Sobre o "Blog do Super Rodrigão"

*** O "Blog do Super Rodrigão" foi criado e editado por Rodrigo Francisco Dias quando de sua passagem como professor de História da Escola Estadual Messias Pedreiro (Uberlândia-MG). O Blog esteve ativo entre os anos de 2013 e 2018, mas as suas atividades foram encerradas no dia 27/08/2018, após o professor Rodrigo deixar a E. E. Messias Pedreiro. ***

segunda-feira, 14 de abril de 2014

Napoleão invade a Rússia! - O que a Literatura e a Música podem nos dizer?

No início do século XIX, no contexto da expansão do Império Francês sob o governo de Napoleão Bonaparte, a chamada "campanha da Rússia", episódio que significou a tentativa de Bonaparte de invadir e dominar a Rússia, acabou se revelando um momento importante na história das guerras napoleônicas. De fato, a tentativa de Bonaparte de dominar a Rússia foi algo muito ambicioso e que, com o desenrolar dos acontecimentos, acabou sendo também um desastre para as tropas francesas.

É interessante observar que o campo das manifestações artísticas nos oferece uma oportunidade de aprendermos um pouco mais sobre o episódio.

No que diz respeito à literatura, o escritor russo Leon Tolstoi (1828-1910) escreveu o romance Guerra e Paz, no qual descreve a sociedade russa do século XIX e narra a invasão da Rússia pelo exército de Napoleão Bonaparte. Leia abaixo um trecho do livro:

"Todos os historiadores estão de acordo em afirmar que a ação exterior dos países e dos povos nos conflitos que os dividem traduz-se por guerras e que, em consequência do maior ou menor sucesso militar, o poder militar dos povos e dos países aumenta ou diminui. [...]

Um exército ganha uma batalha e imediatamente os direitos do povo vencedor aumentam em detrimento do vencido. Um exército sofre uma derrota e logo, em proporção a essa derrota, o povo fica privado de seus direitos. E se a derrota for completa, a submissão também o será.

E sempre aconteceu assim (de acordo com o testemunho da História), desde os tempos mais remotos até nossos dias. Todas as guerras de Napoleão são a confirmação dessa regra. [...]

Mas de súbito, em 1812, perto de Moscou, os franceses conseguem uma vitória, Moscou é ocupada e depois, sem novas batalhas, não é a Rússia que deixa de existir, mas um exército de seiscentos mil homens e, logo após, a França napoleônica. [...]

Os historiadores franceses que descrevem a situação do exército francês, antes da saída de Moscou, afirmam que tudo estava em ordem no Grande Exército, com exceção da cavalaria, da artilharia e dos comboios, e que também lhes faltava forragem para os cavalos e o gado. A se acreditar nisso, a situação era irremediável, pois os camponeses dos arredores preferiam queimar o pasto para não entregá-lo aos franceses."

(TOLSTOI, Leon. Guerra e Paz. São Paulo: Círculo do Livro, 1974, p. 437-438. v. 2.) 


A "campanha da Rússia" idealizada por Napoleão Bonaparte e o posterior fracasso francês também inspiraram o compositor russo Pyotr Ilyich Tchaikovsky a compor a sua famosa Abertura Solene para o Ano de 1812, ou, simplesmente, Abertura 1812. A obra orquestral foi composta em 1880 e comemora o fracasso das tropas de Napoleão Bonaparte na tentativa de invasão à Rússia. É interessante notar que a Abertura 1812 representa musicalmente o embate entre França (representada pelo tema de La Marseillaise, hino da Revolução Francesa) e Rússia (representada por fragmentos de música russa, como o hino czarista "Deus salve o Czar").

Clique aqui para ouvir a Abertura 1812.

O romance Guerra e Paz e a música Abertura 1812 são, como se pode ver, não apenas impressionantes manifestações artísticas, mas também documentos históricos que nos permitem entender como o episódio da "campanha da Rússia" foi representado.

O Império Napoleônico

LEMBRAR os problemas econômicos, políticos e sociais que existiam na França durante o período do Diretório (fim do século XVIII). Foi em tal contexto que o general Napoleão Bonaparte ganhou destaque no cenário francês, especialmente por conta das vitórias militares do exército francês contra as tropas de outras nações europeias que ameaçavam a França. Tornando-se uma figura popular, Bonaparte ascendeu politicamente e chegou ao poder (o Golpe do 18 Brumário).

No governo de Bonaparte uma nova Constituição foi redigida (1799). Napoleão recebeu o título de "primeiro-cônsul" da França. Houve um conjunto de reformas para recuperar a economia e as instituições. O Estado francês procurou se reaproximar da Igreja Católica. Napoleão procurou estimular a industrialização do país, criou o primeiro banco nacional francês, incentivou um programa de obras públicas (urbanização de cidades, construção de estradas e portos) para gerar empregos e também anistiou os nobres que haviam se exilado no exterior. O sistema de cobrança de impostos foi reorganizado, uma nova moeda - o franco - foi criada e houve também reformas educacionais.

Importante medida foi a elaboração do Código Civil Francês, também chamado de Código Napoleônico, instituído em 1804. O código era um conjunto de leis inspirado no Direito Romano que consolidou as conquistas burguesas da Revolução Francesa e acabou com os resquícios feudais da sociedade francesa. O código garantiu o direito de propriedade, proibiu a organização de sindicatos de trabalhadores, definiu a igualdade de todos perante as leis, restabeleceu a escravidão nas colônias francesas. Boa parte dos quase 2000 artigos que compunham o código abordava a questão dos bens particulares. O código reforçou a autoridade dos maridos e pais sobre as esposas e os filhos, tendo inspirado outros códigos na Europa e em alguns estados norte-americanos.

Em 1802 Napoleão recebeu por meio de um plebiscito o título de cônsul vitalício. Já em 1804, também por meio de plebiscito, houve o fim do chamado Consulado e a transformação da França em Império. Bonaparte recebia assim o título de Imperador. Tal acontecimento marcaria o início de um processo de expansão territorial por parte da França, que anexou a República de Gênova em 1805. Nos anos seguintes, outros territórios europeus foram conquistados pela França, ou ficaram sob a influência do império francês. Napoleão declarou extinto o Sacro Império Romano-Germânico e o substituiu pela Confederação do Reno. Entre 1806 e 1810, Napoleão Bonaparte colocou e manteve seu irmão José Bonaparte no governo do Reino de Nápoles, na Península Itálica. Luís Bonaparte, outro irmão de Napoleão, assumiu o governo dos Países Baixos (Holanda).

Apesar da expansão territorial do império francês, a Inglaterra continuava sendo a maior rival da França, afinal, os ingleses tinham uma poderosa frota naval. No intuito de enfraquecer economicamente a Inglaterra (que já era uma grande potência industrial naquele período), Napoleão proibiu as nações europeias de fazerem comércio com os ingleses. O país que não participasse do chamado Bloqueio Continental seria atacado pelo exército napoleônico. O objetivo de Bonaparte era deixar a Inglaterra vulnerável militarmente a partir do impacto econômico. Portugal e Espanha negaram-se a aderir ao Bloqueio e foram atacados. Fernando VII, rei da Espanha, foi destituído e em seu lugar assumiu José Bonaparte, o irmão de Napoleão que já governava o reino de Nápoles.

O Bloqueio deu prejuízos à Inglaterra. As exportações inglesas de têxteis, produtos de ferro e artigos oriundos das colônias britânicas, tais como o açúcar e o algodão, diminuíram.

A Rússia também foi prejudicada, pois o país exportava para a Inglaterra produtos voltados para a construção naval. Em 1811, o czar Alexandre I rompeu com o Bloqueio Continental e abriu os portos russos aos navios ingleses, o que fez Bonaparte declarar guerra à Rússia. A França organizou um exército de 600 mil homens que atravessou a Europa. Os russos evitavam combates muito diretos e atraíam os franceses cada vez mais para o interior, destruindo os campos cultivados e os abrigos por onde as tropas de Napoleão ainda iriam passar (era a tática da terra arrasada). Sem suprimentos, os soldados franceses morriam de fome. Em outubro de 1812, Napoleão decidiu retornar à França, porém, no caminho de volta o inverno russo castigou os franceses, que agora não morriam apenas de fome, mas também de frio. Apenas 100 mil combatentes franceses voltaram a Paris.

Após a derrota francesa, Inglaterra, Prússia, Rússia e Áustria se uniram para atacar a França. Em abril de 1814, Napoleão abdicou do trono e foi enviado para a ilha de Elba, localizada entre a península itálica e a ilha de Córsega. Luís XVIII - irmão de Luís XVI, o rei que foi guilhotinado durante a Revolução Francesa - foi conduzido então ao trono.

Representantes dos países europeus se reuniram no Congresso de Viena (setembro de 1814 a junho de 1815) para definir as fronteiras entre as nações europeias e restabelecer o equilíbrio europeu. Dois princípios básicos orientaram o Congresso: o da legitimidade (restauração das dinastias destituídas pela Revolução Francesa e pelo governo de Napoleão) e o do equilíbrio de forças entre as grandes potências (tentativa de evitar a hegemonia de algumas potências europeias). A Inglaterra ficou com a ilha de Malta (Mediterrâneo), o Ceilão (Ásia) e a Colônia do Cabo (África do Sul). A Rússia anexou a Finlândia e parte da Polônia. A Confederação do Reno foi desfeita e deu lugar à Confederação Germânica (39 estados, entre os quais Áustria e Prússia). A Península Itálica continuou fragmentada. Bélgica e Holanda uniram-se no Reino dos Países Baixos. Suécia e Noruega se fundiram. O Império Turco-Otomano continuou controlando os povos cristãos do sudeste da Europa. Por sua vez, as fronteiras da França voltaram ao que eram antes de 1792.

Durante a realização do Congresso, Napoleão fugiu de Elba e desembarcou na França com um grupo de seguidores, marchando em direção a Paris. Luís XVIII fugiu do país e Bonaparte retomou o poder. Contudo, o novo governo de Napoleão não duraria mais de 100 dias. A França foi mais uma vez atacada por Inglaterra, Prússia, Áustria e Rússia. Em junho de 1815, as tropas de Napoleão foram derrotadas na batalha de Waterloo, na Bélgica. Bonaparte foi enviado para a ilha de Santa Helena, no oceano Atlântico, onde morreria em 1821. Na França, Luís XVIII foi reconduzido ao trono.


IMAGENS DE NAPOLEÃO BONAPARTE



A imagem acima é uma reprodução de Napoleão cruzando os Alpes, famoso quadro
do pintor francês Jacques-Louis David, datado de 1801. No quadro, Bonaparte
aparece como um herói solitário e invencível, que enfrenta o vento e o frio montado em
seu cavalo branco. Com a mão direita, Napoleão aponta para a frente e para o alto, como se
estivesse indicando um futuro de glórias. Alguns dos soldados de Bonaparte podem ser
vistos ao fundo da imagem.



Já esta imagem é uma reprodução de Napoleão I no trono imperial, quadro de Jean-Auguste-Dominique Ingres, datado de 1806. Bonaparte é representado aqui como um ser
quase divino, coberto por um manto de veludo e tendo a cabeça cingida por uma coroa de
louros. O cetro, símbolo do poder imperial, está sendo segurado pela sua mão direita.