avis (1383-1385), que expulsou de Portugal as forças de Castela e colocou no trono dom João I, consolidou a aproximação entre a Coroa e a burguesia mercantil, pois o novo rei foi apoiado principalmente pelos burgueses.

Em 1415, o infante dom Henrique, filho de dom João I, coordenou a conquista de Ceuta, um importante entreposto comercial e militar localizado no norte da África. O objetivo dessa empreitada era tirar dos muçulmanos o controle do comércio naquela região, que passava agora para mãos portuguesas. A considerável expansão ultramarina de Portugal começou exatamente com a conquista de Ceuta.

Dom Henrique recebeu o título de grão-mestre da Ordem de Cristo, instituição religiosa que tinha como objetivo “combater os infiéis” em qualquer lugar do mundo. Em Ceuta, dom Henrique obteve informações acerca da existência de ouro no reino do Mali, ao sul do Saara, e a partir disso passou a planejar a conquista da costa oeste da África em direção ao sul.

Pouco depois da conquista de Ceuta, dom Henrique transferiu-se para o Algarve, fixando-se perto da vila de Sagres. Ali ele reuniu cartógrafos, astrônomos, matemáticos e navegadores para estudar o legado náutico deixado por fenícios, egípcios, gregos, árabes e outros povos. Tais estudos ficaram conhecidos como Escola de Sagres e resultaram na elaboração de cartas marítimas e no desenvolvimento de diversos instrumentos de navegação, como a bússola, o quadrante e o astrolábio. Foi inventado também um novo tipo de embarcação, a caravela, um navio veloz e relativamente pequeno, com cerca de 20 a 30 metros de comprimento, tripulado por 40 a 50 homens e que era ideal para navegação costeira, capaz de entrar em rios e estuários e de realizar manobras em regiões de águas rasas.

Em 1418 começaram as expedições marítimas portuguesas rumo ao sul. As ilhas da Madeira e dos Açores foram conquistadas entre 1420 e 1427, e ali os portugueses introduziram o plantio de trigo, uvas e cana-de-açúcar.

Anos depois, uma expedição capitaneada por Gil Eanes finalmente conseguiu ultrapassar o cabo Bojador, região na qual muitas embarcações portuguesas haviam sofrido grandes avarias ou mesmo naufragado. Por muito tempo acreditou-se que os desastres foram provocados por monstros ou pela fúria divina, mas com o feito da expedição de Gil Eanes os portugueses finalmente dominaram o medo.

As expedições em direção ao sul da costa africana continuaram, e em 1444 uma delas retornou a Portugal com cerca de duzentos africanos, vendidos posteriormente como escravos. Quando dom Henrique morreu, em 1460, os portugueses já haviam chegado até a região da atual Serra Leoa.

Uma bula do papa Eugênio IV garantiu o monopólio comercial da África aos portugueses, bem como o direito de “capturar e subjugar os sarracenos [muçulmanos] e pagãos [africanos] e qualquer outro incrédulo ou inimigo de Cristo, como também seus reinos, ducados, principados e outras propriedades, assim como reduzir essas pessoas à escravidão perpétua”.

Em 1487, Bartolomeu Dias dobrou a extremidade sul do continente africano, chamando a região de Cabo das Tormentas. Posteriormente, o rei dom João II (1481-1495) mudou esse nome para Cabo da Boa Esperança. O projeto português de encontrar um caminho marítimo para as Índias estava definido.


Os espanhóis chegam à América

A partir dos feitos portugueses, navegantes de outras regiões europeias se sentiram estimulados a buscar um caminho alternativo para as Índias. O genovês Cristóvão Colombo acreditava na esfericidade da Terra e que o Oceano Atlântico oferecia a forma mais rápida de se chegar às Índias a partir da Europa pois, segundo a sua tese, para se chegar ao Oriente era preciso navegar para o Ocidente.

Como o rei de Portugal dom João II se recusou a financiar o projeto de Colombo, o genovês procurou os reis espanhóis Fernando e Isabel, que lhe deram apoio. Em agosto de 1492, acompanhado por cerca de noventa homens, Colombo deixou o porto de Palos, na Andaluzia, comandando as caravelas “Santa María”, “Pinta” e “Niña”.

Navegando sempre em direção ao oeste, Colombo avistou terra firme no dia 12 de outubro de 1492. Acreditou ter chegado às Índias, mas suas embarcações haviam aportado em um continente desconhecido dos europeus e que posteriormente ficaria conhecido como América.

Entre 1493 e 1502, Colombo viajou mais três vezes ao novo continente sob o patrocínio da Espanha, mas não encontrou as riquezas tão desejadas. Em 1506, Colombo morreu em Valladolid, na Espanha, abandonado, sem prestígio e certo de que encontrara o caminho para as Índias.


O Tratado de Tordesilhas

O feito de Colombo levou Portugal e Espanha a disputarem as “novas” terras. O papa Alexandre VI serviu de juiz na disputa e, no dia 7 de junho de 1494, com o testemunho do papa, Portugal e Espanha assinaram o Tratado de Tordesilhas. A partir de uma linha imaginária situada a 370 léguas a oeste das Ilhas de Cabo Verde o mundo seria dividido em duas partes. As terras existentes a oeste deste marco seriam da Espanha, enquanto que as terras localizadas a leste pertenceriam a Portugal.

Após a assinatura do Tratado de Tordesilhas, os espanhóis continuaram suas expedições ao continente americano. Já o governo de Portugal manteve seus planos de chegar às Índias contornando a África.

Em julho de 1497, Vasco da Gama partiu de Lisboa com quatro navios e 170 homens sob o seu comando. Em novembro, a frota dobrou o Cabo da Boa Esperança. Em março do ano seguinte, chegou a Melinde, na costa do Quênia atual, onde Vasco da Gama conseguiu a ajuda de um marinheiro árabe que os guiou pelo oceano Índico até as Índias. Em maio de 1498, a frota portuguesa chegou a Calicute, na atual Índia. Estava finalmente provado que era possível chegar ao Oriente sem passar pelo Mediterrâneo.

O sucesso de Vasco da Gama estimulou novas viagens. Em 1500, o navegador Pedro Álvares Cabral afastou-se da costa africana e alcançou terras a oeste do Atlântico Sul que mais tarde seriam chamadas de Brasil. No ano seguinte, o florentino Américo Vespúcio, a serviço do rei de Portugal, mapeou essas terras e concluiu que elas não faziam parte das Índias, mas constituíam um novo continente que passaria a ser chamado de América.

Em 1519, o português Fernão de Magalhães, a serviço da Coroa Espanhola, iniciou uma viagem ao redor da Terra, mas acabou morto em uma ilha do Pacífico. Sua viagem de circum-navegação seria completada por Sebastião Elcano, que retornou à Espanha em 1522. A aventura de Magalhães e Elcano comprovou a esfericidade da Terra.