Sobre o "Blog do Super Rodrigão"

*** O "Blog do Super Rodrigão" foi criado e editado por Rodrigo Francisco Dias quando de sua passagem como professor de História da Escola Estadual Messias Pedreiro (Uberlândia-MG). O Blog esteve ativo entre os anos de 2013 e 2018, mas as suas atividades foram encerradas no dia 27/08/2018, após o professor Rodrigo deixar a E. E. Messias Pedreiro. ***

segunda-feira, 24 de março de 2014

O Calendário Revolucionário Francês

No âmbito da Revolução Francesa, mais precisamente durante o período da chamada Convenção, adotou-se um novo calendário que se iniciava em 22 de setembro. Este calendário, chamado de Republicano, era dividido em 12 meses com 30 dias cada; sendo que os outros 5 dias restantes que faltavam para se completar os 365 dias de um ano completo eram dias de feriados públicos, também conhecidos como "dias dos sans-culottes". Neste calendário revolucionário, oficialmente introduzido em 1793, os nomes dos meses eram relacionados aos ciclos agrícolas e da natureza, veja abaixo:

Vindimário (do latim vindemia = vindima, colheita da uva), de 22/09 a 21/10

Brumário (do francês brumas = nevoeiro), de 22/10 a 20/11

Frimário (do francês frimas = geada), de 21/11 a 20/12

Nivoso (do latim nivosus = neve), de 21/12 a 19/01

Pluvioso (do latim pluviosus = chuvoso), de 20/01 a 18/02

Ventoso (do latim ventosus = vento), de 19/02 a 20/03

Germinal ( do latim germem = germinação), de 21/03 a 19/04

Floreal (do latim florens = flores), de 20/04 a 19/05

Prairial (do francês prairie = prado), de 20/05 a 18/06

Messidor (do latim messis = colheita), de 19/06 a 18/07

Termidor (do grego therme = calor), de 19/07 a 17/08

Frutidor (do latim fructus = fruto), de 18/08 a 16/09

Dias dos sans-culottes, de 17/09 a 21/09


OBSERVAÇÃO SOBRE O SIGNIFICADO DO TERMO "SANS-CULOTTES":

"O termo sans-culottes, referido às pessoas que usavam calças compridas em vez dos calções até ao joelho da gente rica, foi originariamente aplicado num sentido puramente social aos pequenos comerciantes, assalariados e vagabundos, quer da cidade, quer do campo. Durante a Revolução, o termo passou a ser mais geralmente aplicado aos indivíduos politicamente ativos dessas classes, e o seu âmbito alargou-se com a inclusão dos agitadores mais radicais daquele período, independentemente do respectivo estrato social. Ativos tanto na Comuna de Paris (a designação que foi dada ao novo governo local da cidade) como nas sessões, os sans-culottes iriam constituir a base de poder em que os políticos populares haviam de firmar as suas exigências de uma política radical."
(McCRORY, Martin; MOULDER, Robert. Revolução Francesa para principiantes. Lisboa: Dom Quixote, 1983, p. 67.) 


quarta-feira, 19 de março de 2014

Texto sobre a participação feminina na Revolução Francesa

Quando abrimos algum livro sobre a Revolução Francesa é comum nos depararmos com nomes de vários personagens masculinos: Danton, Robespierre, Luís XVI, Marat e Napoleão Bonaparte são apenas alguns dos nomes mais famosos. Mas, e as mulheres? Elas estiveram ausentes do processo revolucionário francês?

No dia 08 de dezembro de 2010, a Revista de História da Biblioteca Nacional publicou um interessante texto de Tania Machado Morin sobre o tema em seu site. Segue abaixo o texto:


Revolução francesa e feminina, por Tania Machado Morin


“Não fiz a guerra como mulher, fiz a guerra como um bravo!”, declarou Marie-Henriette Xaintrailles em carta ao imperador Napoleão Bonaparte (1769-1821). Indignada por lhe recusarem pensão de ex-combatente do Exército “porque era mulher”, ela lembrou que, quando fez sete campanhas do Reno como ajudante de campo, o que importava era o cumprimento do dever, e não o sexo de quem o desempenhava.

Madame Xaintrailles não foi um caso isolado. Em 1792, quando a França declarou guerra à Áustria, voluntárias se alistaram no Exército para lutar ao lado dos homens contra as forças da coalizão austro-prussiana que ameaçavam invadir o país. Muitas se apresentaram com identidades falsas e disfarçadas de homem. Além de conseguirem se alistar, protegiam-se do risco da violência sexual. Quem eram as mulheres-soldados e por que se engajaram no conflito armado? E quais foram os motivos de sua relativa aceitação por parte de líderes revolucionários e companheiros de armas?

Não se conhece o número exato de mulheres-soldados durante o período revolucionário francês (1789-1799).  Há oitenta casos registrados nos arquivos parlamentares, militares e policiais, e informações biográficas esparsas sobre apenas quarenta e quatro. Entretanto, existem muitas referências em imagens e testemunhos da época. O deputado Grégoire (1750-1831) as elogiou oficialmente: “E vós, generosas cidadãs que participaram da sorte dos combates”. Essas constatações nos permitem supor que elas eram mais numerosas e bem integradas à vida militar do que pode parecer. Quase todas vinham de meios sociais modestos. Eram filhas de pequenos camponeses e artesãos, e tinham apelidos como Felicité Vai-de-bom-coração ou Maria Cabeça-de-pau. A maioria era muito jovem, como Ana Quatro-vinténs, que se alistou aos 13 anos, e aos 16 servia na artilharia montada.

As irmãs Fernig, com 17 e 22 anos, foram exceções: eram nobres, e combateram vestidas de homem no Exército do general Dumouriez (1739-1823), na fronteira da atual Bélgica. Fora da batalha, passeavam com roupas de mulher e carabina ao ombro. Tornaram-se heroínas nacionais. Quando sua casa foi arrasada pelos “ferozes austríacos”, o governo da Convenção Nacional (1792-1795) propôs que a reconstrução ficasse por conta da República.

Antes da Revolução, os oficiais da nobreza desprezavam os soldados. Já os líderes revolucionários valorizaram o serviço militar como a forma mais elevada de compromisso do cidadão com o Estado. O discurso da defesa dos homens livres contra os tiranos da Europa atraiu as cidadãs mais destemidas que aliavam o sentimento patriótico ao gosto pela aventura. Era também uma forma de integração oficiosa à cidadania. Reine Chapuy, de 17 anos, declarou que se alistara pelo desejo ardente de combater os tiranos e compartilhar da glória de fulminá-los. Outras foram à guerra para acompanhar os maridos, amantes e irmãos, e acabaram lutando ao lado deles, unindo o sacrifício pela pátria ao devotamento conjugal e familiar. Algumas haviam “nascido na caserna”, e a carreira militar era seu caminho natural. As circunstâncias da Revolução tiveram também um aspecto de liberação. Quando tudo estava em jogo, as mulheres puderam inventar novos papéis para si próprias.

Há registros da boa acolhida das mulheres-soldados por parte dos companheiros de armas. O capitão Dubois e sua mulher combateram juntos no 7º Batalhão de Paris. Ao ser ferido, sua esposa foi designada vice-capitã pelos outros soldados. Aos 19 anos, Liberté Barreau serviu com o marido no Regimento dos Pirineus Ocidentais. Foi intrépida na batalha: perseguiu os inimigos até sua debandada, e depois voltou para transportar o marido ferido para o hospital militar com a ajuda dos companheiros. Liberté impressionou pela coragem e pela devoção ao esposo. Rose Bouillon não foi menos heroica: continuou lutando na batalha mesmo após a morte do marido. Depois pediu dispensa do Exército para cuidar dos filhos do mesmo modo como havia se dedicado ao marido e à pátria. A Convenção Nacional lhe concedeu uma pensão de 300 libras e mais 150 para cada um de seus filhos em agosto de 1793.

Mas havia vozes discordantes: alguns cidadãos se queixavam abertamente das mulheres promovidas a oficial, alegando que os soldados tinham vergonha de receber suas ordens.  Diminuindo o mérito das combatentes, explicavam aquela coragem como exceção, atribuindo-a ao milagre da Liberdade.  Apesar de seus serviços, as soldadas foram incluídas em decreto governamental que dispensava e excluía do Exército todas as “mulheres inúteis” ao esforço de guerra, isto é, todas que não eram cantineiras nem lavadeiras. Lazare Carnot (1753-1823), membro da Convenção Nacional que organizou o recrutamento em massa de 1793, lamentava o flagelo que destruía os exércitos revolucionários: as mulheres que acompanhavam as tropas. Elas atrapalhavam a marcha dos batalhões, consumiam uma parte necessária dos alimentos, quebravam a disciplina e eram fonte da dissolução dos costumes de todos os militares. 

O decreto nunca foi cumprido: as esposas e companheiras dos soldados continuaram seguindo as tropas, e a maioria das combatentes permaneceu no Exército como se nada tivesse acontecido. O capitão da sra. Fartier, canhoneira no 10º batalhão dos Federados Nacionais de Paris, autorizou-a por escrito a continuar servindo na companhia em junho de 1793, após a promulgação da lei.   Em 26 de fevereiro de 1794, Ana Quatro-vinténs foi aplaudida no Clube dos Jacobinos, que fizeram uma coleta em seu favor. O Conselho Militar não viu razões para excluir do Exército a cidadã Felicité Vai-de-bom-coração, devido ao seu comportamento irrepreensível. Houve mulheres-soldados até nas guerras napoleônicas (1799-1815).  Um exemplo desse período foi Madame Xaintrailles, que se tornou ajudante de campo do general Menou (1750-1810) com a recomendação do próprio Lazare Carnot em 1795, dois anos depois da lei de exclusão.

O número expressivo de prêmios e aplausos às soldadas atesta a boa vontade dos chefes militares e até dos governantes em Paris. Mesmo levando-se em conta que elas transgrediam as normas de comportamento feminino, apropriando-se de atributos inerentemente masculinos como as armas e o serviço militar. As mulheres-soldados foram até certo ponto aceitas porque tinham moral elevada, dignidade e bons costumes; eram combatentes, e não libertinas. Embora a violência não seja normalmente associada à mulher, na guerra elas matavam “os escravos dos tiranos”, prestando um serviço à nação. Eram discretas, e muitas vezes seu sexo só era descoberto quando feridas na batalha. Essas qualidades eram importantes numa época em que o presidente do Comitê de Segurança Pública declarou que “sem moral não há República” (outubro de 1793).

Muitas das guerreiras protagonizaram episódios de coragem incomum, como Marie-Angélique Duchemin-Brulon (1772-1859). Sargento do 42º regimento de Infantaria na Córsega, salvou o Forte Gesco sitiado pelos inimigos conseguindo um suprimento de pólvora no meio da noite, em maio de 1794.  Em agosto de 1851, aos 79 anos de idade, foi a primeira mulher a receber a Legião de Honra e a Medalha de Santa Helena do futuro Napoleão III. Chamam atenção as descrições sempre exaltadas dos feitos marciais das soldadas. A impressão é que elas foram mitificadas para figurar no panteão dos exemplos patrióticos de que a Revolução tanto precisava no dramático ano II – no calendário revolucionário, setembro de 1793 a setembro de 1794. Nesse  período marcado pela radicalização política do terror, a nação também enfrentava a guerra externa, guerra civil, inflação, penúria e revoltas urbanas.  O exemplo das guerreiras podia inspirar os cidadãos.

De todo modo, as soldadas encarnavam as virtudes republicanas. Não era pouco. Por essa razão, Liberté Barreau e Rose Bouillon figuravam na Coletânea de Ações Heroicas e Cívicas dos Republicanos Franceses, publicada em 30 de dezembro de 1793. Enfrentando a morte, também deram a vida, dedicaram-se com amor aos maridos e filhos. Cuidaram de doentes e feridos com a doçura e o altruísmo associados à imagem feminina. Sacrificaram-se pela pátria sem esquecer as virtudes de seu sexo. Eis aí o grande mérito. Numa República marcada por apelos à moral, as mulheres-soldados contribuíram com um modelo de comportamento feminino positivo.


(Clique aqui para ver a matéria originalmente publicada no site da Revista de História da Biblioteca Nacional)

É preciso dizer que Tania Machado Morin é autora da dissertação de mestrado intitulada Práticas e Representações das Mulheres na Revolução Francesa - 1789-1795 (Universidade de São Paulo, 2009). É possível fazer o download dessa interessante dissertação por meio deste link. Leitura recomendada!

Revolução Francesa

A França no século XVIII

- Crescimento demográfico expressivo.

- Baixa produção agrícola - secas, inundações. Alta no preço dos alimentos, como o trigo, por exemplo. Fome, miséria (o pão tornou-se quase proibitivo).

- O poder absoluto de Luís XVI (teoria do direito divino). A Assembleia dos Estados-Gerais (conselho com representantes dos diferentes grupos sociais) não era convocada desde 1614.

- Crise financeira do reino francês: desordem administrativa, gastos colossais com a luxuosa corte de Versalhes. Gastos com a participação em guerras, como a Guerra dos Sete Anos (1756-1763) e a Guerra de Independência dos Estados Unidos. Em tal quadro de problemas financeiros, o governo francês impôs tributos, além de medidas fiscais e comerciais.

- A burguesia que está em fase de ascensão econômica começa a criticar a interferência do Estado na economia.

- Organização estamental da sociedade francesa: Clero + Nobreza + Povo (também chamado de Terceiro Estado). O Terceiro Estado era composto não só por elementos da burguesia, tais como banqueiros, profissionais liberais, funcionários públicos e comerciantes, mas também pelas camadas populares da sociedade, ou seja, artesãos, trabalhadores manuais, camponeses e os sans-culottes, termo este que designava os pequenos comerciantes, os assalariados e também os "vagabundos". Enquanto o Terceiro Estado sustentava a sociedade por meio de tributos, o Clero e a Nobreza eram isentos do pagamento de impostos.

- Presença das ideias do Iluminismo, sobretudo da crítica ao absolutismo.

- Em meio à crise econômica, o ministro das Finanças Charles Alexandre Calonne propôs a cobrança de impostos da Nobreza e do Clero, mas a aristocracia manifestou-se contra e o ministro se demitiu. O ministro seguinte, Jackes Necker, convenceu Luís XVI a convocar a Assembleia dos Estados-Gerais para maio de 1789. Tradicionalmente, a votação era feita por estado (um voto para cada um dos três estados - Clero, Nobreza e Povo - que formava a sociedade francesa), porém, no dia 5 de maio de 1789, quando a sessão dos Estados-Gerais foi aberta no palácio de Versalhes, os interesses antagônicos entraram em choque e os representantes do Terceiro Estado exigiram a votação individual (cada deputado deveria ter direito ao seu próprio voto). Luís XVI tentou dissolver a Assembleia, impedindo que deputados entrassem na sala de sessões. Os representantes do Terceiro Estado ocuparam então a sala do jogo da péla e juraram dar uma Constituição à França, e, no dia 09 de julho, juntamente com deputados do baixo clero, eles se declararam em Assembleia Nacional Constituinte. Luís XVI demitiu Jackes Necker e nomeou o conservador barão de Bretevil para o cargo. A burguesia formou a Guarda Nacional, uma milícia que deveria enfrentar as forças do rei e liderar a população civil. Em 14 de julho, uma multidão invadiu a fortaleza da Bastilha, onde inimigos da realeza estavam presos. O movimento se alastrou por toda a França, nas áreas rurais camponeses invadiram e incendiaram castelos, matando nobres. Esse período ficou conhecido como o Grande Medo.


AS "ETAPAS" DA REVOLUÇÃO

A Assembleia Nacional (1789-1792) 
Houve a atuação de burgueses nas cidades, lutando por conquistas sociais e políticas nas ruas, e de camponeses no interior, destituindo autoridades e nobres de seus castelos e repartições. Houve a abolição dos privilégios feudais. Aprovação da Declaração dos Direitos do Homem e do Cidadão, documento que estabeleceu a igualdade de todos, o direito à propriedade privada e o direito de resistência à opressão. Os bens da Igreja foram confiscados e uma nova moeda - os assignats - foi criada. Por meio da Constituição Civil do Clero, (aprovada em julho de 1790) os padres se tornavam funcionários públicos, estando subordinados ao Estado francês. Em 1791 foi proclamada a primeira Constituição da França, que estabeleceu a monarquia constitucional, onde o poder do rei era limitado pelo poder legislativo (com deputados eleitos a cada dois anos), o voto censitário, a proibição de greves e de associações de trabalhadores e a eliminação dos privilégios aristocráticos. Pode-se dizer que tais medidas colocaram a França sob o comando da burguesia.

Disputas políticas na Assembleia Nacional: os girondinos (representantes da alta burguesia, muitos dos quais oriundos da região de Gironda, no sul e sudeste da França) e os jacobinos (nome inspirado no convento dos frades jacobinos - dominicanos -, onde parisienses revolucionários se reuniam), que eram moderados até 1792, mas se tornaram radicais depois.

Nobres migravam para o exterior enquanto monarcas das potências absolutistas vizinhas, por meio da Declaração de Pillnitz (1791), afirmavam a necessidade de restaurar a monarquia francesa e ameaçavam invadir a França. Tais monarcas temiam a irradiação das ideias revolucionárias por toda a Europa. Luís XVI e sua família tentaram fugir para o Império Austríaco, mas foram presos na cidade de Varennes.

Com dificuldades econômicas crescentes o governo revolucionário emitiu mais assignats, o que provocou uma inflação descontrolada. Enquanto isso, o exército absolutista (contando com nobres emigrados) marchava sobre a França, e os jacobinos forneceram armas à população. Os jacobinos Marat, Danton e Robespierre comandaram um exército popular que enfrentou o exército dos emigrados e dos prussianos, contendo-o às portas de Paris na Batalha de Valmy. O rei foi acusado de traição e a República foi proclamada.

Convenção Nacional (1792-1795)
A Assembleia Nacional Constituinte transformou-se em Convenção Nacional, instituição que assumiu o governo em 20 de setembro de 1792. Nas reuniões, sentados à direita da presidência das sessões, ficavam os girondinos, que queriam consolidar as conquistas burguesas e evitar a radicalização. Ao centro ficavam os deputados da Planície, ou Pântano, burgueses sem posição política previamente definida. À esquerda, formando o partido da Montanha (pois ficavam na parte mais alta do edifício), estavam os representantes da pequena burguesia jacobina, que liderava os sans-culottes e defendiam um aprofundamento da revolução. Em 1793, Luís XVI foi guilhotinado em Paris.

Áustria, Prússia, Países Baixos, Espanha e Inglaterra formaram então a Primeira Coligação contra a França, pois estavam com receio de que o exemplo francês se refletisse em seus territórios. É importante lembrar que a Inglaterra desejava particularmente conter a ascensão burguesa da França, sua potencial concorrente nos negócios europeus.

Em meio à ameaça externa, à crise econômica, às divisões políticas e às insatisfações (houve levantes contra a República como a Revolução de Vendeia, por exemplo), os jacobinos tomaram a Convenção e prenderam líderes girondinos. Marat, Hérbet, Danton, Saint e Robespierre (jacobinos) assumiram o poder, iniciando a Convenção Montanhesa (1793-1794). Este foi o período mais radical da Revolução, marcado pela intensa atuação popular e pela aprovação de uma nova Constituição (a Constituição do Ano I), que definiu o sufrágio universal e a democratização. Os jacobinos dirigiam a França por meio do Comitê de Salvação Pública (órgão responsável pela administração e defesa externa do país, inicialmente comandado por Danton). Havia também o Comitê de Salvação Nacional (responsável pela segurança interna) e o Tribunal Revolucionário (responsável pelo julgamento dos opositores da Revolução). Nesse período houve intensa radicalização e muita gente foi guilhotinada, Marat foi assassinado pela girondina Charlotte Corday. A liderança moderada de Danton foi sobrepujada pela de Robespierre, sendo iniciado o período do Terror (setembro de 1793 a julho de 1794), quando milhares de pessoas foram executadas por conta de acusações de atividades contrárias à Revolução (girondinos, a ex-rainha Maria Antonieta e até mesmo jacobinos foram mortos). O governo montanhês adotou medidas como a Lei do Preço Máximo (que tabelou preços de gêneros alimentícios); vendas públicas a preços baixos de bens que pertenciam à Igreja e a nobres; abolição da escravidão nas colônias; criação do ensino público e gratuito; estabelecimento de um culto revolucionário fundado na razão e na liberdade para tentar acabar com a supremacia da Igreja católica (a Catedral de Notre-Dame foi transformada no Templo da Razão).

Houve cisões entre os revolucionários, com Hérbet liderando os radicais e defendendo a ampliação das execuções, e Danton liderando os indulgentes e defendendo a contenção da Revolução (o fim das prisões e das execuções). Robespierre ordenou a execução de ambos, fato que o fez perder parte do apoio popular (especialmente aquele ligado à figura de Danton). As dificuldades econômicas e militares, bem como a insegurança da população (por conta das execuções), fizeram Robespierre perder o prestígio como líder nacional. A burguesia se aproveitou da situação e retomou o poder na Convenção por meio do Golpe do Termidor, em julho de 1794. Robespierre foi guilhotinado.

A Convenção Termidorana (1794-1795) reativou o projeto político burguês, anulando a Lei do Preço Máximo e acabando com a supremacia do Comitê de Salvação Pública. Jovens de direita perseguiam, intimidavam e executavam os líderes dos sans-culottes nesse período que ficou conhecido como o Terror Branco. Em 1795, a Convenção elaborou a Constituição do Ano III que restabeleceu o voto censitário e definiu que o poder executivo seria exercido por um Diretório formado por cinco membros eleitos pelos deputados.

O Diretório e a instalação do Consulado (1795-1799)
No Diretório houve a supremacia dos girondinos, que tiveram que enfrentar a oposição dos jacobinos e dos realistas (defensores da monarquia que desejavam o retorno dos Bourbon ao poder na França). Ocorreram levantes populares internos enquanto as ameaças estrangeiras aumentavam. Por sua vez, golpes realistas ocorreram em 1795 e 1797. Já em 1796 se deu a Conspiração dos Iguais, um movimento de sans-culottes liderado por François Nöel Babeuf que condenava a propriedade privada e as desigualdades, defendendo uma "ditadura dos humildes" que garantisse o bem-estar para todos.

Externamente, o exército francês vinha vencendo as forças absolutistas da Europa (a Segunda Coligação, formada em 1799), tendo destacada atuação o jovem militar Napoleão Bonaparte. No intuito de consolidar a revolução burguesa, os girondinos se aliaram a Bonaparte e, sob o seu comando, deram o Golpe do 18 Brumário (09 de novembro de 1799) no Diretório. A França passou então a viver sob uma nova forma de governo, o Consulado, formado por três representantes, sendo Napoleão um deles (o abade Sieyès e o político Roger Ducos eram os outros dois). Todavia, o poder estava concentrado nas mãos de Bonaparte, que acabaria por ajudar a consolidar a revolução burguesa.


RESUMINDO...
Com a Revolução Francesa, a aristocracia do Antigo Regime perdeu seus privilégios, os camponeses se libertaram dos laços que os prendiam à nobreza e ao clero. A burguesia francesa, por sua vez, pôde gozar do fim das amarras feudais do corporativismo, passando também a ter um mercado de dimensão nacional à disposição. A partir de mudanças sociais, econômicas e políticas, a Revolução Francesa levou a França ao capitalismo.


Para pensar...

"A data foi a noite do 14 de julho de 1789, em Paris, quando Luís XVI recebeu do duque de La Rochefoucauld-Liancourt a notícia da queda da Bastilha, da libertação de uns poucos prisioneiros e da defecção das tropas reais frente a um ataque popular. O famoso diálogo que se travou entre o rei e seu mensageiro é lacônico e revelador. O rei, segundo consta, exclamou: 'Isto é uma revolta'; e Liancourt corrigiu-o: 'Não, Senhor, isto é uma revolução'."

(ARENDT. Hannah. "Da Revolução". Tradução de Fernando Dídimo Vieira. Revisão de tradução de Caio Navarro de Toledo. São Paulo: Ática; Brasília: Ed. da UnB, 1988, p. 38. [adaptado])