Olá,
o meu nome é Clara, tenho 15 anos, estudo na Escola Estadual Messias Pedreiro
(Uberlândia-MG) e sou do 2° G (2016). Cresci em uma cidade que ficava entre as
aldeias Xingu e Mehinako, e posso lhes contar um pouco da minha experiência
dentro da sociedade desses povos.
Quando
vivi em Mato Grosso, uma coisa bem comum na minha vida era andar pela cidade e
encontrar índios por toda a parte. Eu morava em uma cidade pequena, Gaúcha do
Norte–MT, um lugar próximo às duas aldeias indígenas mencionadas acima. Naquela
época pude observar algumas coisas sobre o comportamento daqueles povos. Alguns
índios vão para a cidade apenas para ir ao médico e fazer documentos, pois até as
votações eleitorais são feitas nas aldeias. Nessas comunidades existe uma hierarquia
muito marcante, já que, por exemplo, apenas os filhos ou os parentes mais
próximos dos caciques têm o direito de morar nas cidades.
Algo
que normalmente não vemos muito nos nossos livros didáticos de História ou Sociologia
quando eles nos falam sobre os povos indígenas é que os índios vivem em uma
realidade bem distinta daquela das médias e grandes cidades brasileiras. Muitas
de suas crenças ainda estão vivas como, por exemplo, a ideia de “maldição dos
irmãos gêmeos”. De acordo com essa crença, quando nascem irmãos gêmeos, um é do
mal e o outro do bem, e por isso eles enterram vivo aquele que acreditam ser o
gêmeo do mal. Sua alimentação também é bastante diferente da nossa, pois eles
comem de peixe até macacos assados.
Uma
história que eu ouvia muito em Gaúcha do Norte girava em torno de dois anciãos
indígenas que comiam cérebro humano. Todavia, ainda não sei dizer se isso era mesmo
verdade, pois apesar de sabermos que certos povos indígenas praticavam/praticam
a antropofagia, também sabemos que histórias como essas foram inventadas tanto
no passado quanto no presente para dar a ideia de que tais povos são
“selvagens”.
Também
é preciso dizer que não era só porque morávamos perto das aldeias que tínhamos
livre acesso a elas, já que só se pode entrar nelas (de avião ou barco) após pedir
e obter a permissão do cacique. O meu pai ainda é amigo de um deles, o cacique
Matulah. Aliás, a mulher desse cacique – que se chama Potira – até já pintou os
meus braços com os desenhos usados por eles em festas. Uma curiosidade é que só
as mulheres aprendem a arte da pintura do corpo, onde esmagam uma semente e a
misturam a alguns líquidos até virar uma tinta que, na maioria das vezes, é preta
ou vermelha. Essa tinta, após ser aplicada ao corpo, pode demorar até 40 dias
para sair. Em Gaúcha do Norte, todos os anos há uma feira cultural e os índios
das duas tribos geralmente participam dela e fazem algumas danças para nós
vermos. É realmente um espetáculo muito bonito!
Ah,
quando os índios dessas duas aldeias vão até a cidade, eles usam roupas sim. As
mulheres usam longos vestidos floridos e os homens vestem blusas e calças. Hoje
em dia, é bem normal você ter um índio estudando na sua sala caso você seja
aluno de alguma das escolas de lá.
A
cultura indígena é linda, e não há como ficarmos indiferentes às singularidades
desses povos, pois muitos dos hábitos deles são bem distintos dos nossos.